Aquelas duas semanas voaram. Por mais que tentassem ser discretos, sempre escutavam um ou outro comentário sobre eles dois. Era inegável esconder como eles pareciam próximos, e um ou outro alguém já a flagrou saindo do quarto dele no início da manhã.

─Sabe que dia é hoje?

Shayera olhou para Wally. O ruivo estava ao lado dela, com um braço em sua cintura. Ela assentiu. John lhe informara no dia anterior que estava voltando e seria naquele dia sua chegada. Ela só não sabia a hora exata.

─Não quero pensar nisso, não agora.

─Mas você prometeu que desta vez, ficaria comigo. E nem arrumou suas coisas.

─Wally, está cedo, e eu não posso simplesmente...

Ele a soltou, ficando de pé pouco depois. Shayera o via de costas enquanto ele se vestia. Ficou de pé, aproximando-se dele. Segurou seu rosto.

─Tenta entender...

            ─John vai chegar e você vai fingir que essas semanas não aconteceram, e quando sentir saudade, vai me procurar. E depois, voltar para seu marido. Eu entendo que eu te amo muito mais do que você me ama. Você diz que não é justo com o John, mas não é justo comigo também. ─Tirou a mão dela. ─Só me procure de novo quando tiver se resolvido de vez.

            Assim, ele saiu. Wally era rápido demais para ela segurar, então teve que deixá-lo ir.

*****

            ─Ele está certo. ─Diana disse para Shayera.

            ─Pensei que fosse me apoiar aqui.

            A amazona balançou a cabeça.

            ─Do ponto de vista dele, você quer enrolá-lo. Diz que vai se separar, mas nunca o faz.

            Shayera deu de ombros.

            ─Eu esperava John voltar de Oa.

            ─Não precisa esperar mais...

            Diana olhava para um ponto atrás dela. Shayera franziu o cenho, e se virou para a mesma direção. Seu coração acelerou na mesma hora. John, em seu uniforme de Lanterna Verde, caminhava na direção delas. Shayera ficou de pé num pulo, e correu para ele.

            John estava com muita saudade dela. Mesmo sabendo que o fim parecia inevitável, abraçou-a, dando um beijo apaixonado em seguida. Mas ele se afastou ao perceber que ela não o correspondia como queria. Shayera sorriu envergonhada, ainda abraçada a ele.

            ─Chegou cedo. ─Disse.

            ─Foram dois meses longe, Shayera. Eu estava com saudade...

            ─Eu... também...

            Shayera viu Flash por acaso, e ele parou, encarando-a. Perdeu a visão dele quando John se abaixou novamente e depositou um selinho em seus lábios. Procurou-o em seguida, porém, ele não estava. Olhou para John, e sorriu, sem jeito.

            ─Vamos levar essas coisas para o quarto?

            Ele assentiu, e os dois seguiram para o quarto que compartilhavam na torre. Há quase um mês ela não dormia lá. John estranhou a arrumação no quarto, tudo parecia intocado há tempos. Ele só não disse nada. Uma Shayera muito calada ajudou a arrumar suas coisas, e ele queria passar algum tempo com ela, contudo, teria que esperar até a noite. Tinha coisas a fazer com a sua volta à torre de vigia.

*****

            John observou a porta do banheiro trancada algum tempo antes de desistir e se jogar na cama. Shayera estava trancada lá há tempos, como se para evitá-lo. Ele e Vixen tiveram uma conversa interessante naquela tarde. A morena foi contar-lhe as fofocas que corriam na liga, e que incluíam Shayera e Flash.

            ─Ela passou todas as suas noites fora com ele. ─Disse. ─Você é um motivo de piada aqui.

            Então era esse o motivo para Shayera estar tão fria com ele nas últimas semanas. Ela estava com outro.

            ─Tem certeza?

            ─Não era no quarto de vocês que ela dormia, isso eu posso afirmar.

            Seu coração afundava com a verdade. Como pode ser tão cego? Ela já o traía muito antes.

            ─Shayera não merece alguém como você, John...

            As palavras de Vixen martelaram em sua mente o dia todo. Ele não queria perder Shayera para ninguém. A porta do banheiro se abriu, e Shayera saiu de lá. Sorriu envergonhada ao ver John acordado.

            ─Pensei que estaria dormindo. ─Disse, mais para si que para ele.

            ─Senti falta da minha esposa. Não queria dormir antes de ver você.

            Devagar, Shayera se aproximou da cama. Deitou na metade que lhe correspondia. Deu-lhe as costas, e John se aproximou mais, mas ela o deteve.

            ─Se não se importa, estou muito cansada, John.

            Ainda assim, ele envolveu o braço na cintura dela. Shayera tinha apenas que aceitar. Fechou os olhos, tentando dormir...

*****

             Wally e Linda dançavam “La Vie En Rose”. A clássica musica francesa era tão linda, tão perfeita para o casamento. E Shayera apenas assistia sem poder se ajudar, mas pensando que prdia seu amigo e amor.

Mais tarde, Wally, com a gravata frouxa e o terno desarrumado foi até Shayera, sentada em um canto com John. Ela estava descalça e as ondas de seu cabelo desarrumadas. Sorria, apesar de tudo. Estendeu a mão a ela.

            ─Minha amiga me daria a honra desta dança?

            Shayera olhou para John, antes de aceitar.

            ─Vai lá, Shayera.

            Ainda vacilante, colocou sua mão sobre a de Wally. Ele apertou-lhe levemente e a guiou para a pista. O ruivo fez uma pequena reverência e beijou-lhe as costas das mãos. Wally abraçou Shayera, girando suavemente com ela. A ruiva depositou a cabeça no ombro dele, deixando-se ser embalada por ele pela ultima vez. Ainda era bom, mesmo que uma despedida.

            Ela riu quando ele tentou cantar, desafinado e fora do ritmo. Tão ruim quanto sua cantoria, tornou-se a dança deles. De um simples girar pelo salão, passou a uma confusão de braços, pernas e sorrisos. E muitos sorrisos. Apesar de tudo, estavam felizes. Os momentos que passaram juntos valeram a pena.

            John, vendo a cena, percebeu que havia entre os dois mais que um amor fraternal. E Linda chorou. Ela estava certa. Wally amava Shayera. Havia mais amor no simples girar de Wally ao redor de Shayera do que nos votos que ele fez mais cedo. Ou quando a beijava. E, pela maneira como Shayera retribuía seus sorrisos, sabia que ela também o amava.

A música terminou, rápido demais para eles. Ela segurou sua mão, num aperto firme, mas em seguida, começou a se afastar. Seguraram-se até onde podiam, trocando um olhar intenso, e levou alguns segundos antes de soltá-la. Contudo, uma hora ou outra haviam que se separar. E esta hora chegara. Era a despedida deles. Outra música começou, não apenas na pista de dança, mas em suas vidas. Shayera caminhou para John, que a encarava com uma expressão estranha. Wally apenas ficou lá, vendo o amor de sua vida deixando-o.

            Shayera acordou assustada, livrando-se do abraço de John. Foi apenas um sonho. Olhou o marido dormindo pacífico na cama de casal. Aquilo era tão errado. Ela disse a Wally que terminaria com John assim que ele voltasse de Oa. E ele voltou, porém ela ainda não havia terminado. Um sentimento estranho se apossou de seu peito. Seu estômago revirava, assim ela correu para o banheiro.

            Sentindo-se melhor, e mais decidida, limpou o rosto e voltou para o quarto. John não se mexera. Era ainda madrugada, mas ela acendeu a luz. Encontrou uma mala e começou a jogar suas coisas nela.

            John acordou para encontrar Shayera sentada ao lado da cama. A mala com suas coisas estava bem a vista.

            ─O que é isso?

            ─Desculpa, John. Eu sinto muito mesmo, mas não posso continuar com isso.