A Megera Domada escrita por Dani Ribeiro


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

A pedido da Happydreams estou voltando a reescrever a histórias, mas só vou continuar se tiverem pessoas gostando. Então se quiserem ver o desenrolar da história me deixem saber. Obrigada.
Boa leitura.



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Christian chegou ao Metropolitan State Hospital com seu costumeiro ar de bad boy. Isso evitava que as pessoas o olhassem com pena por possuir um querido “hospedado” em tal lugar. Apesar de ser um ambiente agradável e que não parecia um hospital psiquiátrico é exatamente isso que o hospital significa e saber sua mãe é uma das moradoras só tornava o seu humor ainda pior que o natural.

Ele chegou à recepção, ignorando o sorriso que a funcionária lhe destinou. Sim, era uma garota jovem e bonita, mas romance era sua última preocupação no momento. Na verdade não se lembrava da última vez que tinha estado com uma mulher e por mais que seu corpo clamasse por um pouco de alivio, sua mente só conseguia pensar que precisava dar o mínimo de qualidade de vida para Grace.

Assim que chegou ao balcão e retirou seus costumeiros óculos escuros, enquanto a recepcionista se inclina em sua direção, permitindo que ele tivesse uma boa visualização de seus atributos físicos.

— Senhor Grey, em que posso ser útil? – ela perguntou com um sorriso malicioso nos lábios, o que fez seu estômago revirar. Assim como ela sabia de quem se tratava sabia o motivo que o tinha levado até ali e sentia vontade de vomitar diante da mulher que se oferecia para ele, quando tinha ido visitar sua mãe e sem saber o que o esperava.

— A senhora Jones está me esperando. – ele a respondeu encarando seus olhos, antes de lhes dar as costas. – Não precisa me indicar o caminho, assim como sabe eu já o conheço. E no futuro tenha um pouco mais de dignidade em não se oferecer para os parentes dos internos, pois estamos em um hospital e não em clube de stripper. – Christian sentenciou sem ao menos olhar para trás para ver o rosto da garota se tornar escarlate.

Assim que chegou à sala da administração hospitalar, bateu na porta e esperou que sua entrada fosse autorizada. Assim que entrou uma senhora loira, possuindo aparentemente por volta dos quarenta anos de idade e com um sorriso polido no rosto lhe deu as boas vindas e pediu que se sentasse na cadeira à sua frente.

— Como está Senhor Grey? – ela perguntou de forma mecânica. Provavelmente cansada de repeti-la por diversas vezes durante seu dia.

— Eu já tive dias melhores. – ele respondeu tentando controlar o mau humor latente. – Mas não é para falarmos a respeito de mim que estamos aqui. – Christian acrescentou retirando do bolso de sua jaqueta um pacote que continha o dinheiro, que garantiria a estadia de sua mãe por mais alguns meses, e estendeu a senhora a sua frente.

— Está aí o suficiente para pagar os meses atrasados e por mais alguns até eu conseguir mais para os próximos. Dando um suspiro cansado, a senhora Jones pegou o pacote e começou a contar as notas que estavam dentro dele.

Chris tinha se especializado em leitura corporal, depois de tanto tempo lidando com o pior da sociedade, aprendeu a conhecer cada sorriso falso, cada ironia velada... E naquele momento era nítido o quanto a mulher á sua frente demonstrava seu cansaço com a posição que ocupava. Provavelmente envolver dinheiro em questões onde havia vidas em jogo não a deixa confortável, mas rapidamente se esqueceu da questão. Isso não era seu problema.

— Está tudo correto, eu vou apenas emitir os recibos de pagamento. – ela o respondeu ainda com o ar de exagerada amabilidade, quando Christian a interrompeu.

— Eu vou poder vê-la ou não? – ele repetiu a pergunta feita ao telefone, mas em um tom bem menos controlado. Sua impaciência gritava dentro de si, clamando por alguns minutos de paz e se tivesse sorte, por um gesto, uma palavra, um olhar de Grace que o fizesse ter esperanças de que tudo ficaria bem.

— O Doutor Flynn já o está aguardando no consultório e você poderá ir lá, assim que eu acabar de informar ao sistema sobre seu pagamento. – senhora Jones garantiu a um Christian que nem ao menos deixou terminá-la de falar e já se levantou indo em à porta.

— Eu não estou me fodendo  de trabalhar para manter minha mãe em um dos melhores hospitais desses país de merda para que eu precise da porra de um comprovante de que paguei para que ela possa ter o melhor. – ele respondeu já não conseguindo controlar a raiva que constantemente vivia dentro de si, antes de sair batendo a porta.

Quando conseguisse acalmar o animal, que normalmente mantinha enjaulado dentro de si, se arrependeria de cada palavra e voltaria para se desculpar. Afinal, aquela não era a educação que tinha recebido da mulher mais doce que tinha conhecido em toda sua vida.

 Pensar que sua mãe, se pudesse ouvi-lo falando tantos palavrões em uma só frase, o ameaçaria de lavar sua boca com sabão, fez com que a raiva se tornasse em um desespero que tentava sair de dentro dele em forma de lágrimas. Mas não era momento de pensar em si. Nem em suas misérias. Era hora de mais uma vez ser forte por ela.

Então, novamente, em posse de si mesmo, ele bateu na porta do consultório em entrou, sendo recebido por John Flynn, psiquiatra de sua mãe, o mesmo que a acompanha desde que ela foi diagnosticada com esquizofrenia a alguns atrás, quando descobriu que seu marido, Carrick Grey, seu pai, a traía.

Ela foi se fechando cada vez mais dentro de si e perdendo a noção da realidade. Passava horas sem falar, sem se mexer... E a situação só piorou quando o doador de seu sêmen foi embora de casa, assumindo seu romance com uma garota da idade de seu filho.

Sua consciência pesada ainda o fez tentar ajudar financeiramente, mas Christian recusou aceitar um centavo sequer dele. Eles tinham o dinheiro da herança de seus avós maternos e foi com ele que tentou manter a casa e os cuidados com sua mãe, contratou enfermeiras particulares para cuidarem dela, mas o dinheiro começou a faltar para cobrir tantos gastos.

Foi Dr. Flynn que sugeriu a internação. Por mais que não fosse algo barato de se manter ainda era menos custoso do que mantê-la em casa. Com o coração apertado e se sentindo uma merda de filho que não conseguia cuidar da própria mãe ele aceitou.

Assim, vendeu a mansão na qual moravam antes. Ele não precisava de uma casa tão grande para morar sozinho. Sem falar que a clínica para onde ela iria ficava distante do bairro em que moravam. Então preferiu alugar algo menor para si e guardou o dinheiro. Quando ela voltasse a ser como antes, como era sua esperança, recomeçariam suas vidas, aonde ela quisesse.

Ele possuía uma inteligência acima da média, então não foi difícil conseguir uma bolsa de estudos em um colégio tão bom quanto estudava antes e por mais que odiasse expor a situação de sua mãe era inevitável admitir que algumas portas se abriram com mais facilidade para o pobre garoto que precisou se cuidar sozinho.  

De seu pai, só o que quis foi a sua emancipação e diante da ameaça de escândalo que fez de contar que o tão amado Dr. Grey, advogado de renome, abandonou a esposa doente por causa de uma vagabunda siliconada e sem cérebro, ele não se viu diante de outra alternativa que não dar a liberdade que o filho precisava para tomar as rédeas de sua vida e de sua mãe.

— Christian! Apesar de a situação não ser a mais propícia é sempre uma satisfação revê-lo. – o médico o saudou com uma genuína alegria. Ele era um dos poucos que conheciam a verdadeira história por detrás de tudo que aconteceu.

A maioria de seus conhecidos da época em que fazia parte de uma “família feliz acreditava que Grace estava viajando enquanto aproveitava o dinheiro do divórcio, como se ela fosse alguma das “esposas troféu” dos sócios de Carrick. Ele preferia assim, pelo menos evitava a curiosidade alheia sobre ela.

E ele gostava de John Flynn. Muitas vezes soube fazer um papel melhor de pai do que seu próprio pai. Foi ele quem cuidou de todos os detalhes da internação, buscou o melhor lugar, conseguiu o direito de tratar de sua paciente por lá, mesmo não fazendo parte do quadro de funcionários de lugar.

— Eu digo o mesmo, doutor. – ele firmou podendo ser realmente amigável e sincero, situações raras em sua vida, enquanto apertava a mão estendida. John voltou a se sentar e pediu que ele fizesse o mesmo.

— Eu não vou fazer você perder seu tempo, então vamos direto ao ponto. Grace está em um estado regular, na maior parte do tempo vive em seu mundinho particular, mas ela tem voltado a ter alguns momentos de lucidez. – o médico explicou dando esperanças a Christian.

— Apesar de ser uma boa evolução, nesses momentos ela se lembra de estar grávida, ela acha que você ainda não nasceu. Seu cérebro deve estar bloqueando tudo que possa ser associado momentos ruins, mas já é uma boa notícia.  – John continuou a explicar, por mais que tentasse mostrar os lados positivos não era fácil dizer a um filho que a mãe não se lembrava dele.

— Então o senhor está me dizendo que minha mãe pode não se lembrar de mim?  Nunca mais? – Christian perguntou sentindo o desespero voltar a tomar conta de si.

— Não. Estou dizendo que estamos lidando com o desconhecido. Eu sinto muito, filho. Talvez se o seu pai ajudasse poderíamos tentar novos tratamentos mais agressivos e tentar trazê-la de volta...

— Não! Eu não quero que ele tenha nada ver com isso! – Christian respondeu impaciente. – Eu posso vê-la? – perguntou.

— Sim, vamos lá. – John respondeu resignado. Sabia que estava mexendo no ponto sensível dele, mas precisava tentar. Com mais recursos, poderiam obter melhores resultados.

Assim que Christian entrou no quarto da sua mãe a viu sentada em uma cadeira de balanço, com as mãos segurando a barriga e cantando uma canção de ninar. Foi o estopim para que ele não conseguisse segurar as lágrimas, chamando a atenção dela.

Com medo de que ela se assustasse Dr. Flynn foi até ela e explicou que ele era um amigo que estava triste com saudades da mãe e então viu o olhar, o mesmo doce olhar que sempre o acalentava em seus dias tristes. A reação que ele esperava de que tudo ficaria bem. Mesmo sem saber de quem se tratava Grace se levantou e o abraçou, enquanto afagava seus cabelos e o fazia chorar cada vez mais.

Assim que se acalmou, sua mãe o soltou e contou que “estava grávida” e que esperava ter um filho tão bonito quanto ele. Ali ele soube que venderia sua alma se isso voltasse a fazê-la olhar para ele com tanto amor, sabendo quem ele era.

Então se lembrou dos moleques idiotas que fizeram uma proposta idiota de seduzir uma garota. Se eles estivessem interessados em pagar muito bem, o serviço seria feito. Sentiria pena de Katherine. Mas prioridades são prioridades. E ser honesto não era a sua no momento. Sua alma tinha acabado de ser comprada.


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Notas finais do capítulo

Esse foi apenas para conhecerem melhor o Christian e suas motivações. Se houver o próximo (espero que sim) voltaremos a ação. Bjs!



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