Filhos de Marttino - Doce do Amor(DEGUSTAÇÂO) escrita por moni


Capítulo 5
Capitulo 5


Notas iniciais do capítulo

boa noite suas lindas



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   Matteo

   Ela me intriga, gosto do sotaque, do jeito espalhafatoso e engraçado, ao mesmo tempo doce e leve. Da maneira como olha para tudo em torno, até do jeito firme e distante que me tratou quando me confundiu com o Leo. Isso diz muito sobre ela. Não escondi meu interesse, nem costumo fazer isso, ela me manteve distante e agora que entendo a razão, acho que ela agiu muito bem.

   A loja de produtos Brasileiros tem muito do que ela precisa. Nunca soube dessa loja, quase não sei nada da cultura do seu pais, apenas que eles tem a melhor seleção de futebol do mundo, com mais títulos que nós, ainda mudamos isso. Que o carnaval é uma festa de encher os olhos, com muita música e mulheres bonitas, além de uma culinária incrível, mas que nunca provei. Até hoje e aquele doce maravilhoso.

   ─ Tem o que precisa para aquele doce? Como é o nome? – Sorrio, eu adoro quando diz algo em sua língua.

   ─ Brigadeiro, você é meio surdo ou tem pouca memória.

   ─ Ou você tem um jeito bem interessante de dizer essas coisas. – Sorrimos lado a lado no balcão para pagar as comprar, perto demais eu diria. Maria Clara não parece ter problemas com isso. Brasileiros são calorosos como nós e acho que proximidade física não é problema. Uma vez saí com uma americana e ela pareceu estranhar muito meu jeito. O jeito de todos nós na verdade.

   ─ Quanto? – Ela pergunta a atendente que repete o valor. – Égua, eu demoro ainda um pouco com isso de dinheiro. Fico querendo colocar tudo de acordo com o dinheiro do Brasil, real, mas aí...

   ─ Quer que eu...

   ─ Não. – Ela me corta. – Cuido disso, estou trabalhando e gosto de aprender. – Ela abre o envelope com o dinheiro que minha tia deu a ela e conta notas. Depois entrega a moça que reconta. Finalmente elas trocam um sorriso de entendimento e posso erguer as sacolas.

   ─ Vamos?

   ─ Devia ter uma brasileira atendendo na loja, alguém que pudesse nos representar e que conhecesse melhor nossos produtos, ela nem sabia direito o que eu estava procurando. Não tem quase nada do meu Pará.

   ─ Pará! – Repito. Gosto do som.

   ─ Estive em Portugal numas férias com meus pais. – Ela me observa. – Eu sei que não tem nada a ver, mas a língua é parecida.

   ─ Sim, tem muito turista português na minha terra. Italianos também. – Ela conta enquanto atravessamos a rua e indico um pequeno restaurante. – O que estamos fazendo aqui?

   ─ Jantar, depois te deixo em casa, no hotel. – Me corrijo.

   ─ Em casa, aí é lá na “caixa prego”. – Ela brinca enquanto escolhemos uma mesa perto da vidraça. – Essa, assim vejo a rua. Gosto de ver as pessoas passando.

   Nos sentamos, deixo as sacolas ao lado, podia ter deixado no carro. O garçom se aproxima e ela pega o menu, faço o mesmo, ficamos escolhendo, Maria Clara pergunta muitas coisas, depois dos pedidos, ficamos sozinhos.

   ─ Finjo que estou curiosa sobre o que vai na comida, mas é só para aprender e roubar receitar. Sou dessas! – Ela diz baixinho e gosto da expressão, do sussurro e do rosto. Essa boca dela tem parece que um imã me convidando. Como se tivesse sido desenhada para beijos.

   Ajeito os talheres e coloco alinhado aos talheres dela, faço o mesmo com os copos.

   ─ Sério? – Ela ri.

   ─ Mania. Gosto de alinhar e eu... eu observo a estrutura e a estética.

   ─ Arquiteto. Se eu fosse construir uma casa, certeza que caía em dois tempos.

   ─ O engenheiro civil participa mais ativamente da construção, meu ramo é mais a criatividade, estou mais ligado ao planejamento da obra do que propriamente a sua execução.

   ─Ah! Você faz o menu e o engenheiro cozinha? – Que linda, sorrio com a comparação.

   ─ Perto disso. Fala de você.

   ─ Égua, não sei o que dizer.

   ─ Como é sua terra? – Estou curioso sobre ela, quem é, como chegou aqui. Além disso, eu simplesmente gosto de ouvi-la. Ainda que me perca em alguma expressão em português, ou quando ela tenta traduzir e fica ainda mais sem sentido.

   ─ Nasci e fui criada numa ilha. Ilha de Marajó. Oceano Atlântico e rio Amazonas, a maior ilha fluviomarítima. Parte banhada por rio, parte pelo mar. Gente simples, a maior criação de búfalos do mundo também, eu acho. É rebanho que não acaba mais.

   ─ Búfalo? – Isso é tão inusitado. Sorrio com a ideia.

   ─ Sim, até a policia usa no lugar de cavalos. – Ergo uma sobrancelha, ela ri. – Todo mundo que chega acha estranho. Meu pai trabalha a vida toda de pião em uma fazenda de búfalo, ele entende tudo disso e de mais nada.

   Tem qualquer coisa de preocupação em seu olhar e imagino que seja difícil ficar tanto tempo longe deles.

   ─ Saudade?

   ─ Muita, me lembrei da infância, paizinho as vezes me levava com ele, quando era época de chuva, ele me punha no ”batelão” com os búfalos puxando para ir de uma fazenda a outra pelo rio. “Batelão” é uma canoa. Uma embarcação.

   ─ Uma infância feliz?

   ─ Sim, muito. Paizinho não sabia ler, ainda não sabe, aprendeu a assinar o nome por que insisti muito, mas quando eu aprendi, lia para ele. Minha mãe tem um restaurante, ela ri quando chamo assim, para ela é só um lugar onde serve almoço para os trabalhadores da região, mas vem turista sempre provar o tempero dela. Minha mãe é a melhor cozinheira de todo Pará.

   Seu orgulho, sua simplicidade ao relatar as dificuldades, ela não se envergonha, pelo contrário, sente orgulho deles, acho bonito.

   ─ Deve ter sido muito difícil tomar a decisão de vir. – Ela me sorri, isso é que é sorriso bonito. Os pratos chegam.

   ─ Chegou, tô “brocada”, o cheiro está ótimo.

   ─ “Brocada”?

   ─ Fome, estou com fome. Nem imaginava que eu teria dificuldade assim. Misturo tudo.

   ─ É só no começo, daqui uns meses a maior parte vai se perdendo de tanto usar o italiano. – Ela concorda. – Tô “brocada”, também.

   ─ Menino é “brocado”. – Maria Clara diz rindo. O importante é que estou com fome e dou a primeira garfada. – Gostoso isso, quero aprender tudo e levar para minha terra. – Ela explica. – Sobre a decisão. Eu não acho que foi difícil, só mesmo pelos meus pais que deixei, mas queria conhecer o mundo. Digo que queria conhecer os sabores do mundo.

   Isso é tipo um encontro divino, só pode. Ela diz as coisas mais bonitas. Conhecer os sabores do mundo. É tudo que eu queria da vida.

   ─ Aí escolheu começar pela Itália?

   ─ Conheci uns italianos e eles me explicaram que seria uma boa ideia, por que eu já falava a língua, que podia vir estudar e pagar meu curso trabalhando e a ideia ficou na minha cabeça.

   ─ Conheceu uns italianos? Como assim?

   ─ Turistas.

   ─ Daqui? Eles.. veio atrás deles?

   ─Não. Égua, acha que eu corro atrás de homem, é? Não, só conheci mesmo, amigos, dois casais. São de outra cidade. Mas eu consegui um curso aqui em Florença e também tinha uns folhetos sobre a Toscana, os sabores, quis conhecer.

   ─ Vai se apaixonar pela vinícola.

   ─ Eu? Acha que um dia vou até lá?

   ─ Pode contar com isso. Em breve. Não esse fim de semana, como disse, não posso ir, mas no outro. – Quero ver que mentira vou contar a todos para não buscá-los no domingo. Todo mundo sabe que amo pilotar, mas se convencê-la a passar o domingo não vou de jeito nenhum busca-los.

   ─ Eu vou. – Ela toma um gole da água.

   ─ Vai conhecer minha família, não se assuste, é uma grande família.

   ─ Sabe o nome de todos? – Ela questiona e afirmo. – Então não sabe o que é ter uma família grande, eu não conheço metade dos meus parentes.

   ─ Está brincando? – Fico surpreso. – Como assim?

   ─ Moro no Norte do Brasil, é uma região muito bonita, belezas naturais, mas não tem e nunca teve muito investimento. A vida é muito difícil, muita gente deixa a região em busca de oportunidades, irmãos se espalham pelo país, formam suas famílias, casam com pessoas de outras regiões e se veem pouco, as famílias ficam afastadas meses, anos, mas quando se encontram, é como se nunca tivessem ficado distantes.

   ─ Bonito. Também somos muito ligados a família.

   ─ Matteo, sua tia não é muito novinha para ter um filho casado?

   ─ Leo é emocionalmente adotado. – Ela fica confusa e me faz sorrir. – Ele se aproximou da família já adulto, vivendo um momento difícil, tia Kiara ajudou o Leo a vencer isso, meu tio Filippo também e ele os tem como país. Não foi adotado legalmente, mas temos muitos adotados. Eu não, sempre quis ser adotado pelo meu pai, ele não me adotou e o Luigi me provoca com isso até hoje. Diz que nem meu próprio pai quis me adotar.

   ─ Como? – Ela pergunta e conto sobre a minha infância e meus primos adotados, como cada um de nós chegou a família. Maria Clara presta atenção em mim, na minha história, não interrompe e gosto disso também. Da atenção que recebo.

   Pago a conta e a levo para casa, suas indicações para chegar são engraçadas. Coisas como, “lá no canto” que significa na esquina, no fim eu acho que vai ser até meio triste quando ela perder o jeito divertido de falar.

   ─ Vou sentir saudade desse seu jeito de falar, daqui um tempo vai deixar de falar assim.

   ─ Égua, deixo nada!

   ─ Você é linda. – Nem é realmente uma tentativa de conquista, só uma constatação. Mesmo assim ela fica um tanto sem graça e só a deixa mais bonita. Estaciono em frente ao pequeno hotel. Eu e Luigi ficamos em muitos lugares como esse nas férias que passamos pelo mundo. Normalmente são mais acolhedores que os grandes hotéis cinco estrelas. Ela me olha um momento sorrindo.

   ─ Vai cozinhar para mim domingo? – Pergunto e ela suspira pensativa.

   ─ Preciso do trabalho, Matteo. Se tiver mesmo certeza que não vou perder o emprego é só me convidar de novo, mas primeiro se certifique, por favor.

   ─ Domingo apanho você aqui as dez da manhã. Vamos nos ver antes disso, toda hora estou na doceria atrás da tia Kiara. Somos muito ligados. Não se preocupe.

   ─ Nesse caso, vou gostar de cozinhar. Sinto saudade de ter uma cozinha.

   ─ Domingo, dez horas. – Ela se estica e beija meu rosto. Gosto disso, depois acena e deixa o carro, espero que entre e sigo para casa.

   Não tem nada errado estar perto de alguém que me faz bem, podemos ser amigos, podemos até quem sabe ser mais que isso. Não vai durar, ela vai embora e eu tenho meus planos de me focar no trabalho, mas e daí, pode ser bom para os dois.

   Quando chego em casa, Luigi está esparramado na sala de televisão. Ele mora em todos os cantos, aqui, na casa de tia Kiara, na Vila, morava na universidade, Luigi não fica muito em canto nenhum.

   ─ Boa noite, mocinho, onde esteve até essa hora? – Ele diz sem se mover, me sento na poltrona.

   ─ Ridículo. A tia Kiara contratou uma brasileira e já aviso que é para manter distância.

   ─ Ela é bonita? Já conheceu? Está interessado? – Ele se senta, tem horas que fico pensando se ele não é filho da tia Gabriela. Como adora uma fofoca.

   ─ Maria Clara. – Digo o nome e soa bem. Até me faz sorrir e ganhar uma careta de espanto de Luigi. – Jantei com ela.

   ─ Que apressadinho, uma graça ele. – Atiro uma almofada em sua direção, ele se esquiva.

   ─ Ela é bem bonita, gata, legal também, saímos para fazer umas compras que a tia pediu e paramos para jantar, conversamos um pouco. Gostei do jeito dela, não sei, estou... intrigado.

   ─ Primeiro, tia Kiara fazendo as vezes de vó Pietra e juntando casais, novidade. Segundo, intrigado é o novo jeito de dizer que está caidinho por ela? Terceiro... não sei.

   ─ Luigi, só quero que vá atirar seu charme em outra direção. Certo?

   ─ Certo. Não vou atravessar seu caminho, mesmo que ela se apaixone por mim, você sabe que pode acontecer.

   ─ Me devolve a almofada que quero atirar em você de novo! – Ele se ajeita mais uma vez no sofá.

   ─ Um conselho, vê se não fica levando a menina para comer, só pensa nisso, já perdeu uma namorada por isso, desconfio que perdeu todas por isso, elas só não admitem.

   ─ Cala a boca! – Eu resmungo. Acabou por que acabou, por que não era de verdade, nada a ver isso de convidar para comer. – Domingo ela vem cozinhar aqui. Então arruma o que fazer.

   ─ O que eu acabei de dizer? Leva a menina para dançar, para uma viagem romântica para um hotel a beira mar, cinema, só pensa em comida. Que tipo de encontro é esse? Chama garota para vir cozinhar para você? Matteo, se eu fosse uma garota, nós nunca namoraríamos.

   ─ Que alivio! – Digo rindo. – Luigi, ela gosta de cozinhar, entende? Me chamou para comprar comida.

   Luigi ri, toca o pescoço e brinca com o colar. Virou um tipo de mania dele, mexer nesse colar que ele carrega no pescoço e que alias é feminino.

   ─ Sério? Ainda andando com isso?

   ─ Sim. Um dia ela cruza de novo meu caminho e quem sabe reconhece.

   ─ Luigi, estávamos na Turquia. Qual a chance?

   ─ O destino é implacável! – Ele diz de modo fatal. – Agora deixa eu terminar de ver minha série. O Fabrizio agora que casou assiste antes e fica dando spoiler, tenho que alcançá-lo antes do fim de semana. Cinco episódios.

   ─Onde estão todos?

   ─ Seu pai e sua mãe foram jantar à dois. Me excluíram e excluíram a Giulia, ela deve estar no quarto, traumatizada.

   ─ Vou lá. – Deixo Luigi estirado no sofá e subo as escadas. Bato na porta da minha irmã.

   ─ Entra! – Ela grita, abro e Giulia está na cama com o celular na mão. – Oi. Chegou. Papai e mamãe foram jantar. Aniversário do cadeado. – Ela sorri.

   ─ Está bem? – Sigo até sua cama e beijo seu rosto. Minha irmã afirma deixando o celular de lado.

   ─ Estou bem. Estava conversando com a Bea. Matteo, o que acha de eu estudar Botânica?

   ─ Acho que pode estudar o que quiser. Você adora flores e plantas de modo geral. Não sei bem o que pode fazer nessa área, mas se gosta.

   ─ Cultivar flores. Isso que eu quero. Seria incrível, eu adoraria. O que acha?

   ─ Que eu e você somos bem tolos, e vamos ser dois desempregados.

   ─ Eu sei, mas o Luigi herda a agencia por nós e o Fabrizio já seguiu os passos da mamãe e do tio Vittorio, a Bella do tio Conan, então temos sorte, estamos seguros sobre isso.

   ─ Verdade. Está com fome?

   ─ Não, Matteo, só você está.

   ─ Errado, acabei de jantar com uma linda brasileira. Maria Clara que trabalha com a tia, vai gostar de conhece-la.

   ─ Olhinhos brilhando? – Ela me abraça. – Boa sorte.

   ─ E os seus olhinhos, quando vão brilhar?

   Giulia os desvia e acho que alguém já andou remexendo em seu coraçãozinho.

   ─ Quer contar? – Giulia ajeita os óculos no rosto, balança a cabeça em negação. É linda, tão linda quando minha mãe, ainda mais linda que ela. Cabelos dourados, olhos verdes, delicada e de linhas perfeitas no rosto, mas usa aparelho para corrigir uma pequena falha nos dentes do fundo e óculos de grau. No fundo eu sinto que ela tem problemas com isso, não devia, mas tem e até desabrochar vai ter lá seus problemas. Felizmente tem minhas primas para apoiar.

   ─ Para de me analisar! – Ela me dá um empurrão no ombro e lembro de Maria Clara fazendo isso.

   ─ “Égua”! – Digo a ela.

   ─ Que? – Ela pergunta surpresa e rindo. – De onde tirou isso?

   ─ Logo vai aprender. Boa noite.

   A semana custa a terminar de correr, não é todo dia, mas pelo menos um dia sim, um não dou um jeito de ir ao encontro dela. Apareço sempre no fim da tarde e levo as duas em casa, deixo minha tia primeiro, tia Kiara sabe que seria bem mais prático deixar Maria Clara e depois ela, mas não diz nada.

   Na sexta à noite eu os levo para Vila, volto no sábado pela manhã avisando que o piloto vai busca-los por que tenho algo importante para fazer e ninguém parece muito interessado em saber o que é. Isso significa que é obvio, Luigi já abriu a boca e espalhou sobre o almoço com Maria Clara.

   Me forço a não correr atrás dela, passo o dia lendo sobre sustentabilidade e gentrificação. Saio para jantar sozinho e penso que agora ela podia ir comigo, quem sabe está sozinha também? Ou não, ela é bem interessante, bonita e muito comunicativa, por que estaria em casa num sábado a noite? Não gosto de pensar nela assim, saindo com alguém e admito que estou envolvido, todos os momentos que passei com ela foram muito divertidos e leves.

   Custo muito a dormir e queria ser viciado em séries de televisão como meus primos todos, mas não sou. No máximo assisto esses programas sobre reformas de casas e decoração. Nunca gosto do resultado e sempre penso que podia fazer melhor. Aproveito para correr por uma hora na esteira ouvindo música e quando volto para cama simplesmente apago.

   Acordo cedo e corro para cozinha. Está tudo limpo e organizado. Não quero fazer feio, tem vinho, tem todos os ingredientes da lista que ela me entregou e a casa está toda em ordem.

   Tomo banho correndo e saio apressado. Quando chego a porta, ela já me espera. Dois homens passam por ela, um deles assobia e diz uma bobagem, ela mostra o dedo do meio para eles e enfrenta os olhos surpresos deles.

   Fico rindo no carro. Que garota incrível. Quando salto rindo ela abaixa a mão rápido, fica corada.

   ─ Eu vi. – Aviso beijando seu rosto. – Chocou os dois.

   ─ Aproveitei que estava na porta do hotel e podia correr para dentro se eles ficassem bravos. Minha vontade era colocar esses dois para “dançar o carimbó”, isso sim. Bater neles. – Ela já se acostumou a traduzir suas expressões.

   ─ Vamos? – Convido e ela me segue para o carro. Senta e aperta o cinto.

   ─ Um dia, vou ensinar você sobre a minha dança. Adoro dançar o carimbó.

   ─ Bater nas pessoas?

   ─ Égua, Matteo, não. Dançar mesmo, isso é outra coisa. Trouxe minhas saias mais bonitas.

   ─ Quero aprender. – Digo enquanto dirijo para minha casa. Quando chegamos e os portões se abrem ela arregala os olhos.

   ─ Você mora na novela das nove. – Ela diz surpresa. – Sério, parece casa de novela. Do núcleo rico da novela.

   ─ Tem muita novela no seu país.

   ─ Tem, isso é só seu e dos seus pais?

   ─ E minha irmã, mas também é onde toda a família fica quando vem a Florença, todos da Vila De Martino.

   ─ Deve caber uma vila toda mesmo! – Ela diz quando saltamos. Mostro os jardins, eu e meu pai ainda jogamos bola por aqui e Giulia fica brava quando acertamos uma de suas plantas. Ela se encanta com a piscina, entramos e Maria Clara fica surpresa com a casa.

   ─ Muito bonita, não queria morar numa casa desse tamanho, deve dar o maior trabalho limpar, mas é linda.

   ─ Não sei dizer, arrumo meu quarto, só isso. – Puxo sua mão e seguimos pela sala de jantar, ela para em frente a mesa longa. Sorri.

   ─ Na varanda da minha casa tem uma mesa de madeira assim bem cumprida, todo mundo se reúne aos domingos para almoçar e depois dançamos carimbó.

   Da vontade de estar em um momento como esse. Vou pesquisar sobre isso, sobre sua terra e seus costumes.

   ─ Cadê a cozinha? – Ela questiona afastando a saudade.

   ─ Por aqui. – Indico e seguimos.

   ─ “Pai D’Egua” que lindeza de cozinha, dá para morar aqui. – Isso sim é que é paixão. Os olhos brilham enquanto ela caminha pelo espaço, alisa o balcão e toca os armários e a geladeira. – Dá gosto de cozinhar num lugar como esse. Meu sonho.

   ─ O meu também, eu acho! – Ela me sorri. – Serei seu ajudante, você manda e obedeço.

   ─ Mano, eu bem que posso gostar disso! – Ela me avisa e eu bem que posso gostar ainda mais. Lavamos as mãos, ela prende os cabelos e separa ingredientes e dá ordem e ri aqui e ali e quando coloca o feijão no fogo com as carnes fico impressionado com o perfume.

   ─ Isso vai ficar muito bom. Demora?

   ─ Um pouco. Era para ter começado ontem, mas como não deu...

   ─ Fiquei aqui sozinho, se soubesse...

   ─ Quando encontrar o que preciso para um tacacá aí sim, vai adorar, mas pelo menos tem sua feijoada.

   ─ Que acha de escolher uma coisa bem gostosa para cozinhar para minha família no fim de semana?

   ─ Matteo... sua família... trabalho para sua tia. Não sei se vou, não.

   ─ “Égua” Que chata. – Ela gargalha, seu riso preenche o ambiente e sua mão toca meu peito e gosto do contato espontâneo.

   ─ Amei. Diz de novo?

   ─ Não. Vamos fazer o doce de chocolate.

   ─ Brigadeiro. – Ela diz tranquila.

   ─ Brigadeiro. – Nos colocamos lado a lado diante do fogão, ela abre uma lata da iguaria doce e leitosa. Gosto de cheiro, da textura e do sabor, quando o creme escorre lento para panela coloco meu dedo roubando um pouco.

   ─ Mano, “olha que o pau te acha”. – Ela me diz e nem precisa explicar, é claramente uma ameaça. – Mãezinha vivia dizendo isso.

   Quando o chocolate se mistura ao creme o perfume ganha mais calor. Enche minha boca de água e me aproximo mais dela e dá panela. O perfume do doce se mistura ao dela, Maria Clara pega minha mão e me ensina a mexer o doce em movimentos circulares, sua mão delicada dobre a minha, meu braço roçando no seu, meu queixo quase no seu pescoço e meu coração fora do ritmo.

   Juntos erguemos a colher e assistimos o doce correr suave de volta a panela. Ele brilha quando volta a panela e ela desliga o fogo, nos afastamos e sinto falta de estar tão perto. No balcão de mármore, um prato espera solitário, ela derrama o doce sobre ele e lá estou eu de novo ao seu lado, perdido entre seu perfume e o perfume do doce.

   Nos olhamos um momento quando ela me entrega a panela e uma colher.

   ─ O que?

   ─ Raspar a panela. Uma tradição. Enquanto esfria o brigadeiro raspamos as sobras da panela. Se estiver de coração partido nem tira da panela. Come direto nela. Aplaca um pouco a tristeza.

   ─ Já esteve de coração partido? – pergunto sem desgrudar os olhos dos dela. Maria Clara nega me olhando profundamente.

   ─ Ainda não. – Me diz numa voz suave. Passo a colher no canto da panela, levo a boca, ainda meio quente e mesmo assim, muito saboroso. Meus olhos nos dela. Passo a colher mais uma vez e levo até seus lábios. Ela abre a boca, come o doce, uma gota se perde no canto dos lábios que tenho certeza, foram desenhados para serem beijados.

   Me curvo lentamente, ela não se move, não recua e pelo contrário, oferece os lábios num convite silencioso e olhos semicerrados que não resisto. Tomo seus lábios e seu gosto se mistura ao doce do amor e o beijo ganha um sabor suave que move meu coração.

   Minha mão a envolve enquanto a outra procura o balcão para deixar a panela e então eu a tomo nos braços, seus braços sobem por meu peito até me envolverem o pescoço e meu corpo se junta ao dela num beijo longo de pura entrega.

   Esperei toda uma vida por um beijo como esse. Que desorganizasse tudo, que remexesse a vida e desse sabor e doçura.

   Nos afastamos um leve segundo, passo a língua levemente pelo canto dos lábios antes de voltar a beija-la sem conseguir desgrudar dela.

   Quando nos afastamos um pouco ela me olha nos olhos. Eles sorriem assim como os meus.

   ─ Adoro brigadeiro. – Digo a ela que me sorri em resposta. O doce do amor.


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Notas finais do capítulo

beijossssssss



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