Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 37
Fogo no Taj Mahal


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!

E aí pessoas? Estão todos bem? :D

QUE BOM! Então vamos ao capítulo de hoje!

"A TARDIS atravessou uma espécie de "buraco de minhoca" e chegou em outro universo. O Doutor e as meninas estão presos lá até que alguma coisa seja feita. Bom, eles não ficaram de braços cruzados. "

Espero que gostem dessa aventura gente! *-*



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E a nave estabilizou com um intenso baque, com direito a um suspiro leve e contínuo no final. As garotas e Nik mal tiveram tempo de se recompor e já saíram correndo na direção da porta (já estavam acostumados com a investida rápida e imediata do amigo). Melissa chegou a atravessá-la, junto de Nik, mas Luisa parou no ultimo segundo, ao notar que não havia nenhum ressonar de passos ás suas costas: o Doutor não as estava acompanhando.

—Doutor? –ela fitou o console atentamente de cima á baixo, com certa urgência, procurando-o com os olhos. Ele não estava em lugar algum que sua vista pudesse localizar. Uma adrenalina repentina percorreu-lhe o corpo e ela disparou rumo à escadaria circular do painel de controles. Contornou-o, correu ao seu redor, mais nada do amigo aparecer. Olhou até mesmo embaixo do piso de ferro engradado, misturado com vidro, que tinha espaços suficientemente grandes para se poder enxergar o que havia abaixo de si. O amigo vivia metido lá em baixo consertando os “cabos auxiliares” e coisas do tipo, mas nem ali ela foi encontrá-lo. Luisa sentia-se ansiosa, já não conseguiu mais controlar o incessante desconforto na boca do estômago: Onde será que o amigo estava? Ele não poderia simplesmente ter desaparecido, poderia? 

—Ah... Vamos lá! Cadê você? –ela ignorou o desespero e tornou a procurá-lo, desta vez distraindo-se por um momento enquanto fitava os motores verde água, em posição vertical no painel de controles, que tremeluziam de leve, terminando de estabilizar. Luisa espremeu os olhos e cutucou de leve o vidro esverdeado, que rodiava os motores, com a dobra dos dedos. –Por que continua tremulando? Parece até que está dançando conga! 

—Alguém falou em... Dançar conga?—Luisa se sobressaltou. O Doutor reaparecera de repente, descendo a extensa escadaria que levava ao corredor interno da TARDIS, (cuja o Senhor do Tempo lhe contara uma vez, haver todo o tipo de coisa, em infinitas dimensões, dispersas por diversos quartos –da qual ele mesmo afirmou não ter total conhecimento) enquanto ajeitava a abotoadura de seu elegante terno preto. O mesmo terno que ele usara para se reconciliar com ela em 1860, no Palácio de São Cristóvão. A lembrança do rapaz vestido á caráter e com uma rosa vermelha nas mãos, caminhando em sua direção, lhe despertou os sentidos, criando um súbito arrepio bom em todo o seu corpo. Rapidamente, Luisa voltou a si. O Doutor parara a alguns centímetros dela: estava sorrindo amplamente, como sempre fazia quando estava pra lá de empolgado.

—Onde você pegou isso?

—No guarda-roupas. Onde mais seria? –ele disse indiferente. –O que achou?

—Meio... “Fresta de Gala”. –admitiu a menina. –O que pretende fazer usando isso?

Jogar futebol americano! O quê mais acha que seria? –brincou, colocando as mãos nos bolsos.

—Não me diga que estamos indo à uma festa de gala? –ela hesitou. –Não estou vestida a caráter...

—Não se preocupe –ele estendeu-lhe o braço, e ela encaixou sua mão na dobra do cotovelo do rapaz, juntando-se a ele. –Definitivamente não estamos indo para uma...

Pessoal! Gente! Venha cá! Vocês estão perdendo a maior festa de gala de todas!!!—Melissa irrompeu inesperadamente no interior da cabine azul, ressurgindo do exterior, agora com um tecido laranja e dourado enrolado em volta do corpo; um colar de flores de verdade no pescoço, e mais uma bebida lilás em uma taça de prata, estendida por uma de suas mãos, na direção dos amigos. Imediatamente, Luisa olhou feio para o rapaz ao seu lado.

—Não tem festa nenhuma, não é? –disse ela enfática.

O Doutor deu de ombros.

—Eu tentei não ser previsível.

—Não funcionou! –Luisa encenou sua suposta impaciência cruzando os braços e revirando os olhos, mas um sorriso divertido teimava em distorcer suas feições irritadas. –Você precisa trabalhar mais nesse troço de “saber convencer uma garota de algo”. –alertou, tentando manter a postura séria.

—Eu estaria me saindo bem, se não fosse por Melissa... –completou ele. –Ela estragou todo o meu plano!

—Isso foi um plano? –Luisa teve vontade de rir, mas se deteve. –Está mais para mais um daqueles seus incontáveis improvisos...

—Sou capaz de fazer as duas coisas ao mesmo tempo! –disse ele, exibicionista.

—Mais que convencido, “senhor Doutor”! –brincou ela, puxando os suspensórios do rapaz e fazendo-os estalar contra seu peito, atrevida. Ele deu um sorriso torto, um tanto malicioso.

Venham logo tartarugas de muleta! A festa é aqui fora... –Gritou a outra, trazendo-os de volta daquele clima de loucuras. Fazendo-os finalmente perceber que Melissa sumira atrás das portas azuis, novamente.

—O que deram para ela beber? Não está fazendo bem à cabeça dela... –disse o Doutor de um jeito cínico, de modo que Luisa não conseguiu esconder um sorriso.

—Vamos descobrir... –ela lhe devolveu o braço, cruzando-o novamente com o seu, e seguiram para fora da TARDIS, finalmente indo de encontro para com o que lhes esperava do outro lado. 

Logo que saíram, foram bombardeados pela visão imediata de um salão cheio e extenso, repleto de pessoas usando vestimentas distintas, como a que Melissa os abordara anteriormente, mas desta vez, com uma incontável quantidade de cores, e tecidos ainda mais brilhantes e luxuosos. Além de muita música: quando abriram as portas da cabine azul, a música *Nagada Nagada, logo chegou aos seus ouvidos. Luisa chegou a esfregar os próprios olhos, descrente do que via. Todas aquelas pessoas, além de super enfeitadas, dançavam de um jeito engraçado a música que vinha tocando como plano de fundo para animar a festança. Em meio a todo aquele alvoroço, (e todo o calor que ele proporcionava na extensão do lugar), encontraram com os olhos, também, uma mesa farta de comida, onde todos os convidados serviam-se em algum momento entre as danças e as conversas paralelas. Era engraçado vê-los encaminhar-se até ela, pois eles nunca paravam de dançar para poder apanhar os quitutes; sempre o faziam com movimentos leves, e de modo natural, como se a dança fosse parte essencial de seu dia-a-dia. O burburinho era grande, mas ainda sim não conseguia ultrapassar o som da música que, além de muito animada, também era contagiante. Luisa voltou-se para o Doutor, ainda parado ao seu lado: ela demorara para conseguir desviar os olhos da animada comemoração tão convidativa, e notara sem muito esforço, que o amigo ainda estava na fase de contemplamento e assimilação. Como se seu cérebro ainda estivesse tentando registrar tudo aquilo, mas aos poucos, para não perder nenhum detalhe importante. Com uma certa resistência, o Doutor forçou-se a tirar os olhos da confusão de corpos dançantes cobertos com tecidos coloridos, para poder corresponder o olhar de Luisa. Tentou balbuciar algo, mais as palavras não saíram.

—Eu sei... Também estou sem ar –ela adivinhou, sorrindo amplamente, ainda incrédula. –Onde estamos? Espera! Acho que tenho uma pergunta melhor... Quando estamos?

—O ano é desconhecido –disse o rapaz, ainda com a mesma expressão surpresa do princípio. –Esse é outro universo... Outra versão da realidade. A TARDIS está meio... Confusa. Ela não consegue determinar a época porque ela não coincide com a linha de tempo de nossa originalidade... Agora, sobre onde devemos estar, acredito que seja em algum país com costumes diferentes dos nossos... Parece árabe! Não, não! Turco...

Indiano, você quer dizer? –disse Melissa, ressurgindo atrás dos dois.

—Poderia ser. As roupas até que fazem jus... –então ele a viu de verdade. Nem percebera sua reaproximação. -Ah! Resolveu dar as caras “sumidinha”?  Posso saber o que você andou aprontando?

Não-é-da-sua-conta...—disse ela muito zen. Pra lá de alegre. Alegre DEMAIS para o que se diz respeito á Melissa. O Doutor tinha razão, aquela bebida não estava fazendo bem para ela...

—O que você está tomando? –ele passou o dedo em sua taça, apanhando uma gota e levando à boca, experimentado. –Isso parece chá de papoula... Ajuda a acalmar os nervos, é particularmente conhecida por suas propriedades ligadas ao bom sono. Praticamente um sonífero. E mais o que? Deixe-me ver, um leve aroma de... Flor de Lótus. Esta cria visões fantasiosas. Alucinações, se preferir... Deixa a pessoa pra lá de ALEGRE. –ele fez uma careta para ela. -Por que diabos está misturando as bebidas?

—Estavam servindo assim lá naquela bancada... –ela apontou para a outra extremidade do salão e, enquanto os dois amigos viraram-se para conferir, ela desequilibrou-se ás suas costas, e caiu de mau-jeito no chão. Os dois voltaram-se para ela ao mesmo tempo, ainda em tempo de vê-la tentar se apoiar nos cotovelos, na tentativa de recobrar o equilíbrio, sem sucesso. Não se moveu do chão e, pra variar, começou a fitar os pés de uma maneira absurdamente pretensiosa: -Eu tenho quatro pés... Puxa vida... Isso é tão sexy!

O Doutor revirou os olhos.

—Olha só pra isso! –ele ajudou-a a se levantar. Sua testa estava em V. –Fica caindo pelas tabelas por aí... Parece até uma freqüentadora de bar profissional! Você não devia beber... Está mais do que na cara que o seu organismo não se dá com misturas de soluções diferentes, como drinque com chá e...

Escuta aqui cabeça oca—ela sorriu, batendo com os nós dos dedos na têmpora dele. –Eu não tô bêbada!—e desmaiou em seus braços, como um saco de areia. O Doutor bufou.

—É isso que eu virei agora? Babá da Melissa de ressaca?—indagou ele à Luisa, parcialmente indignado.

—Eu não creio que você teria paciência –ela riu e ele ergueu as sobrancelhas. –Qual é? Não consegue deixar de se meter em confusão nem por cinco minutos! Quem dera cuidar da Melissa bêbada...

—Isso não é trabalho pra mim... Prefiro me internar num hospício! –ele falou e os dois riram, enquanto tentavam re-acordar Melissa.

—Não acredito que você disse mesmo isso! Queria que Melissa estivesse acordada para testemunhar –brincou Luisa.

—Acredite, você não ia querer isso –ele arregalou os olhos para ela, como se temesse algo. -É melhor isso ficar só entre a gente, hã? –ele lançou-lhe uma piscadela cúmplice e a garota assentiu, divertida.

Conseguiram trazer Melissa de volta á si ao fazê-la inalar incenso (que estava disperso sob todas as mesas), no entanto, ela abriu os olhos e fitou-os por um momento, sem reação, então ergueu-se de um pulo, e tornou a correr por entre a multidão, sumindo de vista e gritando: “Estou no paraíso!”. Os dois se entreolharam demoradamente.

—Essa Melissa não toma jeito mesmo! –riu Luisa. –Acho que ela está se sentindo em Las Vegas, num cassino ou alguma coisa do tipo...

—Melhor do que se sentir perdida em um deserto, garanto! –interveio ele sério. Os dois se olharam mais intensamente, e ele finalmente liberou um sorriso de canto de lábios.

—Você também não toma jeito! –ela concluiu, dando-lhe um cutucão de leve nas costelas, só para provocá-lo.

Ele riu e inclinou-se em sua direção, falando no pé de seu ouvido.

—Se eu o fizesse, garanto que você não estaria comigo até hoje –e sorriu intensamente. Ela ergueu as sobrancelhas, desafiadoramente.

—Acha que me conhece tão bem... Senhor do Tempo? –rebateu, um meio sorriso ainda aparente.

—Vamos... –ele sorriu de volta, levando-a para junto das pessoas. –Se ficarmos fora da aglomeração, seremos notados... Precisamos dar a ilusão de estarmos fazendo parte da multidão, ou então o plano de nos misturarmos irá para o brejo! –ele disse bem baixinho, então tomou sua frente e pegou seu braço inesperadamente. –Me concede esta dança...?

—O quê? –ela hesitou, surpresa. –Mas eu não sei dançar isso! Como é que você espera...

—Faz parte do dever de um viajante do tempo... –ele assegurou. –Temos que nos misturar. Ficar á paisana. Só finja que está dançando. Copie alguns paços... –então, vendo que ela estava indecisa, partiu para uma abordagem mais direta, sem rodeios. -O quê que há? Não quer se divertir um pouco? Me desculpe dizer, mas não posso te levar pra casa agora, então... Por que não aproveitar o tempo que temos juntos em um universo diferente?

Luisa parou para pensar por um segundo, então abriu um sorriso gigantesco e seus grandes olhos castanhos cintilaram.

—Certo. –concordou. –Vamos dançar um pouco. –ela arriscou. –Mesmo sabendo que será um verdadeiro desastre...

E entraram no meio da multidão, para dançar ao som de *Chori Chori Gori Se. Começaram copiando alguns paços mais fáceis como, por exemplo, o fato de a maioria dos indianos baterem muitas palmas e chacoalharem o corpo enquanto dançavam. O resto dos paços exigiam um pouco mais de observação, mas até que, depois de um certo tempo de atenção, tornavam-se fáceis de se copiar: as mulheres dançavam leves, as mãos especialmente demonstravam o ar delicado e sensual de sua dança, já os homens dançavam mais batendo palmas e pisando de um jeito engraçado sob o chão de piso colorido com vários desenhos dentro de um enorme círculo, como uma Mandala gigantesca, que começava no centro do salão, e se expandia até onde seus olhos conseguissem alcançar. Claro que havia alguns paços mais complicados que os dois não conseguiriam reproduzir nem de perto, mas nessas horas, apenas repetiam os paços que já haviam aprendido, tentando manter preenchido todo o tempo em que a musica tocava.

Os dois riram muito juntos, já que viviam esbarrando nas pessoas (que na real não pareciam se importar) e em si mesmos.

—Que droga estamos fazendo? –riu Luisa, de gosto.

—Não sei! Rá! –gargalhou o Doutor animado, rodopiando e dançando alguns paços certos, outros em um misto de conga e uma dança pra lá de maluca que parecia a dança do mergulho, mas ao mesmo tempo, tinha um traço diferente. O rapaz ficava andando, contornando-a em círculos, enquanto fazia a dança.

—O que você está fazendo? –perguntou Luisa com estranheza.

—Esta é a dança da Girafa Bêbada!—disse ele com orgulho.

—E por que ela se chama assim? –indagou Luisa. –Por acaso já viu uma girafa bêbada dançando antes?

—Não, mas se elas dançassem, fariam dessa forma –e continuou, fazendo-a rir. 

—Você é maluco! –ela riu.

—E você adora isso!

Ela apenas sorriu em resposta, sem parar de dançar, e os dois continuaram se divertindo juntos. A diversão durou até certo ponto, quando um grupo de meninas e meninos adolescentes, e indianos, caminharam até eles e interceptaram-nos. Eles só entenderam o que eles disseram por conta do tradutor telepático, embutido da TARDIS.

—Você pode nos acompanhar? Temos algo para você, moça bonita –disse uma das meninas, puxando Luisa pelo braço.

—Ah... –ela fitou o rapaz ao seu lado com urgência.

—Eu... –ele ficou sem fala por um momento. –Ah... Espere aí! Não tem que levá-la... Ela não fez nada demais! Só estávamos dançando –ele não parava de revirar os bolsos internos do casaco. Só sossegou quando finalmente tirou uma pequena cartela revestida com um material azul e mostrou-o quase colocando-o na cara dos jovens: o papel psíquico. –Podem olhar á vontade. Aqui está o nosso convite, vêem? Eu sou o Doutor e essa é Luisa. Eu e minha amiga estamos aqui como convidados. Viemos de muito longe e...

 -Ah! –uma das meninas exclamou. –Isso explica porque sua amiga e você não estão usando roupas típicas... –e sorriu largo. –Vamos escolher um tecido muito bonito para ela!

E todas as outras meninas se animaram, agitando-se alegremente, batendo palmas e saltitando de satisfação. Então os rapazes se interpuseram:

—Vamos encontrar uma roupa para o senhor também, Doutor... –disseram, já arrastando-o para o outro lado. Acabou que os dois nem tiveram tempo para se despedir um do outro, apenas trocaram olhares, enquanto os dois grupos os arrastavam em direções opostas.

Em poucos minutos, o Doutor ficou pronto. Os rapazes não demoraram quase nada com ele. Apenas fizeram-no vestir uma bata verde, um traje masculino típico, e um turbante na cabeça, então pintaram-lhe a testa com uma gotinha de tinta vermelha. Disseram que isso era um detalhe muito importante que não podia faltar, mas não se estenderam nas explicações. É claro que ele continuava com suas roupas por baixo das vestimentas. Não abriu mão delas, nem mesmo do All Star bege, (que causara naquela manhã antes de sair da TARDIS), apesar de ninguém no salão usar sapatos nos pés.

—Obrigado meninos. Agora, sejam bons anfitriões e me digam onde eu posso encontrar aquela minha amiga, a Luisa... A que foi raptada de mim, pelas meninas alvoroçadas.

Os meninos todos riram.

—O senhor fala engraçado –disse um, o mais alto de todos no grupo. –Elas irão voltar logo. Você sabe como são as meninas...

—Ficam se enfeitando com jóias até não sobrar um espaço vazio no corpo! –completou um outro, exagerado. –Pelo menos, esse é o costume.

—Tá legal... Então presumo que isso irá demorar um pouco mais do que o esperado –concluiu ele pensativo. –Ótimo. Então tenho tempo de... Dar uma olhadinha por aí.

Os meninos continuavam risonhos.

—Desculpe, mas o que é tão engraçado?

—Você, senhor –disse um garotinho de roupagens lilases, com pingentes e enfeites decorando os trajes. –Porque o senhor gosta de meninas!

—E por que não gostar? Sei que são jovens demais, mais deve haver um motivo maior para isso...–disse o Doutor, raciocinando em voz alta. Então, abaixou-se um pouco para ficar da mesma altura dos garotos e indagou-lhes. –Por acaso elas não são alienígenas disfarçados, são?

—Não senhor –disse o rapaz mais velho franzindo a testa, tempo depois. –Eu acho. O que é um alie... Essa coisa que você falou?

O Doutor sorriu amigavelmente, encarando aquela colocação como um sim.

—Por que não vão brincar? –o Doutor desconversou. –Já brincaram de cabra cega?

—Sim, é claro! –disseram em uníssono.

Muito bem, então vamos brincar disso –ele enfaixou os rostos de todos os meninos com seus mine turbantes, em seguida afastou-se com cautela, tentando fugir de mansinho. –A brincadeira é tentar me encontrar... Ah! Lembrando que não é permitido espiar debaixo da venda, certo? –conferiu. –E... Está valendo á partir de agora! –disse já em uma distancia segura.

Imediatamente todos os meninos tiraram os turbantes / vendas e fitaram-no com ar de riso. O Doutor parou no meio do trajeto, ao ver que seu plano não deu certo.

—O que eu falei sobre espiarem por debaixo da venda?

—O senhor já vai? –emendou um dos garotos. –As meninas foram por ali... –e apontaram para uma só direção, ás suas costas.

—Muito bom, ah... Obrigado pela informação. Então... Agradeço-lhes o serviço –ele apertou a mão de cada um e depois deu-lhes as costas. –Ah! Mais alguns lembretes de sempre: sejam bons para suas mães, comam verduras e não falem com estranhos... Eu estou incluso na descrição!

—Você vai ficar mesmo com esses sapatos estranhos? –indagou um menino á longa distancia.

—Eles são a minha cara! –gritou o Doutor, distante.

Um dos meninos deu de ombros e comentou para o outro:

—Eu pensei que fossem feitos para serem usados nos pés, não na cara!

*   *   *

Longe dali, o Doutor encontrou, com muito custo, as portas de entrada do grande salão majestoso em que a festa estava ocorrendo.

—Carambola! Mais é o Taj Mahal... –arfou impressionado, colocando os óculos de armação quadrada para observá-lo melhor. Soltou um assobio de admiração no final da contemplação. –Tem algo de diferente por aqui... Algo que está mais do que na cara. Vejamos, muito dinheiro, muito luxo... Parece até Dubai. Será mesmo possível... Uma versão da Índia rica? Sempre ouvi falar que era um país populoso e extremamente pobre, de um modo geral... Mas este lugar é de se criar dúvida!

Tirou um binóculo pequeno do bolso e regulou sua lente na direção da cidade: suas suspeitas se confirmaram quando seus olhos contemplaram os telhados das construções pra lá de luxuosas. Aqueles eram indícios de que, naquela versão da realidade, a Índia sofrera grandes alterações.

—Mas se aqui está todo o povo rico... Onde está o pobre? –indagou o Doutor finalmente, com seus botões. –Não há como uma população inteira se manter bem financeiramente... Sempre houve diferenças de classe sociais, até nos países mais desenvolvidos, há uma certa diferença entre as finanças das pessoas. Não que isso fosse uma coisa boa, mas a Índia não pode ter simplesmente mudado tanto assim... Não. Não de forma tão extrema!

Estava perdido em seus pensamentos, quando uma cena logo abaixo da grande escadaria do Taj Mahal, lhe chamou a atenção. E é claro que ele não resistiria em dar uma espiada.

 -Namaste senhor... –um homem bigodudo inclinou-se perante á outro com as mãos unidas como se fosse rezar. -Peguei esse pirralho tentando entrar na festa sem ser convidado... O que faço com ele? –ao que tudo indicava, o bigodudo era um tipo de guarda, que trazia uma criança mulambenta consigo, e fazia a devida pergunta ao outro homem que parecia ser seu supervisor.

Namaste—cumprimentou o segundo, reproduzindo os mesmos paços do primeiro. -Como assim o quê deve fazer? Jogue-o na rua! –rugiu o outro. O menino estremeceu.

—Mas senhor... Eu só queria ver como estava a festa... –disse o menino inocentemente.

O guarda cutucou-o com uma vareta de pau, como se tivesse medo de ficar muito perto dele.

Baguan Kelie! Não se atreva a dirigir a palavra à ele, moleque! –ralhou o guarda, voltando a cutucá-lo. –Onde estão as lamparinas do seu juízo, Dalit? Se apagaram todas?

Are Baba! Lembre-se que você não tem os mesmos direitos iguais a nós! –continuou o supervisor, com a voz firme. –Não adianta tentar... Sua natureza é de ser um intocável! A poeira do universo. A escória da humanidade! Você é um Dalit moleque!

—Opa! Dá licença... Foi mal em interromper vocês assim –o Doutor se meteu, com um sorriso muito largo de “boas vindas”. –Desculpe a intromissão, mas o quê estão fazendo com essa criança?

—Ele quer entrar na festa, mas sabe que não pode! –grunhiu o guarda já soltando fogo pelas ventas.

—E por que não? –insistiu o Doutor. –Não seria mais fácil resolver isso arrumando um jeito de deixá-lo entrar?

Nahin! Não! Ele é um intocável!—gemeu o homem indignado.

O Doutor fez uma cara sombria de puro sarcasmo.

—“Uh! Um intocável!” Parece até nome de filme: O Intocável. Não sei porque, mais até me causou um arrepio nos pés... –o Doutor disse brincalhão

—Desculpe a inconveniência, mas o senhor é muito estranho, senhor! –interveio o bigodudo. -Até parece que nunca viu um Dalit na vida...

—Um o quê? Um DALEK? —o Doutor franziu o cenho, desconfiado. De repente uma chama diferente pareceu queimar em seus olhos.

DALIT!—repetiu o homem. –Um intocável. Baguan Kelie! Não pode se misturar com as pessoas civilizadas, mas parece que esse aqui “se esqueceu provisoriamente de quem é”... –zombou o guarda, tornando a cutucá-lo com a vara.

—Como assim? Então é assim que vocês decidem quem é bom ou ruim? Quem é puro ou não puro... É essa a sua filosofia de vida? Acreditar que a pureza ou impureza determina-se a partir do seu nível de pobreza ou a riqueza? Isso é inadmissível!  -rugiu o Doutor.

—Essa é a lei, senhor! –retorquiu o supervisor, rispidamente. –Nós não a fazemos, mas nós somos obrigados á segui-la! –e lançou um olhar enojado ao garoto. –E ele sabe que não é bem vindo aqui...

—Mais que coisa! Que preconceito irracional! –o Doutor cruzou os braços, contrariado. –Deixem-no ficar! Podemos fazer uma negociação... Garanto que vocês dois estão loucos para ter uma palhinha do que está acontecendo lá dentro, na festa... Ficar a noite inteira de guarda pode ser meio intediante às vezes, não é? –supôs o Doutor. –Seria nosso segredinho. Eu não contaria a ninguém...

Como é que é?—guinchou o supervisor enraivecido, com seu orgulho ferido. –Você está tentando nos comprar? Are Baba!

O Guarda apontou a vareta de madeira conta o Doutor, automaticamente.

—Vai ter que se acalmar, senhor, se não quiser ter que me acompanhar até a saída, também...

O Doutor ergueu os braços em sinal de rendição.

—Calma aí amigo... Sem violência! –e abriu caminho para os dois passarem com o menino, que o encarou de forma curiosa por uma questão de segundos. Quando passou ao seu lado, escoltado pelos dois homens, lançou-lhe um comentário um tanto intrigante:

—Eu me lembro do senhor. Você é aquele mágico, não é? Eu o vi ontem vagando lá na vila... –e fitou-o.

O Doutor franziu o cenho. Mágico? Por que o chamara dessa forma? Vila? Á que vila ele se referia? Isso era impossível, ele nunca vira aquele garotinho em toda a sua vida, e o Doutor nunca se esquecia de um rosto conhecido. Sem reação, ficou observando o menino cruzar os jardins rumo à saída, escoltado de longe pelos dois homens que lhe davam um sermão:

—Essa é a vida que os deuses lhe conceberam. A mais miserável de todas! -ralhou o supervisor indiano. – Você não tem dote! Não é alfabetizado. Nem sabe escrever seu próprio nome... É o pó do cosmos! O capacho da humanidade! Não serve para mais nada além de limpar as ruas e, poluir todos os que o tocam, ou apenas cruzam sua sombra... É um ser amaldiçoado! Só trás desgraça á quem o vê! Para que resistir ás leis, moleque? Com uma maldição como essa nas costas, seria melhor que não existissem! –o homem tirou sarro.

—Isso já foi longe demais... –o Doutor tirou a chave sônica do bolso, disfarçadamente, e ativou-a pelas costas, fazendo explodir, sem dar vestígio, uns latões de lixo na outra extremidade do imenso jardim do Taj Mahal, de modo a chamar atenção dos dois homens com quem conversara. Ambos trocaram olhares confusos e, falando muito rápido entre si e ao mesmo tempo, correram juntos em direção do ruído, ignorando o menino, deixando-o sozinho. Sem demorar, o Doutor cruzou os jardins. Enquanto o fazia, guardou a chave sônica nos bolsos e alcançou o menino intocável, ficando frente a frente com ele, com as mãos nos bolsos.

—Oi, como é que vai? Linda noite, não? –o Doutor sorriu bondosamente. –Aliás, bela tatuagem. Eu gostei. Devo admitir que não sou muito fã dessas coisas, mas essa até que é legal... Como minha gravata- borboleta: ela é legal.

O menino fitou o próprio pescoço por um momento, onde havia uma manchinha em forma de uma lua ao contrário.

—Não é uma tatuagem, é uma marca de nascença... –o menino explicou e o Doutor estalou a língua; 

—Tatuagens. Marcas de nascença. Elas sempre me confundem. No final dá tudo na mesma: ambas são coisas que você não pode remover do próprio corpo. –ele ajeitou a gravata. -Bem, de qualquer jeito, acho que ainda não fomos devidamente apresentados... -e estendeu-lhe a mão. Até o próprio menino hesitou em apertá-la em um primeiro momento, como se temesse que fosse tudo parte de uma armadilha para pegá-lo em um momento de fraqueza e dar-lhe um castigo. O menino recuou alguns passos.

—Senhor? –disse o menino, sem olhá-lo nos olhos. –Nahin! Não ouviu o que os mestres disseram? Não pode tocar em um intocável ou ficará...

Impuro?—completou o Doutor. –Pois é. Essa é uma velha história que eu já conheço muito bem, chamada: preconceito—ele fungou. –Mas se quer saber, eu acho que vou correr esse risco!—e continuou a manter a mão estendida na direção dele. –Vamos... Aperte-a!  Eu não tenho nada a perder com isso.

—Não devo... –resistiu o menino.

—Pense só por um instante nisso tudo –o Doutor se agachou ao lado dele. –Eles dizem tudo isso sobre você. Tudo isso sobre ser impuro... Você vem ouvindo isso há tanto tempo que até chegou a acreditar nessa mentira. –ele falou e o menino não tirou os olhos daquele estranho homem, com idéias tão contraditórias ás dos demais, que até começavam a fazer sentido para seus ouvidos, ou pelo menos, ele queria que fizessem. –Eles implantaram isso na sua cabeça, como uma lavagem cerebral. Fizeram isso com toda uma geração, de modo que todos os descendentes continuam acreditando na mesma mentira, que faz parte do conhecimento de todos, como uma lei... Gente como esses dois homens colocaram idéias erradas na cabeça de todos os indianos mais pobres, para que vocês pensem que são inferiores, quando na verdade, são apenas pessoas sem oportunidade de adquirir uma vida melhor e sair das ruas. Deram até um nome para diferenciá-los dos demais: Dalits. –ele fez uma pausa, pensativo. -A melhor forma de convencer as pessoas de sua “inferioridade”: invente uma história em que todos irão acreditar, fazendo-os temer algum mal ainda maior. Esse é o segredo. –disse com repulsa.

—Mas senhor... Não é história! É tudo verdade... –defendeu o menino. –Todos tem medo de ficar impuros... Ninguém quer chegar perto de um Dalit –ele baixou a cabeça.

—Eu quero –o Doutor insistiu e o menino ergueu a cabeça, confuso. –Vamos! A minha mão continua estendida... Eu ficaria muito honrado se você quisesse apertá-la.

O menino fitou a mão do Doutor por mais um momento. O rapaz mexeu os dedos, incentivando-o.

—Não tenha medo, não irei machucá-lo. Sei que já o trataram muito mal em toda a sua vida, mas eu juro... Só quero ser seu amigo. –disse o Doutor. –Vamos lá! Você pode acreditar em mim... Um cumprimento nunca é um cumprimento legítimo sem um bom e velho aperto de mão!

O menino parou para pensar por uma questão de segundos, então cedeu. 

—Está bem –ele apertou a mão do rapaz e sorriu, ao ter o aperto de mão retribuído pelo estranho homem. –O senhor é diferente dos demais...

—Eu não sou indiano –esclareceu o Doutor. –Tenho minhas próprias crenças... E não acredito que haja algo nesse universo que consiga me convencer a não me tornar seu amigo.

O menino sorriu ainda mais, deixando seu rosto se iluminar.

—A propósito, eu sou o Doutor. Pode me chamar de Doutor. E você, quem é?

—Me chamo Nyha. –disse o menino.

—Prazer em conhecê-lo, Nyha. –o Doutor sorriu amplamente. –Agora... O que você estava dizendo sobre eu ser um mágico?

—Eu me lembro do senhor. Eu o vi ontem lá na vila... Veio até mim e me disse coisas que não compreendi muito bem... Me mostrou sua caixa mágica!

—A minha caixa? Eu a mostrei pra você? –o Doutor deixou a testa enrugar. –Assim do nada?

Atchá! Sim. –o menino disse com os olhos brilhantes.

—Curioso –murmurou o Doutor distante.

—Então... O senhor realmente não acredita na maldição dos Dalits? –Nyha puxou assunto.

—Me chame apenas de Doutor. –intensificou o rapaz. –Não tenho grande estima pelas boas maneiras politicamente corretas á que todos se referem a minha pessoa...

—Certo, Doutor. –repetiu Nyha. –Mas... O que você disse sobre a maldição dos Dalits não ocorrer... Acredita mesmo que é verdade?

—Olhe pra mim –o Doutor mostrou as mãos e deu alguns pulinhos. –Eu pareço amaldiçoado? Pareço mais impuro? Lembre-se que eu toquei em você... Então? Alguma diferença?

Nahin! Não vejo nada de diferente em você –constatou o menino. –Então... Não existe nada? Eu sou um menino... Normal?

—É assim que se pensa! –o Doutor bagunçou a cabeleira cacheada de Nyha, fazendo-o rir. –Há uma pequena região do seu cérebro que dá ordens ao seu subconsciente... Deste modo, você controla seus próprios pensamentos. –o Doutor segurou-o pelos ombros. -Aprenda uma coisa comigo, Nyha: não são os outros que decidirão o rumo da sua vida. Cabe a você, decidir o seu próprio destino. Entendeu?

—Quer dizer... –Nyha coçou a cabeça. –Que não devo dar atenção ao que os outros dizem sobre mim?

—Exatamente –concordou o Doutor. –Eu mesmo não teria dito melhor...

—Mas o que vou fazer Doutor, se todas as pessoas continuarem me tratando como se eu fosse diferente? Mesmo que eu acreditar que não sou, eles continuarão me tratando como se eu não fosse nada!

—Eles continuarão. E é por isso que você tem que ser corajoso... E saber lidar com essas desavenças, porque será esse amadurecimento que o tornará uma pessoa melhor.

O menino sorriu ainda mais motivado. O Doutor abriu a mão para que ele tocasse de volta.

—Muito bom! –sorriu o Doutor. -Agora... O que me diz, você ainda quer entrar na festa?

O rosto iluminado de Nyha, de repente se tornou triste.

—Não posso. Não estou vestido á caráter como você para poder entrar... E, todos lá sabem que sou um Dalit! Eles irão me expulsar no mesmo momento em que eu por os pés na entrada do palácio...

—Não irão não –o Doutor assegurou. –Eu tenho um plano! Não se preocupe que das suas roupas cuido eu... –então o Doutor virou-se de costas e assobiou bem forte, com o dedo indicador e o polegar nos lábios. Imediatamente, o grupo de meninos que anteriormente ajudaram o Doutor a se vestir, re-surgiu, um de cada vez, atrás da coluna direita do Taj Mahal. –Fica tranqüilo Nyha, a patrulha da moda masculina indiana acabou de chegar!

*    *    *

O Doutor entrou com Nyha e mais a trupe de meninos para dentro do imenso palácio novamente. A festa continuava á todo vapor lá dentro.

Are Baba! Estão dançando o Mantra! —comentou um dos meninos para outro, de modo animado.

O Doutor fitou a multidão, de modo curioso.

Chukriá! Obrigado Doutor! –Nyha agradeceu-lhe e correu por entre a multidão dançante, desaparecendo de vista, misturando-se a todos.

O Senhor do Tempo deu uma olhada em geral: nem sinal de Luisa, Melissa ou Nik. A festa estava agora mais movimentada que antes, (com a música *Mast Kalandar tocando e contagiando a todos que dançavam igualmente, homens e mulheres, seguindo uma única coreografia –o tal do “Mantra”), muito mais agitada do que quando pisou no salão pela primeira vez. Foi então que o Doutor viu uma coisa que nunca imaginou que veria naquele lugar, entre os indianos de um sistema solar de outra realidade, em uma festa como aquela:

—Um Ood?—indagou perplexo, na direção de uma criatura com corpo de ser humano, cabeça grande pálida e levemente rosada, olhos amarelos esbugalhados e tentáculos avermelhados de polvo, no lugar da boca, e uma mangueirinha branca que saia desta, ligada em uma bolinha também branca, que todos carregam presos nos bolsos superiores das vestes, ou então nas mãos, quando forem dirigir a palavra à alguém.

—Ah! Então o senhor os conhece, Doutor? –perguntou um dos meninos da “patrulha da moda masculina indiana”, com naturalidade. –São nossos servos.

Servos de novo?—o Doutor tirou sarro. -Mas que surpreendente...

 -Eles nunca contestam nossa autoridade. –explicou o menino. –Nossos antepassados contam que eles chegaram há muito tempo em nosso planeta e que fizeram parte de nosso convívio muito rapidamente, já que meio que imploraram para trabalhar para nós...

 -Esses caras gostam mesmo de seres escravizados, não é? Em todas as vezes em que os vi, os Ood sempre exerceram a mesma função: sempre foram servos dos outros. E eles o fazem de pura e espontânea vontade! Eu juro que ficaria realmente surpreso e assustado se um dia visse um Ood procurando por liberdade... –brincou o Doutor, bem humorado. –Mas eles são gente boa. Quero dizer, isso quando não estão possuídos. Nunca fique perto de um Ood possuído, isso pode ser a ultima coisa que fará... –ele disse sombrio, então liberou um novo sorriso na direção do menino, quebrando o efeito sério de sua frase. –Mas eu particularmente gosto dos Ood. São criaturas psíquicas, extremamente pacíficas e com um grande instinto protetor familiar.

—Ah sim, eles são muito gentis –afirmou o menino. –Especialmente com as crianças, independente de sua casta ou idade...

—Já que falou nisso, meu bom amiguinho, será que poderia ceder uma informação à um viajante? Sou novo por aqui... Queria saber como é que essa história de casta funciona. Como é que vocês se dividem?

—Nossas castas foram designadas há muito tempo, antes mesmo de nossa existência. A casta determina toda a vida de uma pessoa desde o momento do seu nascimento até a morte; o local de moradia, a profissão, o casamento, entre outros aspectos da vida são determinados pela casta ao qual você pertence. A lei diz que pessoas de castas diferentes não podem casar ou ter relacionamentos. Também não é permitida a mudança de casta, pois a crença é a de que a natureza de cada pessoa é determinada pelos deuses no momento de seu nascimento. A pesar de todas as nossas crenças, a história também inclui, pelo que sei, os ancestrais da família do Marajá. Desde aquele tempo, bem no inicio do Império Indiano pelo espaço, é que as coisas são assim: Primeiro temos o Marajá, que governa o país e nos rege, a figura mais importante em questão. Depois, temos os Brâmalhes, que são os sacerdotes, os religiosos hinduístas, também de alta importância. Em seguida vem as classes menores, por isso mesmo, em maior quantidade: os Mercadores e Comerciantes, que praticam o comércio nos mercados indianos. Também temos as Hijdras, que são chamados de “o terceiro sexo”. Elas são muito abençoadas, mas também podem trazer cobranças aos indianos: Quando um indiano está devendo algo à outro, as Hijdras são contratadas para fazer essa cobrança em público, causando constrangimento ao devedor, de modo que ele deve escolher se preferirá pagar a dívida ou ficar mal falado no bairro em que mora. Só então temos os Sudras, os escravos ou servos, no caso os Ood. Então, totalmente fora do sistema de castas estão os Dalits, que são considerados a poeira do cosmo...

—Ah sim... Essa parte eu já conheço. –disse o Doutor meio seco. Então, uma nova dúvida brotou em sua cabeça: -Afinal, qual o motivo desta festa?

—É a comemoração de pré-casamento da Princesa Mayara, filha do Marajá. –mas o menino continuou tagarelando sobre sua cultura. –Também temos as coisas auspiciosas e não auspiciosas, por exemplo: se você sair de sua casa e der de cara com uma vaca, isso é auspicioso, mas se você o fizer e der de cara com uma viúva, ou com um Dalit parado na frente de sua porta, ou na porta de seu comércio, poluindo seu caminho, isso não é auspicioso, e devemos voltar para dentro de casa e refazer os passos desde a hora que acordamos, ou simplesmente lavar os pés... Depende muito das circunstancias, sabe? Não devemos cruzar o caminho dos Dalits... Eu não tenho nenhum problema particular com eles sabe? Eu os respeito como pessoa, mas meus pais não me deixariam chegar perto de um Dalit nem que minha vida dependesse disso... Mas você pode ver por Nyha, que eu e os meninos fomos gentis com ele, mas são poucos os que ousam fazer isso nos dias de hoje. A punição é muito severa! Se meus pais souberem que eu e os meninos estivermos em contato com um Dalit hoje, por mais criança que seja... –o garoto de turbante vermelho fez um sinal de decapitação com o dedo indicador correndo horizontalmente em volta da garganta.

O Senhor do Tempo parou de ouvir depois da palavra “casamento”.

—Humhum... –murmurou o Doutor, enquanto comia um pedaço de torta salgada que estava na mesa de quitutes. –Um casamento? Sério? Mais que sorte a minha... Ela se casa amanhã? Que ótimo! Eu adoro casamentos! Apesar de sempre acabar tendo algum imprevisto durante a cerimônia, pra variar, algo que só eu possa resolver, o que sempre acaba me fazendo perder o final... 

O Doutor perdeu a fala. Uma imagem estonteante tomou-lhe o campo de visão e, sobretudo, seu pensamento. Um grupo de garotas caminhavam graciosamente para o centro da grande Mandala colorida no chão (as pessoas ao redor abriam espaço, para deixá-las ocuparem toda a área do primeiro circulo desenhado), cada uma das moças usando tecidos mais coloridos e distintos uns dos outros. No fim das contas, elas se puseram a dançar. O Doutor ficou parado vendo tudo acontecer, elas pareciam anjos coloridos, dançando. Em um dado momento, uma garota loira rodopiou bem perto dele e, sem querer, tropeçou na barra do Sare e quase desequilibrou-se. O rapaz foi mais ágil que a gravidade e conseguiu segurá-la ainda em pé. Ela agradeceu e sorriu, por trás do véu. O Doutor enrijeceu o corpo. Aquela garota... Sem querer... De repente... Era como se... Ela o fizera lembrar de alguém. Alguém muito importante para ele; fosse pela cor de cabelo, os olhos ou então o largo sorriso. Seja como for, a imagem de uma garota muito parecida com aquela invadiu sua mente, tomando forma e vida. Sorrindo e correndo ao seu lado, segurando sua mão, chamando por ele.

—Doutor! –uma voz o pegou de surpresa pelas costas.

—Rose! –ele arfou, então virou-se e deparou-se com Luisa. –Ah! Oi!

Ela sorria como nunca. Vestia um Sare pink comprido, que era salpicado de brilhantes dourados. Cobria o rosto de leve com um véu delicado e cheio de bordados. Estava magnífica, mas por alguma razão ele não conseguiu desfrutar o quanto queria de sua presença.

—Você está bem? –ela perguntou, percebendo sua pouca animação. –Não me diga que não ficou bom! Haviam umas tais de Hijdras, que são chamadas de “o terceiro sexo”... Bem, elas estavam ajudando as moças a se vestirem e me obrigaram a experimentar uns vinte destes Sares até acharem a maldita cor adequada! Então, pelo amor de tudo que é sagrado, diga que gostou da cor!

Ele riu divertido.

—Está perfeito! –disfarçou. Ela não se convenceu, caminhou até alcançá-lo e começaram a andar juntos, emparelhados.

—Por que está com essa cara? Pensei que um pouco do “ar indiano” faria bem pra você...

—Pois é. Às vezes a gente erra –comentou. Então pôs as mãos nos bolsos e começou uma listagem de reclamações: -Sabe de uma coisa, bem que eles podiam retirar esses incensos. Já inalei tanta fumaça que estou me sentindo meio “viciado”. E tem mais: quem faz uma festa e encomenda só coisas salgadas? Qual é? Um docinho até que cai bem de vez enquanto... Sabe?

Sei...—Luisa sorriu torto. –“Tipo Torta Holandesa”, por exemplo. –arriscou.

Os olhos do Doutor se iluminaram.

Exatamente! Alguém aqui me entende!—ela disse, escandaloso. Luisa caiu na gargalhada. -Sabe? Eu adoro Torta Holandesa! Seria capaz de ir ao Inferno por um pedaço de torta! Ou até a Holanda, que é mais perto...

Luisa riu pelo nariz.

Você está impossível hoje!—deu-lhe um empurrãozinho brincalhão. –Mas nada disso é motivo para você deixar de se divertir. Caso ainda não tenha notado: Estamos no meio de uma tremenda festança indiana e você fica aí parado, se arrastando pelos cantos feito uma sombra excluída! O que é que você tem? Está com a cabeça no espaço!

—Na maior parte do tempo –ele sorriu, agora um pouco mais desinibido.

—Não brinque comigo! Você entendeu muito bem o que eu quis dizer... –ela ajeitou a gola de sua bata. –onde estão suas roupas?

—Por baixo dessas vestes, porque? É ruim, hein! Achou que seria fácil me fazer se livrar da gravata e dos suspensórios?

—Eu duvido muito que alguém conseguiria! –ela riu, jogando a cabeça para trás de leve, apoiando-se com as duas mãos em seus ombros.

—Sabe o que eu percebi? –ele disse sem mais nem menos. –Pode ser a dedução mais importante que eu fiz em tempos...

—O que é? –perguntou ela curiosa. –Fala!

—Tá todo mundo descalço! –revelou ele, e Luisa pôs-se a rir, enquanto os dois observavam os pés despidos das pessoas. –Descalços em uma pista de dança... Isso é o que eu chamo de situação perigosa!

—O que para você é considerado não perigoso? –interveio ela. –Desculpe dizer, mas você tem cada uma!

—Ei! Estamos sendo francos agora? Se quer saber, também não achei seu Sare tudo isso...

Hã!? Como é que é?—Luisa mordeu a língua de leve, provocativa. –Você está criticando o meu Sare?

E esse seu turbante ridículo? Vai encantar uma cobra e fazê-la dançar na borda de um vaso, por acaso?

—O quê? –ele se rebelou. –O meu turbante é muito elegante e cem por cento másculo, tá!? –disse cruzando os braços, irritado, olhando fixo para a outra extremidade do salão.

Luisa ergueu uma sobrancelha e deu uma corridinha para novamente entrar em seu campo de visão. Ele estava mesmo falando sério?

Quarenta e cinco por cento—propôs ela, atiçando novamente seu gênio. –Fala sério! –ela fez uma careta enquanto o analisava dos pés á cabeça. -A decoração é meio... Feminina.

Ele fez uma careta de contrariedade.

—Não é nada! –retrucou rabugento. Luisa riu: Ele mordera a isca. -Noventa e cinco por cento então!

Quarentaaaa... –insistiu ela, ainda mais provocativa, cantarolando e brincando distraidamente com uma mecha do cabelo. Não conseguia deixar de pensar em como ele ficava uma gracinha quando irritado.

—Arrr! Ta legal! Cinqüenta por cento e nenhuma porcentagem a mais! –contrapôs.

Foi a vez de Luisa encará-lo propositalmente. Ela apontou para uma pluma rosa gigantesca que pendia no alto de seu turbante. O Doutor deixou os ombros caírem, derrotado.

—Tudo bem...! –revirou os olhos. –Você venceu! Quarenta e cinco por cento.

Luisa deu seu sorriso mais amplo e, em meio a sua vitória, parou para pensar:

—Pensando bem, acho que Trinta por cento é ainda melhor... –ela re-avaliou. O Doutor exalou ruidosamente, mas, no fim das contas, deixou um sorrisinho reaparecer. Já havia entendido a intenção dela... Por isso, ao invés de surtar, entrou no jogo dela.

—Está brincando... –constatou.

—Ainda bem que percebeu! –ela sorriu ainda mais.

—Vem cá –ele a puxou para junto de si. Ela não recuou um passo. –Que tal nos divertimos um pouco, já que estamos mesmo vestidos á caráter?

—Falou e disse! –os dois se puseram a dançar a musica *Nimbooda Nimbooda (com passos completamente inventados na hora). Até que a coreografia estava bem bonitinha, mas logo após o Doutor fazê-la dar um giro para depois apanhá-la junto á si, Luisa transpareceu em seus olhos um desespero inesperado que interrompeu de vez sua linha de pensamento. Em meio a gritaria alheia que se formou ao seu redor, correndo para a direção oposta, ele soube que o quê quer que estivesse afugentando as pessoas, não deveria ser nada bom. O rapaz não teve nada que fazer, a não ser olhar por cima dos ombros por intuição. Seus olhos se arregalaram ao se depararem com um fogaréu que atingia sem dó uma das torres mais altas do Taj Mahal. Sentiu sua melhor amiga estremecer em seus braços, amedrontada, e acabou segurando-a ainda mais forte, precisamente junto de si, na tentativa de protegê-la. Agora, seu rosto estava sem cor e ela esbanjava uma expressão de puro terror.

Um incêndio! E bem no meio da festa de pré-casamento da filha do Marajá? Droga! Não podia ficar pior...

 Ao longe ele viu Melissa se aproximando.

   Podia sim!

—Poxa vida! –Melissa e Nik vieram correndo em sua direção, esquivando-se da multidão desesperada. –Tinha que pegar fogo junto agora quando eu ia aprender a dançar o MANTRA!?

—Esqueça isso! Precisamos sair daqui! –arfou ele exasperado escoltando as garotas e Nik em sua frente, ficando mais atrás para dar cobertura. –Rápido! Corram!

—Mais pra onde? –guinchou Melissa.

—Por aqui! –Uma garota desconhecida surgiu entre as colunas decoradas e bem formatadas que deixavam o Taj Mahal em pé. –Venham comigo, rápido!

Sem tempo de pensar em uma estratégia melhor, eles obedeceram-na, seguindo-a por um trajeto exclusivo, onde mais ninguém se encontrava. Sem pestanejar, ela escoltou-os pelo caminho fechado, até encontrarem uma saída segura. Em meio à correria, Luisa entreolhou-se com o Doutor: O que estavam fazendo? Para onde estavam indo? Por enquanto ainda era um mistério. Felizmente, sem muita demora, conseguiram sair do palácio-templo por uma porta supostamente lateral (“supostamente” porque não ficava na entrada do Taj Mahal), como se a passagem fosse um tipo de saída de emergência não usual, que aparentemente, só aquela mocinha conhecia. 

—Fiquem tranqüilos... Aqui estaremos seguros –disse ela esbaforida, ainda escondendo o rosto de leve com o véu vermelho rubi.

—Doutor! Sua TARDIS! –Luisa alertou-o. –Ainda está lá dentro!

—É verdade! –ele apanhou a chave sônica, sem chamar atenção e ativou-a. Um ruído muito parecido com o da cabine ressonou ao longe.

—Decolou? –indagou ela, tentando ouvir o barulho.

—Não se preocupe –acalmou-a ele. –Programei minha TARDIS para decolar e, se necessário, procurar um lugar seguro, o mais perto possível de onde estou, para que eu possa localizá-la sem problemas. 

—Ainda bem... –ela suspirou.

O Doutor dirigiu-se novamente para a moça que ajudou-os a escapar do templo em chamas, ainda um tanto intrigado:

—Desculpe a inconveniência, mas quem exatamente é você? –insistiu o Doutor, afastando a fumaça do rosto.

—Eu sou Chanty –disse a mocinha tímida, de olhos bem delineados e decorações bonitas e brilhantes em todo o rosto. –Por que deseja saber?

—Porque você salvou nossas vidas –disse ele, fitando-a intensamente. –Onde é que a gente está?

—Atrás do Taj Mahal –disse ela, estranhando, já que aquilo parecia ser obvio. –Os elefantes estão apagando o fogo...

—Como é que é? Elefantes?—eles se voltaram para o lado e viram elefantes gigantes apagando o fogo com suas enormes trombas, feito uma mangueira de incêndio. O Doutor pôs a mão no queixo. –Caramba! Os bombeiros devem ter se aposentado cedo por aqui...

—Bombeiros? –ela pareceu momentaneamente confusa. –O que é isso?

—Deixa pra lá –disse o Doutor distraído, ainda contemplando os elefantes. –Me diz uma coisa, como foi que começou esse incêndio? Você viu?

Nahin. Não exatamente... Mas as pessoas dizem que é a rebelião Dalit. Eles estão muito mais selvagens ultimamente...

—Os Dalits? Selvagens? Eu acho que não... –retorquiu o Doutor, lembrando-se de Nyha. –Eu conheci um hoje cedo. Menino adorável aquele... Ele não parecia nada selvagem.

Baguan Kelie! Nahin! Não pode estar falando sério! –espantou-se a menina. –Você tocou nele? Falou com ele ou teve algum contato do tipo? Ah, não! Isso não é auspicioso... O senhor está poluído! Precisa imediatamente se purificar... Interagir com um Dalit não é nada auspicioso, e o senhor pode acabar...

Ficando entediado, só se for! –disse o Doutor ríspido. –Não haveria nada no mundo que me fizesse dar as costas à aquela criança, senhorita! Nada mesmo, ouviu?

—Mas é um Dalit, senhor!

—Ajudaria mais se você não o julgasse! –retrucou ele possesso, inclinando-se sobre ela, intimidando-a com todos os seus 1,80 de altura.

Por Shiva! Não tenho culpa, senhor... –interveio ela, assustada. Um brilho amedrontado tomou seus olhos momentaneamente, enquanto o olhar reprovador do Doutor pairava sobre ela. –Dakho, veja: Esses são nossos costumes! Nossas crenças! O senhor não está sendo grato pelo favor que lhe fiz...  Poderia ter morrido lá dentro!

—Eu não estou reclamando! –interpôs ele, passando a mão sobre o rosto. Luisa e Melissa puseram suas mãos sobre seus ombros, na tentativa de fazê-lo se acalmar. Funcionou, apesar dos ares continuarem um tanto pesados. –Só esperava que fossem um pouquinho mais compreensivos...

São Dalits! —a moça disse. A expressão facial de menina, agora rígida. –Estão á baixo de qualquer casta... Nada neles é auspicioso!

Não é auspicioso! Não é auspicioso! É só isso que sabem dizer por aqui: “que nada é auspicioso”? –reclamou Melissa, irritada. –Enquanto estive tomando meus drinks na mesa de comes e bebes, ouvi isso uma porção de vezes: “Não visite a casa de sua mãe na primeira semana depois de casada: não é auspicioso”, “Não fale com um homem casado se o vir no mercado”, “Não saia de casa se vir uma mulher viúva andando na rua”, “Não fale de problemas com sua família durante a noite, decisões só são tomadas durante o dia”, “Não pise na sombra de um Dalit”, “Não aceite dinheiro se estiver amassado ou rasgado” e blá, blá, blá!—ela debochou. –Vocês só sabem não fazer as coisas nesse lugar! Poxa vida! Daqui á pouco vão me dizer que “Abrir a janela quando alguém está passando na rua também não é auspicioso!Ah, me poupe...

O Doutor soltou todo o ar que estava em seus pulmões.

—Perdoe minha amiga, ela está um pouco... Hã... Alterada. –ele explicou para Chanty, mas Melissa cismou em continuar:

—Não é auspicioso! Não é auspicioso! Será que quebrar os dentes de alguém aqui é considerado auspicioso o bastante? —ela argumentou somente para ele ouvir.

O Doutor bufou, entediado.

—Doutor –Luisa alertou-o, puxando sua manga. –O fogo está se alastrando...

Aquele comentário pareceu despertar em Chanty o verdadeiro motivo de ter levado-os para fora do Taj Mahal por uma saída especial. Ela se empertigou no mesmo lugar e disse:

Tchalô, vamos!  Venham comigo... Sem mais perguntas pelo caminho, por favor.

Ela voltou a cobrir a cabeça com o véu. O Doutor assentiu, contra sua vontade, e seguiu-a como Nik e suas amigas já estavam fazendo. Passaram por becos, atravessaram ruas e aparentemente, metade da cidade. Até finalmente pararem bem em frente de um outro Templo de casta, o mais bonito de todos, onde uma caixinha azul os aguardava.

—Olha só o que temos aqui... –sorriu o Doutor, para a cabine. –Garota esperta!

—Pensei que o Taj Mahal fosse um Mausoléu. Um tipo de tempo abandonado... –sussurrou Luisa para ele, enquanto Chanty entrava na frente, deixando-os á espreita.

—O certo seria isso mesmo –afirmou o Doutor. –Na nossa realidade, sabemos que ele é um mausoléu. A história é antiga... Tem algo a ver com um marajá que perdeu sua esposa favorita. Ele ficou muito sentido e, de tanto que a amava, mandou construir o Taj Mahal em sua homenagem, para que ela fosse enterrada no Tempo e que sua integridade fosse mantida. Entretanto, aqui parece-me que o Taj Mahal não é nada sagrado. Na verdade, olhando com os olhos de um leigo, parece se tratar de um simples salão para festas, apesar de toda a sua luxuria...

—As coisas mudaram mesmo por aqui –admitiu a menina.

—Só não mudaram uma coisa. –o Doutor disse enojado. –Parece-me que sempre há um incessante erro humano que persiste em qualquer que for a versão da realidade: o preconceito.

Luisa fitou-o com pena, não gostava de ver o amigo daquele jeito.

Tchalô!—chamou Chanty, surgida do meio da relva que estava por toda a entrada do formoso jardim do templo. –Já conversei com meu Baldi. Nós já podemos recebê-los... –ela sorriu e deu-lhe as costas, sumindo pela escadaria.

—Ela foi falar com um balde? Esse indianos tem cada uma... –falou Nik.

—Ela disse Baldi e não balde! –relembrou Luisa. –O que quer dizer Baldi?

—É um jeito carinhoso de dizer “pai”. –explicou o Doutor, porém, encontrou as amigas e Nik fitando-o com incompreensão. –Caramba! Mas vocês não assistem documentários mesmo, não é? –disse incrédulo, tomando a frente do grupo, seguindo rumo ao interior do templo.

Ao chegarem lá, foram tomados por visões ainda mais luxuosas.

—Pensei que não houvesse templo mais bonito que o Taj Mahal. –comentou Melissa, logo atrás.

—O que eu falei sobre realidades diferentes? –retomou o Doutor, impaciente.

—Bem! Aqui estamos... –saldou Chanty, ao lado de um homem gordo e meio calvo de bigode e barba negras, com um turbante com um enorme rubi pendendo no centro e a bata roxa mais bonita que já haviam visto. Ele, apesar de toda a sua luxuria, parecia um tanto descolado, diferente de todos os outros indianos. Eles não sabiam, mas tiveram a singela impressão de que se fossem fabricados óculos escuros, relógios de pulso, bonés e bermudas naquele lugar, ao invés de Sares, turbantes e todo tipo de tecido não sei das quantas, pode ter certeza de que ele os usaria. E com freqüência!—Baldi, esse são os Firanghi estrangeiros que eu mencionei... –continuou Chanty, perante á entrada do grupo na sala.

—Esse aí é o “cara de balde?” –murmurou Nik. –Engraçado! Ele não se parece nada com um balde...

Namaste!—disse o homem amigavelmente, abrindo os braços e um grande sorriso. –Eu sou Saghan, o Marajá. Bem vindos ao meu Templo!


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Notas finais do capítulo

:) :) :)

Meu nível de felicidade tá esplendoroso por postar esse capítulo! Aaaaaaaah!!! kkkkkkkk :3

É que eu tenho uma ligação muito forte com coisas indianas! EU AMO as vestimentas, as músicas, a cultura!!! É EXTRAORDINÁRIO!

Aquela frase sobre "ir ao inferno para buscar Torta Holandesa" é excepcionalmente repetida por mim também kkkkkk

E aí? O que acharam? Hum? :D



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