Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 22
O Enigma das Linhas de Nazca


Notas iniciais do capítulo

Oieeee!

Como vão? Tudo bem?

Prontos para o desfecho da aventura no Egito?

Então vamos nessa!

"A sra. Wormwood destruiu parte da câmara central da Esfinge, e as coisas ficaram bem complicadas, sobretudo para Luisa. Hoje seus sentimentos serão postos a prova, e ela ainda terá que ajudar o Doutor, juntos dos demais, a impedir que a falta da Freqüência Bane coloque em risco o bem estar de toda a humanidade."



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Socorro! Alguém me ajuda! Socorro!—Luisa gritava desesperada, perdendo rapidamente todo o fôlego que ainda possuía. Com o choque do desmoronamento, ela havia desmaiado, mas agora que acordara e via-se esmagada por um sarcófago de ouro, que parecia pesar uns mil quilos, a coisa ficara realmente feia.

Vendo-se sozinha, com o pensamento de que os outros também estivessem em apuros, ela começou a chorar descontroladamente. Não sentia suas pernas, esse era o pior de tudo. Por um momento lembrou-se de todas as vezes em que saltitara feliz pela escola, no shopping, na rua e em casa. Como diz o velho ditado: “a gente só passa a dar valor as coisas quando elas nos são tiradas”. Passou-lhe pela cabeça todos os programas que assistira com a família em que pessoas com deficiência nas pernas apareciam e tentou imaginar-se no lugar delas... Era difícil! Pode se dizer que era mais fácil conviver com a idéia de nunca poder andar na sua vida—se você já nasce não podendo, mas para quem já sentiu o gostinho do ato, seria muito pior de se assimilar a perda!

Luisa chorou em silêncio, tentando não pensar na dormência absoluta dos membros, quando um borrão encurvou-se sobre ela e, com a ajuda de mais alguns borrões, retirou-a aos poucos de baixo daquele peso.

Luisa ainda não sentia as pernas, mas sentiu os braços de alguém erguê-la cuidadosamente do chão e começar a andar, carregando-a consigo junto ao corpo.

Ela não fazia idéia de quem fosse, só sabia de uma coisa: Era homem. O jeito como ela fora erguida do chão, com facilidade, e o próprio porte do seu salvador, entregaram que se tratava exclusivamente de um rapaz... Mas de qual deles se referia, ela não fazia idéia. Apenas passou o braço em volta de seu pescoço e apagou novamente.

Voltou a abrir os olhos somente instantes depois, quando já se encontrava novamente no chão, em um lugar escuro e silencioso. Fixou os olhos, assustada, em tudo ao seu redor, tentando adivinhar onde estaria, mas seus esforços não valeram de nada, pois o breu dominava do chão ao teto. A única fonte de luz no ambiente era uma tocha bruxuleante na outra extremidade do lugar. O pensamento de estar ali sozinha deixou-a inquieta e bastante apreensiva. Percebeu-se encolhida contra uma parede fria e arenosa; tentou mexer a perna em vão, sentiu uma dor horrorosa e teve vontade de chorar. Tentou gritar, mas sua voz não saiu. Em vez disso só conseguiu soltar um gemido curto e doloroso.

—Shhh... –pediu uma voz serena. Era o Doutor. Ele fitou-a por um instante, a luz da tocha correndo por seu rosto, proporcionando sombras ao redor de seus olhos, deixando-o meio sinistro. –Eu estou aqui... –ele agachou-se ao seu lado, e cobriu-a com seu casaco. –Como se sente?

—Minhas pernas... –desabou ela, sem pudor algum em chorar na frente do amigo. –Elas doem muito!—queixou-se.

—Eu sei... –lamentou ele. Então, o Doutor fez uma coisa que deixou Luisa de queixo caído: Sem aviso prévio ele abraçou-a fortemente e, estando sinceramente sentido, disse: –Me desculpe.

Ora, mas pelo quê? —interveio ela delicadamente, com a voz ainda chorosa, retribuindo o abraço. -Nada disso foi culpa sua...

—Não, na verdade tudo é culpa minha –alegou ele, sendo severo consigo mesmo. –Fui eu que a trouxe pra cá, e olhe só no que deu! Eu me odeio por isso...

—Não diga uma coisa dessas –ela separou-se dele e olhou-o bem profundamente nos olhos. Aqueles lindos olhos castanho-esverdeados miravam-na com um sentimento de culpa irreversível. Eles estavam marejados de um jeito que Luisa nunca imaginaria vê-los um dia. O Doutor estava chorando.

—Tudo porque eu não resisti. Todas as evidências estavam batendo à nossa porta e eu novamente ás ignorei... Nós não deveríamos estar juntos!—reagiu ele, levantando-se bruscamente, dando ás costas à menina. –Eu desobedeci às regras de novo! Nunca consigo evitar... Mas eu havia conseguido. Quando te deixei em casa no dia em que nos conhecemos. Eu cheguei tão perto...—soluçou ele.

Luisa não sabia o que dizer; aquele era seu amigo, seu melhor amigo, chorando e culpando-se desenfreadamente por um monte de coisas que, aos olhos dela, eram inevitáveis. Como ele poderia ser culpado por tê-la conhecido? Foi então que um sentimento firme tomou-lhe o corpo e desencadeou um comentário jamais feito por ela:

Doutor! Pare de bancar o coitadinho e vê se me escuta!—gritou ela, recuperando o tom normal da voz, sabe se lá como. –Nós dois sabemos muito bem que aquilo tudo que nos aconteceu anteriormente ocorreu porque tinha que acontecer! E, se você e eu ainda estamos juntos, talvez seja porque o universo queira que tudo ocorra dessa forma!—brandiu ela, sem conseguir se controlar. A raiva tomando todo seu rosto angelical. –Se você estiver chorando porque eu me machuquei feio, até que eu posso entender, mas se está se culpando por todas as experiências maravilhosas que você “infelizmente” me proporcionou, então sou eu quem lhe peço desculpas! —rugiu ela, nervosa. –Eu lamento muito que nós dois tenhamos nos conhecido!

O Doutor parecia petrificado. Aquelas ultimas palavras o chocaram bastante, mas ao mesmo tempo, fizeram-no refletir bastante sobre suas prioridades. Foi no meio de uma auto-análise que ele fazia consigo mesmo, que Luisa interrompeu-o, cortando o rumo de seus pensamentos:

—Venha até aqui –chamou ela, a voz novamente domada. –Eu disse pra você vir até aqui!—ordenou ela, desta vez, parecendo deveras impiedosa. O Doutor não mais conhecia a garota com quem falava.

Ele se aproximou e abaixou-se, até ficar na altura dela, sentada no chão. Já não sabia o que esperar...

—Eu vou dizer com todas as letras: EU ODIEI TER TE CONHECIDO, entendeu?—mentiu, com a voz mansa; atenta à reação dele.

—E eu amei ter te conhecido –retorquiu ele, movendo os ombros desconsolado, sem perceber que ela não estava falando sério. –Mas nada mais importa agora, já que você não me quer...

—Doutor... –chamou ela. Ele voltou a contemplá-la, nova surpresa: O rosto de Luisa voltara à calmaria habitual que era tão corriqueira de sua pessoa. Melissa realmente tinha razão: Luisa escondia mais sentimentos do que ele imaginava... Foi então que, dissimulada do jeito que era, Luisa puxou-o de supetão pela gravata e o beijou demoradamente, ao som de *Love Me Like You Do –Ellie Goulding. Seus lábios pareciam não querer mais se separar, seus corações pareciam pegar fogo; ela passou uma das mãos pelos cabelos dele, despenteando-os, e ele não recuou ao toque dela. O rapaz tocou os braços da menina e ela sorriu, antecipando o fim do beijo. Os rostos molhados pelo choro se contemplaram por um instante. Ela com o maior sorriso do mundo, e ele, com a maior cara de bobo do século. Sentiam-se impulsionados um contra o outro, com dificuldade de não aderir a força poderosa daquele sentimento à flor da pele; Por um segundo, tudo pareceu desvanecer-se ao seu redor, e em todo esse tempo eles só tinham certeza de uma coisa: de que desta vez, tinham feito a coisa certa.

Nenhum dos dois arriscou dizer alguma coisa por um bom tempo. Nem conseguiriam. Ela corara instantaneamente, ele por sua vez, não conseguia disfarçar o espanto que a reação dela lhe causou. Por fim, juntando toda a coragem que lhe sobrara, Luisa disse:

—Você é um idiota... –sorriu ela. –Um grande idiota! E eu não quero mais ter que te ouvir dizer de novo, que a gente ter se conhecido foi um erro. –ela fitou-o com seriedade. –Isso... Esse beijo, foi por você ter partido; E, já que estamos falando do passado, eu tenho que lhe dar uma coisa que eu devia ter dado há muito tempo... –ela sorriu e ele respirou profundamente, esperançoso, tendo sua confiança toda cortada por um tapa na cara, que Luisa inesperadamente lhe deu. –E isso, foi por ter voltado!

—Ai! –gemeu ele, massageando o rosto que ficara com uma marca vermelha onde ela o atingiu. –Como assim? Mas isso não faz nenhum sentido!

Luisa pareceu parar para pensar, considerando seu argumento.

—E não é que você tem razão!? –admitiu ela. –Lembro-me de ter visto isso uma vez num filme... Ah, cara! Eu não acredito que eu fiz a cena ao contrário: Era “um tapa por ter partido e um beijo por ter voltado” Droga. Por favor, não me peça para repetir...

O Doutor sorriu, agarrando-a pela cintura, puxando-a para junto de si e beijando-a novamente, de modo que a fala da menina foi interrompida pelo novo choque de seus lábios.

Dessa vez, tudo foi ainda mais intenso. Eles não queriam mais se separar um do outro, e não iriam, se não fosse por uma porta ter se escancarado a alguns metros dali...

—É, já tava na hora de vocês dois se entenderem! –anunciou Melissa, interrompendo a cena fofa. –Ah, foi mal... É que eu não podia deixar vocês dois muito tempo a sós... –disse ela maliciosa.

—Cala essa boca, menina irritante! –disse o Doutor, sem tirar o sorriso do rosto; de repente os insultos e brincadeiras de Melissa não pareciam ser mais assim, aos olhos do Doutor, tão devastadores... Ou será que era ele quem estava fora de si? 

—Vamos lá pombinhos! Todo mundo já está bem e a coisa Bane já voltou à ativa... Temos que detê-la de uma vez por todas! –animou-os Melissa.

—Tem razão –concordou o Doutor, cortando finalmente o efeito do transe do beijo. –Estamos prontos para a luta –então, Melissa saiu andando na frente, mas como viu que eles não vieram atrás dela, retornou à câmara escura.

—Galera...? –chamou impaciente. –Temos que destruir a Bane, lembram...?

—Nos de só mais um minuto... –pediu o Doutor, sério. –Eu prometo que será rápido.

—Eu não confio em você, mas confia na Luisa, então acho que tudo bem... –cedeu Melissa. –Mas se vocês recomeçarem a se agarrar enquanto eu não estiver presente, eu juro que usarei um spray de água fria em vocês dois! –ameaçou ela, finalmente indo embora, deixando os dois novamente a sós. Luisa olhou para ele com ar de riso; ela parecia saber o que viria a seguir...

—Não, agora é sério –interveio ele, deixando-a na expectativa. –Eu quero me desculpar pelo que eu fiz no passado... Foi errado ter ido embora sem ao menos me despedir...

—Foi mesmo –concordou ela. –Mas tudo bem, pelo menos você deixou aquele bilhete.

—Como é...? Você disse bilhete? –indagou ele, confuso. –Mas... Eu não deixei bilhete nenhum...

—Não de acordo com isso –ela apanhou um papel pouco amassado, de dentro da bolsinha rosa, e entregou à ele, que leu em voz alta:

Desculpe garota, eu não tive escolha.

Agora vê se levanta daí e segue a sua vida!

Você tem que acreditar em mim.

É o melhor que você pode fazer,

pelo menos por enquanto.

P.S: Sei que parece estranho, mas não

precisa querer me matar por ter ido embora...

Acredite, o tapa já doeu um bocado!

Um brinde pelo infinito dos nossos dias!

E um brinde a você: “Minha garota fantástica”!

Com Votos de que um dia

você possa me perdoar;

                                                                                             O Doutor.

 -Mas essa é a minha caligrafia! –disse ele, surpreso, revirando a folha, enquanto a menina concordava. –Mas como pode ser, se eu ainda não... Ah! Ainda... –repetiu ele, entendendo o truque.

—O que você quer dizer?

—Bem, eu não me lembro de ter escrito isso, porque eu ainda não o fiz! Sabe? É de novo aquele papo de passado-presente-futuro. Pra você, que já guarda esse papelzinho há quase três anos, isso aconteceu há muito tempo, mas pra mim, na verdade, ainda não aconteceu... Eu ainda não escrevi o bilhete, mas de alguma modo, ele chegou em suas mãos fora do tempo.

—Então quer dizer que você realmente partiu sem dar explicações? –perguntou ela, ficando brava.

—Bem... –ele percebeu a besteira que fizera ao admitir aquilo. –Quais são as chances de você se esquecer de tudo isso que eu disse?

—Quase nulas –disse ela, cerrando os olhos, logo depois voltando a sorrir. –Tá legal... Dessa vez eu deixo passar.

—Obrigado. –suspirou ele, aliviado, inclinando-se para dar um abraço nela, mas no ultimo instante ela recuou rindo, descobrindo, para sua felicidade, que já conseguia sentir suas pernas de novo. Elas ainda doíam, mas de um jeito tolerável e ameno, já estando definitivamente bem mais leves que antes e, sem aquela dor insuportável que lhe perturbara tanto. Em um impulso provocado pelo novo ânimo em sentir os membros, ela arriscou tentar erguer seu corpo do chão e ficar em pé, mas parou no meio do ato ao perceber que ainda não estava pronta para fazer um esforço daqueles. Sem ter que ao menos pedir ajuda, o amigo logo percebeu que ela precisava de um auxílio: orientou-a a criar estabilidade, apoiando-se nele. Com um pouquinho de dificuldade, ela finalmente conseguiu se levantar e começou a tentar caminhar rumo à saída, puxando-o junto para fora daquela câmara escura. –Olha! Mas você já consegue andar sozinha...—disse ele, brincalhão.

—Consigo sim, seu bobo! –riu ela, alegremente. –O que estamos esperando? Vamos logo deter aquela Bane convencida!

Inspirado pela determinação da amiga, eles refizeram o caminho, até retornarem à câmara central da Esfinge.

—Por que você me trouxe até aquele lugar isolado? –perguntou Luisa, no caminho para a câmara.

—Você estava desacordada e nós precisávamos tirar você dali a todo custo; imagine só se mais alguma parte da câmara central viesse abaixo? Não teríamos como mantê-la em segurança... Por sorte, Indiana Jones conhecia bem as velhas câmaras dessa Esfinge. Ele me deu a dica do melhor esconderijo existente aqui, em uma câmara sem armadilhas, perigos ou insetos carnívoros inconvenientes... –disse ele erguendo os olhos, olhando de relance por cima dos ombros, por questão de segundos. –Nesse meio tempo, estávamos com alguns problemas lá em cima: a Bane nos deu um trabalhão! Simplesmente porque, ao criar um pequeno terremoto, ela mesma não esperava que o teto viria também abaixo... –explicou ele, sem tirar os olhos do corredor, sempre atento ao caminho que estavam percorrendo.

Luisa queria continuar conversando, mas não conseguiu por causa do calor excessivo que se tornara constante naquele ponto do trajeto. O Doutor também não disse mais nada; eles estavam tão próximos que ela até podia senti-lo transpirar, ao seu lado. Luisa se perguntava como ele ainda conseguia ficar usando uma camisa de botões e um casaco jogado sob seu ombro esquerdo (o casaco que ela logo tratou de devolver a ele, assim que começaram a caminhar) nas circunstancias atuais, com um calor daqueles.

Antes mesmo que conseguisse achar uma resposta viável para satisfazer sua curiosidade, os dois já estavam de volta ao grande salão, agora com a estrutura bem mais danificada.

—Ah, meu Deus... São eles! A Luisa acordou! —divulgou Martha à todos os demais, que deram um grande sorriso de satisfação ao ver a menina retornar, novamente consciente.

—Você nos deu um susto e tanto, moça! –disse Jack, bagunçando o cabelo dela.

—Ainda bem que você se recuperou. Muitos não têm a mesma sorte –disse Indiana Jones, com seu ar experiente de sempre. –Tudo graças ao excelente serviço da doutora Martha Jones...

Martha corou ao ser elogiada por Indiana Jones, mas sorriu, reagindo como pôde para disfarçar.

Depois de agradecer Martha, Luisa notou ao longe sua vizinha Sarah Jane Smith, já com o filho Luke junto dela. Não pôde deixar de ressaltar para si mesma que já vira aquele garoto antes, acompanhando sua prima Maria Jackson várias vezes na escola, assim como também já conhecia Clyde Langer de vista, mas o que ela não podia imaginar era que aqueles três, junto de sua vizinha, estariam metidos em uma coisa tão grandiosa como essa.

Como se houvesse lido sua mente, Sarah Jane começou a caminhar, vindo em sua direção, acompanhada de perto pelo filho.

—Olá Luisa –disse ela de um jeito amável, muito diferente das “boas vindas” que dera à menina quando se viram pela primeira vez, na rua Bannerman. –É muito bom te rever. Já conheceu meu filho Luke?

Luisa olhou de cima a baixo para o menino que estivera o tempo todo amarrado na maca de ouro. Vendo-o agora, reanimado, nem parecia ser o mesmo garoto de antes. Luisa conheceu-o quando ele estivera abatido, fraco e indefeso; nenhuma dessas descrições faziam jus a sua verdadeira personalidade. Agora que ele se recuperara totalmente, a garota não pôde esconder a curiosidade e o interesse que lhe contagiavam o rosto –sobre ele. Enquanto ela fazia toda uma análise, Luke cumprimentou-a com um simples “Oi”, que além de sincero e amigável, valeu mais do que tudo. Luisa cumprimentou-o de volta, sentindo que aquele seria o início de uma grande amizade. A única coisa que a deixava ainda mais curiosa que Luke, era sua própria mãe, Sarah Jane, que nunca fora muito de dar as caras, e agora, de uma hora para a outra, era uma mulher cheia de “Olás” e sorrisos cativantes. Uma atitude muito suspeita, para começo de conversa. Afinal, o que será que acontecera com aquela Sarah Jane séria e reservada que Luisa conhecera um dia?

—Você deve estar brincando! –retorquiu Luisa, chocada com toda aquela mudança vinda da mulher. –Você ainda é a mesma pessoa ou por acaso é um Alien com um zíper na testa que roubou a pele da minha vizinha e está se fantasiando dela?

Sarah Jane riu com aquele comentário.

—Não. Sou eu mesma! –sorriu ela, como nunca fizera antes para a garota. –Desculpe pelo mau-jeito inicial, acho que nós duas começamos um pouco com o pé esquerdo, não foi? Eu devia tê-la recebido melhor na rua Bannerman, devia ter me apresentado mais adequadamente... Afinal, é o que se espera de uma boa profissional!

—Tudo bem, eu acho que realmente fomos meio precipitadas uma com a outra... Mas nós ainda podemos fazer uma coisa: Podemos recomeçar então, talvez...? –sugeriu Luisa, feliz por ver que logo em seguida Sarah Jane concordara com um sorriso satisfeito. A mulher ergueu a mão em sua direção e Luisa fez o mesmo, fazendo com que suas mãos se apertassem em um ato amistoso.

—É bom saber que tem mais pessoas cuidando do nosso Doutor... –disse Sarah, o olhar distante. –Você é a companheira recente, estou certa? Estão viajando juntos?

—Não. Sem compromissos por enquanto. Aconteceu que o Doutor impediu uma invasão alienígena na minha escola... A gente se esbarrou e acabamos envolvidos em toda essa confusão. –disse Luisa, tomando cuidado para não transparecer mais do que deveria sobre sua amizade com o Senhor do Tempo. Ela sustentou surpreendentemente bem o olhar bisbilhoteiro da jornalista, que acabou se satisfazendo com aquela resposta. Sarah Jane não iria pressionar. Sabia o quanto era difícil tomar uma decisão de consciência e responsabilidade, como aquela.

—Eu compreendo. –disse Sarah. –Mas você tem sorte, ele parece gostar de você... –afirmou ela, olhando-o por cima dos ombros de Luisa; o Doutor estava entretido em uma conversa com os outros rapazes, sem desconfiar de que elas falavam dele.

—Oi prima. –Maria Jackson surgiu de trás de Sarah Jane e abraçou Luisa, apertado. –Graças a Deus você está bem... Eu fiquei tão preocupada!

—E não foi só ela –disse o garoto Clyde Langer, se aproximando. –Você pode até não saber, sra. Parkinson, mas a Maria vive falando de você... –disse ele, ao mesmo tempo que Luisa encarou a prima, ambas sorrindo uma para a outra. –Eu sinto como se nos conhecêssemos desde que você veio para a Rua Bannerman!

—Tem razão –concordou Luke, ainda mais para a surpresa de Luisa. –A Maria te adora!

—Bom saber disso, prima –alegrou-se Luisa, para com a outra. –Então esses são aqueles seus amigos que eu sempre vejo com você na escola? Muito prazer em finalmente conhecê-los! Desculpe, não sou tão bem informada sobre vocês... Não fazia idéia de que Luke fosse filho da Sarah Jane.

—E eu não sou –disse Luke. –Quero dizer, não sou filho legítimo, mas pra mim é como se ela fosse minha mãe. Eu sou adotado, porque na verdade fui criado pelos Bane em um laboratório. Eu nunca nasci de verdade –Luke levantou a camisa e Luisa pôde ver que o menino realmente não tinha umbigo. Ele literalmente, não havia nascido da barriga de uma mulher. Luisa queria fazer-lhes tantas perguntas, mas foi impedida por uma figura diferente que ainda não tivera o prazer de conhecer:

—E quem é aquele? –perguntou, indicando com a cabeça um rapaz alto e ruivo.

—Aquele é Tin Tin. –explicou Sarah Jane. –Ele é um repórter. Nós nos conhecemos na pirâmide aqui do lado. Ele estava nos guiando.

—A nossa sorte é que uns amigos nossos que ficaram em casa, monitorando toda a nossa missão: Rani, Sky e o Sr. Smith, estavam alerta e nos orientaram de ultima hora, avisando que o Luke estava dentro da Esfinge, e não na pirâmide –informou Clyde. –Já o K-9 veio com a gente.

Me chamou mestre Clyde?—Luisa olhou para baixo e não acreditou em seus olhos quando esses focalizaram um cachorro robô bem ali, ao seu lado.

—Um cão de lata! –sorriu ela, empolgada, acariciando a lataria onde ficavam suas orelhas parabólicas. –E ele ainda por cima, fala! Que legal! O meu nome é Luisa... Prazer em conhecê-lo, K-9!

Eu posso dizer o mesmo ama Luisa. –afirmou o cão em sua voz robótica e amistosa.

—Sky é minha irmã mais nova –continuou Luke, desatando a contar tudo o que tinha direito para a prima de sua amiga Maria. –Sky também é adotada, mas é uma Alienígena autentica. –disse ele, com orgulho da irmãzinha. –O Sr. Smith é um computador extraterrestre que fica na parede do nosso sótão. E a Rani, ela é uma outra amiga nossa; ela adora bancar a detetive, diz que quer ser jornalista assim como a minha mãe –ele abraçou Sarah Jane que retribuiu o abraço com ainda mais afeto. Luisa já não tinha mais dúvidas de que Luke, além de ser o garoto mais inteligente de todos, também era o mais fofo do mundo. Ela sentiu vontade de abraçá-lo também, assim como ele fazia com a mãe. Por fim, Luke terminou: -Rani é a mais velha do grupo, ela tem dezoito. E é a namorada do Clyde.

—Wou! Espere só um minutinho aí: Eu não namoro a Rani!—retrucou Clyde corando como um pimentão.

—Não namora ainda!—interveio Maria, fazendo todos os outros rirem. –Mas ou vocês começarão a namorar, ou partirão logo para o casamento!

—Ah, garotas! Vocês acham que sabem de tudo... –reclamou Clyde, assustando-se ao ver de relance alguma coisa cheirar-lhe o pé: um cãozinho branco. –Com licença Milu, mas eu não sou nenhum poste...

—De quem é esse cachorro? –quis saber Melissa, brotando no meio da conversa.

—É meu. –disse Tin Tin, aproximando-se. –Esse é o Milu e eu sou Tin Tin. Muito prazer...

—Igualmente! –disseram Luisa e Melissa juntas.

—Pessoal! –chamou Jack, fazendo todos voltarem a si. –O “Manda-chuva” ta chamando!

—Quem? –indagou Sarah Jane confusa.

O Doutor, é claro! –riu Jack, da reação espantada de todos ali presentes. –Vamos logo! Ele está tentando fechar negócio com a Bane...

Todos acompanharam-no até chegarem em uma rodinha composta por Indiana Jones, Martha Jones, Allonso e o Doutor. O Senhor do Tempo acabava de ter uma conversa com a Bane quando os outros se aproximaram.

—Então é isso... Você não tem escolha. –disse ele sério, com uma perna apoiada em cima de um sarcófago ao chão. A Bane estava de joelhos, amarrada no centro da roda com as mãos e pés para trás, deixando apenas a boca livre das cordas, para que ela pudesse também argumentar. –Parece-me que o feitiço realmente virou contra a feiticeira! Não é, sra. Wormwood?

—Você é louco! –disse a outra, ainda teimando em ceder ao tal acordo que ele propusera. –Até parece que eu seria capaz de dividir a Freqüência Bane em duas metades exatamente iguais, apenas para que esse planetinha insignificante possa continuar vivendo!

—Bom, ou você faz isso ou fica apodrecendo aqui...

—Não seja ridículo! –retrucou ela. –Você não seria capaz de me deixar presa aqui nem que o Apocalipse estivesse para acontecer! Eu sei que não o faria. Não é assim que você joga, não é Doutor? Você é um homem de muitos truques, mas há uma coisa em especial que você não seria capaz de fazer: Me deixar apodrecer aqui!

—Talvez você tenha razão –reconheceu ele. –Então passarei essa difícil tarefa para alguém que não tenha medo das conseqüências... Indiana Jones: é com você.

Indiana Jones deu um sorriso maníaco que não amedrontou nem um pouco a prisioneira, mas depois que ele a fez deitar de lado apenas com um empurrão que dera com sua própria bota, apoiando essa mesma perna em cima da Bane, a coisa toda mudou de figura, e ele disse:

—É uma ótima idéia! Podíamos trancá-la dentro de um sarcófago, o que vocês acham? –sugeriu ele.

—Tudo bem, tudo bem! Eu aceito o trato... –cedeu a mulher, finalmente vencida.

—Está vendo sra. Wormwood? Não precisamos fazer tudo a base da força como a senhora pensa... –disse o Doutor, sendo sensato. -É só tratar com carinho que uma hora todo mundo cede, não é?

—Bah! Pro inferno você com seu tratamento carinhoso!—latiu a mulher, indignada por ter sido ridicularizada por seus próprios prisioneiros. Mas logo as coisas mudaram um pouco de foco e a glória sentida pelo Doutor e seus amigos terminou antes mesmo de ter sido aproveitada.

—Com licença senhor, ahn, Doutor... –chamou Allonso, confundindo-se e chamando toda a atenção dos amigos na roda, para ele. –Ela está agindo um bocado estranho... Está vendo só? Os olhos dela estão brilhando...

—Ela tocou no anel! Está prestes a assumir a verdadeira forma de um Bane... –disse ele apreensivo. –Por que será que eu tenho a singela impressão de que não devíamos tê-la deixado ficar com o anel...?

—Quer dizer a coisa-polvo-nojenta-gigante, que você falou? –perguntou Melissa. –Argh!

Não... Ela não vai!—Tin Tin arrancou um vidrinho de sua mochila de explorador e mergulhou umas gotas do líquido ali contido, num lenço de tecido. Em seguida pressionou-o contra o rosto da criatura, obrigando-a a inalar a solução líquida que, quase instantaneamente fê-la dormir entre a passagem de humana, para sua verdadeira forma Alienígena. Por fim, satisfeito com o resultado, Tin Tin concluiu, ao ver todos os olhares voltados para si: -Clorofórmio. Um agente químico conhecido por fazer as pessoas dormirem instantaneamente. –ele estralou o dedo, ilustrando a rapidez e eficácia do produto. -Muito útil.

—Isso foi brilhante! –aplaudiu o Doutor, detendo-se em seguida por apenas um detalhe: -Muito bom, ahn...?

—Pode me chamar de Tin Tin. –falou o outro. Eles ainda não haviam tido muito tempo para se conhecerem.

—Ótimo, excelente trabalho Tin Tin! –continuou o Doutor, terminando a frase. –A propósito, quem é você exatamente?

—Eu sou repórter. Estava trabalhando em uma matéria investigativa sobre o interior das pirâmides quando me deparei com Sarah Jane Smith e seus amigos. Eu estava ajudando-os como guia, antes de seguirmos para cá. Devo admitir que ela é uma mulher muito inteligente... –comentou ele. –Ela é mesmo muito instruída, trabalhar ao seu lado foi algo... Incrível.

Sarah Jane quase não cabia mais em si. Ela ficara lisonjeada com o elogio que o rapaz lhe fez. Todos notaram que ali estava rolando algum tipo de clima, entre os dois. O Doutor ficou realmente feliz por ela, afinal, ele sabia que Sarah Jane nunca se apaixonara por outro alem dele, desde nova, e que vê-la aparentemente interessada em outro alguém era sem dúvida um motivo digno de comemoração. Durante muito tempo ela se dedicara totalmente ao trabalho, deixando seus interesses pessoais de lado, fechando-se para o mundo ao seu redor, mas felizmente, a participação de seus dois filhos e dos amigos de seus filhos em sua vida, trouxeram-na de volta à ativa, como se de repente ela voltasse a enxergar não apenas as verdades sobre as coisas, mas também as verdades sobre o que ela realmente achava e sentia em sua vida pessoal e sobre todos que faziam parte dela. Sarah Jane Smith parecia finalmente ter encontrado seu verdadeiro lugar no universo, ao lado de sua família e daquele rapaz.

—E o que faremos agora com a vice-líder dos Bane? –perguntou Martha, verificando se ela estava bem, ao dormir.

—Querem que eu a leve para dar um passeio? Tenho certeza de que ela adoraria conhecer o subsolo, cheio de escaravelhos mortíferos, cobras peçonhentas e, de vez enquanto, um esqueleto sanguinário! –brincou Indiana Jones, fazendo Martha gargalhar com seu comentário, de modo que todos voltaram-se para ela com estranhamento, afinal, a piada nem fora assim tão engraçada... Ao perceber estar exagerando um bocado, Martha recobrou o juízo, disfarçando discretamente o mico que pagara. –Ah, gente! Que quê foi? Até que foi engraçado... –Indiana Jones disfarçou também, tentando esconder um pequeno sorrisinho que se formava em seus lábios devido à reação dela.

—O Doutor acabou de conversar pacificamente com essa criatura... Eles entraram num acordo, meio conturbado, mas não deixa de ser. Então nós devemos cumprir nossa parte... –disse Jack. –Pra começar, devemos encontrar a pedra e, só depois, partiremos para a parte em que nós repartimos a Freqüência Bane em dois...

—Isso é ótimo, “senhor sabe tudo”, mas há uma pequena falha em seu plano... –interveio o Doutor, esbugalhando seus olhos ao máximo.

—Uma falha?  –estranhou Jack.

—Sim. Ela se criou, como um buraco negro no meio do espaço, no segundo em que você mencionou as palavras: “achar a pedra”. Lembrem-se de que não fazemos idéia de em que ponto ela pode estar enterrada...

—É verdade... –aceitou Jack. –Então o que sugere? Acredito que você tenha um plano...

—Pois é, eu tenho sim –ele começou a andar pela sala, como se não conseguisse manter sua pernas quietas. –Nós sabemos que os Bane foram os responsáveis pela pedra e que ela fora roubada... Provavelmente por algum caçador de recompensas. Não é muito comum que diferentes espécies saibam dos segredos umas das outras, afinal, isso poderia facilmente ocasionar uma traição e, em seguida, uma guerra... –disse ele pausadamente. –Contudo, sabemos que ela é provida de um grande poder de desenvolvimento para com vidas inteligentes, desenvolvendo bastante seus cérebros com o passar dos milênios. Entretanto, ela não fora à única causa da sabedoria humana, pois se os seres humanos, já nos tempos primordiais, foram datados como seres inteligentes pela pedra, então é porque ela só anteciparia a provável evolução do homem. Simplificando: O ser humano teria se tornado o que é hoje com ou sem a ajuda da pedra, mas talvez com um intervalo ainda maior de tempo. Ao meu entendimento, vocês estariam bem mais atrasados nas descobertas em geral e em seu próprio desenvolvimento, se não fosse pela Freqüência Bane. Apesar desse contratempo, vocês ficariam perfeitamente bem sem ela, anteriormente pelo menos. Talvez vocês não tivessem conseguido construir todos aqueles monumentos e estátuas gigantescas sem ela, pois não teriam a força que ela um dia lhes garantiu, mas mesmo assim, continuariam sendo inteligentes... É, a raça humana sempre da um jeito de se superar! –ele bagunçou o cabelo, fazendo seu olhar maníaco. –Mas existe alguma coisa, uma pequena informação que eu devo estar deixando passar... E será ela que irá desvendar todo o mistério... –ele parou e ficou olhando os Hieróglifos por algum tempo, da qual os outros se utilizaram para pensar em alguma coisa. Luisa foi a primeira a dar um passo confiante em sua direção.

As Linhas de Nazca... –murmurou ela para ele, pegando-o de surpresa. 

—O que têm elas?

—Você falou sobre elas mais cedo... Percebeu como foi a única coisa que você não voltou a mencionar? Quero dizer, você falou de todos os outros pontos nas entrelinhas. Falando da força, por exemplo, você já incluiu todas as construções curiosas e tecnicamente impossíveis que o homem um dia ergueu; revelou de onde surgiram todas as crenças e a imensa criatividade do ser humano; ficamos sabendo como o Homo Sapiens se desenvolveu tanto, muito mais do que o esperado, em tão pouco tempo de sua existência pela Terra... Só aí, já descartamos coisas como a Ilhas de Páscoa, com as estátuas gigantes e o próprio Egito. Mas nós, em nenhum momento, mencionamos os improváveis desenhos no chão, que só podem ser vistos por vista aérea... Talvez isso faça parte de uma pista ou quem sabe, uma dica?

—Luisa Parkinson, você é um gênio! –brandiu ele abraçando-a. –É brilhante, é sugestivo, é um fato e é real! Podemos sim, finalmente estarmos no caminho certo... –ele calou-se por um segundo, voltando a mirar alguns desenhos na parede. –Você lembra alguns dos desenhos?

—Bom, eu me lembro de um beija-flor e de uma aranha enorme... Lembro que foram os que mais me chamaram a atenção quando eu estava estudando sobre isso na escola, na quinta série...

—Ótimo. Certo, vejamos: Um Beija-flor. Ele voa, é delicado, poliniza as flores, garantindo o equilíbrio ambiental. Já a aranha é um animal terrestre, resistente e muitas vezes perigoso... As venenosas em especial. Não cria grande equilíbrio para o meio ambiente, só come os insetos que caem em sua teia, que a propósito, são belas obras de arte naturais... –o Doutor arregalou os olhos. –Então o que teríamos aqui? Os pólos, talvez? A bondade pura e a esperteza pretensiosa! Quem sabe se... –o Doutor tocou na parede, bem em cima de uma figura que parecia-se muito com um pássaro e em outra que tinha oito pernas e presas, como uma aranha. Naquele mesmo instante, escutou-se um estalo seco e alguma coisa pareceu se destrancar atrás da grande parede. Esta se dividiu em duas partes bem ao meio e tratou de se abrir para lados opostos, como um portão de trilho. Por fim, eles vislumbraram admirados uma tumba escondida, que tinha bem em seu centro, abaixo de um buraco que revelava a luz do sol sobre uma mesa de ouro, uma bonita pedra vinho, de brilho intenso. Ao caminhar em sua direção, dando passos vacilantes e cuidadosos (poderia haver armadilhas por lá) o Doutor aproximou-se da mesa, olhando mais de perto a pedra. Observou decepcionado, um problema claro e evidente, que com certeza lhe daria muita dor de cabeça.

—Ah... Doutor? O que foi? –perguntou Martha, ansiosa.

—Tem uma aranha, ela está protegendo a pedra. Se eu a puxar agora, ela me atacará! Precisamos de um novo plano...

—Que tal isso? –Luisa estendeu-lhe uma vara de pescar. –Por favor, concentre-se na causa, tente dessa vez não se espantar com o fato de eu ter tirado essa vara enorme da minha bolsa... –o Doutor fez um sinal de “vou considerar” com a cabeça e aceitou apanhar o objeto.

E foi o que fez. Poucos segundos após se concentrar, baixou a linha com o anzol na direção da pedra, cada vez mais perto... Ele sabia que não conseguiria erguê-la, afinal, quilo era uma vara de pescar e não uma rede. Ele só precisava empurrar a pedra para a beirada da mesa, longe da toca improvisada da aranha. Um minuto antes dele cutucar a pedra, todos prenderam a respiração e Luisa cruzou os dedos, cerrando os olhos de preocupação e medo. Quando ele finalmente o fez, a pedra deslizou aos poucos do lugar centralizado em que estava e, como o Doutor previra, a aranha saltou para cima, tentando impedi-lo de tirá-la dali. Aos poucos, ele foi puxando-a, ao que a aranha mostrava-se mais e mais raivosa e medonha. Era a maior caranguejeira que já haviam visto. Com certeza ela era a mãe de todas aquelas outras pequenas aranhas, no subsolo. O Doutor sentiu um arrepio na espinha, quanto mais puxava a pedra, meramente enganchada no anzol, mais a aranha surgia de dentro de uma casa de teia, aparentando seu verdadeiro tamanho assustador. Por fim, ela estava emparelhada com a ponta da mesa, ele só devia esticar o braço, apanhar a pedra e correr o mais que pudesse. Seu corpo o impulsionava a fazê-lo depressa, sem muito pestanejar, enquanto sua consciência forçava-o a planejar cada parte de sua ação, antes de executá-la: essa poderia ser a última coisa que ele faria na vida...

—Doutor! É melhor você parar... Não vale a pena se arriscar assim –replicou Jack, meio inseguro.

—Se eu não tentar, nós iremos morrer do mesmo jeito, não é? –retrucou ele, sério. –Se a Bane acordar, ela ficará furiosa e vai querer nos comer vivos, literalmente. Se a pedra não for salva, como a sra. Wormwood havia dito, então os dois planetas estarão condenados... Em resumo: Eu preciso tentar.

—Então eu irei com você –Luisa pôs-se ao lado dele, já segurando a vara. Ele ia protestar, mas viu naqueles grandes olhos castanhos, que ela já estava decidida e que nada a faria mudar de idéia. Quando o Doutor olhou para trás, viu todos os seus amigos, recentes e antigos, ainda mais próximos deles dois, posicionando-se para ajudar, se algo saísse errado. Isso é que era trabalho em equipe! –Tá legal, pessoal. Luisa... Vamos no três. Um, dois, três!

Os dois puxaram juntos e a pedra voou, ao que a aranha tentou fazer o mesmo, mas foi detida pela gravidade e caiu, esborrachando-se no chão. A Freqüência Bane não teve o mesmo fim: ainda no ar, Martha a apanhou, sendo parabenizada pelos companheiros. Até agora estava tudo correndo como planejado, porém, o problema ainda não estava completamente resolvido: ainda faltava dividir a pedra; a aranha também não ficaria desfalecida para sempre, então eles precisavam agir logo. Contudo, nem houve tempo para raciocinar direito. Inesperadamente, a coisa piorou de modo desenfreado. Mal haviam comemorado direito sua rápida conquista, quando Melissa trouxe-lhes más notícias: Mais animais, outros seres protetores da pedra, que provavelmente também eram desenhos das Linhas de Nazca, no Peru, manifestaram-se contra o grupo de pessoas que saíram correndo desesperadamente em direções opostas.

—Ai! –Luisa teve a alça da bolsa agarrada por um macaco. –Me deixe em paz!

—Aguenta aí, Luisa! –disse Indiana Jones, atacando uma maçã contra o animal, que tratou de largar Luisa instantaneamente para abocanhar a fruta. –Ele deve estar faminto! Imagine só, ficar trancado durante tanto tempo dentro de uma câmara escura e solitária como essa? Não me admira que ele sinta fome... –disse ele, correndo de mãos dadas com a menina, fazendo-a apertar o passo para saírem fora daquela tumba, já que eles eram os últimos que ficaram para trás.

Ao saírem, o Doutor tratou de lacrar de uma vez por todas, com sua chave sônica, o mecanismo da porta, fechando-a no instante em que aquela bicharada toda –alguns sendo da mesma espécie– desatavam a correr em sua direção, inclusive a aranha que mais parecia um cavalo trotando até seu destino final. Ela vinha movendo as pressas na direção do Doutor, com os oito globos oculares demonstrando um olhar sanguinário, mostrando as presas de modo ameaçador e fazendo um chiado ensurdecedor, quando por fim dissipou-se, ao que ela meteu a cara na porta, do lado de dentro, tendo a imagem daquele ladrão de pedras e de seus comparsas, por uma ultima vez, antes da escuridão novamente reinar em sua câmara.

Todos suspiraram aliviados, ao que o Doutor levantou a pedra, examinando-a com os óculos de armação quadrada no rosto. Seus olhos refletiram o brilho da pedra que pareceu cintilar ao ser tocada por suas mãos. Maria Jackson, cansada do jeito que estava, sentou-se no chão, pouco depois sendo abordada por Luke, que chamava-a para se juntar aos outros. Quando ela olhou para cima, imaginando contemplar o rosto do garoto, espantou-se com o que viu junto de Luke, no ar. 

—Pessoal! Venham ver isso aqui... –chamou Maria, levantando devagar para não assustar um pequeno beija-flor que voava mansamente próximo ao menino, que até aquele momento nem percebera a presença do bichinho do seu lado. –Luke, fique parado... Não se mexa ou você irá assustá-lo.

—Assustar quem? –ele se virou e o mais incrível aconteceu. Ele sorriu e disse um amigável “olá” para o animalzinho que não só permaneceu ao seu lado, sem medo algum, como também cismou de querer pousar no ombro do garoto. –Ele é muito educado. Mãe, podemos ficar com ele?

—Eu acho que não, Luke –disse Sarah Jane, tentando o máximo possível, não magoar o filho. –Ele deve ser livre, assim como qualquer outro animal... Não creio que iria gostar de morar em uma casa, dentro de uma gaiola...

—Bom, eu tentei –falou Luke para o passarinho, que soltou um piado, tristonho.

—Coitado! Ele deve estar aqui há muito tempo... –disse Martha, sentindo pena do bichinho. O Doutor aproximou-se junto dos demais, para vê-lo.

—Olá camarada –disse ele ao beija-flor, que voou instantaneamente do ombro de Luke para o dedo que o Doutor esticara, parecendo um poleiro. –Você é o protetor pacifico, não é? O único que não faz as coisas com brutalidade... Está aqui para se certificar de que a pedra será recolocada novamente no lugar?

O pássaro piou alegremente. Era estranho o modo como reagia perante eles, como se os conhecesse bem o bastante para julgá-los boas pessoas. Como se soubesse que sua intenção era boa.

—Eu precisarei dividir a Freqüência Bane ao meio, para salvar outro planeta. É o único jeito de ambos os dois ficarem em segurança... O quê? Não, eu prometo que tomarei cuidado... Ah, isso nunca! Quem você pensa que eu sou, um dos três patetas? Eu não vou deixar isso acontecer... –tagarelava o Doutor, em uma conversa fechada com o passarinho, que parecia responder cada questão com um piado diferente, instruindo-o sobre os problemas que poderiam acontecer se a divisão desse errado. Luisa e Melissa sabiam que o Doutor podia falar com animais, mas haviam esquecido o quanto era engraçado observá-lo em ação.

—Olhando-o assim, não parece que você está presenciando um daqueles musicais da Disney, em que uma princesa começa a cantar para um passarinho e ele vem até ela, fazendo festa? –zombou Melissa, fazendo Luisa rir e desejar muito mesmo que o amigo não tenha ouvido aquele comentário.

—O que será que ele está dizendo ao Doutor? –perguntou Maria Jackson.

—Eu não sei, deve estar alertando-o sobre os poderes maléficos de alguma maçã envenenada... –brincou também Clyde, para a surpresa e admiração de Melissa. –Que mais poderia ser?

—Eu acho que qualquer coisa –disse Luke, sorrindo. –Ele é muito esperto...

—O Doutor? –perguntou Martha, aproximando-se das crianças.

—Ele também.

—Ah... –disse Martha tentando conter o riso. Luke olhou-a intrigado, ele próprio não entendera a piada que fizera. Luke era novo nesses assuntos, andava tentando passar mais tempo com Clyde para aprender a ser “um garoto normal com bom humor”, porque infelizmente os Bane esqueceram-se de lhe dar um censo de bom humor quando o criaram, ou simplesmente não o fizeram “porque não fazia parte do plano”.

—Okay, pessoal. Preparem-se: Nós temos muito o que fazer... –anunciou o Doutor, lançando seu olhar mais maroto aos demais, após girar a chave sônica no ar e agarrá-la antes que a gravidade puxasse-a para baixo. –Nós já conversamos. Sei exatamente como devemos separar a pedra, mas mesmo assim será arriscado...

—Do que vamos precisar? –perguntou Allonso. 

—Primeiro, de um copo com água. O Birdan me disse que...

Birdan?—repetiu Melissa, fazendo uma careta.

—Esse foi o nome que eu dei para o beija-flor. Eu acho que combina perfeitamente com ele...

Melissa virou-se para Luisa.

—Se vocês forem ter filhos algum dia, não deixe ele escolher o nome das crianças!—alertou em meros sussurros, de modo que só a amiga pôde ouvir e também corar.

—Ele me disse que a pedra abaixa todas as defesas em contato com a água –continuou o Doutor. -É por essas e outras que ela fica no meio do deserto, longe de qualquer fonte liquida. Depois, precisamos derramar algumas gotas de sangue na água, para provar que somos pessoas de bom coração e de boa intenção. Por fim, poderemos dividi-la igualmente, usando algum objeto afiado...

—E onde nós vamos achar água... –Luisa deparou-se novamente com um copo ao lado de seus calcanhares; aquilo estava definitivamente ficando cada vez mais estranho. –Ah... Deixa pra lá.

—Copo de água: confere. Eu tenho um facão aqui comigo, se vocês quiserem... –cedeu-lhes Indiana Jones, bombardeado de todos os lados com olhares preocupados e de censura. –É só um facão para cortar mato! Minha ultima aventura foi em uma floresta... –explicou-se ele, tranqüilizando o restante das pessoas.

—Nossa, você é tão prático... –Martha aproximou-se dele, murmurando um “eu nunca duvidei de você”.

Ele sorriu radiante para ela, envolvendo-a com o braço.

—Está certo. Parece que foram arranjados dois itens da lista. –contou o Doutor, fazendo uma anotação mental. -Faltam agora as gotas de sangue... –nessa hora, Birdan piou agudo, explicando algo amais. –Ah, certo. Ele disse que tem que ser o sangue da pessoa mais pura do grupo...

O Doutor fez uma rápida varredura de cada pessoa presente. Ele próprio estaria fora de questão; Jack não era um cara puro já há muito tempo, desde que começara a fazer ousadias. Allonso estava no mesmo barco de Jack, por isso também foi descartado. Sarah Jane vivera um romance antigo com o Doutor e atualmente se encontrava apaixonada por TinTin, o mesmo ocorrera com Martha e Indiana Jones, desse jeito já podendo matar quatro coelhos numa cajadada só. Sobraram só as crianças. Maria ele não conhecia direito, Clyde muito menos. Deveria ser alguém em que ele confiasse plenamente. Luisa até passou-lhe pela cabeça, mas ao tê-la beijado na câmara escura, ele despertara nela alguns sentimentos que ela nunca havia sentido, quebrando de vez as chances dela poder ser a escolhida. Melissa nem lhe passou pela cabeça; Esta já era maliciosa por si só. Ele preferiria usar K-9 ao invés dela... Por fim, sobrou-lhe só uma pessoa viável, que sabia tão pouco da vida, a ponto de ser deveras inocente: o garoto Luke. Foi só quando já ia comunicá-lo de sua decisão, que Birdan deu sua ultima sentença: Como a pedra seria dividida no meio para manter equilibrada duas raças distintas, as duas raças deveriam doar algumas gotas de seu sangue. Foi aí que pintou outro problema: Luke era um humano inocente e puro, enquanto a sra. Wormwood, a única Bane presente no local, era um tanto cruel e arrogante; Características péssimas para competir como “personalidade do ano” e ainda mais para separar igualmente a pedra. Foi com grande desapontamento que o Doutor deu a notícia a todos de que não haveria jeito de dividir a pedra, mas ao explicar a causa, Luke interrompeu-os argumentando:

—Mas eu posso doar o sangue pelas duas raças, afinal eu sou humano, mas fui criado pelos Bane. Eles viviam me testando no laboratório com aqueles refrigerantes Bubble Choque. Os refrigerantes que a empresa da sra. Wormwood fabricava, feitos especialmente para encher o corpo das pessoas da própria criatura Bane. O refrigerante continha extrato de Bane como substância da formula e eu até perdi a conta de quantas vezes tive que ingerir aquilo para testes preparatórios. Se ainda houver um pouco de Bane dentro de mim, então talvez eu possa representar as duas raças...

—A idéia não é má –aprovou Sarah Jane, orgulhosa do filho. –Vamos Doutor, meu filho tem razão. Não custa nada tentarmos. Se não der certo, paramos o processo antes mesmo de cortá-la ao meio...

O Doutor pareceu pensar precisamente nas variantes, até que ergueu as sobrancelhas e resolveu concordar.

—Tá bom. –o Doutor pediu que Luke sentasse e aproximou a ponta do facão, da mão do menino. –Isso vai doer só um pouquinho... –ele apenas aranhou de leve um dos dedos do garoto, que soltou um gemido fraquinho. Pareceu meio impressionado com aquilo tudo. Aparentemente, ele nunca se machucara na vida. Luisa sentiu-se comovida pela reação do menino e correu para abraçá-lo pelos ombros, dando-lhe apoio emocional. Logo, todos estavam fazendo o mesmo por ele, inclusive sua mãe, que não saiu do seu lado por um só momento.

O Doutor conseguiu recolher as gotas de sangue e pingou-as na água, torcendo para que os pensamentos de Luke estivessem corretos. Colocou a pedra sobre um sarcófago de ouro, deitado horizontalmente no chão, e derramou com cuidado a água com sangue sobre ela. Todos seguraram a respiração por um momento, esperando que a qualquer segundo algo acontecesse com a pedra, mas nada se sucedeu.

—Mas eu não entendo... –disse o Doutor, inconformado. –Devia ter funcionado...

—Você disse que esse plano falhar, fora sempre uma opção viável –lembrou Luisa, aproximando-se dele cautelosamente, reparando em seu desapontamento instantâneo. –Não fique triste. Nós tentamos...

—Eu sei. –disse ele totalmente decepcionado. –Mas eu queria mais que tentar... Eu queria conseguir!

Os dois ficaram em silêncio, olhando para a pedra. Luisa deitou a cabeça em seu ombro. Então era isso. Não havia mais nada a fazer. O Doutor virou-se para os outros, para lhes dar a má notícia.

Birdan veio voando alegremente para o ombro desocupado do Doutor, e este não entendeu o motivo de tamanha alegria, do passarinho.

—Como você pode ainda estar feliz? –ele parou de chofre. Aparentemente Birdan lhe contara algo extremamente positivo. Disse-lhe que aquela era a reação esperada. Se a pedra soltasse faíscas ou explodisse, então o plano teria dado errado e ela teria rejeitado a pureza e honestidade do dono do sangue. Com muita animação, o Doutor revelou a boa noticia a todos, que comemoraram alegremente antes de acabarem o serviço.

Por fim, o Doutor finalmente repartiu a Freqüência Bane em duas metades e entregou a metade pertencente à Terra aos cuidados de Birdan que, com suas promessas de passarinho, informou-lhes que aquelas gotas de sangue permitiriam que a pedra se mantivesse carregada por muitas e muitas eras.

Todos comemoraram juntos. Finalmente sua missão estava concluída.

*     *     *

 


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Notas finais do capítulo

Prontinho! Mais uma aventura finalizada. Isso é, quase. Ainda teremos mais um capitulo entre meio, para finalizar a formatura -mas garanto que vocês poderão esperar grandes coisas!

Quando o Capitão Jack chamou o Doutor de "Manda-Chuva", foi em referencia a um desenho animado de Hanna-Barbera, criado na década de 60.

Sim, o tema principal da Luisa é "Love Me Like You Do", da Ellie Goulding -mas por favor não façam relação com "Cinquenta Tons de Cinza", porque a Luisa e o Doutor definitivamente não tem NADA a ver com aquele casal. Na real, é porque eu gosto da musica mesmo, e achei que combinasse com eles.

Bem, é isso! :)



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