Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 125
O Chamado do Oceano


Notas iniciais do capítulo

Oláá!



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Melissa não sabia o que aconteceria a seguir. Não sabia com quem teria que conversar, ou o que encontraria pela frente. Estava apavorada. Desnorteada também... E desatenta. Tão desatenta que tropeçou num sátiro, que havia cruzado seu caminho de repente.

—Ei! Olha por onde anda, minha filha! –resmungou ele. O rapaz era negro, tinha um cavanhaque e dois pequenos chifres na cabeça. Seu corpo era um misto de humano e bode. Da cintura para cima, parecia um cara normal, enquanto que suas pernas eram muito peludas e ele tinha cascos no lugar de pés.

—Me desculpe! –disse a garota atônita, sem parar para ajudá-lo. –É que isso é uma emergência! –e continuou descendo a colina, acampamento à dentro. O rapaz arregalou os olhos.

—Espera, você disse uma emergência? Ei! Ei! Espera!!! –gritou, correndo atrás dela. Seus cascos derrapando ao fazer uma curva.

—Sai do meu pé homem bode! Eu preciso chamar reforços! –reclamou Melissa, apressada.

—Reforços? Pra quê?

—Meu amigo está em perigo! Ele está enfrentando o Minotauro neste exato momento...

—O QUÊ? –brandiu o sátiro, perplexo. –Ouououou! Espera aí apressadinha! –ele barrou a passagem, parando na frente dela. –Isso não pode ser verdade... O Minotauro não pode ter voltado agora! O meu amigo Percy acabou com a raça dele da última vez... Isso devia render pelo menos uns séculos de suspensão no Tártaro.

—É, a Medusa disse a mesma coisa... Mas lá estava ela passeando pela minha cozinha! –ironizou Melissa.  

—A MEDUSA ESCAPOU TAMBÉM!? –baliu o bode, embasbacado. –Santos Deuses!

—É uma longa história... É como aquele filme “A Fuga das Galinhas”, só que numa versão mitológica e muito mais pavorosa –comentou Melissa, então uma coisa lhe ocorreu: -Espera aí... Você disse “Percy”?

—Minha nossa... –arfou o sátiro, ainda preocupado com a fuga dos monstros. -Se a Medusa e o Minotauro escaparam, quantos mais não poderão ter feito o mesmo? –gemeu ele, amedrontado.

—Esqueça tudo isso! –ela chacoalhou os ombros do rapaz. -Você disse “Percy”, não disse? Percy Jackson?

—É ele sim. Você o conhece?

Melissa estalou o dedo.

—É o irmão da minha amiga! –anunciou ansiosa. –Vamos logo! Precisa me levar até ele chifrudinho! É questão de vida ou morte!

—Só se você parar de me apertar com essas unhas... –ele tirou as mãos dela de seus ombros. –E também parar com essa história de “chifrudinho”. Tudo bem: eu sou um sátiro. Tenho muito orgulho dos meus chifres. São minhas marcas de Protetor Oficial. Porém, não precisa ficar me chamando assim. Eu tenho nome sabia? E é Grover.

—Tudo bem! Tudo bem! Ora essa, que bode mais temperamental! –Melissa revirou os olhos, então tornaram a correr. –Vamos lá Grover! Precisamos chamar reforços... Meu amigo Doutor está em apuros!

—Um Doutor? Seu amigo é médico?

Ela balançou a cabeça.

—Não, não. Longe disso! Outra ora eu te explico.

—Tudo bem. Siga-me! Eu conheço um atalho para chegar mais rápido à Casa Grande. –e se enfiou no meio de uma plantação de morangos. Melissa fez o mesmo, sem hesitar.

 

*     *      *

Do lado de fora do acampamento, na colina Meio-Sangue, o Senhor do Tempo estava encolhido dentro da caverna prestes a desmoronar. A pedra que a sustentava estava muito gasta e trincada agora, por causa da interferência do Minotauro. Em meio a tudo aquilo, o Doutor tentou se mover. Achou que talvez houvesse uma forma de fugir, enquanto o Minotauro não estivesse olhando. Porém, foi só tentar mover a perna, que uma dor insuportável atingiu-o em cheio, acabando de vez com seus planos.

—Ai! –grunhiu, segurando a perna. Os dentes cerrados. A expressão carregada. Automaticamente, lágrimas encheram seus olhos, deixando sua visão embaçada. –Droga! Eu tinha que me machucar?

O Minotauro esmurrou mais um pouco da rocha, do lado de fora da caverna. O Doutor observou pequenas pedrinhas escorregarem por entre fissuras na pedra, bem ao seu redor. Aquilo tudo iria desabar a qualquer momento... E o pior, é que ele nem tinha como sair correndo dali. Não sem antes sentir uma dor horrível, por causa do corte profundo na perna.

—“Ah... Legal Doutor. Muito bem. Parece que você tá de novo entre a cruz e a espada” –murmurou para si mesmo, massageando a perna, agora novamente com a dor controlada, justamente por estar imóvel. –Anda Melissa... Anda! Vai lá... Rápido. Rápido. Rápido.

O Doutor rezou para dar tempo da garota voltar com reforços, mas a rocha já estava muito judiada. Após um ruído final, parte dela cedeu e caiu por cima dele.

Do lado de fora, o Minotauro urrou e bateu no peito, comemorado sua vitória. Melissa chegou logo depois, acompanhada por um centauro boa pinta chamado Quiron, o sátiro Grover e mais um monte de campistas, armados até os dentes com arcos, flechas e espadas. Todos pararam de chofre ao ver o estrago que o Minotauro havia feito nos arredores do acampamento... Em meio a perplexidade de todos, alguém passou abrindo caminho entre os campistas, na intenção de chegar até Melissa: o garoto chamava-se Percy Jackson –ninguém menos que o irmão de Luisa. 

—Dá licença... Ops, foi mal aí... Desculpe. –parou bem ao lado de Melissa. Os olhos azuis arregalados. –Wou! Caramba! Parece que você não tava mesmo mentindo quando falou que o feioso tinha voltado...

—Eu disse que ele tava destruindo tudo! –reforçou Melissa. –AI MEU DEUS! A caverna onde o Doutor estava abrigado está destruída!

—Ui... Essa deve ter doído –comentou Grover, fazendo uma careta. –Sabe quanto pesa aquela pedrona ali? O seu amigo já deve ter virado panqueca à essa altura...

—Grover, quer fazer o favor de calar a boca, sim? –disse uma voz feminina, secamente. Melissa virou para trás e deparou-se com uma garota parecida com ela. Mesmo porte e personalidade. As duas eram igualmente loiras, só que a outra tinha olhos cinzentos. –O Minotauro parece estar bastante inquieto...

—E não perdeu tempo em se vingar do seu amigo –disse Quiron à Melissa, puxando um arco e flecha e apontando-o para o monstro mitológico. –Isso vai ser perigoso... Se quisermos salvar o rapaz, precisaremos primeiro manter o Minotauro afastado das rochas. Ou então, ele poderá ser pisoteado...

—“Arranjou briga com um Minotauro, feriu a perna, teve uma avalanche de pedras caindo por cima de si, agora pode ser pisoteado a qualquer momento...” Esse seu amigo é meio azarado, não acha? –comentou Grover.

—Ele é azarado por natureza –concordou Melissa, espichando o pescoço para procurá-lo a distância. –Merda! Num tô vendo ele em parte alguma...

Nesse ínterim, a garota dos olhos cinzas sacou um binóculo da mochila. Os campistas todos estavam escondidos atrás dos pinheiros, fora da vista do Minotauro –deste modo, este também não conseguia vê-los.

—Está ali! –disse, apontando. –Está encolhido... Parece que usou uma abertura na rocha para se enfiar e assim sobreviver ao impacto.

Melissa deu um sorriso.

—Doutor esperto...

—Então? O que fazemos para resgatá-lo? –perguntou um dos campistas.

—Vamos ter que lutar, é claro! O Minotauro não se renderá de bom grado... Terá que ser na força bruta. É a única forma de detê-lo. –disse Quiron.

—Mas alto lá! Temos que ter cuidado! O meu amigo está machucado... Não acha muito arriscado planejar um ataque para destruir o monstro? E quanto à parte do salvamento? –protestou Melissa, indignada.

—Fique calma. Nós faremos as duas coisas. Mas para podermos salvar seu amigo, primeiro precisamos passar pelo Minotauro...

Melissa analisou o argumento do centauro.

—É. Faz sentido.

—Muito bem, então é isso que faremos... –prosseguiu Quiron, e começou a dividir o grande volume de campistas em equipes, instruindo-os a se aproximarem do inimigo sem chamar atenção, para poderem atacar somente quando já estivesse perto o bastante... Um tipo de “ataque surpresa”. Por ser inexperiente em batalhas, ficou determinado que Melissa ficaria fora disso, mesmo isso não a agradando.

Então, os campistas se organizaram em silêncio e esperaram o comando de Quiron. Alguns contentaram-se em permanecer escondidos no solo... Outros ousaram um pouco mais e foram para as copas das árvores... Melissa cruzou os braços ao lado do Centauro. Não estava nada contente em ficar “de fora da ação”, mas um gemido angustiado fez sua expressão variar: O Doutor estava sofrendo.

O Minotauro tinha um ótimo olfato... Logo voltou-se para a direção de sua voz... Localizando-o entre as rochas quebradas. Soltou fumaça das ventas... Arrastou o casco no chão, concentrando-se... Estava prestes a atacar o Senhor do Tempo indefeso, quando Quiron deu o sinal (assoprando uma corneta esquisita) e todos os milhares de adolescentes surpreenderam a criatura, surgindo de diferentes direções.

O ataque surpresa funcionou perfeitamente... Pelo menos nos primeiros minutos. Até então, eles haviam conseguido “domar” o Minotauro. Porém, de repente... Não se sabe bem o que ocorreu, mas uma luz vermelha de energia surgiu inesperadamente, contornando seu corpo, e então, o bicho pareceu ficar cinco vezes mais forte e assustador.

No momento seguinte, os bravos campistas estavam sendo liquidados ou arremessados pelos ares sem dó nem piedade. Quiron ficou espantado. Melissa começou a ficar ansiosa... Os olhos indo e voltando toda hora pelo espaço onde o Doutor ainda estava.

—Quiron! Peça para eles recuarem!!! –gritou Melissa. –Os campistas estão levando a maior surra... Daqui a pouco não vai sobrar ninguém!

—Mas eu não entendo... O Minotauro ficou mais forte? Não deveria ter acontecido. Tem alguma coisa errada...

Melissa olhou aflita na direção das rochas. Com toda aquela barulheira de gritos e metal de espadas, ela não conseguia ouvir mais o amigo...

—Aaaaaaaaah! –um sátiro foi arremessado pelos ares e passou voando por eles, despencando atrás de algumas árvores. Quiron levou a mão à cabeça.

—Isso já está passando dos limites! –sacou uma espada. –Eu vou ajudar os campistas... Você fica aqui.

—Ah tá. Valeu pelas “recomendações”—Melissa revirou os olhos. –Vou me lembrar delas com certeza...

Quiron não ouviu a última parte de sua provocação. Partiu para a batalha, deixando-a por sua própria conta. Melissa não pensou duas vezes: Assim que o centauro se afastou, ela se enfiou no meio do fogo cruzado... Precisava chegar até o Doutor, e se conseguisse arrumar um jeito de permanecer inteira até alcançar seu objetivo, seria melhor ainda.

Depois de desvencilhar-se uma batelada de vezes de golpes inesperados, gritos espontâneos, corpos se chocando e lâminas raivosas, ela conseguiu finalmente chegar aos destroços da caverna.

À primeira vista, não havia sinal do Senhor do Tempo.

—Doutor? –Melissa subiu numa pedra e começou a chamar por ele. –Cadê você?

—Embaixo de você –ele respondeu. Melissa olhou na direção de seus pés e se deparou com o rapaz encolhido contra a pedra em que ela havia subido.

—Ah! Graças a Deus achei você... –ela saltou da pedra e se agachou perto dele. O Doutor tinha uma expressão de dor no rosto. –Nossa... Você parece péssimo!

—Sim. Eu estou morrendo. –gemeu.

Melissa ergueu as sobrancelhas.

—Você não está morrendo... Só machucou a perna.

SÓ?—guinchou ele, indignado. –Isso aqui está doendo pra caramba, sabia?  Não venha me julgar... Você não sabe o quanto eu estou sofrendo!

Tá legal, Tá legal, já não está mais aqui quem falou –ela ergueu as mãos em sinal de rendição. –Tá bom... O garotão tá dodói. Eu já entendi. Agora será que o bonitinho podia crescer só um pouquinho e parar de choramingar? Eu preciso tirar você daqui depressa!

—É O QUE? –exclamou ele, arregalando os olhos. –Não, não! Nem ferrando!

—Hein? Você tá se ouvindo? Nós estamos no meio do fogo cruzado e você fica aí dando sopa!?

Não estou interessado em sopa, Melissa! É a minha perna que me preocupa... Ela está prestes à passar dessa para melhor, e eu nem estou com cabeça pra respeitar esse momento!

Melissa respirou fundo. Estava ficando sem paciência: “1... 2... 3... Não surte Melissa! Não surte! Vamos lá: você é melhor que isso... Pode resolver essa situação numa boa. 4... 5...

—Doutor, é sério, eu não to brincando: você precisa urgentemente COLABORAR comigo e se levantar agora.

—Eu não posso! Quantas vezes vou ter que dizer que minha perna tá “esticando as canelas”?

Piadinhas? Aquilo não era hora para piadinhas. Danou-se tudo: Melissa perdeu a calma.

—DOUTOR! LARGA A MÃO DE FRESCURA E PARE DE ENROLAR!

—Eu não tô enrolando! Não vou conseguir me levantar... É sério! Eu já tentei... Dói demais até quando eu não mexo um músculo, imagina fazendo força pra me equilibrar de pé? –argumentou ele, fazendo uma carinha de piedade.

Melissa ergueu uma sobrancelha. Outrora, ela podia até ter aderido àquela carinha, mas agora, os tempos eram bem outros.

—Tá ligado que isso não funciona comigo em tempo integral, né? Eu não sou a Luisa.

O Doutor desfez a cara fofa na mesma hora.

—Tem razão. Você tem tanta sensibilidade quanto essa rocha aqui.

Melissa fuzilou-o com os olhos.

—Tá querendo morrer de verdade? Eu posso tornar isso possível... Você tem duas chances, na verdade: ou você morre até o fim do dia pelas mãos do Minotauro, ou pelas minhas.

O Doutor engoliu em seco.

—Tá legal. Eu vou cooperar.

—Ótimo. Já tava na hora. –ela se posicionou atrás dele, para puxá-lo para cima.

—Certo. Mas vê se vai devag... AAAAAAH! –gritou. –AI! NÃO! NÃO! NÃO! PÁRA! PÁRA! ME PÕE NO CHÃO!!! –gemeu, contorcendo o rosto. Melissa levou um susto e tratou de colocá-lo de volta no lugar. –Por favor, não faz isso de novo...

—Você é tão escandaloso!

—Eu NÃO tenho culpa! Você puxou com MUITA força!

—Desculpa –ela disse enfática. –Mas eu precisava tomar impulso... Você pode ser magro garotão, mas não é o que se pode chamar de “leve”.

—E você não tem um corpo escultural, mas eu não fico jogando isso na sua cara!

Melissa piscou: calma por fora, enfurecida por dentro.

—Se você não calar a boca agora, eu vou arrebentar a sua perna boa –ameaçou, com um sorriso psicopata no rosto. O Doutor crispou os lábios.

—Certo. Captei a mensagem. –assentiu ele. –Eu vou tentar colaborar... Só... Não me puxa com força...

—Vou fazer o possível. –confirmou ela. E retomou as tentativas de colocá-lo de pé. Mas o Doutor era muito pesado, impossível de se carregar sozinho.

Perto dali, ouviu-se um urro terrível... Melissa sentiu um tremor violento percorrer seu corpo –um tremor de amedrontamento e receio; Ela sabia que haviam levando tempo demais com aquela prosa... Enquanto isso, o Minotauro super fortalecido estava dando uma surra nos campistas semi-deuses e no centauro Quiron. Nesse ritmo, o monstro não demoraria a notá-los.

—Vamos lá Doutor... Me ajuda a te ajudar que sozinha eu não consigo!

—Eu vou tentar... É difícil me equilibrar com uma perna só...

—Qualquer esforço a mais é bem vindo...

—E ajuda, é bem vinda? –disse uma voz feminina. A dupla se virou para o lado e deram de cara com Annabeth: a garota dos olhos cinzas, junto de Grover e Percy, trazendo um carrinho de pedreiro.

—Claro! –sorriu Melissa. –Vamos... Me ajudem aqui com ele...

—É pra já! –Grover e Percy seguraram o Doutor.

—Aiaiaiaiaia! Na perna não! –gritou o Doutor, quando Grover tentou erguer suas duas pernas juntas, para facilitar o transporte.

—Eu hein! Que cara mais irritadinho... –resmungou, tomando mais cuidado. Enquanto isso, Percy ajudou Melissa a carregá-lo pela outra extremidade.

—Então... Você é que é o Doutor?

—Sim. Eu mesmo! –o Doutor sorriu de leve. –E você deve ser Percy Jackson... O irmão da Luisa.

—Pois é, cara. Sou eu sim –Percy não parecia muito feliz com o Doutor. –Eu sou o irmão da Luisa. E você, até onde sei, é o cara que devia estar “cuidando” da minha irmã. –condenou, cheio de rancor. O Doutor franziu o cenho.

—Espera aí Percy... Não vamos começar com o pé esquerdo! Eu adoro a sua irmã... Quero ser seu amigo também.

—Não me venha com essa agora! –retrucou Percy em tom de bronca. –Você sabe que não podia tê-la deixado arriscar a vida assim! Teve tantas oportunidades de voltar atrás e deixá-la ir, mas foi egoísta todas as vezes, e não quis abrir mão dela! O que vemos agora é o resultado de tudo isso!

O Senhor do Tempo imediatamente lançou um olhar acusatório para Melissa.

—Você andou envenenando ele contra mim?

—Eu só disse o suficiente. –ela deu de ombros.

—Puxa... Deixá-la cair de um Vórtice do Tempo não me parece uma coisa muito responsável. –continuou Percy. -Que bela proteção você deu a ela... –disse, decepcionado.

O Doutor encarou Melissa definitivamente.

—Acho que seu “suficiente” acaba de passar do ponto a partir do momento que o rapaz que deveria virar nosso aliado, está prestes a me esgoelar.

—Opa! –Melissa deu uma risadinha amarela, esfregando a nuca. -Tudo bem... Eu posso ter contado alguns detalhes desnecessários ao resumir a história para eles.

—Cê acha é? –satirizou o Doutor. –Foi mal Percy... Eu não sei o que essa maluca aí te disse, mas de uma forma ou de outra, temos uma coisa em comum: ambos estimamos muito sua irmã. Nenhum de nós nunca quis o mal dela e estamos todos sentidos pelo que aconteceu. Isso é um fato. Tudo bem se zangar por conta disso. Agora... Se nós ignorarmos as chances que temos de poder salvá-la e ficarmos apegados ao passado... Então Luisa estará definitivamente perdida.

O rapaz pareceu pensar no que o Doutor disse.

—É isso aí Percy... Não desconta nele agora. O Doutor nem tá com cabeça pra raciocinar direito... –apoiou Melissa, para o alívio do Senhor do Tempo. –Relaxa... Mais tarde, depois que as coisas se acalmarem, aí vocês poderão cair no tapa a vontade –prometeu, virando o jogo. O Doutor esticou o pescoço para poder vê-la e fazer uma cara feia pra ela.

—Você tá me ajudando ou ajudando ele a me condenar?

Os dois. -ela deu de ombros. –Na verdade, não sei de qual lado ficar... Percy não está certo de vir querer acertar as contas com você nesse momento, mas você também errou feio em proteger a Luisa, Doutor. E sabe muito bem disso. Ela só está nessa enrascada porque você voltou para as nossas vidas depois de quase três anos de afastamento, e nos convidou para virarmos suas companheiras oficiais.

O Doutor atou as mãos.

—E a culpa é minha se vocês aceitaram?

Melissa semi-cerrou os olhos, debochada.

—Até parece que todo aquele papo de: “maior por dentro do que por fora” “qualquer lugar no tempo e espaço” “viver milhares de aventuras e ainda voltar antes da hora do chá”, não foi uma etapa importante do processo de convencimento.

—Anda gente! Rápido! –apreçou Annabeth. –Depois vocês discutem!

—Annabeth tem razão! Vamos levar o Doutor pra dentro do Acampamento... –agilizou Grover, colocando o rapaz de 1000 anos sentado no carrinho de pedreiro.

—Não! Espera aí! Não dá pra fazer isso... Eu não sou Semi-deus como vocês! A barreira que protege o acampamento não permitirá que eu entre.

—Claro. Ao menos que você se torne um de nós. –disse Annabeth, começando a empurrar o carrinho.

O Doutor e Melissa se entreolharam.

—E como exatamente vocês vão fazer isso? Vão converter ele? –questionou Melissa. –Isso não me parece uma coisa saudável...

—Nós temos algo melhor do que isso. –Annabeth tirou um potinho com vários comprimidos dourados dentro. –“Resíduo de Divindade” é como chamam. É uma espécie de “trapaça”. As cápsulas te fornecem algumas horas como semi-deus. Até seu DNA se altera, mas não é definitivo. Depois que o tempo acaba, você volta a ser o que era antes do processo.

—Pra mim está perfeito! –o Doutor apanhou um dos comprimidos e tratou de engoli-lo rapidamente. Depois fez uma careta. –Eca. O gosto desse negócio é um fel que só vendo... –ele limpou a boca. -Por acaso vocês tem analgésico aí? A minha perna tá me matando...

—Temos uma ala hospitalar dentro do Acampamento. –informou Annabeth, apreçando o passo, de modo que a velocidade do carrinho aumentou gradativamente.

Passaram na cara dura, bem na frente do Minotauro... Mas ele nem os notou. E se notou, nem teve tempo de reagir, pois no momento seguinte, o cinco já estavam dentro dos limites do Acampamento Meio-Sangue. O Doutor percebeu isso da pior maneira possível, pois o solo do acampamento era bem mais acidentado, e o carrinho começou a tremer violentamente.

—Aiaiaiai! Cuidado aí com a minha perna! –gemeu o Doutor.

—É difícil controlar o carrinho quando se está correndo numa trilha com pedras e raízes de árvores por todos os lados. –comentou Grover. –Mas fazer o quê? É a vida...

—Belo consolo. –resmungou o Doutor. –Vocês dizem isso pra todo mundo aqui ou eu fui o primeiro a ter essa sorte? –ironizou.

—Você, vê se fica quieto aí! Isso aqui ainda é um resgate, viu? –rebateu Percy.

—Eu estou quieto! Minha perna e o carrinho de pedreiro é que não estão se entendendo muito bem –interveio o Doutor.

Naquele instante, Annabeth tropeçou e eles foram parar fora da trilha, adentrando por uma das laterais da floresta e despencando por um barranco sem igual. Percy, Grover e Melissa saíram correndo atrás deles, tomando muito cuidado para não se desequilibrarem e saírem rolando também na decida íngreme.

—DOUTOR!

—ANNABETH!

Eles: Annabeth, o Doutor e o carrinho, só apraram quando finalmente alcançaram uma clareira plana. Os outros três vinham correndo desesperados, logo atrás. Grover e Percy ampararam Annabeth, que espantosamente tinha uns mínimos arranhões nos braços e rosto, além de algumas folhas, terra e gravetos pelo cabelo e roupas. Melissa foi ver, muito receosa, como o Doutor estava. Ela sabia que ele deveria estar vendo estrelas à essa hora. Agora que sua perna ia latejar pra valer. O carrinho de pedreiro então, estava só o bagaço. A roda da frente se soltou e outras partes se amassaram. Que tragédia!

—Doutor! Doutor!

Entrou em coma. Não diz que horas volta—gemeu o rapaz, esfregando a cabeça. Havia um corte atravessado em sua testa. –Aaaaaai...

—Ô meu Deus...Vem cá –Melissa lhe deu um abraço. Depois deu tapinhas na sua cabeça, como se ele fosse um cachorrinho.  –Pronto. Pronto. Passou... Você vai ficar bem agora.

—Não vou não! –ele trincou o maxilar. –“O Doutor está dispensado de seus serviços por hoje...” Obrigado. –e deitou no chão, estirado. Os outros três se aproximaram para ver o que tinha acontecido. Melissa revirou os olhos.

—Alguém me diz: pra que fazer tanto drama???—ela estapeou a própria testa. -Eu não consigo entender...

Em meio a toda aquela confusão, Percy sentiu uma vibração. Seus ouvidos apuraram... Eles estavam perto de algum riacho.

—E agora, como vamos levar o Doutor pra ala hospitalar? O Carrinho de pedreiro já era! –disse Grover.

—Gente?

—E pior... Annabeth não parece estar nada bem também. –observou Melissa.

—Eu vou ficar bem. Só... Não sei se vou conseguir correr tanto quanto antes. Meu tornozelo está doendo um pouco. Não que isso importe, mas acho que comprometeria meu ritmo de caminhada.

—Gente?

—E quanto ao Doutor? Olha pra ele! –Grover abaixou-se perto dele. -O cara tá cruzando o cabo da boa esperança, minha gente!

—Aaaaaaaai –gemeu o Doutor, de um modo bem arrastado.

—Pessoal! Escutem! –insistiu Percy; a voz destacando-se acima dos outros. –Tão ouvindo esse som?

Todo mundo ficou em silêncio, tentando detectar algum ruído específico.

—O que? O Doutor gemendo? –arriscou Melissa, já que ninguém se pronunciou.

Não! Esse barulho de água –explicou Percy. –Ouve só...

Dessa vez todos se concentraram e escutaram também.

—Ah é! Eu tô ouvindo! –disse Melissa. –Parece...

—Água corrente –completou Percy. –O Chamado do Oceano...

—Aaaah! –sorriu Grover, em tom de quem havia sacado alguma coisa. Em seguida, levantou-se e caminhou na direção de Percy. -Senhoras e Senhores, acabamos de presenciar uma das maiores habilidades do garoto Percy Jackson –Grover deu um tapinha nas costas do amigo. –Encontrar água.

 Melissa olhou intrigada para Annabeth.

 —O quê? Percy tem algum parentesco com a bruxa do poço?

Annabeth se inclinou um pouco para frente.

—Não... O Percy é filho de Poseidon, o deus dos mares.

—Ah. –assentiu ela, sem realmente assimilar o que aquilo significava. Annabeth presumiu que isso aconteceria, então prosseguiu, explicando:

—Sabe, todos estamos aqui porque somos semi-deuses... E semi-deuses automaticamente são filhos dos deuses. Captou?

—Acho que não muito Annabeth, foi mal –desculpou-se Melissa. –É que eu tive um dia cheio hoje, e não tô conseguindo raciocinar direito...

—Tudo bem. Vamos tentar assim então: Você conseguiu entrar no Acampamento sem a interferência dos comprimidos especiais. Isso faz de você uma de nós.

—Espera –Melissa franziu o cenho. De repente, os neurônios que estiveram desativados começaram a trabalhar a todo o vapor. –Então é oficial. Quer dizer... Que eu sou... MESMO filha de um deus?

—Ou deusa. É. –confirmou Annabeth.

—Mas... Mas isso é... É loucura! Pura loucura! Mais loucura que viajar com ele! –Melissa apontou para o Doutor que se pôs sentado, mesmo com dor, e fez uma cara de indignação.

—Ei! Tão tentando roubar meu lugar? Ninguém me vence no quesito “loucura”!

—Infelizmente, essa informação aí venceu –disse Melissa. –Te deu uma lavada e tanto!

—Ora! –desapontado, o Doutor voltou a ficar estirado no chão.

—Se estressa não, meu chapa... Ergue a cabeça e bola pra frente! –Grover deu tapinhas consoladores no ombro do Senhor do Tempo. Entrementes, Percy afastou-se um pouco do grupo, seguindo a direção do som de água corrente. Enquanto essas coisas aconteciam paralelamente, Annabeth prosseguiu sua conversa com Melissa.

—Então... Algum palpite de quem você possa ser filha?

Medusa dissera muitas coisas à ela... Coisas que poderiam ser ou não verdade. De qualquer modo, ela não tinha certeza.

—Hum... Não sei... Descobri muito recentemente essa história de “parentesco com deuses”. Na verdade, é tudo muito estranho e confuso... A quarenta e oito horas atrás, eu podia jurar que tinha uma mãe humana e normal... Na noite passada, me deparei com a Medusa na cozinha lá de casa, falando coisas absurdas sobre uma vingança contra minha mãe. Se eu imaginei por algum momento, que podia se tratar da mesma pessoa? Não. Minha mãe sempre foi exageradamente pacata aos meus olhos. Os pensamentos sempre foram comuns DEMAIS para poder pertencer a uma deusa. Por isso essa história toda ainda não me desce direito... Meio que tá presa na minha garganta.

—Ah. É tudo novo pra você. Eu entendo. Também fiquei chocada quando descobri... –falou a loira de olhos cinzas. –Minha mãe é a deusa da Sabedoria, Estratégia em Batalha e Guerra. Eu costumava morar com meu pai antes de vir para o acampamento, com sete anos de idade. Desde então, aqui é meu lar.

—Puxa! Você está aqui desde os sete anos... Eu não sei se sobreviveria um dia. –comentou Melissa, fazendo-a rir. –Vocês por acaso tem horários a cumprir e regras para obedecer aqui, não tem? Bem, é aí que a coisa costuma pegar pra mim...

—Bom, nós temos horários e regras, mas é normal não seguí-los sempre. Afinal, somos todos Meio-Sangues: Precisamos de um pouco de adrenalina de vez em quando...

Melissa estava concordando, quando uma revelação lhe veio à mente.

Puta merda! Você disse que o Percy é filho de Poseidon? Então a Luisa, automaticamente... Também é! Oh!

—Sim. Quero dizer, existe casos em que um dos filhos é semi-deus e o outro não. Isso ocorre especialmente se o homem ou mulher que tiver se relacionado com um deus, tentar seguir a vida em frente, e acabar se casando depois com outro mortal. Então, obviamente que os futuros filhos não terão as mesmas habilidades da criança que tiver o DNA dos deuses, no sangue.

—Mas no caso da Luisa, ela e Percy são filhos dos mesmos pais...

—Então ela é filha de Poseidon também, assim como Percy. –confirmou Annabeth.

—Incrível...

—Pessoal! Venham aqui! Eu acabei de localizar a cachoeira –disse Percy, surgindo de dentro da floresta.

—Mas o que tem de tão importante nessa cachoeira afinal? –sussurrou Melissa para Annabeth.

—Percy sabe conduzir a água como bem desejar... Talvez tenha alguma coisa em mente.

Passaram andando e pararam ao lado do Doutor e Grover.

—Nem percam tempo perguntando... Vão sem mim! Eu e minha perna estamos fora de qualquer programa que envolva caminhar.

—Acho que vai querer vir também, Doutor. Garanto que isso será do seu interesse. –disse Percy.

Também, quem pode negar assim? O Doutor acabou se juntando a eles afinal –usando Annabeth, Grover e Melissa como muletas. Percy guiou-os até o determinado riacho. O lugar era lindíssimo. Parecia cenário de filme.

—Olhem só pra isso! –exclamou o Doutor, maravilhado. Enquanto todos apreciavam a paisagem, Percy ajoelhou-se perto da água e estendeu a mão para tocar sua superfície. Logo de quebra a água criou uma movimentação estranha e meio que foi “aspirada” por suas mãos. Então ele voltou-se para Annabeth, tocou seus machucados com suavidade e pequenas poças d’água percorreram seu corpo, lavando as feridas e cicatrizando-as no segundo seguinte, sem deixar marca, hematoma, nem nada.

Depois foi a vez do Doutor. Percy primeiro curou o machucado em sua testa: numa escala avaliativa, obviamente que aquele era o menor de seus problemas. Em primeiro lugar, ficou a tão citada, perna machucada. Esta deu um pouco mais de trabalho para Percy... Exigiu mais concentração e habilidade com seus poderes, porém, em pouco tempo, também já estava novinha em folha. O Doutor observou o resultado, impressionado.

—Puxa vida! Você é bom mesmo nisso, né?

—É. Meio que isso é uma coisa nata de mim... Como filho de Poseidon, eu tenho certos controles sob a água.

O Doutor assentiu.

—Sabe que sua irmã teria muito orgulho, não sabe? Ela sempre gostou muito de você... Sentiu sua falta, quando você teve que se afastar da família. Sally me contou como estava ficando perigoso pra você...

—Você viu minha mãe? Faz ANOS que não a vejo...

—Sim. Eu a vi.

—Ela está bem? Ela...

—Está sim. Com muita saudades, à propósito.

Percy suspirou, deixando os ombros baixarem.

—Eu queria vê-la, mas com meus poderes no nível que estão hoje, é bem possível que encontraria um monstro para combater em cada esquina.

O Doutor sorriu amigavelmente.

—Nada que nós, deuses solitários, não possamos resolver.

Percy deu um leve sorriso.

—Você não me parece uma ameaça, Doutor. Por que então parece que todas as pessoas que andam com você acabam sofrendo no final?

O sorriso do Doutor sumiu.

—Eu... Viajo sempre por aí, salvando e ajudando as pessoas. É um trabalho bem solitário às vezes... Se é que posso chamar de “trabalho”. Eu nunca ganho nada com isso... Nem aceitaria ganhar, se pudesse. O que eu faço não é por interesses monetários. Eu simplesmente quero ajudar.

—Parece uma boa causa. –avaliou Percy. –Ainda não entendo como minha irmã foi se meter nisso, mas acho que posso imaginar... Ela se importa com os outros. Gosta de ajudar. É uma pessoa boa.

—Muito boa. –reforçou o Doutor, pondo a mão no ombro do garoto. –E acabou pagando caro por isso... Eu sinto muito Percy. De verdade. Não queria que fosse assim...

—Eu sei. Dá pra ver que você se preocupa com ela. –concordou Percy. –Mas não vamos falar do que aconteceu. Se me lembro bem, você disse que ainda haveria uma chance de salvá-la... Atualmente, eu prefiro me apegar a isso.

O Doutor abriu um sorriso largo.

—Ah! É disso que eu tô falando! –comemorou. –Um resquício de fé e esperança é tudo o que nós precisamos agora para nos mover e reverter essa situação... –parou e observou-o melhor, com as mãos nos bolsos. -Você e sua irmã são muito parecidos... Mais parecidos do que imagina.

—Eu quero muito poder revê-la Doutor... E, se para isso nós precisarmos ir até o Inferno e voltar... Conte com a gente! –Percy falou pelo grupo, lançando um sorrisinho para os amigos. –Acredite... Nós já fizemos isso.


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Notas finais do capítulo

E aí está a galera do acampamento! ;)

Só pra deixar claro, a Melissa sabia sobre os poderes de Visualização da Luisa e também sobre a garota ter um irmão, porém, ela não fazia idéia de que Percy fosse um semi-deus, ou mesmo que Luisa tivesse também esses poderes. Na real, a Méli tá com dificuldade até de aceitar os próprios poderes e o fato de ser semi-deusa, quem dirá o resto kkk

Os tais comprimidos que a Annabeth arranjou para enganar a proteção do Acampamento Meio-Sangue foram inventados por mim. Eles não existem oficialmente em Percy Jackson. E caso existir coisa parecida em algum momento futuro da saga, bom... Já deixo aqui minha garantia de que tive a idéia espontaneamente.

Bom, vamos ver como as coisas vão se arranjar...

Bjs e até a próxima! :D




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