Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 113
Encontros e reencontros -parte 1


Notas iniciais do capítulo

Olá!



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Melissa ficou observando a TARDIS desaparecer na sua frente. Logo a rua ficou novamente deserta, a não ser por ela, os esquilos e o One Direction na calçada.

Ao perceber que a cabine partira, Louis se aproximou de Melissa e tocou-a no ombro.

—Puxa, que doideira essa história de “máquina do tempo”, né?

—Você nem faz idéia –Melissa sorriu, amigavelmente. Juntos, os dois caminharam lentamente em direção ao meio fio, conversando. –Acredite, nós já tivemos dias mais difíceis...

—E ele é sempre assim? –Louis apontou para a rua vazia, referindo-se ao Doutor, que há poucos segundos atrás estivera materializado lá.

—Assim como? –Melissa devolveu a pergunta.

—Assim, “tão apressado” –esclareceu o rapaz. Melissa não pôde deixar de sorrir.

—Não, não. Normalmente ele é só um tornado ambulante. –ironizou, brincalhona. –Você sabe, o Doutor sendo o Doutor. Não é preciso muitos argumentos para ilustrar sua postura. Ele simplesmente é o que é, e não tem vergonha de deixar isso bem claro para o universo inteiro.

—Sim. –Louis abriu um sorriso largo. –Tá aí mais um motivo para me ajudar a crer que ele é mesmo um alienígena.

—Ora, e você não teve provas suficientes até agora? –ao fitá-lo, Melissa era uma mistura de surpresa e humor.

—Não é isso. É que, você sabe, por mais que ele aja como um alienígena, e faça coisas de alienígena, ele ainda continua parecendo bastante humano pra mim, afinal, até onde eu sei, ele tem a aparência perfeita de um ser humano, fala muito bem o nosso idioma, come a mesma comida que a gente, e, acima de tudo, ele comete erros, assim como nós! O que faz crer que talvez ele não passe de um homem do futuro que conseguiu se apoderar de uma máquina maluca. Sim, porque ele é inteligente, isso nós vemos de longe... Já a questão é: em função de quê ele usa essa inteligência toda.

Melissa sorriu bem largo.

—Olha só pra você “falando difícil” –exclamou, animada. Não era seu costume agir assim, mas ela resolveu experimentar... E curtiu o resultado! –Foram os ares espaciais da TARDIS que te deixaram assim?

—Talvez –afirmou Louis, entrando na dela. –Mas tenho muitos motivos mais para pensar diferente hoje... Olhe só pra nós: acabamos de voltar de uma aventura no tempo e espaço! Pense só nisso: quantas boy bands de hoje em dia conseguem dizer o mesmo?

Melissa deu um nó nos dedos das mãos, fitando-o com um olhar sonhador e um sorriso de orelha a orelha. No fundo, ela nem sabia porque ria daquele jeito. Alguma coisa muito grave estava acontecendo ali: ela estava agindo que nem boba!

—Já considerou essa hipótese? –tagarelava Louis, nesse meio tempo. -Quero dizer, já imaginou, só por um instante, que esse seu Doutor poderia ser, na verdade, um cara originário do próprio planeta Terra, que, sei lá... Um dia levantou da cama, escorregou e bateu com a cabeça em algum lugar duro o bastante para fazê-lo pirar na batatinha, e se esquecer de quem ele realmente é? Bom, depois só faltaria ele sair por aí confuso e perturbado, e roubar aquela máquina do tempo de algum laboratório experimental. Existem muitos desses por aí hoje em dia... –ressaltou, pensativo. Depois voltou-se para Melissa, com ar sugestivo. –O que você acha disso?

—Acho muito pouco provável. Lamento. –ela tentou não parecer grossa (estava trabalhando duro nisso ultimamente). -Mas devo aplaudi-lo por seu esforço. Seus argumentos foram realmente convincentes...

—E por que, então, não sortiram o efeito desejado?

—Hã?

—Ora, meus argumentos não fizeram com que você se convencesse.

Ah, isso!? Bom, devo destacar que conheço aquele maluco espacial a bem mais tempo do que você... Tempo suficiente para criar minhas próprias teorias sobre ele, e acredite, eu já construí tantas hipóteses diferentonas e improváveis que, no fim das contas, dei com a cara na parede em cada uma delas. –disse, com ar de riso. -Pois é, isso meio que faz parte do pacote de se ser companheira de um Senhor do Tempo.

Louis fez uma cara intrigada.

—Certo, eu respeito sua opinião, mas ainda acho tudo isso muito suspeito. –e parou de perfil para o meio fio. -Por exemplo: já passou pela sua cabeça a hipótese dele ter enlouquecido de vez e criado, dentro da própria cabeça, um mundo fictício onde ele é um alienígena, último da espécie, que salva o universo todo de investidas malignas de seres amaldiçoados? –ponderou. Depois ergueu as sobrancelhas, admirando a própria constatação. –Curioso... Tipo, se isso tudo fosse um sonho da cabeça dele, então nós também poderíamos ser apenas fruto de sua imaginação!? —Louis arregalou os olhos, por um momento. –Caramba! Isso sim seria esquisito... Significaria que minha vida toda não teria passado de um eco na mente de um cara insano! –constatou, observando o próprio tórax, para depois tocá-lo, pensativo. –Puxa, isso é sem dúvida uma idéia avassaladora pra um fim de tarde tranqüilo e pacífico como este. Ainda bem que estamos de folga. Eu sem dúvida precisarei de uma dose extra de pizza e cenouras para me recompor de tudo isso, quando enfim acabar.

Melissa franziu a testa, mas ainda conservou o sorriso no rosto.

—Você é muito bom de sugestões. Mas precisa assistir menos ficção científica, ou isso poderá comprometer gravemente suas teorias. –aconselhou.

Louis riu e passou o braço ao redor do ombro da garota.

—Nossa, você é a garota mais surpreendente de todas! Ficou parada uns dez minutos me ouvindo dizer um monte de asneiras e mesmo assim continua a me dar atenção... Onde você esteve escondida durante todo esse tempo?

Bem aqui, na rua Bannerman—ela corou, ao dizer.

—Ah, é claro. Como eu sou tonto!

Melissa olhou no fundo de seus olhos, afastando-se ligeiramente para que pudessem se entreolhar.

Você não é nada tonto, Lui. É criativo e engraçado. Sempre se importa com as outras pessoas. E é muito leal aos seus amigos.

Louis fitou-a com espanto. Aos poucos, um sorrisinho torto começou a formar-se em seu rosto.

Sabe tanto sobre nós quanto aparenta saber ou isso é só charme seu?—questionou, bestamente.

Melissa mordeu o lábio, atentada.

—Você quer que eu prove que sei o bastante sobre vocês só com um dia e meio de convivência? Pois bem... Lá vai: Aquele é o Harry Styles –e indicou disfarçadamente com a cabeça, um Harry distraído sentado na calçada.  -Ele é um gato que se amarra em gatinhos fofinhos, e gosta de flertar com todo o tipo de garota. Falo por experiência própria. O rapaz ao lado dele, com fones de ouvido, é Zayn Malik: ele curte ser DJ e é muito vaidoso, porque está sempre se olhando no espelho. Este aqui se chama Louis Tomlinson—e tocou Louis na ponta do nariz. -Ele é brincalhão, adora cenouras... E fazer zoeiras em qualquer lugar. Liam, é o “pai do grupo”. Ele é um pouco sério, extremamente focado e tem trauma de colheres, sabe lá Deus porquê. Já o Niall, é muito divertido, curte tocar violão, adora fazer uma “boquinha” e tem os dentinhos da frente um pouco tortos, que no caso, parecem atribuir um certo charme a ele.

—Uau! Você realmente mergulhou na “Enciclopédia Directioner”; E olha que você nem nos conhecia a um dia atrás... Gostei de você, garota!—comentou Louis, empolgado –Por acaso... Você também gosta de cenouras? —sondou ele, cheio de expectativas.

—Tá brincando!? Eu adoro cenoura! É definitivamente o meu legume favorito... –sorriu Melissa.

Não brinca!?—boquiabriu-se Louis, como se “fãs de cenouras” fossem tão difíceis de se encontrar quanto “apaixonados por jiló”. –Você é a garota mais incrível que eu já conheci! Tem praticamente tudo a ver comigo... Você não gostaria de se aprofundar mais na “Enciclopédia Tomlinson”, mais tarde? –ele propôs, com ar de danado, convidando-a para um encontro.

—Puxa... Eu adoraria Louis! –ela mordeu o lábio, tentando soar sexy.

—Beleza! –Louis deu um soco no ar comemorando e afastou-se, após dar-lhe um beijo na bochecha. –Te vejo mais tarde então...

Melissa o observou virar a esquina, suspirando. Ao que ele se afastou, Niall antecipou-se na direção dela, ansioso.

—Olha... D-desculpe. Já estou me desculpando adiantadamente por ter ouvido parte da sua conversa... Mas então, você realmente acha meus dentinhos tortos atraentes? –perguntou, impressionado com a opinião dela sobre ele. –Porque ninguém jamais disse coisa parecida sobre mim e... Você não vai acreditar mais, eu até já estava prestes a fazer um procedimento para consertá-los...

—Ué? Por que mudar, se você fica tão fofo assim? Quer saber de uma coisa: Eu acho que você está bem do jeitinho que está –disse Melissa, simpática. E imediatamente, ganhou pontos com Niall também.

—Você acha? –ele sorriu imensamente. –Ah... Que maravilha! Fiquei realmente muito feliz em saber...

—Que bom ouvir isso. –ela sorriu para ele em retorno. Seu coração acelerou de repente. Novamente, ela não controlava suas emoções.

—É. Obrigado. Foi realmente amável... –o rapaz já ia se afastar, quando esfregou a nuca, tomando coragem: -Melissa... Eu estava pensando: Eu aluguei um chalé logo adiante na estrada, algumas curvas após a saída da sua cidade. Será que você não gostaria de passar o fim de semana comigo? Sabe... Eu poderia levar meu violão, para mostrar algumas composições novas para você... Quero dizer, se você quiser, é claro.

Estava mais do obvio que Niall não ouvira a parte final da conversa dela com Louis, em que ele a convidara para sair, mas, por algum estranho motivo, ela aceitou seu convite também. Foi automático. Seu cérebro simplesmente pensou: “O encontro não será no mesmo dia, nem na mesma hora, então, por que não aceitar?”.

—Tá brincando? Mais é claro que eu quero! Nhó... Que amor, Niall! –ela deu-lhe um beijo na bochecha. O rapaz quase perder o ar.

Caramba! Isso foi Maravilhoso!—gritou, entusiasmado. Depois percebeu que a garota o estava observando com ar de riso. -Hã... Me refiro a você ter aceitado o meu convite... –disfarçou, sem sucesso, corando um bocado.

—Sabia que você fica ainda mais fofo quando embaraçado? –ela disse ao pé de seu ouvido, causando-lhe um arrepio incrivelmente bom, que devolveu-lhe a confiança.

—Sério? Você acha? Puxa... Mais que Maravilha! Eu te apanho sábado de manhã, às dez horas, está bem? –ele sorriu ao se afastar, completamente nas nuvens.

Melissa fez um tchauzinho amistoso para ele. Aproveitou para se sentar no meio fio, enquanto ele se afastava.

—Puxa, você está mesmo disputada—comentou Liam, de um jeito amável, aproximando-se logo em seguida. Ele sim estava por dentro da agenda de encontros de Melissa. Também, não era por outro motivo que ele era dito como “o mais responsável”.

—Senta aqui comigo –ela fez sinal para ele se juntar a ela. Liam não esperou-a dizer duas vezes.

—Melissa, você é uma garota incrivelmente linda, inteligente e também, uma ótima companhia... A melhor, em minha opinião!

—Nossa! Eu sou mesmo tudo isso? –ela riu. -Ah, Liam, assim você me deixa constrangida...

—Desculpe. Não foi minha intenção. –disse ele, preocupado por ter falado alguma besteira. Mas Melissa tranqüilizou-o, segurando o queixo dele com delicadeza, fazendo-o não desgrudar os olhos dos dela. 

—Não se grila, Liam. Você sempre diz a coisa certa. Só exagerou um pouquinho na proporção...                    

—Ora, mas eu não exagerei! Sou muito crítico quanto a minha função na banda; Os garotos bem sabem disso. Mas você... Você entra na minha cabeça e sacode tudo, desestabilizando todo esse meu jeito “certinho” de ser...

—Puxa, Liam. Desculpe. –ela disse, assustada com a idéia de estar fazendo algum mal a ele.

Não, Mel. Você não entendeu. Isso é realmente ótimo! Há tempos que não me sinto assim, tão vivo e liberto! Pela primeira vez, sinto que consigo ser eu mesmo, sem ficar com receio de me divertir ou passar do ponto.—ele segurou as mãos dela. –Sabe? Quando estou com você, eu meio que perco o controle dos meus sentimentos... Sinto um calor imenso subir por meu corpo. Não sou mais o mesmo, Melissa. Não desde que conheci você.

—Sério? Você me considera tanto assim? –ela sorriu, feliz em saber.

—Se eu te considero? Eu a AMO! —ele disse, abraçando-a forte. Depois afastou-se, um pouco sem jeito.

—Você disse que... Me ama? –ela pareceu embasbacada, mas feliz ao mesmo tempo.

—É! Eu disse. Porque é verdade, Mel. –confirmou Liam. –Tive certeza disso assim que pus meus olhos em você. Por isso eu vim aqui lhe perguntar se você gostaria de sair e patinar comigo amanhã à noite?

—Certamente! A que horas?

—Ás oito está bom?

—Ás oito será perfeito! –e deu-lhe um selinho, que deixou Liam anestesiado por alguns segundos.

—Até mais –ele sorriu feito bobo descendo a rua, assim como os outros.

Não passou nem meio segundo que Liam se afastou e Zayn sentou-se junto dela.

—Oi, garota! Eu reparei que você reparou em mim, e por acaso, eu também estive reparando em você ultimamente... –ele puxou assunto, do jeitão convencido dele.  

—Ah, é? –ela aparentou surpresa e empolgação ao mesmo tempo. Por outro lado, decidiu bancar um pouco a difícil; Também, não tinham se passado nem dois minutos e ela já arrumara três encontros marcados, por falta de um!—Então quer dizer que você se ligou em mim? –sondou, como quem não queria nada... inicialmente.

—Pois é. Eu soube que você adora música, assim como eu. E, por acaso, eu descobri um lugarzinho reservado, onde nós podemos ouvir um som bem irado juntos... E aí vem a melhor parte: sem sermos perturbados por ninguém.

Que Demais!—vibrou Melissa. No segundo seguinte, seu pensamento principiante desmanchou-se por completo e ela reconsiderou a proposta, já com um imenso “SIM” estampado em mente e iluminado pela luz extravagante de um outdoor imaginário.

—Então, você toparia ir lá comigo amanhã?

—Só se você fizer uma mixagens para mim, “Dj Malik” –ela chamou-o pelo apelido que ele mais gostava. Zayn ficou muito empolgado com isso.

Vem aqui, gata—puxou-a para si e deu-lhe um beijo de cinema. Melissa se derreteu toda com isso. -Ótimo, te pego às duas. –sorriu, malandro, levantando-se e dando-lhe um último beijo na bochecha. Não tinha jeito: ela não sabia resistir ao charme do One Direction.

Assim que Zayn foi embora, Harry se aproximou, bastante contido.

—Nossa... Será que sobrou uma casquinha pra mim? –brincou.

Bom, sobrou só isso aqui —ela apontou para o restante do corpo. –Serve?

Ô se serve!—riu Harry, parando ao seu lado. Ele não se sentou como os últimos dois, mas também não arredou o pé dali. Melissa ergueu-se em pé, depois de alguns segundos.

—Você está bem, Harry?

—Estou. –ele assentiu. –E você? Não parece estar muito bem.

—Não pareço? –Melissa disse de uma forma tão casual que nem pareceu estar muito preocupada (afinal, a única coisa que parecia apitar em sua cabeça, como um trem, era a informação de ter conseguido quatro encontros num piscar de olhos. Encontros com caras famosos e que estavam gamados nela...). Por outro lado, agora que eles sumiram de sua vista e Harry tocara no assunto, Melissa aproveitou para passar a mão na testa, onde uma dorsinha aguda manifestava-se, e finalmente ganhava sua atenção: era uma dor chatinha e irritante, como a de um martelo interno dando leves batidinhas em seu crânio; Batidinhas estas que vão aumentando de intensidade se você não mover o traseiro e decidir tomar uma aspirina!

Lissa, está tudo bem? –Harry perguntou novamente, quando ela soltou um suspiro impaciente.

—Está. Está sim, Harry. Eu vou ficar bem –ela sorriu meio forçado, abrindo caminho para entrar em sua casa, deixando Harry plantado na calçada.

Melissa abriu o portão e entrou, cruzando o jardim sem cerimônia. Disparou para a porta da casa, girou a chave na maçaneta, sem mesmo se dar conta disso e cruzou a sala de estar, sem nem dar ouvidos a Nik, que logo tratou de fazer festa, comemorando seu retorno e acompanhando-a até a cozinha. Harry por sinal não esperou o convite de Melissa para entrar em sua casa. Ele também atravessou a sala de estar, sem pensar, e parou diante da porta da cozinha, ao vê-la tomando um comprimido junto de um copo com água. O silêncio propagado levou-os a perceber que estavam sozinhos em casa. Quieto, Harry esperou pacientemente até que ela acabasse, para então retomar o assunto.

—Tem certeza que você está bem? –perguntou, preocupado, quando ela começou a andar que nem barata tonta pela cozinha. 

—Ah, claro! Estou ótima –ela respondeu, revirando os armários, em busca de alguma coisa. –Ah, que ótimo! Não temos mais pasta de amendoim. Me fala: Como é que o universo espera que eu me recomponha sem pasta de amendoim? Veja se é possível: Isso é um insulto ao amendoim... E ao meu colesterol também!

Harry e Nik entreolharam-se, ambos abismados, perguntando-se silenciosamente a mesma coisa: “o que havia acontecido com aquela garota?”.

Como Harry era melhor do que Nik nessa coisa de “se comunicar”, então coube a ele tentar fazê-la falar o que a estava abalando daquele jeito.

Melissa?—Harry aproximou-se com cautela (Melissa tinha uma colher de pau nas mãos e ainda vasculhava os armários, agitada).

—Achei! –disse ela, aparentemente feliz, arrancando, desesperada, a tampa de uma lata de brigadeiro industrial e se lambuzando com uma gigantesca colherada de doce. Harry ficou parado, observando-a se entupir de doce. Novamente trocou olhares espantados com Nik.

Quando voltou a observá-la, foi pego de surpresa, pois Melissa o encarava.

—Quê foi? –ele franziu a testa. Melissa ergueu as sobrancelhas, como se fosse obvio. –O que é? –Harry intrigou-se por mais algum tempo, até que a garota bateu com a colher de pau contra a lata do doce e ele entendeu o que ela queria dizer. –Ah, tá bom... Calma aí –ele abriu a gaveta dos talheres e apanhou uma colher também para si. Nik abanava o rabo alegremente, de plano de fundo; Em seguida, Harry caminhou para junto da garota e estendeu a colher para apanhar um pouco de doce. Melissa inclinou a lata para ajudá-lo. Harry então ergueu a cabeça durante a ação e os olhos de ambos se encontraram. Eles estavam bem próximos um do outro.

—Sério Mel, não vai mesmo me contar o que foi que te aconteceu? –ele recuou, trazendo a colher recheada consigo. Melissa balançou a cabeça levianamente e pousou a lata na mesa.

—Eu já disse que estou bem, Harry. Sério. Não é nada... Só que... Me sinto um pouco estranha. Sabe? Como se eu tivesse me esquecido de alguma coisa muito importante, que eu jamais deveria esquecer.

Harry assentiu, refletindo.

—Bem, talvez seja uma cisma. Já pensou nessa possibilidade?

—Não é uma cisma! –ela afastou-se, derrubando uma cadeira e andando em direção a janela, de costas para ele. Harry endireitou as costas imediatamente, sem tirar os olhos dela. Nik se encolheu no chão, triste. Durante todo o tempo Harry questionou se devia ou não dizer alguma coisa. Não sabia o que fazer. Não sabia com que nível de nervosismo estava lidando... Foi aí que se lembrou: não conhecia Melissa de fato. Não tinha obrigação de se importar com ela... Mas, por alguma razão absurda, ele se importava, e muito. Porém, antes mesmo que ele pudesse pensar em qualquer abordagem, Melissa foi quem se manifestou: –Sério? Você realmente acha que uma simples cisma me deixaria nesse estado? –e virou-se para ele. Ela tinha olhos lacrimosos de quem queria chorar. Seu cabelo estava levemente arrepiado, seu lábio inferior tremia e havia uma gotinha de chocolate bem no canto de sua boca. Por que se concentrar na gotinha? Bem, talvez fosse a coisa mais sensata nela, naquele momento.

Harry suspirou, paciente, e caminhou até ela, devagar. Com carinho, evolveu-a em seus braços, onde ela encontrou refúgio e conseguiu finalmente por todo aquele sentimento para fora.

Shhhh—sibilou, acariciando-lhe os cabelos, enquanto ela chorava. Melissa se agarrou a ele de uma forma instintiva, quase como se tivesse receio de que ele evaporasse. Mas, como era de se esperar, ele continuou ali parado, consolando-a.

Demorou algum tempo para que ela se recuperasse, mas, assim que tudo aquilo se suavizou, eles migraram para a sala de estar, onde se esparramaram no sofá e poltrona, bebendo xícaras exageradas de cappuccino.

—Está melhor agora? –perguntou Harry, depois de um longo silêncio pacifista.

—E como! –ela riu, ficando vesga ao observar a xícara. –Me entupir de cacau era tudo o que eu precisava à uma hora dessas. –brincou.

Harry sorriu. Suas covinhas fofas deram as caras.

—E... Vai me contar porque ficou tão triste daquele jeito?

Melissa ergueu o olhar, pensativa.

—Eu também gostaria muito saber. –falou. –É uma pena não me conhecer por completo... Talvez Luisa fosse capaz de me entender. Ela sempre me interpretou melhor do que eu mesma jamais consegui.

Harry mudou de posição, trocando a mão que segurava a xícara.

—Bem, então imagino que você não gostaria nem de tentar se interpretar? Porque estamos só nós aqui e, você sabe que eu não seria a pessoa mais qualificada para poder falar sobre você, para você, sobretudo porque nos conhecemos a pouco tempo; então, ao menos que você espere que o Nik comece a falar coisas sobre você, talvez a única alternativa seja você mesma tentar falar.

Melissa sorriu de leve com toda aquela confusão de pensamentos, convencendo-se a tentar. Porém, assim que aceitou fazer isto, sentiu uma nova leva de tristeza e tornou a ficar séria. Harry manifestou-se de imediato:

Ah, não! Essa carinha de novo não... –repreendeu, de um jeito amistoso, que a fez suavizar novamente a expressão facial, e concentrar-se somente no que estaria deixando-a abatida, ao invés de se entregar para o sentimento. –Bom. Isso mesmo! Vamos lá... Tente me contar agora o que a deixou ficar desse jeito.

Ela custou para falar, mas quando finalmente o fez, parecia mais intrigada do que nunca, consigo mesma.

—A verdade Harry, é que não sei ao certo como explicar... Sinto como se algo de ruim tivesse acontecido. Algo extremamente ruim... –ela fitou-o com os olhos instantaneamente marejados. -Mas a pior parte é que eu não consigo me lembrar do que é.

Harry ergueu-se, pôs a xícara na mesa, caminhou até ela, ajoelhou-se, segurando-a pelos antebraços, sorriu e disse:

—Pense desta forma: Se você esqueceu, talvez seja porque não devesse se lembrar mesmo disso, seja lá do que estivermos falando.

Melissa sorriu, sentindo-se um pouquinho melhor.

—Me beija –pediu, de relance. Inesperadamente, Nik retirou-se da sala, como se soubesse que o clima esquentaria dali por diante; Ele era um cachorro esperto. Entrementes, Harry mordeu o lábio: seus olhos correram por vários pontos diferentes do rosto da garota, até aterrissarem fixos em seus lábios.

—Com prazer, senhorita Rivera—e beijou-a da forma mais doce possível. Ambos trocaram sentimentos naquele instante: Melissa sentiu-se curiosamente revigorada, enquanto Harry, apesar de satisfeito com o beijo, sentiu como se aquela mesma sensação de ter esquecido algo importante, não fosse assim tão estranha para ele também.

Os dois separaram-se brevemente, fitando um ao outro.

—O que foi? –Melissa perguntou, ao vê-lo franzir levemente o cenho. Harry rapidamente se recompôs, deixando aquilo de lado.

—Nada –desconversou, despreocupado. –Onde nós estávamos mesmo?—e pegou-a no colo, transportando-a da poltrona estreita em que estava, para o sofá mais largo do ambiente, então tirou a camisa e deitou-se sobre ela.

Melissa mordeu o lábio, excitada. Rapidamente removeu a blusa também e ficou só de sutiã na sua frente. Os olhos de Harry brilharam, pedindo para beber mais daquela fonte. Naquele momento, nenhum dos dois deu a mínima para aquela sensação esquisita que ia e vinha e começaram a se agarrar no sofá.

—Olha... –disse Harry, pouco depois, tomando fôlego entre uns amassos e outros. –Eu sei que você combinou de sair com todo mundo... Mas, será que não poderia arranjar um tempinho pra nós dois na sua agenda?

Melissa rapidamente se endireitou no sofá, fitando-o com um olhar divertido.

Interessando no produto? —brincou, exibindo-lhe o próprio corpo, cheio de curvas bem definidas (estava só de calcinha e sutiã agora). Harry lançou-lhe um olhar de desejo.

Sim, muito—e tornou a beijá-la no pescoço, no colo, depois foi descendo por entre os seios... Melissa sorriu com o arrepio que as caricias lhe proporcionaram, contudo, teve que interrompê-lo ao erguer o rosto do rapaz na altura do seu e, com ar de menina malvada, finalizou:

—Então aproveite bem, porque essa é a hora.—e mordeu o lábio, atrevida.

Harry, mal cabendo em si de tanta euforia, tornou a agarrá-la e ambos recomeçaram a rolar no sofá.

—Oh, Harry –ela gemeu (finalmente no sentido literal da palavra). –Queria que soubesse que eu me sinto muito especial quando estou com você. Que você faz me sentir tão... Viva.

Ao ouvir aquilo, Harry voltou-se para ela, esforçando-se para disfarçar a cara de bobo.

—Eu a amo Melissa. É isso que eu sinto quando olho pra você. É só isso que eu vejo –falou, apaixonado. -Não importa o que nos aconteça daqui por diante... Eu queria que você soubesse de como eu me sinto sobre nós.

—Então diz de novo –ela pediu, excitada.

Você, é a garota da minha vida.

Aquilo fez Melissa abrir o sorriso mais largo de toda a sua existência e querer recompensá-lo com algo realmente prazeroso. Segundos depois, Harry estava sem calças.

Com tantos hormônios em ebulição, suas vozes perderam a força, o raciocínio ficou inoperante, e seus sentindos vibraram e enlouqueceram. Suas cabeças estavam girando, loucas de desejo. Eles não respondiam mais por si próprios: era como se alguém estivesse dirigindo cada movimento seu numa cena de filme de cinema, com indicação ao Oscar de Melhor Atuação e Desempenho.

Tudo que queriam era satisfazer sua fome voraz. Afinal, não precisavam de lucidez para fazerem amor.

 

*      *       *

A TARDIS soltou uma baforada, na intenção de refrescar os motores quase sobrecarregados. Não havia sinal do Senhor do Tempo na sala de controles. Em compensação, havia um rastro de envelope rasgado, que percorria o chão como uma trilha de migalhas. Estas estendiam-se escada abaixo, até a parte inferior do console, onde o Doutor se encontrava sentado de ponta-cabeça, observando fixamente uma papelada extensa com dizeres bem absurdos a ponto de fazê-lo franzir a testa e o nariz ao mesmo tempo.

Isso tudo é muito estranho. –balbuciou, depois de muito tempo, intrigado. -Não. Isso não pode estar correto. Deve ter havido algum engano... -o esverdeado em seus olhos castanhos, arregalados, contribuía para um tom de espanto facilmente detectável, porém, não integralmente compreensível. –Minha santa anã branca, isso só pode ser uma piada! –exclamou, completamente cético. Fazia horas em que estivera ocupado analisando os resultados dos exames de Luisa, feitos no hospital de Nova Nova Iorque e, a cada minuto percorrido, tudo parecia fazer cada vez menos sentido. –Isso não está certo. Não pode estar certo... É simplesmente ridículo!—finalmente, entrou em negação. Deu um tapa no bloco de folhas. Saltou, parando em pé, então começou a caminhar em círculos pelo interior do console: os olhos fixos na papelada; a mão livre desalinhando os cabelos. –Ah, não! Não me venham com essa agora... Eles acham que eu sou o quê: ignorante? Não podem simplesmente escrever um monte de baboseiras como diagnostico e esperar que eu engula tudo, sem protestar! –rosnou; Os papeis amassados contra os quadris agora. -Será que pensaram que eu não desconfiaria? Enfermeiras de araque... –foi então que uma nova hipótese inesperada, clareou-lhe o pensamento. –Ou... Talvez elas tenham sido mais espertas do que eu imaginei. Talvez elas soubessem que eu iria aparecer e levar os resultados embora, então bolaram uma papelada falsa para me enrolar... Hã! Quem diria? Quanta burrice!—rosnou, sarcástico. Contudo, mudou de semblante quase que de imediato. –Não. Espera aí... Isso foi estratégico. Não tem burrice alguma no plano delas... A única burrice aparente nisso tudo só pode mesmo ser a minha. –resmungou, aborrecido. –Que Inferno! Aqueles malditos gatos de avental... Sabia que não podia confiar neles! Onde já se viu especular uma coisa dessas? Ora, faça me o favor! Nunca presenciei um hospital errar tão feio antes! Acho até que irei processá-los por calunia exacerbada! –resmungou. -Droga! Cadê meus biscoitos?

Tagarelando, irritado, foi parar no andar de cima e parou precisamente ao lado do painel de controles, sem nem ao menos se dar conta disso.

Não encontrou nenhum biscoito, mais, usando uma mão de apoio contra o maquinário, leu e releu a papelada, para ter certeza de ter visto tudo corretamente (não podia tomar conclusões precipitadas –inicialmente, tinha lido os papeis de cabeça para baixo), contudo, o resultado não foi nada animador. Após ter a confirmação indesejada, atirou tudo pelo chão e esfregou os olhos, descorçoado.

Naquele mesmo instante, a TARDIS fez um barulho drástico, como o som de uma repreensão. O Doutor rapidamente mudou de postura, como se tivesse lembrado de que tinha companhia.

—Que coisa –murmurou. Por uma fração de segundos, contemplou o chão, refletindo. Ele sabia que as folhas não se apanhariam sozinhas, e que a TARDIS deveria estar brava com o desleixo dele. Sendo assim, acabou por suspirar e passou a recolher os papeis jogados. –Desculpe querida.

Ela lançou um ruído em resposta. Desta vez, mais contido.

—É que nada mais está fazendo sentido –disse aos motores da nave, que subiam e desciam, mansamente. -Esses exames estão apontando coisas absurdas sobre Luisa. Sim, eu sei que ela é humana, inteligente e tudo mais, mas o que diz aqui é complexamente inviável. Não é real. É uma tremenda farsa, provavelmente criada com o propósito de me atingir de alguma forma: afinal, nós sabemos que não sou muito bem vindo em Nova Nova Iorque desde aquele último incidente, mas onde mais eu poderia levá-la para fazer esses exames? Eu pensava que qualquer lugar poderia receber alterações nos resultados, menos aquele hospital! –arfou, inquieto. –Ora, ela... Ela... É humana, poxa vida! É uma garota comum... Não há absolutamente nada de errado com ela!

A TARDIS piscou uma luz, então fez com que uma alavanca se baixasse sozinha, de modo a trazer a estrutura da televisão, próxima ao rosto do rapaz. Ele hesitou por um instante, então leu as informações que se fixavam no visor: Tratava-se da lista de observações sobre Luisa, que uma vez ele escrevera enquanto estiveram em Terra Nova. Luisa ficara muito brava com isso e ele fora obrigado a dar um sumiço no papel... Só que agora, lá estava o rascunho de novo: escrito digitalmente e salvo em um arquivo de dados. 

Luisa

Observações:

*Fala constantemente sobre os olhos. (Nada menos que as janelas da alma). Sempre á um momento do nosso dia a dia em que nos sentimos incompreendidos e sozinhos, mas enquanto se está na companhia desta garota, algo muito maior parece estar te contemplando através dela. Como uma força. Uma energia. Uma certeza. Um grito de esperança vindo do além. E algo ainda mais poderoso... Ela tem algo intimamente inigualável dentro de si. Algo que nem eu mesmo consigo decifrar. O fato é que ela me olha como se me estudasse, tentando se por no meu lugar... Então, de repente, a próxima reação que ela tem é sorrir como se tivesse entendido algo, ou simplesmente desviar os olhos, fingindo não ter visto algo embaraçoso ou comprometedor, o que é impossível, pois na verdade tudo não passou de uma troca de olhares.

Entretanto, ela sempre consegue me deixa no ar. Gostaria de saber as coisas que ela pensa...

*Fascinação pela água? Já estivemos nos mais diferentes lugares, fazendo as mais variadas coisas, mas nesse ínterim de tempo, houve uma coisa que sempre me intrigou. Uma coisa que esteve conosco, em comum em vários desses lugares, como uma coincidência incessante: Água. Todas as vezes em que estamos precisando de água, recipientes mágicos surgem ao nosso redor, como que em resposta de nossas preces. Qual seria a explicação viável para isso? Nenhuma variável é comum se não houver algo que a torne comum. E, é obvio que eu viria a perceber, uma hora ou outra, que Luisa tinha também um envolvimento especial com essas cenas, porque ela somente não deseja tanto a água quanto nós... Como também é sempre ela que encontra os recipientes, fontes, baldes e etc. OBS: (Não faço a mínima idéia se isso foi uma coisa que sempre esteve designada a caminhar junto dela desde que nasceu, mas tenho razões suficientes para chegar á um conceito positivamente favorável quanto a isso). Veja as próximas notas: Houveram várias repetições do mesmo ato durante nossa caminhada juntos e algumas dessas eu consegui enumerar: O primeiro relato oficial foi no Egito, quando fomos resgatar Luke Smith, o filho de Sarah Jane, das garras dos Bane; Outro ocorrera no palácio São Cristóvão, o lar da princesa Isabel de 14 anos, da qual havia um imenso chafariz bem no centro do jardim do Anjo Lamentador, muito parecido com o chafariz que Luisa tinha em seu próprio quintal (sim, eu reparei nisso). Talvez o seguinte relato tenha sido da nossa viagem errante, que ocasionou em uma quase catastrófica visita no planeta Índia, da qual Luisa encontrou facilmente os banheiros quando precisou deles; Lembro-me também de Luisa ter me contado brevemente sobre um sonho em uma outra realidade, onde haviam Daleks e uma guerra sanguinária entre o bem e o mau. Em um determinado momento, ela precisou apagar o fogo do chalé do deus Marte, General M, para salvar minha vida, mas ela não tinha nada em mãos (o que foi bastante curioso, já que ela me descreveu a situação exatamente desta forma: “foi apenas eu entrar em desespero que uma saída simplesmente apareceu”). Essa saída evidentemente fora a inexplicável aparição de meia dúzia de baldes e uma mangueira bem resistente para combater o fogo; Também houve a vez na prisão do Tormento, quando Luisa, Drica e Ofélia precisaram me reanimar com um balde de água fria. (Adivinhe de quem era o balde?) Contudo, não podemos nos esquecer da passagem no Expresso Continental / Expresso do Oriente, da qual, no passado, Olívia precisou de água para engolir alguns comprimidos e Luisa mais uma vez surpreendeu-nos com um copo d’água, dentro do bagageiro. (Em resumo, não creio que sejam informações suficientes para que eu fique tirando conclusões precipitadas. É obvio que são muitas coincidências... Mas, é um material delicado para se trabalhar... Sobretudo, se isso for mexer de alguma forma com a estabilidade emocional de Luisa).

*Tem sonhos que influenciam sua vida. A última ocasião no expresso, não seria a primeira que presenciei Luisa se queixado de ter tido sonhos extremamente reais e perturbadores (ao menos essa é a descrição que se encaixa perfeitamente com seu semblante, após acordar). Ela parece incrivelmente distante e absorta de começo, mas então seu semblante adquire uma coloração pálida, ela apresenta vertigens e enjôos e começa a mudar de humor da água pro vinho, por diversas vezes seguidas. Isso não pode ser um sintoma comum! Me recuso a admitir que não seja nada, porque, de outra forma, qualquer pessoa que sonha poderia se queixar de ter efeitos colaterais após dormir, e não é o que acontece. Nunca vi nada parecido, mas continuarei buscando um diagnóstico que se encaixe nessa patologia ainda desconhecida.

Ao fim do que foi um enorme flashback, o Doutor esfregou a nuca.

—Caramba! Isso tudo nunca fez tanto sentido quanto agora... –comentou, relacionando partes do texto escrito por ele, com algumas frases da papelada dos exames da garota.

A TARDIS assobiou com os motores. O Doutor foi obrigado a assentir, concordando com ela. 

—Sim, sim. Você está certa. Há uma pequena possibilidade dos resultados estarem corretos. Mas, se de fato estiverem, então isso significará grande perigo para nós...

A TARDIS fez um ruído pesaroso em resposta.

—Eu sei... Com sorte, ninguém jamais encontrará seu corpo. Se Luisa estiver mesmo morta, então não haverá sombra de dúvidas de que escapou de uma grande enrascada. –fez-se um silêncio desconcertante, em que ele se sentiu bastante culpado por ter dito aquelas palavras. ­–Porém, ainda não podemos excluir a hipótese dela poder estar viva. –o Doutor sentiu um formigamento ansioso ao dizer isso. -Se Luisa tiver sobrevivido à queda do Vórtice, então muitas coisas estarão em jogo, inclusive o próprio equilíbrio do universo, e a vida dela, possivelmente. –houve um novo silêncio, prolongado e sinistro, até ele acrescentar: –TARDIS, nós dois sabemos que o universo é um lugar muito perigoso. E, se essa pequena informação sobre Luisa se espalhasse, de alguma forma, universo afora, e caísse nas mãos de alguma forma de vida maligna e inconseqüente, e, de algum modo assombroso demais para se imaginar, esta criatura conseguisse se apossar de Luisa, controlando-a e usando-a para comandar o universo, isso poderia causar um dano de proporções incalculáveis para o cosmos! –arfou, roendo uma unha, desesperado com a idéia. -Caramba! Tenho que me certificar de que ninguém mais tem essa informação... Seria bom cortar o mau pela raiz...—o Doutor novamente começou a andar em círculos. –Vamos ver, quem mais teria tido contato com esta informação? –então pensou de imediato nas gatas do hospital de Nova Nova Iorque. Aqueles resultados passaram por suas patas antes de estarem em segurança com o Doutor. Quem poderia garantir que as enfermeiras não dariam com a língua nos dentes e passariam o segredo adiante? Naquele segundo, o sangue ferveu dentro de suas veias. –Ah, não! Elas que ousem se atrever a contar isso para alguém...—disse, já irado, pegando o telefone e pondo-se a discar um determinado número. –Vou resolver isso agora mesmo!

Muito longe dali, em Nova Nova Iorque, Noviça Wame passava próxima a um telefone, no exato momento em que ele tocara. Sem pestanejar, ela tirou o fone do gancho e atendeu.

—Hospital de Nova Nova Iorque, em que posso ser útil?

Em NADA!—o Doutor gritou do outro lado da linha. Não parecia nada contente. –Vocês aí, enfermeiras de araque, nem ousem passar para frente esse segredo! Façam isso e vão ter que se ver comigo!

Wame franziu a testa peluda.

—Por acaso é o Doutor que está falando?

Sim! É ele mesmo!—disse, furioso. A mulher gata sorriu do outro lado.

—Não precisa ficar todo eriçado e rosnar pra mim. Eu sou sua amiga, Doutor.

Houve um breve silêncio na linha.

Noviça Wame?—a voz dele voltou imediatamente para o tom habitual, num misto de surpresa e embaraço. –Hã... Desculpe por isso. É que eu estou com o resultado dos exames daquela minha amiga, Luisa Parkinson, você se lembra?

—É claro.

—Pois é. É que eu estava conferindo umas coisinhas e... Olha, você vai rir a beça disso, mas eu creio que vocês erraram no resultado final.

—Impossível. –Wame disse com certeza. –Temos os melhores equipamentos. As analises dos exames de cada paciente são feitas e refeitas no mínimo quatro vezes. Seria impossível alguma coisa passar despercebida pelas enfermeiras, depois de tantas conferidas.

—Não. Você não entendeu. Não é que tenha havido coisas que passaram despercebidas...

—Então?

—Olha, entenda só uma coisa: Luisa é humana. Completamente. É uma garota comum do originário planeta Terra. –ele fez uma pausa, analisando suas próprias palavras. -Hã... Bom, comum mesmo ela nunca foi. Sabe como é: Luisa e eu sempre nos entendemos bem demais; Ela nunca cortou o meu barato, ou me tratou como um lunático... E, acima de tudo, ela tem uma pegada forte. Sério: o beijo dela é realmente uma coisa de outro mundo... E nem me faça falar sobre o quanto ela fica excitante quando dopada.

Wame limpou a garganta.

—Acho que já entendi o que quis dizer.

—Certo. Então, será que você pode me explicar como uma garota jovem de dezessete anos, toda hormônios e adrenalina, poderia possuir um DNA modificado em três categorias diferentes?

Wame soltou uma exclamação do outro lado. O Doutor percebeu seu espanto.

—Nossa! O DNA era da sua amiga? Meu Deus! Eu não imaginava...

—O que foi? Por que parece tão chocada?

Wame olhava de um lado para o outro do corredor, inquieta. Tinha medo de ser flagrada.

—Não posso dizer. Não agora. –deu outra entreolhada pelo corredor, preocupada. -O.T.F.G, Doutor. Desculpe. Eu preciso ir. E.O.R.D.M.P.F. –e desligou.

O Doutor ficou paralisado do outro lado da linha. Demorou-se a por o fone no gancho, talvez na esperança de que ela voltasse e dissesse mais alguma coisa. Porém, o toque insistente na linha deixava bem claro que a conversa acabara.

Ainda intrigado, ele apoiou-se diante do painel de controles, olhando sem rumo os motores da TARDIS.

—Cara, que charada foi essa!? O que será que a Noviça Wame quis dizer com essas siglas estranhas?

A TARDIS rangeu, chamando sua atenção.

—Quais são as siglas? Bem, ela me disse duas: O.T.F.G... –e, conforme ele falava, um pedaço de papel saiu pela boca do fax. O Senhor do Tempo ergueu as sobrancelhas, então estendeu a mão e apanhou a folha. Depressa leu, e repetiu em voz alta: -O.T.F.G:O Telefone Foi Grampeado”. Ah, entendi! Noviça Wame estava tentando me dizer que o telefone estava grampeado, por isso ela não pôde estender a conversa comigo...

No exato segundo em que ele terminou de falar, um novo papel surgiu enviado pelo fax. Rapidamente, o rapaz puxou a nova mensagem para si.

—E.O.R.D.M.P.F.—repetiu, conforme lia. –“Envio O Restante Da Mensagem Por Fax”. –a segunda sigla foi tão grande que ele acabou achando graça. –Como ela conseguiu pensar nessa sigla tão rápido?

Uma nova mensagem chegou. Desta vez, ele nem tirou-a do fax. Inclinou-se e leu lá mesmo:

Sou uma gata, Doutor. Sou ligeira com siglas.

Agora escute, antes que eles pensem em grampear o fax também;

Eu realmente não sabia que o DNA inacreditável que encontramos era da sua amiga.

Na verdade, era para ser um segredo até entre a própria irmandade, mas desde que a paciente e os resultados sumiram, as coisas ficaram realmente feias por aqui. Só para você ter uma vaga idéia: A Madre Superiora chamou a polícia e deixou o prédio em uma nova quarentena que vai durar por três meses inteiros. Tudo porque eles querem ter certeza de que essa informação não vazará para além das nossas portas.

É muito importante que você faça total sigilo quanto a esses resultados, Doutor. A polícia já foi acionada para ir atrás dos fugitivos, todavia, parece que a enfermeira de quem roubaram os exames não soube descrever direito quem foi que a abordou. Ela era nova aqui e ficou tão espantada com a investida que nem conseguiu fazer um retrato falado dos fugitivos. (Considere-se com sorte).

Porém, agora que você confirmou seu envolvimento nisso tudo e também alegou ter tido acesso à papelada, preciso me apressar e confirmar que é tudo verdade. Cada palavra, Doutor. Sim, eu sei que parece loucura, mas acredite: As enfermeiras checadoras nunca erram. E os papeis seriam arquivados em um cofre onde ninguém poderia acessar. Nem mesmo nós. Isso, para a segurança da paciente e de todos ao redor.

Contudo, apesar de ter defendido a irmandade nas minhas últimas afirmações acima, terei de confrontá-las agora ao concordar com você em um aspecto: Graças a Deus vocês fugiram!

Odeio ter que trair a confiança da irmandade, mas suas suspeitas estavam corretas, Doutor: ao arquivar os exames, Luisa ficaria presa aqui para sempre. Era isso que a Enfermeira Chefe pretendia fazer. Mas não a julgue mal. Ela nunca mandaria machucar sua amiga ou dissecála, nem nada parecido. Luisa seria mantida em quarentena para o resto da vida, e a história de seu DNA impossível, com sorte, seria esquecida.

Mas agora, elas acreditam que alguém o roubou, na tentativa de dominar o universo com os poderes da garota. Por isso Doutor, eu lhe advirto: se estiver com ela. Se estiver com Luisa Parkinson nesse exato momento, leve-a de volta para casa. O Planeta dela já se extinguiu na época em que estamos, e ninguém pensará em procurá-la no passado. Ela estará segura se voltar para casa...

Faça isso logo. É a única forma de mantê-la em segurança.

Noviça Wame


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Notas finais do capítulo

Yeeep. Para quem não sabia, aqui está a prova: Melissa Rivera foi a primeira personagem que eu criei com essa incrível capacidade de "atrair vários caras ao mesmo tempo". kkk Que foi? Poderia acontecer.

*só pra deixar claro gnt, essa história dos dentinhos tortos do Niall é real. Ele realmente arrumou os dentes (e ficou muito bom), mas na fic a Méli gostou de como ele é ao natural, e só expressou sua opinião. Achei que isso poderia ser fofo (agora cabe ao Niall decidir o que fazer depois dessa declaração kkk).

A parte sobre "encontros" descrita no título do capítulo é bem literal mesmo kkk Melissa conseguiu 5 ENCONTROS de uma só vez. Essa menina é FOGOOO BRASIIIIL!! kkk

(Não darei explicações sobre as preferências de Melissa por caras de boy band. Se quiserem perguntem diretamente a ela kkkk)

Bom, espero que estejam gostando!

Bjs e até quinta feira!!



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