Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 109
A foto de família


Notas iniciais do capítulo

Hi!

^-^



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O Doutor foi resgatado no último instante. Por pouco que não conseguiu se agarrar às portas da TARDIS. Tudo porque a maldita rainha de copas ficava gritando aquele irritante “cortem-lhe a cabeça”, e isso o desconcentrou horrores.

Quando entrou na TARDIS e fechou as portas, empurrando as costas contra a tranca, quase teve um treco ao ver, o que parecia ser uma infestação de ratos usando vestidos.

—Aaah! –gritou. -Não! Não! Não! Nada de animais aqui! Acreditem: não é nada pessoal; Eu já até tentei cuidar de uma girafa uma vez, mas ela era chegada em um uísque e eu acabei tendo que ensiná-la a dançar... Uma longa história—todos os esquilos fugiram dele, assustados, mas o Doutor ainda conseguiu agarrar o pequeno Theodore, que ficou para trás, por causa dos pesinhos curtos. Sem pestanejar, o Senhor do Tempo abriu as portas da TARDIS e estendeu o esquilinho à imensidão lá fora.

Ao ter aquela visão ao longe, Luisa quase teve uma parada respiratória ao telefone.

—NÃO DOUTOR! PARE! ELES SÃO MEUS PRIMOS!!! –gritou Luisa, vindo ao socorro de Theodore e dos demais.

O Doutor imediatamente fez uma careta consternada para ela.

E a sua tia tem cara de quê: Guaxinim?

—Doutor, não brinque! Isso é sério, tá? Depois eu te explico melhor... Só, tente... Não jogar nenhum esquilo “através dos links das dimensões da Criança Pesadelo”, enquanto eu não estiver olhando... –pediu, voltando a destapar o falante do telefone. –Ah, oi Ned! Desculpe. Oh, não, não... Está tudo bem. Isso foi só o barulho do Doutor conhecendo o Alvin e os Esquilos. É! Exatamente o que eu falei: não foi NADA demais...  

—Hum! “Nada demais” –o Doutor resmungou, colocando o esquilinho de volta no chão e fechando as portas.

—Puxa que assustador! –comentou Theodore. –Oh, olá! Sou Theodore!—disse contente, acenando para o Doutor, querendo fazer amizade.

—Hã... Oi. Desculpe por isso. –o Doutor apontou para as portas da TARDIS, com o polegar. –Eu não sabia que vocês e a Luisa eram... –e lançou uma olhada crítica para cima da amiga. -Parentes!?

—Ué, e não somos! –disse Simon. –Até porque somos esquilos e ela é humana. A cadeia genética ia enlouquecer...

—É. Nós meio que... Só moramos com o tio dela. –resumiu Alvin.

—Isso mesmo. O Dave! Que por acaso nos adotou e nos trata como se fossemos filho dele! –disse Theodore, animado.

—Exato. E acredite quando eu digo que o Dave leva essa história de “pai” muito a sério... –comentou Alvin, levando uma cotovelada de Brittany. –O quê? Ele quase nem deixa a gente se divertir... Isso é fato!

—Mas você é muito bagunceiro, Alvin! –argumentou Brittany. –A propósito, eu sou Brittany. Aquelas são minhas irmãs Eleanor e Jeanette. Aquele, trabalhando no seu painel de controles é o Simon.

—“O super intelectual” –completou Jeanette, dando uma risadinha.

—Isso! E este é o Alvin. Sim, você vai ouvir o nome dele muitas vezes de agora em diante...

—Claro, porque ele é o líder de vocês. –averiguou o Doutor.

—Não. Porque ele só apronta!—disse Simon, ao painel de controles. Só então, o Doutor se ligou que havia um esquilo pilotando sua nave.

—O quê? Não, não! Desce já daí! O equipamento é delicado, camarada... Vocês não podem ficar passeando pela fiação!

—Por que não? –perguntou Jeanette, inocentemente.

—Por que não? Por que não? A sua prima não ensinou nada a vocês? E se um de vocês roer um dos cabos principais? Nós podemos ficar presos aqui para sempre...

—E por que um de nós faria isso? –interpôs Theodore.

—Eu não sei! –o Doutor deu de ombros. –“Por diversão”, quem sabe?—e olhou acusatoriamente para Alvin.

Ei, não olha pra mim! Eu não toquei em nada!

—É, Doutor! Posso chamá-lo de Doutor, não é? Pois bem: Alivia essa pro Alvin. Foi ele quem encontrou as imagens com os links de cada uma das dimensões onde vocês estavam encrencados. –disse Simon.

O Doutor fitou Alvin, surpreso, e o esquilo deu de ombros.

Ah... Isso não foi nada perto do que o Simon fez: foi ele e a Jeanette que ficaram trabalhando para trazerem vocês de volta. –disse Alvin, meio embaraçado com todos aqueles olhares orgulhosos em sua direção.

—Puxa, quem diria! Vocês são a turma de esquilos mais inteligentes que eu já conheci. –disse o Doutor, de modo que todos os esquilos ficaram muito contentes com o elogio. Luisa, que ouviu-o dizer aquilo, acabara de desligar o telefone a uns dois minutos atrás, mas ficara ouvindo o desenrolar da conversa no andar de baixo do console do painel de controles. Ao perceber que eles estavam se entendendo, ela sorriu e subiu a curta escadinha, juntando-se a eles no nível normal da cabine.

—Pronto! Já terminei de falar com o Ned... E aí, o que eu perdi?

—Nada. Eu acabei de fazer amizade com seus primos. –disse o Doutor, sorrindo largo. Luisa amou ouvir aquilo direto dos lábios dele, e passou o braço ao redor do pescoço do amigo, ficando abraçada com ele.

—Bom menino! –ela brincou. –Agora chega de conversa mole, pessoal... Vamos salvar Melissa e os outros!

 

*      *       *

—Desista rapaz! –disse o Capitão Gancho.

Louis respirou acelerado.

Nunca... –repetiu, com a voz trêmula. Tentou pensar em pular; Só havia duas opções prováveis como resultado deste ato: ou se mataria com a queda, ou ele sairia voando. Por algum motivo, não conseguia mais acreditar na segundo opção. Não era ele em si que não queria acreditar, mas alguma coisa que estava lacrando o pensamento positivo em sua cabeça. Intrigado e assustado ao mesmo tempo, o rapaz ficou totalmente imóvel, sem saber o que fazer. Às costas de Gancho, Sininho fazia mímica para chamar sua atenção:

—“Vamos Peter, vamos! É muito fácil: Você só precisa ter fé, confiança, e...”

Pó mágico. –Louis repetiu, ao lembrar da antiga história. Piscou algumas vezes seguidas, como se alguma coisa o tivesse despertado. –Tem razão, Sininho. Voar é possível sim! –disse em voz alta, e sorrindo. Gancho estranhou a mudança brusca no humor do rapaz. Por um momento, chegou a desconfiar que o garoto tinha alguma carta escondida na manga; Louis prosseguiu: –Como eu dizia, voar é possível, mas no meu caso, eu preciso mesmo é pular!

E pôs-se de pé, com o olhar fixo em um ponto atrás do pirata. Com a força e a coragem restauradas, foi fácil desvencilhando-se do Capitão Gancho e pular na direção da vela de pano mais próxima, onde as portas azuis da TARDIS haviam se materializado.

Podia não ter certeza sobre várias coisas, mas de uma coisa Louis sabia: Aquela era sua carona para casa.

—Adeus Sininho! E obrigado por tudo! –ele acenou, antes de desaparecer através do portal.

—Até mais, Louis Tomlinson! —ela acenou, surpreendendo-o. –Você foi um ótimo Peter Pan, espero vê-lo de novo algum dia!

—Eu também! –sorriu, desaparecendo pelas portas, poucos segundos antes da vela do navio pirata ser atingida por uma nova bola de canhão.

 

*      *       *

Niall corria desesperado, colina abaixo. Vez ou outra teve que se desvencilhar de tiros de espingarda, sem contar os palavrões que corriam soltos, por conta da falta do pote de ouro.

Atira, muié! Acerta nele!

—Tô dando o meu mió... É que ele é muito rápido!

—É claro que ele é rápido. Ele é a droga de um DUENDE!—ralhou o homem barbudo. –Passa isso pra cá! Eu vou acaba com a raça dele!!! —disse, irado, apanhando a espingarda da mão da mulher.  

Niall correu feito um desesperado, até que avistou um pequeno barracão. Dirigiu-se a ele, abaixando-se para escapar dos tiros. Por fim, tentou entrar no barracão, mas descobriu-o trancado, com cadeado, e ficou realmente frustrado. Parou, de costas para a porta, poupando fôlego; mas quando uma nova bala atingiu a janela de vidro mais próxima de sua cabeça, ele gritou e tornou a se esgueirar, assustado. Ágil, contornou a casinha de madeira, correndo em círculos ao seu redor, na tentativa de “confundir o inimigo”. Enquanto a família de Morvo deu a décima volta pela frente, Niall saiu pelos fundos e disparou para longe, ao perceber que o caminho estava livre. Contudo, parou de chofre, ao dar de cara com um gigantesco muro de barro e tijolos. Aquilo deixou o rapaz realmente desmotivado.

Aqui! Pegamo ele!

O rapaz virou-se e deparou-se com a família Barnabé apontando-lhe todas as armas que tinham direito. Até mesmo o bebê, envolto por um cobertor que mais parecia um monte de trapos (que só então Niall percebeu que a esposa de Morvo carregava nos braços), olhava-o com aborrecimento e apontava-lhe um canivete.

O loiro engoliu em seco.

—Esperem! Não atirem! –pediu Niall, apelando para a compaixão deles. -Eu já disse que não sou duende! Por favor, me deixem ir embora...

—Só se fazer aparecer ouro pra gente!

—Não pode ser prata? –propôs Niall, assustado demais para pensar.  –Por que eu sou o duende da prata. –inventou. Precisava passar-lhes uma conversa convincente para poder ganhar tempo e pensar em uma forma de contornar a situação.

—Ah, é? –o homem barbudo olhou pensativo para a esposa. –Pois bem. Então faça prata aparecer, que estará tudo acertado entre nós...

Niall esticou a gola da camisa, ansioso.

—O quê? Eu disse prata? Sabe... É que eu quis dizer bronze. –enrolou.

—Bronze? –eles se entreolharam. –E isso vale muito?

—Sim! Tanto quanto ouro, na verdade... –mentiu. Os caipiras todos se animaram.

—Certo. Então passe seu bronze pra cá!

Desta vez, Niall pôs a mão no bolso, confiante, e tirou uma pequena medalha. Sem pestanejar, entregou a eles.

—Que é isso? “Terceiro Lugar na competição de quem come mais tortas”? –leu Moivo, intrigado. Quando deu por si, Niall já estava escalando o muro.

—É. Eu não estava com muita fome naquele dia. Eu tinha sete anos e havia me entupido com o pavê da vovó. Enfim, pelo menos fiquei entre os três primeiros! –disse, orgulhoso, e pulou para o outro lado. -Até mais, amigos!—disse, sorridente, antes de desaparecer por completo.

Contudo, quando foi se virar para seguir seu caminho em frente, eis que deparou-se com os Barnabés, já do outro lado, olhando-o com uma cara feia.

—Aaaah! O que é isso? Perseguição? Como fizeram isso? Vocês... Estavam do outro lado agorinha mesmo!!!

Morvo fez uma cara de tédio.

—Isso aqui não se chama “Sertão da Ficção” à toa. –ponderou, recalibrando a arma. –Enfim, quais são suas últimas palavras, filho?—perguntou, apontando-lhe a espingarda.

Niall gelou dos pés da cabeça. Sem raciocinar, foi recuando em direção ao muro.

—Por acaso eu não teria direito a um último pedido? Puxa, é realmente uma pena... Queria tanto poder saborear uma última refeição do Nando’s.

—Nando’s? Que diabo é isso?

—É só o melhor restaurante que jamais existiu. Da qual eu nunca mais poderei experimentar a comida novamente. –explicou Niall, cabisbaixo.

O homem barbudo pareceu confuso momentaneamente. Chegou até a coçar a cabeça com o facão, que portava distraidamente, na outra mão. Porém, seu dedo não fraquejou no gatilho nem por um segundo sequer.

Era quase imperceptível de longe, mas Niall já estava começando a suar. Não se sentia nada bem ficando na mira de uma arma. Também, ninguém podia culpá-lo.

Estavam nesse momento de tensão quando o rapaz, sem querer, esbarrou com os calcanhares no muro, tropeçando e, inesperadamente, acabou por atravessá-lo.

Os caipiras todos arregalaram os olhos, pasmos, quando duas portas azuis surgiram no muro de barro, engoliram o rapaz e desapareceram por completo, sem deixar vestígios.

Isso é feitiçaria, pai!?

Uai, sô! É coisa de duende...

 

*     *      *

Melissa corria por sua vida. As irmãs más se aproximavam cada vez mais, com os tamancos em mãos –a loira só não sabia se a mais franca das intenções das duas, era bater nela, ou privar seus grandes pés horrorosos de sentir os sapatos incomodarem.

Por fim, derrapou, parando em cima da hora, diante de um lago. Aquilo obviamente significava que aquele era o fim da linha, e que, dentro de instantes, Melissa estaria cercada e em apuros.

—Ufa... Ainda bem que eu tenho reflexo.

—Ela deve estar por aqui... Continue, vamos! –Melissa ouviu a voz de uma das irmãs, ao longe.

—Hã, não! Não consigo dar mais nenhum passo... –reclamou a outra. -Cinderela é muito rápida. Como ela consegue? Ela estava correndo com sapatinhos de cristal!

—Corrigindo: com um só no pé.—disse a outra, com ar de deboche.

—Merda! –Melissa bufou, indignada, observando o pé esquerdo descalço. –Mas que filhas da... Epa! Que negócio é esse? –e viu, estampado no espelho d’água do lago, a imagem das duas portas azuis da TARDIS. A garota olhou para cima, procurando de onde vinha o reflexo. Não encontrou nada; muito pelo contrário. Contudo, sorriu torto, animando-se com a idéia de a imagem poder estar vindo... Debaixo d’água.

—Ah! Ali está ela! –alertou Anastácia, apontando para Melissa com um sorriso bem satisfeito no rosto. Estava louca para ver a moça se ferrar.

Mesmo assim, Melissa persistiu com o sorriso divertido no rosto. Griselda se doeu por isso.

—O que é tão engraçado, Gata Borralheira?

—A cara de espanto de vocês –disse Melissa.

—Ué? Mas não estamos espantadas!

Ainda—e Melissa tapou o nariz, pulando dentro do lago. Claro, que não sem antes dizer: -Até mais, otárias!

E as duas ficaram espantadas.

Melissa caiu dentro da TARDIS –como já era esperado. Foi recebida por Niall, que entregou-lhe uma toalha, para se secar. Sacudiu a barra do vestido, torcendo-o nas partes mais ensopadas. Depois, quando julgou-se estar apresentável, juntou-se aos demais, que comentavam sobre as fantasias uns dos outros. 

—Sabe que até então eu nem tinha reparado que você estava de amarelo? –comentava o Doutor, para Luisa.

—É o vestido da Bela; da história da Bela e a Fera. A minha favorita!

—E caiu como uma luva para você. –completou Louis, referindo-se ao vestido. –Eu acho você parecida com a bela.

—Somos parecidas. Só lamento ser mais estabanada do que ela... –riu. 

—Agora, quero ver vocês arriscarem: “quem eu sou?—perguntou-lhes o Senhor do Tempo.

—Hum... O Gato de Botas? –sugeriu Louis.

—Não! Eu sou o Chapeleiro Maluco, da história da Alice no País das Maravilhas. Francamente... Eu pensei que fosse obvio!

—E o que você entende de obviedade?—interveio Melissa, sorrindo para todos os presentes.

Méli!—Luisa correu para abraçá-la. –Mas que coincidência! Somos duas princesas hoje...

—Eu sei porque fui a Cinderela: Você se lembra que minha mãe nunca me deu folga, mesmo quando eu estava de férias? Pois é: “A Escrava da Padaria...” De onde vocês acham que a Criança Pesadelo tirou inspiração!?

—Pensando bem, faz sentido –disse Luisa. –A sua personagem e a do Doutor. Porque, afinal, ele tem tudo a ver com o Chapeleiro!

—Eu tenho? –riu o Doutor.

—Claro! Você gosta de chapéus, e é maluco. –analisou Melissa. –A descrição se encaixa direitinho. Vocês dois foram feitos um para o outro! –brincou, fazendo todo mundo rir.

—Agora é minha vez! –anunciou Louis. –Quero ver vocês adivinharem porque me tornei o Peter Pan!

—O Louis é uma criança crescida –começou Niall, mas rapidamente foi silenciado pelo amigo.

—Shhiu! Você sabe a resposta porque está acostumado comigo... Eu quero ver eles tentarem descobrir!

—Louis é desinibido, brincalhão e espontâneo, assim como uma criança. -disse Melissa, com ar de admiração. –Assim também como o resto de nós, eu presumo...

Ele pode ter namorado uma fada disfarçada—argumentou o Doutor. Todos olharam para ele com ar de riso. –Que foi? Isso acontece toda hora na Terra!

Bééé! Respostas erradas. Melissa foi a que chegou mais perto, mas mesmo assim, não acertou. A verdade é que, quando eu era menino, eu não queria crescer. É obvio que eu não pude parar o tempo, mas, felizmente, a vida não me mudou tanto, quanto eu achei que faria. Então, é muito fácil concluir que a minha personalidade tenha tudo a ver com a do Peter Pan, porque eu sou um crianção! 

Foi o que eu disse!—insistiu Niall.

—E o Niall, com essa roupinha apertada! –gargalhou Louis. –Você realmente “incorporou” a alma do seu país!

—Eu sou irlandês. E as pessoas sempre fizeram piadas sobre duendes, quando eu era criança. –explicou. - Acho que, sem querer, isso continuou habitando meu subconsciente por todos esses anos... Afinal, as histórias sempre foram empolgantes. Do tipo: difíceis de esquecer.

—Exato! Niall tocou no ponto. Por que será que todos nós incorporamos personagens por quem já tivemos estima, ou que tem alguma coisa a ver com a nossa própria personalidade? -o Doutor lançou a pergunta... Mas já com uma resposta preparada. –Bem, alegrem-se! Eu tenho as respostas!

Exibido—Melissa cochichou para Louis, que inflou as bochechas, segurando o riso, para que o Doutor não se zangasse com eles.

O Senhor do Tempo prosseguiu, absorto aos comentários alheios:

—A Criança Pesadelo fez tudo isso. Só que ela não distorceu nossas lembranças, Luisa vai concordar comigo sobre isso, assim como um outro Alien chamado Tormento, nos fez certa vez. –relembrou, caminhando em círculos pelo console da TARDIS. –No outro caso, era tão claro quanto o dia, que ele estava pegando nossas lembranças e distorcendo-as, na maior safadeza. Sim, senhores! Eu empreguei essa palavra direito? Ah, certo! Então O.k... Continuando: -disse, deixando o chapéu cair, ao parar de caminhar bruscamente, e retomar a andança logo em seguida. –Vocês sabem que se tornaram esses personagens, porque vocês têm alguma ligação direta com eles. Se algum de vocês não encontrar semelhança com seu respectivo personagem, então é porque não se percebem ou conhecem tão bem quanto pensam. Por fim: peço para que não cultivem raiva ou rancor pela Criança Pesadelo. Não estou defendendo-a, mas isso é um caso bem delicado... E cem por cento educacional. Pensem bem: vocês também sairiam por aí engolindo planetas e deixando-os em uma quarentena infinita de pesadelos, se fossem criados e educados por uma governanta maluca que tivesse, como base para a vida, essa ideologia insana!—disse, fazendo muitos gestos com as mãos.

Todos se entreolharam, trocando expressões abismadas. O Doutor ficou satisfeito por eles terem compreendido a essência da coisa. Ou quase.

—Ei, Doutor –Louis levantou a mão para falar. O Senhor do Tempo sorriu, entusiasmado.

—Sim?

—Pode me dizer onde fica o banheiro?

O sorriso orgulhoso do Doutor perdeu a euforia.

—Hã... É ali, logo a direita. –informou, entediado. –E não vá errar de porta!!! Nós não queremos acidentes por aqui...

Desta vez, Niall levantou a mão.

—Hããã... É alguma crítica construtiva sobre alguma coisa que eu falei ou você pretende abordar um tema aleatório, assim como acabou de fazer seu colega? –questionou o Senhor do Tempo, impaciente.

—É sobre o que você disse. –revelou Niall.

—Ah. Menos mal... –o Doutor estalou a língua. –Muito bem: Neste caso, pode perguntar.

—É que eu queria saber quanto ao Harry e os outros.

—Ah... Não precisa preocupar seu pequeno cérebro com essas coisas. Deixe a parte técnica com os profissionais.

—Doutor –Luisa cutuco-o, sem chamar atenção. –Está sendo rude com ele.  

—Opa! Eu fui rude? Foi mal, amigo... –ele disse à Niall, aparentemente, nem um pouco arrependido. –Luisa é a minha fiscal oficial. Ela cuida para que eu não dê uma má impressão errada às pessoas...

—Se o seu intuito é dar uma má impressão, acho que está funcionando perfeitamente. –sussurrou-lhe Melissa, por entre dentes cerrados. –Por que tem que sempre bancar o chato?

—Rá-rá! “Que perguntinha engraçadinha”... Será que é porque a minha nave foi subitamente alugada para bancar a “colônia de férias” de uma certa banda Inglesa; convidada exclusivamente por uma das integrantes desta equipe, que por acaso, nem me CONSULTOU antes, para saber o que EU achava da idéia de chamá-los para se juntar a nós?

Melissa revirou os olhos. Às costas do Senhor do Tempo, Luisa suspirou, levando a mão à testa.

—Ora, Doutor... Você precisa superar isso! –ela disse a ele, em tom de “quem avisa amigo é”.

Obrigada! Pelo menos Alguém me entende aqui! —Melissa intensificou, arregalando os olhos de leve. Passou a mão ao redor do pescoço de Niall. Depois prosseguiu, em tom normal. -O que o Niall queria saber, imagino eu, é o mesmo que todos nós também queremos perguntar desde o momento em que fomos resgatados pela TARDIS: Se estamos todos aqui conversando, quem está pilotando a nave e cuidando do salvamento particular de cada um de nós?

O Doutor deu um sorrisinho mirabolante, mudando completamente de ares.

—Ninguém menos que os meus co-pilotos favoritos. Venham ver!—e, colocando os óculos de armação quadrada, ele guiou-os até o painel de controles. Pendurados nos teclados estavam Simon e Jeanette, os esquilos mais inteligentes do grupo.

—Ah... Olá! –disse Simon, ajeitando os óculos. –Tudo bem, pessoal?

—Olá! –riu Jeanette, empolgada ao rever Niall e Melissa. –Puxa, há quanto tempo que eu não os vejo!

—É! No meu caso, desde o aniversário da Luisa –lembrou Melissa. –Foi uma tremenda festa de arromba, não foi?

—É. Da qual eu não fui convidado! –resmungou o Doutor, fingindo chateação. Luisa envolveu-o em um abraço surpresa.

—Nhó... Não fica bravinho, amor. Eu já não disse um montão de vezes que foi você o meu pedido na hora de apagar as velinhas?

O Doutor sorriu.

E pensar que funcionou mesmo... Olha nós aqui! –disse, fazendo todos rirem. Depois seguiu, para verificar alguns controles.

—E no caso da nossa banda, foi desde o ano passado –comentou Niall, sorridente ao recordar-se daqueles dias. –Puxa! Aquele foi um show e tanto!

—Pode apostar, cara! –disse Alvin, pulando em seu ombro. –E aí, Niall? Tudo encima? Cadê o restante da banda?

Eu estou aqui!—disse Louis, juntando-se a eles. –Não se preocupem: Garotos e garotas, chegou quem vocês estavam esperando!—disse, brincalhão, jogando charme para cima das Esquiletes, de Melissa e Luisa também.

Luisa riu, balançando a cabeça. Estava muito satisfeita tendo Ned como namorado. O Doutor mexia nos controles, por isso, fitou Louis por cima dos óculos.

—Espero que tenha encontrado o banheiro. –comunicou.

Louis imitou-o, falando com um quê crítico também.

Espero que você tenha produtos de limpeza. Pois não encontrei a droga do seu banheiro e tive que me aliviar na primeira porta que encontrei pela frente! –disse, visivelmente brincando; inventando aquilo tudo só para deixá-lo bravo.

Todos tornaram a rir. O Doutor deu-lhe uma última olhada seca e voltou ao trabalho.

—Segurem-se... Vamos salvar o Harry.

 

*      *       *

Harry despencava numa velocidade preocupante, na direção do solo. Sua capa de Conde Drácula esvoaçava tanto que o rapaz não sabia como ainda podia estar presa a ele.

Por um só momento, pensou em tentar voar feito um morcego ou coisa parecida. Só então, percebeu que aquilo tudo era figurativo e que ele, evidentemente, não tinha os poderes necessários.

Gritando, com medo do baque com o chão, ele fechou os olhos.

—Ei, gatinho. Está tudo bem. –uma voz mansa disse, de repente.

—Hã? O quê? –Harry abriu os olhos e deparou-se com Melissa, segurando-o já dentro da TARDIS. –O que aconteceu? Como você...?

—Nós te salvamos! –ela disse, indicando o pessoal trabalhando duro no painel de controles. Inclusive o Doutor, que lançou-lhe um aceno de cabeça.

—Nossa... Que equipe. –ele assobiou, impressionado. -Valeu pessoal!

Hum-hum—Melissa fez com a garganta, espertinha, querendo chamar a atenção de Harry somente para ela. –Bem vindo de volta, Harry Styles!

—Obrigado... –ele suspirou. De repente, ela parecia um anjo, com aquele vestido magnífico. Seus olhos brilharam mais do que nunca, e seu lado “príncipe” destacou-se mais do que o de vampiro. –Bem... Você está linda de Cinderela.

—E você é o príncipe vampiro mais lindo que eu já vi.

Um não conseguia tirar os olhos do outro.

—Olha! Por acaso achei seu sapatinho... –disse ele, sorrindo daquele jeito de tirar o fôlego, e mostrando-lhe, magicamente, o outro par do sapato de cristal. Imediatamente, Melissa irrompeu de felicidade.

—Puxa! Onde você o encontrou?

—Um mágico nunca revela seus segredos... –ele brincou. As covinhas maravilhosas apareceram. Melissa sorriu ainda mais.

—Hum-hum –alguém fez. Os dois se viraram e depararam-se com o restante dos “telespectadores”, só aguardando a cena do beijo. Olharam um pouco mais à frente e repararam que Luisa foi quem dera-lhes um toque. Agradecidos, os dois retiraram-se com a desculpa de que Harry precisava trocar de roupas e, assim que viraram a primeira esquina do corredor que levava às portas internas da TARDIS, ambos se agarraram lá mesmo, e puseram-se a se beijar, sedentos por amor. O desejo viera crescendo entre eles, desde o momento em que se viram pela primeira vez. Melissa nunca fora tocada com tanta ternura na vida. Pela primeira vez, sentia-se amada de verdade. Harry compartilhava do mesmo sentimento. Mesmo com tanta fama e dinheiro, até então, ele não conseguira encontrar a mulher de sua vida... Isso até Melissa aparecer, e dar um novo sentido às coisas.

A única coisa que eles não sabiam, era que mais gente compartilhava desta mesma idéia...

 

*     *     *

Liam estava com Nargva deitada sob seu corpo, fazendo pressão nele. Aquilo o deixou louco. Nunca havia ficado tão excitado com uma mulher na vida. Ela lhe deu o beijo mais doce de todos e abriu as pernas, encaixando-se ao redor das suas. Liam queria muito se livrar das calças, mas elas estavam tão justas que ele desistiu de tentar removê-las. Por fim, contentou-se em passar as mãos pelo corpo dela, e aproveitar o máximo possível. Não contaria para os outros meninos. Ele sabia que eles ficariam de zoeira, só porque ele era o mais “responsável” do grupo. E, aparentemente, “sexo não cabia na lista de coisas que compunham sua pessoa”. Portanto, estava mais do que decidido que ele guardaria essa experiência... Hã... Incompleta, mas de importância inestimável, só para si.

Ou pelo menos, era o que esperava fazer. Estava tudo indo muito bem, por ser a primeira vez de Liam: pelo menos, a garota não reclamara de nada até então. Ele mesmo começou a pensar no que diria a ela quando tudo acabasse. Será que devia dizer alguma coisa, tipo “obrigado. Foi realmente muito estimulante”, ou talvez, “você sabe mexer os quadris como ninguém”. Liam realmente não fazia idéia. Em sua vida, nunca fora tão solto a ponto de fazer perguntas abertamente sobre sexo aos seus familiares e amigos. Contudo, ao conviver mais com a banda, começou a afrouxar um pouco as próprias rédeas... Até que claro: percebeu que não daria certo, pois “alguém tinha que tomar conta daqueles cabeças frescas”. E, desde então, Liam pegara para si o título de “pai do grupo”.

Oh, Robin... –a garota gemeu. Liam voltou a se concentrar nela. Era mais do que comprovado que ficar pensando no restante da 1D só ajudaria a dispersar sua atenção dos movimentos que estava sendo impulsionado, por seu próprio corpo, a fazer... E ele não queria atrapalhar aquele milagre.

Inesperadamente, Nargva levantou-se sobre ele. Liam não sabia o que ela pretendia. Ela ficava passando as mãos em suas nádegas e fazendo uma coisa esquisita com a língua. Irrelevando aquilo, Liam puxou-a de novo contra seu peito e tornou a beijá-la com fervor.

Oh! Robin!  -ela gemeu com mais força.

Estamos chegando a algum lugar”, Liam pensou, muito satisfeito consigo mesmo. Contudo, talvez tenha sido sua alegria pelo acerto que fez as coisas desandarem.

Nargva parou de beijá-lo. Quando ergueu-se de novo, o rosto dela havia mudado: tinha tomado a forma do de Melissa. Finalmente, Liam percebeu-se realmente empolgado e partiu para o ataque. Ambos ficaram se beijando e se tocando. Cada vez com mais intensidade... Até que Nargva gemeu de novo.

Oh, Robin... Você é tão excitante!

Melissa... –ele arfou, sem querer. Nargva parou de chofre. Ergueu-se e fitou-o com incredulidade. O rosto dela havia voltado ao normal.

—MELISSA? Quem é essa vadia?

—Hã... Hum... Ninguém. Desculpe. Eu só... Hã... Me confundi. Sinto muito. Mas eu gostei! E muito... –disse, inocentemente. Quando deu por si da tremenda confusão que se metera, já era tarde demais para voltar a trás.

Enquanto ela gritava e gesticulava, possessa, Liam só conseguia pensar em como sua mente conseguira trocar o rosto dela pelo de Melissa... Nunca sequer pensara ser capaz de fazer algo parecido! Mas com certeza, fora ele quem fizera, pois Nargva estava exatamente do mesmo jeito de quando eles se conheceram. Quer dizer, com a roupa um pouquinho mais amarrotada... De fato.

—SEU CRETINO! MISERÁVEL! EU DEVIA FAZER VOCÊ PAGAR CARO!

—Mas não vai. Por que você me ama, certo? –ele apelou, exasperado.

Nargva ficou vermelha de raiva.

—ERRADO! –e, tão inacreditável quanto o próprio fato dele ser Robin Hood, aquela garota selvagem e atraente transformou-se em um dragão horrendo, que fez o rapaz se arrepiar todo. Para piorar, a criatura ainda falava com a voz dela: -AGORA VOCÊ VAI SE VER COMIGO!

Mesmo estando em uma baita encrenca, Liam reuniu coragem para enfrentá-la.

—E o que vai fazer comigo? “Me lanchar”?

—Não. Vou fazer algo muito, muito pior... –e, deixando um quê misterioso e ameaçador no ar, o terrível animal tirou um objeto das costas e apontou na direção de Liam. Era uma colher.

Imediatamente, o rapaz ficou mais branco que folha de papel.

Mamãe—Liam gemeu, petrificado. Ele adquirira um sério trauma de colheres, quando criança. Desde então, não conseguia encarar um exemplar do objeto sem surtar ou começar a chorar. Nem correr, conseguia, pois suas pernas tremiam mais do que vara verde. Astuciosa, a criatura aproveitou-se do momento de fraqueza de Liam para tentar esturricá-lo.

No exato momento em que o dragão cuspiu fogo em sua direção, e o rapaz gritou da forma mais agonizante possível, ele foi engolido pelas portas da TARDIS, e salvo, de uma vez por todas, daquele mal terrível.

Na nave do Doutor, Liam fora induzido a deitar-se em um sofá, enquanto Luisa ocupava-se em secar sua testa com um pano seco. Por algum motivo, que ela desconhecia, o rapaz transpirava loucamente.

—Você está bem, Liam? –perguntou ela, preocupada.

—Não. Na verdade, me sinto péssimo—gemeu ele, trêmulo. –Dá pra acreditar que aquele dragão horrendo tentou me atacar com uma colher? Droga! Eu odeio colheres...

—Oh, Liam... Não fique assim tão tenso. Já passou... –ela consolou-o. -Nada nem ninguém poderão ameaçá-lo aqui na TARDIS. Estará seguro conosco... Pode confiar em mim.

Inexplicavelmente, o quadro de Liam pareceu ficar ainda pior, quando vislumbrou Melissa irromper de volta à sala de controles, de mãos dadas com Harry.

Contudo, não houve tempo para comentários, já que o Doutor passou por eles vestindo seu sobretudo, e dirigiu-se à Luisa.

—Apronte-se. Eu e você vamos ter que invadir uma conferência de heróis.

 

*     *      *

Zayn estava completamente confuso. Primeiro, tivera certeza absoluta de que não era o Batman; depois, só por um momento, pensou que talvez pudesse ser; e agora, mais uma vez, tinha certeza de que não era o homem morcego. Entretanto, o que achava ou pensava não parecia fazer a menor diferença, porque, aparentemente, todos os outros tinham motivos suficientes para confrontarem suas explicações, e jurarem, de pé junto, que ele era realmente o verdadeiro BATMAN.

—Já chega! –ele gritou, de repente, quase arrancando tufos do topete desmanchado. –EU JÁ DISSE QUE NÃO SOU O BATMAN! De que provas mais vocês precisam para poder acreditar no que eu digo?

—Não precisamos de provas. –interpôs o Lanterna Verde. –A explicação é facilmente compreensível: Está muito claro que você surtou e esqueceu-se de quem é. Mas fique tranqüilo... Nós iremos fazê-lo se lembrar de tudo bem rapidinho.

Ohn!—Zayn bateu a testa contra a mesa, desiludido. A Mulher Maravilha esfregou suas costas.

—Não fique assim, querido. Logo tudo vai se resolver...

Ouviram-se batidas à porta. Logo em seguida, entraram na sala uma garota usando um enorme vestido amarelo e um rapaz, de cartola e sobretudo.

Quando tomaram conhecimento de quem pertencia aquela sala, o Doutor e Luisa abriram sorrisos largos, instantaneamente.

—Olá! –disse ele, empolgado.

—Olá! –acenou Luisa, para os heróis.

Zayn ergueu a cabeça de imediato e, ao vislumbrá-los, ficou realmente feliz com a chegada deles.

—Intrusos! –contrapôs o Arqueiro Verde, já erguendo-se e pondo o arco e flecha em posição de ataque. Alguns outros heróis armaram-se e fizeram o mesmo. Mas o Doutor agitou as mãos para eles, confiante.

—Calma, pessoal. Calminha... Nós viemos em paz!

—Quem são vocês? –perguntou a Mulher Gavião, estreitando os olhos, já pronta para certar alguém.

—Provavelmente pessoas comuns, cuja eu ainda não tive a oportunidade de bisbilhotar a vida –comentou a Viúva Negra, folheando um caderno. –Aqui. Vou acrescentar um horário pra vocês na minha agenda...

O Doutor continuou sorrindo para eles, fascinado.

—Permitam-me que eu nos apresente: Eu sou o Doutor Chapeleiro, e esta donzela é a Bela Luisa Parkinson. –disse, brincando com os trocadilhos. –Nós viemos aqui para trocar uma palavrinha com o bom e velho Batman.

Os heróis se entreolharam. Alguns recolheram as armas. Outros, continuaram em posição de ataque, desconfiados.

—O que vocês poderiam querer com ele? –ponderou a Canário Negro. –Já não ficou bem claro que ele não está se sentindo bem hoje?

Gente!—gritou Zayn, sorrindo e acenando para os recém chegados. –Que tremendo prazer em revê-los! Vieram me tirar desse inferno!?

Sortudo!—resmungou Tony Stark, bufando, de braços cruzados.

—Espere aí. Eu acho que conheço vocês de algum lugar... –analisou o dr. David Banner (o Hulk). -Vocês dois se parecem com personagens de alguma história infantil...

—Pois é. “Alice no País das Maravilhas” –o Doutor comprimiu o lábio, apontando para si mesmo. –“Bela e a Fera”. –e apontou seguidamente para Luisa.

Todos na sala da Liga da Justiça se empertigaram, surpresos.

—Ué? Então vocês existem!?—perguntou Flash, confuso.

—Nós íamos perguntar o mesmo sobre vocês –emendou Luisa.

—Mas, como somos os dois loucos por quadrinhos, vamos quebrar o seu galho e aliviar a barra de vocês –disse o Doutor, brincalhão.

De repente, houve um estrondo esquisito e vários dos heróis começaram a dar falta de seus pertences.

—Epa! Meu martelo sumiu! –disse Thor.

—E o meu arco e flecha desapareceu! –comunicou o Arqueiro.

—E o meu escudo... Oh, não! A minha estrela também! –exclamou o Capitão América, olhando incrédulo para o próprio peito.

—Droga! Minha armadura ficou inoperante... –reclamou o Homem de Ferro. –Como foi que isso aconteceu?

Foram eles!—a Canário Negro apontou acusatoriamente para o Doutor e Luisa. –Devem ter usado essa distração barata para sabotar nossas armas...

—Não! Olhem só para os dois! –insistiu Zayn. Luisa e o Doutor observaram-se e notaram diferenças grotescas em seus próprios trajes. O vestido de Luisa começava a perder o brilho; a rosa em seu decote, murchara. As cores tão vivas das roupas do Doutor, (a não ser pelo sobretudo), desbotaram todas; e a cartola em sua cabeça torceu-se, como se fosse uma fruta podre.

—Doutor! Alguma coisa está acontecendo com a gente... –arfou Luisa.

—É a Criança Pesadelo. Nessa altura do campeonato, ele já deve saber que estamos quase todos livres de sua “quarentena de pesadelos”. Neste exato momento, o golpe do tempo está se auto-cancelando... E isso envolve nós, de certa forma, já que agora fazemos parte das histórias...

—E como paramos isso? –quis saber a menina, preocupada.

—Precisamos estar todos sãos e salvos dentro da TARDIS, antes do cancelamento terminar. Se isso não acontecer, ficaremos presos nessa dimensão para sempre. –e olhou com urgência para Zayn. –Rápido! Você precisa vir conosco agora mesmo, antes que seja muito tarde...

Ele não vai a lugar nenhum! Não ouviram a Canário Negro? O Bruce precisa descansar! –protestou a Mulher Maravilha, segurando Zayn pelo braço. 

—Zayn, isso é muito sério... Você precisa contar logo a verdade à eles e vir conosco! –apressou Luisa, começando a se sentir ansiosa.

—Mas eu já tentei! –Zayn confirmou, nervoso. -Eles não acreditam que eu não seja o Batman. Tão pouco acreditarão que são personagens fictícios de histórias inventadas...

—Ei! Veja lá como fala rapaz! –repreendeu John, o Marciano.

—NÃO SOMOS INVENTADOS! –o Capitão América socou a mesa.

Olha aí! Eu não falei!? É hoje que a sala de reunião vai pros ares...—gemeu Flash, cobrindo o rosto, por cima da máscara, com as mãos. -É o 25 de agosto tudo de novo!

—É! Eu concordo com o picolé ambulante! -Tony referiu-se ao Capitão América. –Eu lá tenho cara de Desenho Animado?

O Doutor e Luisa se entreolharam, cúmplices.

—Exatamente. –concordou o Senhor do Tempo.

—É. –terminou Luisa.

—Podemos, por favor, nos organizar? –pediu John, o Marciano da equipe. –Temos muitas coisas para discutir. Lembrando que o Superman nos encarregou de organizar o arquivo dos Vilões e, pelo que parece, nós só enrolamos até agora...

—Mas a garota disse que o nome do Batman na verdade é “Zayn”. Devemos pelo menos ouvir o que ela tem a dizer... –avaliou o Arqueiro.

A Canário Negro deu-lhe um cutucão nas costelas.

—Ai! Que foi que eu disse? –reclamou o mesmo.

—Vamos nos acalmar, por favor. –pediu Charles Xavier, o dono da academia mais famosa de Mutantes: os X-Men, adentrando na sala da Liga com uma conversa já engatada, graças aos seus poderes telepáticos. –Se eles tem algo a dizer sobre outras dimensões, então acho que devemos ouvi-los. Afinal, pode ser importante. Pode ter algo a ver com a segurança do próprio planeta!

—O professor tem razão –concordou Ciclope. O único representante dos X-Men, que o acompanhava.

—Então vamos logo com isso –apressou Dr. Estranho. –Expliquem de que se refere essa tal “Criança Pesadelo” e nós tentaremos ajudar.

Houve um novo estrondo, que desta vez, chacoalhou toda a torre da Liga.

—Não temos tempo! –desculpou-se Luisa. –Por favor, liberem o Zayn para vir conosco... É a única forma de deter o que está prestes a acontecer a todos nós!

—Luisa está certa –confirmou o Doutor. –Infelizmente, vocês não podem fazer nada a respeito. Mas nós podemos, e faremos o que for necessário para manter todos em segurança. Mas para isso, “o seu Batman” tem que vir conosco.

Todos trocaram olhares rápidos, desta vez, concordando. Por fim, todos terminaram olhando para a Mulher Maravilha, que soltou um triste suspiro e largou o braço de Zayn.

—Tudo bem. Pode ir, Bruce. –disse, chateada.

—É pra já! –porém, Zayn não conseguiu ir embora sem antes dar uma satisfação à Mulher Maravilha. -Ei... –ele segurou o queixo dela com delicadeza, fazendo-a olhar para seu rosto. Zayn sorriu para ela. Diana ergueu o olhar e também sorriu em retorno para ele, sentida. –Não se preocupe. Seu Batman voltará antes mesmo que você tiver começado a sentir sua falta.

—Eu já sinto –ela se inclinou e o beijou.

Luisa e o Doutor reviraram os olhos, nervosos.

—ZAYN!!! –gritaram.

—Tá bom, tá bom! Já fui!—disse, afastando-se dela e passando correndo por todos na mesa, para se juntar aos viajantes do tempo. –Tchau pessoal! Valeu pela reunião maluca... Me procurem no facebook!

E, num fleche de luz azul, os três desapareceram. Todos permaneceram em silêncio pelos próximos instantes consecutivos.

—Então, quer dizer que convivemos com um completo estranho na nave da Liga. –comentou o Lanterna Verde. –No final, ele não era mesmo o Batman!

—Ainda bem que nós não apostamos. –disse Flash. –Eu teria perdido feio...  

—Pelo menos ele beija bem... –suspirou a Mulher Maravilha.

—Quem beija bem? –o verdadeiro Batman irrompeu ao lado dela, como se nada tivesse acontecido. A Mulher Maravilha corou um pouquinho, mas sorriu, momentos depois.

Você, amor.—ela cruzou seu braço no dele, apaixonada. Bruce sorriu. No momento seguinte, viu todos os seus colegas de trabalho fitando-o com espanto.

—Que foi? Por que todos me olham como se minha existência fosse digna de ser questionada?

Todos deram de ombros.

Nada não. Uma besteirinha à toa. –assegurou Flash, sorridente. Depois disso, todos começaram a agir normalmente e voltaram aos seus afazeres. 

—Ora essa... O que estávamos pensando? –sussurrou o Capitão América, em tom reprovador, para os outros Vingadores. –É obvio que aquele rapaz não era o Batman! Onde estava aquele vozeirão tão característico dele? Se aquele garoto de voz fina fosse capaz de substituir o Batman, então a minha avó seria capaz de servir o exército!

Thor, Hulk, Dr. Estranho e a Viúva Negra riram do comentário.

—Puxa, que mané... -emendo Tony Stark, debochado. –E pensar que ele poderia ter resolvido tudo isso, apenas tirando a máscara para nós comprovarmos que ele não era realmente o Batman...

Todos os cinco o encararam.

—Mas... Ele estava sem máscara. –replicou o Capitão América, fitando-o como se ele fosse um completo sem noção (o que de fato, era mesmo).

—É? –Tony pôs os pés em cima da mesa. –Acredita que eu nem percebi? Devo ter cochilado nessa parte da conversa também...

 

*      *       *

—Todos parados! –o Doutor avisou, assim que retornaram à TARDIS. –Ninguém se mexa agora. Estamos prestes a retornar à nossa dimensão... Portanto: pensamento positivo!

A partir disso, o One Direction, Luisa, Melissa e o Doutor esperaram por algum sinal de que as coisas voltariam aos eixos. Os esquilos também ficaram na torcida.

Após um pequeno estalo –em destaque no silêncio promovido– um novo fleche de luz (desta vez branco) se sucedeu, e tomou a sala de controles por inteiro, inclusive seus integrantes.

A principio, eles foram todos cegados pelo brilho; Não conseguiam ver um palmo a sua frente. Contudo, após um segundo estalo, o clima mostrou-se completamente renovado.

De repente, a luz voltou ao normal e ambos festejaram ao descobrirem-se novamente vestidos com suas roupas de costume. Abraçaram-se e comemoraram muito sua vitória. Eles mereciam, afinal, haviam conseguido sair brilhantemente daquele “Sonho Desencantado”, finalmente, deixando a armadilha da Criança Pesadelo para trás.

Aquilo já era motivo o bastante para deixá-los radiantes, orgulhosos e realizados.

—Puxa! Isso foi incrível! –comemorou Melissa, abraçando Harry. O Doutor abraçou Luisa. O restante da 1D deu um braço coletivo e os esquilos fizeram o mesmo, entre si. Simon e Jeanette foram muito elogiados por todos e o clima bárbaro e contagiante de alegria explicita se seguiu, sem novas interrupções. Bem, mais ou menos.

Em um grande momento de curiosidade, Harry abriu as portas azuis da TARDIS, para enxergar o vórtice lá fora. Contudo, o Doutor correu até ele, cortando seu barato e bronqueando-o publicamente.

—Que é isso? Você ficou louco?  Tem idéia do que essa sua atitude inconseqüente poderia ter causado? Feche já essas portas!—mandou. Harry obedeceu, meio de má vontade. -E se a TARDIS desse uma guinada inesperada e um de nós fosse arremessado para fora no espaço e tempo? E se alguém caísse no vórtice? Com certeza estaria perdido para sempre... E se VOCÊ caísse no vórtice? Hã? Como sairia dessa enrascada, “cérebro de miolo mole”!? –afrontou, deixando Harry irritado também.

—Doutor! –Melissa indignou-se, pondo-se entre ele e Harry. –Será que dá pra ser mais maleável? O Harry não sabia que isso seria perigoso...

Ah! Claro!Porque é super normal se pendurar com a cabeça para fora, enquanto a nave está voando”. –replicou o Doutor. –É aquele tipo de coisa que “todo mundo faz”, não é? Pra que me preocupar tanto então?

—Ora, Doutor. Não seja injusto! O Harry não tinha como saber! –defendeu ela.

—É! Mas talvez você pudesse ser mais cautelosa com seus “namoradinhos cabeças ocas” e se certificar que eles não vão se prender a uma poltrona e depois apertar o botão de auto-ejeção.

Você não é meu pai para falar comigo assim!—ela rugiu, inflamada.

—Calma, calma pessoal! Está tudo bem por aqui... –disse Luisa, tendo que interferir botando panos quentes, antes que a coisa ficasse feia... Liam ajudou-a nessa tarefa desafiadora, e juntos, deram um novo sentido a palavra “reconciliação” e trouxeram a paz de volta a TARDIS.

Em pouco tempo, a discussão ficou para trás e muitos deles se dispersaram, procurando recreações diferentes pela nave. Até que apenas Luisa e o Doutor sobraram na sala de controles.

—E aí? –ele instigou, com as mãos apoiadas em alavancas diferentes do painel de controles. Quem o via agora, descontraído, nem imaginaria que ele quase perdera a cabeça por causa de uma bobagem.

—Tudo bem. E você? –disse Luisa, contente por tudo estar em paz, de novo.

—Tudo ótimo! –ele sorriu, mexendo as sobrancelhas de modo cômico.

—Ah! Vejo que você conseguiu estabilizar seu bom humor, mesmo com a 1D à bordo... Bom. Ótimo sinal, na verdade! Isso é realmente uma evolução... Parabéns! Fico muito contente que vocês estejam se entendendo.

Ora, isso não foi nada! Só estou fazendo um favorzinho à Melissa. Acho que, de certa forma... Eu meio que “devia isso a ela”—ele comentou. –Afinal, eu não sou pai dela; Nem pretendo bancar o “estraga prazeres”. Você sabe que isso não combina comigo...—disse, fazendo uma careta.

—Sim. Definitivamente não combina com você!—confirmou Luisa, achando graça, ao caminhar em sua direção.

—É. Além do mais, ela parece estar interessada na maior parte desses rapazes...

—Em “todos” seria uma definição melhor. –amplificou Luisa, já parada ao lado dele. –E é assim, após vermos Melissa se apaixonar por cinco caras diferentes, ao mesmo tempo, que chegamos à brilhante conclusão de que todo mundo precisa de alguém na vida...

—Se Melissa realmente precisa deles, eu não sei. Mas não há dúvidas quanto a essas paixões estarem deixando-a mais calma. –disse ele, seguindo um raciocínio extremamente lógico.  

Concordo. –Luisa disse, meio sem reação, fitando-o, pensativa. Sem timidez, deu um passo pro lado, inclinou-se e encostou a cabeça em seu braço. –Por mais incrível que pareça, isso me remota a você, Doutor. Você também precisa de alguém. Agora, espero que você não tenha pensado que, só porque comecei a deslanchar com o Ned, me esqueceria de você e sua companheira inseparável, chamada solidão. –ela afagou o braço dele, carinhosamente. –Não me leve a mal. Sei que não é mais da minha conta... Ainda mais agora, que nós dois não temos mais um relacionamento. Mas, mesmo assim, não posso deixar de me preocupar com você. Você sabe que nós somos muito amigos e que sempre seremos! E, talvez por causa da imensa consideração que sinto por você... Eu sei lá: simplesmente não consigo engolir a idéia de você terminar sozinho. Sim! Pode negar o quanto quiser, mas eu vou dizer mesmo assim: Você precisa de alguém, Doutor. Pode até não ser nenhuma de nós, “simples humanas”—brincou. -, mas deve haver alguém no universo que faça seu coração cantar... Afinal, “sempre existe um pé para cada sapato velho”; É o que o meu pai costumava dizer... –disse, em um momento de inspiração e lembranças.

O Doutor sorriu. Fez questão de fitá-la sem se mover, para não tirá-la da posição atual, junto dele.

—Seu pai parecia ser legal. O que foi mesmo que aconteceu com ele?

Luisa ficou meio distante depois desta pergunta.

—Sabe que nem mesmo eu sei direito? –admitiu, chateada. -Há uns longos dois anos, ele decidiu morar próximo ao novo emprego, e nunca mais voltou. Não sei o que deu nele... Quase nunca liga, nem dá sinal de vida. Às ultimas vezes que ligou lá pra casa, minha mãe pegava o telefone antes de mim, e desligava rápido, quase como se procurasse “evitar” que nós mantivéssemos contato. Não sei. Realmente não consigo compreender. Cheguei a ficar aborrecida com ela, por causa disso, mas ela nunca me deu nenhuma devida satisfação.

O Doutor ficou em silêncio, assimilando aquilo tudo.

Meu Deus... DROGA, LOUIS! COMO É QUE SE PÁRA ISSO!? –um grito masculino irrompeu de dentro das entranhas dos corredores da TARDIS. O Doutor bufou, ao ter o clima quebrado, aparentemente, por um novo problema.

Ora essa! O que eles fizeram desta vez?—reclamou, afastando-se da menina. –Espero que Melissa não faça eu me arrepender da decisão de manter essa “One Direction” à bordo... –terminou de estabilizar a nave e já ia adentrar nos corredores internos, quando retornou para junto de Luisa e deu-lhe um beijo na testa. –Eu volto logo. Depois terminamos essa conversa, sim?

Ela assentiu, compreensiva. Tranqüilo quanto à situação dos dois, ele sumiu por entre a passagem que levava à extensão da TARDIS, e sua voz logo foi ouvida, num tom mais reprovador:

—EU NÃO FALEI PARA VOCÊS FICAREM LONGE DO FRIGO-BAR!?

Rindo do jeito dele, Luisa viu-se sozinha na sala de controles.

Bem, não completamente sozinha.

—Prima Luisa! –Alvin sinalizou, no chão, aos seus pés. A garota olhou para baixo e viu o restante dos esquilos aproximando-se também. Por algum estranho motivo, pareciam ansiosos. Luisa não imaginou o que podia ser, até que vislumbrou Theodore trazendo um envelope nas patas.  

—Ei pessoal! O que é isso que o Theo está trazendo? –ela perguntou, ajoelhando-se próxima deles.

—É sobre isso que queríamos falar com você. –disse Jeanette.

—Na verdade, esse foi o verdadeiro motivo que nos trouxe à Rua Bannerman, sem avisar ninguém. –disse Simon.

—Como assim? Ninguém sabe que vocês vieram me procurar? –indagou Luisa.

—Tecnicamente não. –confirmou Simon. –Nós viemos às pressas por que descobrimos uma coisa que achamos que você deveria saber.

—É! E sabíamos que não nos deixariam vir procurá-la a essa altura, já que o desejo da tia Sally era de todos nós permanecermos reclusos na casa de campo do vovô e da vovó. –disse Brittany.

—Porque, para começo de conversa, nem deveríamos saber o que sabemos. –complementou Eleanor.

—Epa! Espera aí um minutinho: o que vocês descobriram?—questionou Luisa, curiosa e preocupada ao mesmo tempo. –Espero não me arrepender de fazer essa pergunta...

—Ih! Desencana, prima! –disse Alvin, em tom descontraído. –Mostra logo a foto pra ela, Theo!

—Foto? –Luisa franziu o cenho.

—Ahã. Essa aqui. –Theodore entregou-lhe o envelope. Luisa correu os olhos pelo papel, à procura de qualquer informação escrita.

—O papel de fora é só um embrulho que nós usamos para não sujar o que tem dentro. Anda! Pode rasgar... –instruiu Simon.

Sem pestanejar, desta vez, ela rasgou o envelope e puxou uma única folha grossa que havia dentro. Na verdade, nem era muito grande. Tratava-se de uma foto de família. Da família de Danielly Jackson; Luisa logo reconheceu os avós maternos: Tata e Vavá (muito mais jovens na imagem, do que atualmente), ambos sentados em um grande sofá de couro (o mesmo que habita a sala de estar ainda atualmente) e, eles estavam rodeados por quatro crianças: dois meninos e duas meninas. Os meninos eram, obviamente, Alam e Dave; A garotinha sentada à direita da avó de Luisa tinha algo de familiar... Era sua mãe, Sally. Mas, e a garotinha menor no colo da avó? Quem era ela? Seria uma coleguinha de sua mãe? Uma prima distante? Uma vizinha?

Luisa sentiu-se intrigada com aquele rostinho diferente. Não se lembrava de sua mãe ter mencionado nenhuma garotinha. Nem mesmo que tivera uma amiga parecida com aquela menina. E, se ela tivesse sido importante, (como todo mundo parecia ser para Sally Jackson) então, obviamente, ela teria sido mencionada em alguma história da infância da mãe de Luisa. Contudo, ela apenas constava na foto, sorridente, abrindo um oceano de dúvidas na cabeça de quem a contemplasse.

—Bem, creio que a essa altura, você já deve ter notado algo de estranho na foto que definitivamente não faz sentido. –prosseguiu Simon.

—É a garotinha? Quem é ela? Vocês a conhecem?

—Infelizmente não. Mas, ela aparece em muitas outras fotos, que estão em uma caixa, dentro de uma gaveta com tranca, lá na mobília da casa dos avós. 

—Mas... Então vocês roubaram essa foto? –disse Luisa, pasma.

—Roubar é uma palavra muito feia... –disse Alvin.

—Mas... Como conseguiram? Se a gaveta estava trancada, como vocês mesmos disseram...

—Nós somos esquilos, Luisa! Qualquer coisa grandiosamente complicada para um ser humano, pode ser um problema pequeno para um esquilo ágil e determinado. –filosofou Jeanette.

—Sim. E também convencemos a prima Maria a abrir a gaveta para nós! –revelou Theodore, alegremente. Os outros esquilos estapearam as testas peludas. Luisa sorriu.

—Maria Jackson! Como é que ela está? Vocês falaram com ela? Nem tive tempo de agradecer pela cobertura que ela deu a mim, Melissa e ao Doutor...

—Sim. Maria está ótima. Mas, por hora, acho melhor voltarmos ao ponto principal. Depois você agradece a ela o quanto quiser—propôs Simon.

—Está certo, me desculpem pela distração... –pediu Luisa, voltando a concentrar-se na foto. –O único problema é que não faço idéia de quem possa ser essa garota...

—Não tem problema. –Simon pendurou-se atrás da foto e, com cuidado, puxou um selo preto que lacrava toda a parte traseira da imagem, deixando o papel fotográfico mais reto e endurecido. –Está vendo? Há uma descrição aqui atrás... Essa parece com a letra da Tata, não é?

—Sim! É dela mesmo! –empolgou-se Luisa. –Espera aí! Sei que o Doutor guarda uma lupa aqui em algum lugar... –e começou a revirar o painel de controles, à procura do objeto. –Ah! Aqui está! –e tornou a se juntar aos primos esquilos. –Sim, posso ver melhor agora. É que as palavras foram escritas a lápis e o tempo é inimigo da grafite... Como se não bastassem às manchas amareladas, as palavras têm que começar a transparecer! –comentou ela, retoricamente.

—E o que diz aí? –indagou Theodore, curioso.

—Parecem ser nomes. Olha! Aqui está escrito: O casal Tânia e Valter e seus quatro filhos.—Luisa parou de chofre. –Que estranho... Aqui diz “quatro” e não “três”, como de costume...

—Espere aí... Então quer dizer que nós temos mais uma tia? –perguntou Brittany.

—Se ela ainda estiver viva, a probabilidade é grande. –disse Simon.

—Essa foto é de 1974. –leu Luisa. –Minha mãe nunca falou muita coisa sobre sua infância. Talvez, por isso mesmo, eu não saiba detalhes suficientes para solucionar este mistério... A única coisa de que tenho certeza, é que ela nunca mencionou uma quarta irmã.

Tem absoluta certeza disso?—instigou Simon, comprometido com a causa. -Ela poderia ter mencionado qualquer coisa...

—Sim, talvez. Mas como é que eu vou me lembrar? –Luisa suspirou, decepcionada. Num momento, eles pareciam ter feito a maior descoberta de todas, e no outro, aborreciam-se por não se lembrar de nenhuma informação que pudesse se encaixar na descrição.

O caso não era simples, mas Luisa persistiu nas reflexões... Até que, de tanto que insistiu, uma coisa enfim lhe ocorreu. A lembrança de um trecho da última carta que sua mãe lhe escreveu veio à sua mente e uma nova luz pareceu iluminar o fim do túnel. Rapidamente –convicta de que aquilo tudo tinha alguma conexão— Luisa apanhou sua Bolsa Que Tudo Tem e começou a revirá-la, à procura da carta. Encontrou-a fácil. Difícil, foi localizar o ponto em que sua mãe mencionava uma possível confirmação importante...

—Aqui! –Luisa disse, satisfeita. E leu o trecho em questão: “Bem, você sempre soube que herdara o seu dom de Visualizadora da sua avó; Isso é passado de geração para geração, e assim como você, acredite se quiser, eu também fui a única filha dentre meus três irmãos restantes, que herdou este dom. Aparentemente, só algumas mulheres conseguem assimilar o dom. (ponto para nós!)”.

—O que é “Visualizadora”? –perguntou Eleanor.

—É só uma coisa que eu sei fazer. Bem, outra hora eu explico melhor. –desconversou Luisa. –Quero mesmo que foquemos nesse trecho aqui: “Fui a única filha dentre meus três irmãos restantes, que herdou este dom”. Três irmãos... Vocês perceberam que ela não se incluiu nesse raciocínio? Ela diz “três irmãos restantes”, o que dá a entender que eram ela e mais três pessoas!

—Oh, que empolgante! Será que ela se referiu à menina da foto? –perguntou Brittany.

—É muito provável. –confirmou Simon. –Ainda por cima, por ela ter mencionado essa informação justamente quando referia-se aos irmãos... Falem a verdade: não há como ser coincidência. Teria que ser uma baita coincidência para coincidir com isso tudo!

—Ou talvez não –interveio Alvin. –De qualquer jeito, pelo menos nós sabemos que ela era ruiva.

Sabemos?—Jeanette indagou, trocando olhares surpresos com Luisa. –Mas a foto está em preto e branco!

—Sim. Mas havia uma outra fotografia, na caixa de fotos, que era colorida, e que tinha uma garota ruiva, junto com o Dave, o tio Alam e a tia Sally.

 -E essa foto vocês por acaso não trouxeram, não é? –indagou Luisa, inquieta. Aparentemente, estavam trilhando o caminho certo...

—Não, mas eu pedi à Maria Jackson que tirasse uma foto da foto, com seu celular, e enviasse para você, Luisa.

Luisa imediatamente tirou o celular do bolso e foi conferir o e-mail. Encontrou um último enviado por Maria. Abriu-o na ânsia da expectativa e prendeu a respiração, ao contemplar a imagem.

De fato, aqueles eram Alam, Dave e sua mãe Danielly. E, no centro da imagem, sendo abraçada por todos, estava a menina ruiva, agora já uma moça com pinta de adolescente. Com a sensação de já ter visto aquele rosto em algum lugar, Luisa arrastou a foto e, sem querer, ela saiu de foco, passando para o que deveria ser a próxima imagem do álbum de fotografia. No entanto, a próxima imagem não continha pessoas, e sim, uma descrição, no que parecia ser o verso da foto.

Lá dizia, com letras delicadas e bem demarcadas com caneta:

Meus orgulhos:

Alam, Dave, Sally e Amélia.

Luisa quase caiu para trás. Amélia? Aquele nome... Aquele rosto... Aqueles cabelos ruivos... Tudo não era novo para ela. Automaticamente, sua mão esticou-se para dentro da mágica bolsa rosa. Quando emergiu novamente, tinha um livro agarrado à palma. Era o diário de Amy Pond; Uma antiga companheira do Doutor que, por acaso dormira no quarto vizinho ao que atualmente pertencia a Luisa.

Pasma com todas aquelas conexões, ela ergueu-se em pé e começou a folhear as paginas vorazmente, atrás de uma determinada foto. Entretanto, naquele exato instante, um meteorito surpresa esbarrou na TARDIS e ela deu uma guinada inesperada para a esquerda. Luisa desequilibrou-se e deixou o livro cair. Por causa da inclinação da nave, ele escorregou na direção das portas azuis, batendo contra elas e ficando por lá. Determinada a recuperá-lo, Luisa foi caminhando em sua direção, com cuidado, para não escorregar também. Porém, cada movimento em falso fazia a nave inclinar-se ainda mais. No fundo, a TARDIS mais parecia ter encalhado na pontinha de um Iceberg do que em qualquer outro lugar.

—Cuidado, Luisa! –gritou Brittany, agarrada ao painel de controles, assim como os outros esquilos.

—Volte Luisa! Não vai dar! –gritou Jeanette. –Não quero ser pessimista... Mas você pode escorregar se continuar assim!

—Eu tenho que tentar! –insistiu Luisa, com a mão esticada. –Não sei direito explicar, mas sinto que esse livro tem alguma ligação direta com o mistério da irmã da minha mãe, do tio Dave e do Alam! Pode ser nossa única chance de saber a verdade...

Luisa quase perdeu o equilíbrio mais uma vez. A TARDIS rangeu, como o casco de um navio.

 -Oh, não! –Jeanette gemeu, tapando os olhos.

—Luisa! Volte! –gritou Simon. –Não vai valer a pena se sacrificar tanto por nada disso! E se você se machucar?

Alvin começou a olhar os objetos que o Doutor largara perto dali. Haviam alguns cabos jogados e o esquilo teve uma idéia.

—Aí, pessoal! Vamos construir uma corda para ela se segurar! –e, assim que explicou sua idéia para os outros, eles botaram a mão na massa e trataram de amarrar bem os cabos, contra algumas alavancas, aparentemente endurecidas que, muito provavelmente, agüentariam seu peso. -Aí, Luisa! Pega! –gritou Alvin, arremessando-lhe o cabo.

Luisa teve dificuldade de apanhá-lo, pois ele caiu próximo ao seu pé, no chão –e abaixar-se naquele piso inclinado e escorregadio não era brincadeira. Por fim, conseguiu pegá-lo e, com muita cautela, amarrou-o em volta da cintura.

—Beleza! –comemorou Alvin, com os outros.

—Eu vou continuar agora –Avisou Luisa, dando mais alguns passos. Estava tudo funcionando perfeitamente. Porém, quando faltavam exatamente sete passos para alcançar o diário, o cabo chegou ao fim. –Gente! Eu preciso continuar mais um pouco!

—O cabo chegou ao fim, Luisa! Está esticado no máximo –alertou Simon.

—E não dá pra emendar esse cabo em outro?

—É muito arriscado agora. Se nós soltarmos esse cabo de onde ele está preso, você corre risco de bater com tudo contra a parede... E não vai ser muito bom depois.

—Certo. Então estão me dizendo que não há mais nada que vocês possam fazer?

—Isso. É melhor abortar missão. Esqueça esse diário idiota. Nós damos um jeito de recuperá-lo mais tarde...

Mas o que eles não sabiam era que Luisa estava determinada a recuperá-lo a todo custo e faria o que fosse preciso para isso.

—Bom... Eles fizeram o que podiam. Agora é a minha vez de por a mão na massa. –disse, começando a desenrolar o cabo da cintura.

—Hã! Luisa! Pare! O que vai fazer? –Simon quase teve um troço, quando voltou-se para ela.

—Ela vai se soltar da corda improvisada! –disse Theodore, assustado.

—Não, Luisa! Agora você já está exagerando! –bronqueou Simon.

—Calma, Simon. Eu só quero aproveitar um pouco mais a extensão do cabo... –insistiu Luisa. –Ele pode ter se esticado ao máximo, mas é porque eu estou com grande parte dele amarada na cintura. Se eu desenrolar o cabo e segurá-lo apenas com as mãos, aposto que vai dar pra alcançar as portas...

Argh!—Simon tapou os olhos, com aflição. –Não acredito que você vai mesmo tentar fazer isso...

—Eu já estou fazendo! –ela confirmou. Ele voltou a espiá-la.

—Puxa, o Doutor não vai gostar nada disso...

—O Doutor não precisa saber... –ela disse, fazendo força para se esticar. Gotas de suor já começavam a brotar em sua testa... Com o pedaço extra do cabo que ela ganhou, conseguiu dar mais cinco passos. Mas, quando faltavam apenas dois, o cabo deu-se por esticado, completamente. –Oh não! Eu precisava de só mais um pouquinho...

—Vamos lá, prima! Esqueça isso! –insistiu Simon. Brittany, Jeanette e Eleanor não olhavam mais para a cena. Não conseguiam reunir coragem o suficiente. Theodore também não olhava. Apenas Simon e Alvin sobraram para dar-lhe algum tipo de apoio vocal.

—Mas falta tão pouco, Simon! –interpôs Alvin, apoiando-a para seguir em frente.

—Alvin! Agora já chega de suas opiniões inconseqüentes! Se a Luisa cair ela pode se machucar feio, e nós não queremos isso...

Enquanto eles discutiam, a garota se esticou ainda mais. Seus braços compridos contribuíram para que ela ganhasse mais alguns centímetros. Agora faltava o equivalente a um passo para ela conseguir tocar no diário.

—Tá quase... Só mais um pouco... –gemeu, exausta e dolorida. Com muito custo, sentiu as pontas dos dedos tocarem a lombada do diário. Ficou um pouco mais animada com isso. Agora, se a TARDIS pudesse se inclinar um pouco mais para a direita... Facilitaria bastante.

—Deixa de besteira Alvin! –Simon discutia.

—Eu não estou de besteira! Você é que é metido a sabichão!

—Olhem! –disse Theodore, de repente, fazendo todos eles voltarem-se para Luisa. Enquanto estiveram distraídos, a menina se aproximara mais do que nunca de seu objetivo.

É! Muito bem, Lu! —de repente, todos eles estavam incentivando-a a continuar. Afinal, ela chegara tão longe... Que diferença fariam alguns centímetros agora?

 Determinada, ela prosseguia confiante. Até que um pequeno estrondo, que só foi ouvido por quem estava perto o bastante do painel de controles, deixou-os novamente exasperados.

—Mas o que foi isso? –perguntou Theodore.

—Oh, não! É a alavanca onde nós amarramos o cabo! Ela está entortando! –guinchou Simon e todos correram para cima dela, tentando estabilizá-la. Mas a tração era muito forte, e quanto mais Luisa se esticava, mais a pobre alavanca cedia.

—Não vai dar! Temos que avisá-la! –disse Jeanette, desesperada. –Luisa! Luisa pare! A alavanca! A alavanca vai quebrar!

—Tá quase... Só mais um pouco... Só mais um pouquinho—gemeu ela, sentindo o braço tremer de dor.

—Oh, meu Deus! Não posso continuar olhando! –Jeanette tapou os olhos novamente.

Luisa mordeu o lábio. A TARDIS deu uma pequena inclinada para a direita e o livro correu para sua mão esticada. A garota sorriu, endireitando o corpo com cuidado. O cabo ainda seguro na outra mão suada. Era obvio que ficaria com o pé atrás em soltá-lo. Não esperava que tudo se estabilizasse de uma hora para a outra, afinal de contas, a sala ainda estava muito inclinada para a esquerda.

Em meio a tudo aquilo, o Doutor chegou no recinto.

—O quê? Mas... Que diabos aconteceu aqui? –perguntou o Senhor do Tempo, derrapando ao entrar na sala de controles. –Me sinto como se tivesse acabado de escalar os Alpes! Por que a TARDIS ficou inclinada assim...? Ei! Por que vocês esticaram meus cabos auxiliares? Isso não é brinquedo...

O Doutor nem teve chance de tomar uma iniciativa: a alavanca quebrou antes que pudesse fazer qualquer coisa e o cabo ricocheteou, afrouxando de tal modo a fazer Luisa desequilibrar-se e bater o ombro com tudo nas portas da TARDIS. As dobradiças estremeceram; o trinco, já mal fechado, quase terminou de uma vez o serviço de pular para fora do lugar.

Doutor! —Luisa brandiu. -Socorro!

—Luisa! –o Doutor gritou em retorno. –Espere aí, eu vou buscar você!

De longe, a garota assentiu, com o diário abraçado contra o peito. Ao menos, ela o havia recuperado. O Senhor do Tempo sacudiu os neurônios, pensando em uma forma de alcançá-la. Ergueu, com cautela, uma tampa pesada (que na verdade era parte do chão do console) e tirou um velho baú, lá de dentro. Da perspectiva dos esquilos, em cima do painel de controles, eles viram uma mão surgir, erguendo uma corda com um gancho extra preso a uma das pontas. Logo em seguida, o rosto determinado do Doutor apareceu, e sorriu para eles.

—Amigos, me ajudem aqui... Vamos resgatar Luisa!

O processo foi quase tão demorado quanto o da própria Luisa, para alcançar o diário. Primeiro o Doutor amarrou a corda em sua cintura; depois prendeu o gancho ao painel de controles (em um lugar muito mais firme e seguro que uma alavanca) e, começou a andar na direção da menina.

A sensação era parecida com a de descer uma montanha. Tinha que ser feito com cuidado e precisão, pois qualquer passo em falso poderia significar um desastre completo.

—Fique calma... Eu estou chegando! –ele disse, numa junção dos temas “I Am The Doctor” & “The Doctor Forever. Luisa assentiu, tentando permanecer calma.

—O que está acontecendo com a TARDIS? –perguntou, procurando não mover muito os lábios enquanto falava. Tinha a estranha sensação de que qualquer coisa mesmo seria capaz de causar um novo abalo no equilíbrio da cabine.

O Doutor umedeceu os lábios, estendendo a mão.

—Ainda não sei! Nós estamos parados no espaço. Alguma coisa deve ter batido na TARDIS...

Opa!—guinchou Alvin, de repente, após um pequeno estrondo. 

—Ei! O que houve aí atrás? –quis saber o Doutor, desconfiado.

—Nada. O Alvin só se sentou em um interruptor... –disse Theo, inocentemente.

Seqüencialmente, os motores da nave começaram a fazer barulho e a TARDIS pôs-se a decolar pelo vórtice temporal. Novo problema: agora ela estava viajando a toda velocidade, e ainda por cima, inclinada.

—“Nada”, seus primos disseram! –bufou o Doutor, avançando na direção de Luisa. –Calma que eu já estou chegando. Agüenta só mais um pouco...

As dobradiças rangeram. A porta balançou violentamente às costas de Luisa.

Oh, não!—a garota arregalou os olhos e dirigiu-se ao amigo, inquieta. –Doutor, não é por nada não, mas será que você poderia ir um pouco mais rápido?

Ele afastou a franja da frente dos olhos.

—Estou indo o mais rápido que posso! Se descer a sala de controles correndo, vou distribuir mais peso na sua direção e vamos todos acabar perdendo o equilíbrio.

—Tudo bem! –Luisa arfou. –Vai no seu ritmo mesmo... Mas seja breve! Por favor...

O Doutor teve mais sorte com a extensão da corda do que Luisa tivera com o cabo. Isso já lhe dava uma vantagem sobre a situação. Mesmo que avançasse devagar, conseguiria chegar até ela, sossegado.

Porém, a TARDIS deu uma nova guinada, só que desta vez, para a direção contrária à que ele caminhava, de modo que o Senhor do Tempo foi arremessado para trás. Estava novamente longe de Luisa.

Aflita, a menina estremeceu quando o trinco que mantinha as portas fechadas escapou do lugar.

Rápido Doutor!

—Estou tentando! –disse ele, com complicações para se colocar em pé. –Tente não ficar nervosa... Afinal, porque está tão inquieta? Eu prometi que ia buscá-la...

Luisa sentiu a madeira azul, às suas costas, começar a ceder. Rapidamente, ela segurou as duas maçanetas, usando o peso do próprio corpo a favor da atual inclinação da nave, na direção oposta, para mantê-las unidas e fechadas.

Não vai dar tempo! —respondeu, fazendo-o amigo franzir a testa.

—Por quê? –perguntou ele, intrigado. Até então, o Doutor não desconfiara que as portas poderiam estar destrancadas. Como que para “complicar um pouquinho a situação”, uma nova guinada fez a nave inclinar-se novamente na direção de Luisa; E, a tentativa de manter unidas as duas portas, (que abriam-se tanto para dentro quanto para fora), tornou-se um desafio ainda maior, pois isso exigiu o dobro de esforço da parte dela e a menina não estava preparada para aquilo. Foi aí que o Doutor percebeu que ela estava escondendo alguma coisa dele. –Luisa, o que foi? Diga-me: Porque não haveria tempo para salvá-la?

A garota respirou fundo.

—As portas. Elas estão... –mas sua atenção foi voltada inesperadamente para a tampa do console, pesada como só ela, que começou a escorregar, aproveitando a inclinação da TARDIS para a esquerda. Tudo que Luisa conseguiu pensar naquele instante, fora avisar ao amigo para sair do caminho, antes de ser atingido pela placa de metal.  –Doutor, cuidado!

Com uma agilidade excepcional, ele rolou para fora do caminho. Infelizmente, Luisa nem teve tempo de comemorar a brilhante escapada do amigo, pois se ela não se cuidasse, seria a próxima a ser atingida.

Era gozado como sempre nas piores horas, o cérebro cismava de brincar de “desacelerar o tempo”. De repente, Luisa viu tudo em câmera lenta: A placa de ferro foi perdendo velocidade; mesmo assim, aproximava-se impiedosa em sua direção. Os esquilos arregalaram os olhos no painel de controles, fazendo caretas que ficaram até cômicas aos serem desaceleradas. O Doutor virou a cabeça na direção da menina, em completo estase. A placa vinha se aproximando dela, supostamente, à toda velocidade... Ao que tudo indicava, acabaria causando desastre cedo ou tarde, independente da versão dos fatos. 

Porém, antes de tudo desandar de vez, Luisa ainda teve tempo de erguer a cabeça e encontrar os olhos do amigo, uma última vez. Instantaneamente, sentiu um nó se formar em sua garganta; Ao mesmo tempo, o rapaz fitava-a, atônito. Não houve tempo hábil para dizer algo inteligente, ou ter um flash-back nostálgico... Todavia, os olhos da garota lacrimejaram, ao pensar no que estava prestes a perder...

Doutor... Sinto muito —foi só o que conseguiu dizer; uma lágrima sentida escorreu do canto de seu olho... Então, um segundo depois, a madeira não agüentou. Assim que a placa de metal bateu contra as portas azuis, elas se abriram para o tempo e espaço em agitação, do lado de fora. Sem ter onde se segurar, a menina despencou vórtice à dentro.

NÃÃÃÃÃÃÃÃÃO!—o Doutor berrou. Alvoroçado, erguendo-se na mesma hora, deslizando com os sapatos na direção das portas. Ao chegar ao fim da linha, segurou firme nos batentes e inclinou o corpo para fora, olhando para baixo, ofegante. Sentiu os batimentos dos dois corações falharem, ao contemplar o vórtice e não ter qualquer sinal da amiga.

Dentro da TARDIS, os Esquilos gritaram, assustados, e agarraram-se firme ao painel de controles, quando uma ventania descontrolada adentrou pelas portas abertas e percorreu todo o interior da sala de controles.

—Alguém pare esse furacão! —gritou Alvin.

Doutor! Ajude!—brandiu Simon.

Mas o Senhor do Tempo não ouviu seu chamado. Nem mesmo ousou se mover, de tão chocado que estava. Sua mente sofreu um apagão imediato. Não conseguia mais raciocinar direito... Apenas ficou lá, com o maxilar trincado, olhando fixo para o vórtice; passando, repassando e assimilando a cena, como se pudesse alterá-la num passe de mágicas.

Entretanto, não havia como mudar o que acontecera. A partir do momento em que aquilo se concretizara, tornou-se um fato, assim como o dia e a noite; e, como tal, não havia como evitar o curso natural das coisas.  O rapaz sentiu o lábio tremer, inconformado. Não havia mais nada que ele pudesse fazer.

Luisa Parkinson estava perdida para sempre.


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