Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 106
O perdão de Melissa


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! ^-^

Desculpem o atraso pra postar... Deu uns probleminhas aqui, mas tá tudo bem agora!

Bom, avante com a continuação! :D



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Luisa caminhava ao lado de Ned por uma trilha extensa, nos fundos da delegacia, que percorria uma área ampla e desocupada.

—Para que usam esse lugar? –ela perguntou, interessada.

—Bem. Costumava ser um estacionamento, mas depois eles construíram vagas para as viaturas na fachada da delegacia, e esse lugar ficou fora de uso.

—Ah. –ela sorriu, parando para observar a vista. –E nunca usam esse espaço para nada?

—Não. Bem, quando eu era criança, eu vinha muito pra cá com meu pai; Depois que o antigo estacionamento foi desocupado, ele me deixava brincar aqui... –ele sorriu, recordando-se. -Puxa. Tenho boas lembranças desse lugar. É curioso como ele parecia ser muito maior naquela época...

Luisa sorriu, quando um pensamento lhe ocorreu.

—Já posso imaginar um “mini-você” correndo por aí, fingindo ser um caubói e salvando as pessoas do “perigo eminente”.  

Ned sorriu também.

—Você deve ser adivinha... Como sabia que eu gostava de brincar de caubói?

Luisa sentiu o sangue gelar, só por um segundo. 

Foi só um palpite. –desconversou. –Hã... E quanto a sua mãe? Ela também exerce algum tipo de profissão “perigosa”?

—Não, não. Ela é veterinária. –ele contou. –Apesar de que seria ridículo afirmar que é uma profissão completamente isenta de riscos. Sabe? Às vezes ela tem de tratar de animais doentes... Até mesmo portadores de raiva.

Cruz credo!—Luisa arrepiou-se toda. –Então, pelo que parece, a sua família ama estar ao lado do perigo...

Ele fitou-a com ar de riso.

—E, pelo que me sugere, a sua também não fica atrás.

Ela riu.

—Sim. Minha família pode não exercer nenhuma profissão de risco, mas com certeza, está longe de ser normal. Na verdade, acho até que é exatamente por causa do nosso nível particular de “loucura” que acabamos atraindo as confusões para o nosso cotidiano... Sabe? Como em um filme.

Ned desacelerou o passo, fazendo-a copiar seu gesto.

—Você não é louca. Eu não a vejo dessa maneira.

As bochechas de Luisa ficaram coradas.

—E... Como você me vê, então?

Ned sentiu um friozinho na barriga. Já havia ensaiado muitas vezes o que diria a ela no momento certo, mas acabava sempre deixando-se levar pelas emoções e perdendo a confiança. Como já era de costume: estava meio nervoso em sua presença. Ultimamente, tornava-se cada vez mais difícil raciocinar estando ao seu lado; Já tinha que gastar muita energia procurando não deixar transparecer sua insegurança...

—Bem... –ele tirou as mãos dos bolsos e esfregou-as uma na outra, ganhando tempo para pensar. –Já faz bastante tempo que eu venho desejando falar com você... Só que, acredite ou não, eu nunca consegui abordá-la direito. Mesmo da ultima vez, em que conversamos no shopping; Antes de toda aquela confusão absurda ocorrer e de eu ser engolido por um robô esquisito...

Miniaturizado. –corrigiu Luisa. –O Doutor disse que é assim que se chama o processo pelo qual você passou.

Ned desviou os olhos, tamborilando distraidamente os dedos contra as costas da outra mão.

—Hã... Então, esse Doutor... Ele e você são...?

Amigos—Luisa completou, rapidamente. Mais rápido do que deveria. Ficou até meio embaraçada com a precisão com que disse aquelas palavras. Contudo, não transpareceu embaraço. –Sim. Só bons amigos... –confirmou.

Ned tornou a sorrir, visivelmente aliviado.

—Ah! Que bom. Isso é realmente formidável.

—Ah, é? –“Então o sentimento era recíproco”, pensou ela. Logo em seguida, abriu um sorriso largo, contente por ele ter admitido aquilo. –Que reconfortante ouvir isso.

—Você acha?

—Claro!

Ned pareceu ficar realmente muito satisfeito consigo mesmo.

—Ufa! A primeira bola dentro que dou com você... –comentou, de livre e espontânea vontade, depois de esfregar a nuca. Luisa achou graça em seu comentário.

Que é isso! Você nunca deu nenhuma bola fora comigo...

—É, mas você sempre pareceu meio que “inalcançável” pra mim... –admitiu. Luisa não imaginava o quanto fora difícil para ele conseguir se convencer de abrir seu coração para ela. –Especialmente agora.

Luisa surpreendeu-se.

—Agora? Mas por quê? Eu pareço “intimidadora”?—brincou.

Ned negou com a cabeça, rindo.

—Não é isso. É que... Você sempre pareceu boa demais pra mim.

Luisa revirou os olhos, lembrando-se de que o Doutor dissera a mesma coisa quando tentara convencê-la de que eles não poderiam ficar juntos.

—Quer saber, homem é muito bobo mesmo! –confessou, movendo o braço depressa. Sem querer, sua mão roçou na dele e ambos prenderam a respiração. –Hã... –Luisa esfregou o próprio braço, desviando os olhos, sentindo o rosto esquentar. 

—Estava falando por experiência própria? –sondou Ned, sentando-se no chão.

—Como? –ela copiou seu movimento.

—Quero dizer, se você acha que somos todos bobos, então deve ser porque já teve experiências anteriores em que se basear... –ele gaguejou, revelando seu primeiro traço de insegurança, naquele dia.

Luisa achou o comentário divertido.

—Ué? E se eu tiver tido?  

—Bem, é que, se for esse o caso, então estou em desvantagem—ele respirou fundo antes de revelar: -Nunca tive uma namorada antes.

O coração de Luisa disparou.

Namorada? —arfou.

—É. Bem, já tive amores platônicos. Garotas mais velhas de quem gostei, mas elas nunca souberam nem mesmo o meu nome.

Luisa riu, apoiando a cabeça em seu ombro. O rapaz hesitou só por um segundo (não esperava que ela o considerasse tanto), então, depois que a ficha caiu, ficou bem quietinho, curtindo a sensação.

—Você é muito fofo.

—Hã...

—Isso é um bom sinal. –Luisa explicou, erguendo os olhos para observá-lo, sem mover a cabeça do lugar.  

—Ah! –ele exclamou.

—Pois é. –ela riu, permitindo-se aconchegar melhor junto dele. Ned não recuou. Pelo contrário: à medida que ela ia ficando, ele também foi recuperando sua coordenação motora e, assim que conseguiu sentir que já era possível controlar o braço esquerdo de novo, entrelaçou-o ao redor da garota. Foi então que uma coisa ocorreu a ela: -Pensei que você tivesse alguma coisa com a Moze.

—Não. Moze é só minha amiga. –assegurou. -Assim como o Doutor é para você.

Intimamente, Luisa não gostou muito da comparação. Tinha passado por tantas coisas com o Doutor... Coisas que não pretendia contar a mais ninguém. De repente, sentiu-se meio fingida. Não curtiu a sensação.

—É. –ela respondeu, meio forçado. Ned não percebeu, porém, intimamente, ficou matutando.

—Bom, apesar de que, você parece ter passado muito tempo com aquele “Doutor” –Ned acertou na mosca. –Estaria errado se supusesse que vocês dois só passaram os sábados à noite jogando Twister, não é?

Luisa sentiu um pequeno tremor interno. Conservava a singela impressão de que, no instante em que colocassem o Doutor na conversa, alguma coisa desandaria. E aquele momento estava tão mágico... Dava até dó de comprometê-lo. Porém, ela precisava dizer alguma coisa.

—Sim, você acertou. Eu, o Doutor e Melissa fizemos muito mais do que “manter uma certa amizade”. –ela endireitou o corpo, olhando-o nos olhos. –Me desculpe por não ter retornado suas ligações. Eu teria feito, se não tivesse esquecido o meu celular desligado.

Ned inclinou-se para frente.

—Quando você disse que estava “meio fora de alcance”, definitivamente não estava brincando. 

Luisa baixou o olhar, sentindo-se relativamente culpada por tudo aquilo.

—Eu nem sei o que dizer... Começou com Melissa e eu aceitando viajar com essa figurinha extrovertida, que é o Doutor. Enquanto estávamos com ele, não pensamos no que deixaríamos para trás ou em como as pessoas ficariam preocupadas. Contudo, nós praticávamos o bem, ajudávamos pessoas e fazíamos a diferença! Passamos por muita coisa juntos, e uma coisa eu te digo Ned: o Doutor é uma boa pessoa. Não tem absolutamente nada a ver com o perfil que a mãe de Melissa descreveu... Disso, você pode ter certeza!

Ned avaliou as afirmações.

—Sim. Eu tive o privilégio de contar com seus serviços. –relembrou, depois baixou a voz. –Cá entre nós, eu sei o que ele fez. Quero dizer, não posso nem dizer que entendo metade do que aconteceu naquele dia... Mas reconheço que seu amigo foi responsável por salvar todos nós, inclusive eu, das garras daquele robô maluco.

—Sim. Ele fez isso de fato. –pouco depois, Luisa empertigou-se ao seu lado. –Puxa... Fiquei tão preocupada quando a Teselecta capturou você... –disse, revivendo de imediato toda a tenção que passou naquele dia. –Só de pensar que eles poderiam lhe fazer algum mal, eu... –ela segurou em seu braço, significativamente. Ned percebeu que ela estava sendo sincera. Porém, diante de tantas questões que surgiram em sua cabeça, só conseguiu perguntar:

Teselecta?

—É o nome do robô que pegou você. –ela explicou, distraidamente. –Só queria que você soubesse que eu fiquei realmente preocupada com você. Não consegui voltar para ver como você estava, e isso me deixou muito mal... Ainda me sinto mal, quando penso no rumo que as coisas levaram...

Ele pousou a mão em cima da dela, dando-lhe suporte.

—Não sinta. Eu fiquei bem. –afirmou, tranqüilizando-a. -O mais estranho, é que ninguém além de mim se lembra do que aconteceu. Nadica de nada. Parece que foi tudo um sonho, e que fui eu, o dono do sonho.

—Ah, isso foi Melissa agindo. Ela nos contou que uma mulher misteriosa apareceu e ajudou-a a apagar as informações da mente de todos que haviam presenciado a cena no shopping.

Ned ergueu as sobrancelhas.

—Elas... Apagaram a mente deles?

—Não. Só as informações sobre o robô maluco seqüestrando você e destruindo parte da decoração. Sabe como é... “O sigilo vem sempre em primeiro lugar quando se trata de ameaças alienígenas”. –ela falou aquilo naturalmente.

Ned teria caído para trás, se já não estivesse sentado.

—Você disse “Alienígenas”? Tipo “marcianos”? Criaturas do espaço sideral, que não são de origem terrestre?

—Sim. –Luisa aproximou-se dele, sussurrando. -Eles existem!—confirmou, sentindo um imenso receio um segundo depois. –Mas você não pode dizer isso a ninguém... Nem mesmo ao seu pai! Saiba que só estou te contando isso porque confio imensamente em você –e fitou-o com intensidade. -Por favor, não faça eu me arrepender...

Ned tocou em seu ombro, taciturno.

—Não vai precisar. Você pode contar comigo.

—Oh, obrigada! –Luisa suspirou, aliviada, com a mão contra o peito. –É bom saber que posso desabafar com mais alguém...Tenho vivido tantas coisas absurdas que você nem imagina...

—Mas... Isso que você falou sobre “alienígenas” é mesmo real? Eles, de fato, existem?

Luisa sorriu de canto de lábios, sonhadora.

—Existem sim. Eu já tive o privilégio de conhecer alguns... Mas os meus preferidos viajam em caixinhas azuis!

Ned poderia ter fitado-a com estranheza. Poderia ter dado uma desculpa e saído de fininho. Poderia ter chamado-a de louca... Mas não fez nada disso. Estava tão encantado com a presença dela, que nem se importaria se ela começasse a falar sobre “ovelhas voadoras”.

A menina tagarelava sem parar sob planetas e estrelas e outras mil coisas mais, usando vários termos científicos, complicados, que ele jamais ouvira falar, e também, nunca imaginara que uma garota como ela seria capaz de conhecer. Por um momento, isso o deixou intrigado. Como ela poderia saber de tudo aquilo? No mínimo, não estava louca. Ele duvidava que um ser humano, insano de verdade, pudesse relatar fatos com tanta clareza, e também, com tanta riqueza de detalhes.

Foi então que uma lembrança maluca lhe ocorreu: Naquela noite, quando eles haviam se reencontrado na rua Bannerman, não havia uma caixa azul fixada bem na calçada dela?

Quando Ned emergiu de seus próprios pensamentos, Luisa falava sobre uma Princesa Isabel de catorze anos, um planeta Indiano, e um confuso Globo de Neve, que aparentemente, habitava uma criatura sombria e era maior do lado de dentro...

Sentiu-se meio tonto ao ser bombardeado por tanta informação.

—Espere só um instante... –pediu ele, interrompendo-a com educação. –Você disse “alienígenas que viajam em caixinhas azuis”?

Naquele momento, Melissa surgiu pela entrada do ex-estacionamento, com Nik na coleira, e bufando horrores.

O casal se endireitou perante a sua presença.

—Melissa? O que houve? –Luisa percebeu um ar aborrecido na amiga.

—Vocês não vão acreditar no que acabou de acontecer –disparou, juntando-se a eles. –Minha mãe esteve aqui na delegacia, e, não só tentou dar uma de “autoritária” pra cima de mim, como também disse coisas horríveis ao Doutor!

—Sua mãe esteve aqui? –Ned franziu as sobrancelhas. –Que estranho... Meu pai não disse nada para nós.

—É porque ele não sabia. Ninguém da ronda noturna parecia saber. –Melissa concluiu. -Ela deve ter vindo pra cá no fim da tarde. Vocês deviam ter visto a cara do pessoal lá no hall de entrada... Eles ficaram embasbacados com o jeito com que ela se dirigiu ao Doutor. Cheguei até a ficar com pena dele.

Luisa sentiu o ar faltar, momentaneamente.

—O que ela disse pra ele?

—Não queira saber –Melissa desviou os olhos, ressentida. –O fato, é que eu não suportei o jeito dela. Vocês acreditam que ela chegou a me tratar feito criança? Dando a entender que eu não tinha idade o suficiente para tomar decisões, ou saber diferenciar o que é certo e errado. Depois disso, ela ameaçou me botar de castigo e disse mais umas poucas e boas, só porque eu defendi o Doutor.

Luisa ergueu-se de imediato.

—O Doutor... Como é que ele está?

—Eu não sei. Saí antes que a discussão tivesse acabado. –Melissa deu de ombros, revirando os olhos. -Deixei minha mãe falando sozinha.

—Oh, meu Deus! E o Doutor ficou sozinho com ela? –Luisa olhou para Ned, preocupada. O rapaz apenas observou-a, sem dizer uma só palavra. –Gente, eu já volto. Desculpem, mas só vou sossegar se tiver certeza de que está tudo bem com ele. Ora, bolas! Como se não bastasse já estar preso atrás das grades, ainda têm que ficar levando bronca...! –murmurou ela, já correndo para dentro do prédio.

Ned entreolhou-se com Melissa.

—Ela gosta muito desse Doutor, não é?

Melissa sorriu, apaziguadora.

—Não se preocupe. Ela adora o Doutor, mas gosta mesmo é de você.

Ned corou de leve, mas mesmo assim assentiu para ela, agradecido pelo consolo.

Dentro do prédio, Luisa atravessou esbaforida o hall de entrada e só parou quando já estava de frente para as grades da cela do amigo. O Doutor estava no chão, com as algemas unindo as duas pernas, e com a testa apoiada contra os joelhos.

Sem chamar atenção, ela agachou-se no mesmo nível que ele, com as mãos seguras em um par de grades paralelas. Cogitou não dizer nada por alguns instantes.

—Doutor? –chamou baixinho. O rapaz não demorou nada a erguer a cabeça e fitá-la. Não estava com o semblante bravo ou triste. Apenas, parecia cansado.

—Luisa. –ele sussurrou. –Pensei que não voltaria tão cedo.

—Eu sempre voltou por você.

Ele deu um sorrisinho.

—Você não devia. Está com o Ned agora. Não devia dar motivos para ele sentir ciúme ou raiva.

—Não estou dando motivos. Ele sabe que você é só meu amigo, e que só estou preocupada com seu bem estar. 

O Doutor inclinou a cabeça.

—Nós dois sabemos que não é só por isso.

Luisa pôs uma mecha atrás da orelha.

—Você é importante pra mim. É meu melhor amigo. Poxa! Não posso nem ajudá-lo quando você precisa?

O Doutor respirou fundo.

—Está tudo bem comigo.

Luisa crispou o lábio, fitando pontos diferentes da cela em um pequeno intervalo de tempo.

—Mas... Não está comigo.

Ele ergueu os olhos para ela, fitando-a amigavelmente.

—O que está preocupando você?

—Bem, além do meu melhor amigo estar trás das grades—ela começou, mas depois parou. Por algum motivo, não conseguiu continuar. Ao invés de falar, puxou o celular do bolso, e encarou-o por alguns minutos, criando coragem. –Durante as nossas viagens, o meu celular esteve desligado. E... Quando estávamos no Estrela Guia, houve um momento em que eu o religuei, só por força do hábito... –ela fez outra pausa sugestiva e o Doutor ergueu as sobrancelhas. 

—O que aconteceu?

Ela mordeu o lábio, olhando fixo para a tela do aparelho. Não conseguiu dizer aquilo olhando nos olhos dele.

—Eu encontrei cinqüenta ligações perdidas... Todas do Ned. –revelou. Esperava que o Doutor dissesse alguma coisa, mas como ele permaneceu em silêncio, ela foi obrigada a contemplá-lo. O rosto do rapaz estava normal. Talvez tivesse ficado quieto só para atrair seu olhar. De qualquer forma, Luisa não pensou muito nisso. Estava sofrendo uma espécie de conflito interno.

O rapaz sorriu interessando, inclinando o corpo para frente.

—E então? Quantas ligações agora?

—Como é? –ela estava com o raciocínio lento.

—Bem, você disse que eram cinqüenta no Estrela Guia. E agora? Quantas são ao todo?

Timidamente, Luisa checou novamente a caixa de mensagens.

Cento e trinta e uma.—leu, pensativa.

—Ah... Então ele não é tão sensato quanto eu pensei que fosse. –avaliou, ignorando a cara de estranheza que Luisa fez.  –Bom, isso é realmente um alívio. Fiquei com medo que ele pudesse ser muito “normal” pra você. Ponto para o Ned!

Luisa sorriu de leve, com a brincadeira.

—Quer dizer... Tipo, que você “aprova” ele?

O Doutor sorriu.

—Não sou seu pai para poder aprovar alguma coisa, mas garanto que quero o melhor pra você.

Luisa sorriu ainda mais.

—Então... Você gostou dele? Ele é lindinho, não é?

O Doutor riu pelo nariz.

—Já entendi. Você não vai desistir enquanto eu não der a minha opinião sobre o caso.

—Puxa, você descobriu meu “plano secreto” –ela brincou, e os dois acharam graça. –Não é bem isso. É que estou meio insegura sobre me abrir com ele. Tenho medo de deixar alguma informação importante escapar.

O Doutor pensou um pouco no assunto.

—Você confia nele?

—Acho que sim.

—Bom, então acho que não haveria problema.

—Sim, mas... Bom... Sabe, ainda a pouco, eu estava tentando situá-lo sobre a existência de extraterrestres. Não sei bem o que ele pensa sobre isso, mas pretendo descobrir, dando um passo de cada vez. Contudo, não consigo deixar de pensar que esse assunto certamente chegará em você em algum momento. E então... quando ele começar a juntar os pontos e deduzir que você é um alien, ou se ele descobrir que nossas viagens todas ocorreram à bordo de uma máquina do tempo... Bom... Como eu irei explicar?

O Doutor deu de ombros.

—Ué? Seja sincera com ele. Se o rapaz for mesmo de confiança, como você diz que é, então ele não sairá espalhando nosso segredo por aí.

—Tenho medo que alguma coisa possa sair do controle... Você viu a reação da mãe da Melissa. Só dela ter feito uma denuncia, já mostra que não ficou nada satisfeita com a descoberta...

O Doutor fez uma careta.

Desde quando a família da Melissa é parâmetro para alguma coisa?

Luisa balançou a cabeça, afastando o ar descontraído do rosto.

—A pior parte foi o fora que eu dei. Ele me ligou um montão de vezes e eu continuei sem dar sinal de vida, esperando que as coisas se resolvessem no final. Se ao menos tivesse dado uma satisfação, não estaria agora nessa situação. –ela suspirou, frustrada. –Mas isso não importa agora. Mesmo antes, creio que não saberia o que dizer.

O Doutor se inclinou para frente, com um ar juvenil.

—Diga a ele o que sente de verdade.

Luisa ergueu os olhos para o amigo, angustiada.

—Como eu posso fazer isso? Terei de dar mil explicações, e ainda assim, nós dois sabemos que não será suficiente! Ned nem faz idéia da dimensão de tudo isso... Se eu escolher me abrir de vez com ele agora, o que estarei fazendo?

O Doutor olhou significativamente para ela.

Estará vivendo.—soprou, deixando-a mergulhada em reflexões.  

Aquela foi sua deixa. Pouco depois, a garota interceptou-se. Sorriu mansamente, agradecida pelo conselho. Despediu-se então do amigo e deu meia volta, retornando para o ex-estacionamento. Encontrou Melissa pelo caminho, mas esta prosseguiu na direção do hall de entrada: Pretendia chegar até a máquina de café.

Melissa chegou na sala de espera e deparou-se com o Doutor, na cela da parede oposta, aprisionado feito um animal. Lançou-lhe um sorrisinho afetado, que foi rapidamente retribuído por ele. Depois tornou a concentrar-se no café que viera buscar.

Porém, ambos apuraram as orelhas quando começou um inesperado alvoroço do lado de fora do estabelecimento, que envolvia o ruído de seis viaturas estacionando na frente da delegacia, com suas sirenes barulhentas, adicionado a um falatório grosseiro e impaciente.

Entrem aí, seus baderneiros!—disse a voz ríspida do chefe dos policiais. No momento seguinte, a porta foi escancarada, e cinco rapazes bonitos entraram, com cara de espanto.

Mas senhor... Não fizemos nada! Já dissemos que foi tudo um mal entendido... –protestou um deles, que tinha cabelos desgrenhados e usava suspensórios.

Cale-se!—o policial deu uma dura. –Deus! Será possível que gente, feito vocês, não tem um pingo de educação!?—berrou. O rapaz de suspensórios fingiu destampar os ouvidos, quando o policial deu as costas. Depois lançou uma careta de “estamos ferrados” aos demais; Parecia ser o gozador da turma.

Nós temos educação. Freqüentávamos escolas! –replicou outro garoto, de topete, barba rala, e tatuagens nos braços.  

—Isso não significa nada hoje em dia. –o policial desdenhou. –Um garoto muito bem escolarizado pode tornar-se um baderneiro num estalar de dedos. Nós já vimos acontecer! É só questão de estar no lugar errado, com a influência errada. —o homem inclinou-se para apanhar algo atrás do balcão.

Mas, seu guarda... Nós realmente somos inocentes! –insistiu o único loiro do grupo.

—Isso é o que todos dizem, meu rapaz –o policial voltou-se para eles, comendo uma rosquinha. O loiro lambeu os beiços, e colocou a mão de leve sob a barriga. Estava morto de fome. O rapaz à direita dele, se manifestou.

—Mas isso não é justo! Está nos responsabilizando por um erro que não cometemos!—rebateu. Este tinha cabelos castanhos, cacheados.

O policial aproximou-se com o dedo cheio de granulado apontado para a cara do rapaz.  

Moleque, a sua mãe nunca falou que é errado falsificar ingressos?

O rapaz de cachos franziu a têmpora.

—Minha mãe nem sabia que eu faria sucesso algum dia...

—Ah! Bancando o “engraçadinho”, não é? –satirizou o policial. -Puxa, você é realmente “muito bom nisso”... Por que não desiste do microfone e experimenta trabalhar no picadeiro?

O rapaz juntou as sobrancelhas. Percebeu que estava sendo observado por Melissa, mas ela disfarçou rapidinho, fingindo estar concentrada em seu copo de café.

—Calma Harry –o quinto integrante do grupo, (com cabelo curto, mais ainda sim, ondulado) tomou a frente do companheiro. Pelo jeito encabulado com que se dirigiu ao guarda, parecia ser o mais certinho dos cinco. –Chefe, Hã... Senhor... Hum-hum... –limpou a garganta. –Senhor Policial. –julgou ter encontrado o melhor termo. –O que meu amigo está dizendo é verdade. Foi tudo culpa do nosso empresário... Não há como nos responsabilizar por uma coisa que, de fato, não é de nossa autoria. Na verdade, o caso está sendo discutido nesse exato momento com os patrocinadores do evento, e os donos da casa de Show... Se quiser, pode trocar uma idéia com eles. Eles sabem que somos gente de confiança.

O policial quase babou de tanto tédio.

—Está falando do pessoal da UK-NX? Foram eles que nos chamaram para prender vocês. –revelou. O queixo do rapaz quase caiu, assim como os dos demais.  

O que se chamava Harry, tomou novamente a palavra.

—Não esquenta, Liam. Deixe comigo essa coisa de “falar”, a partir de agora, está bem? –sorriu, tranqüilizando o xará de cachos, com tapinhas no ombro.

Ah. Então é você que responde pelo grupo?—sondou o guarda.

—Não exatamente. Na verdade, não temos um líder.

—É. Nós meio que revezamos... –confessou o loiro.

—Louis queria ser o líder semana passada, mas ele só venceu na votação porque amarrou nossas mãos com fita adesiva. –disse o rapaz de topete.

Ei!—protestou o moço de suspensórios. Provavelmente, chamado “Louis”.

A-rá! Pelo que vejo, vocês estão bastante acostumados a “usar a força bruta”, não é? –o guarda jogou verde para cima de todos. –Malandros que sabotam a si mesmos são perfeitamente capazes de tirar vantagem do “primeiro Cristo” que aparecer na frente... Ou, neste caso: “A uma legião inteira de fãs”. –avaliou, esfregando as mãos de empolgação. -Então vocês CONFESSAM o crime que cometeram essa noite!

Todos eles entreolharam-se, alarmados. Louis abriu a boca.

—O único crime que eu cometi foi comer as batatinhas fritas do Niall.

Minhas batatinhas fritas!—o rapaz loiro exclamou, desolado.

O chefe dos policiais observava-os invocado.

Parem de tagarelar Boy Band dos infernos!—berrou, fazendo todos se encolherem. -Eu sou a maior autoridade aqui e exijo que vocês respondam a pergunta que lhes fiz!

Louis atou as mãos.

—Sem quere ofender, mas o Harry já fez isso. Ele disse a única e completa verdade: nós não temos um líder.

—Não temos mesmo.

—Pois é.  

—Só se for Kevin, o nosso segurança. Ele é um pombo!

O guarda ficou vermelho de tão irritado.

Já basta!—ralhou. –Vocês pensam que podem ficar aqui e me tratar feito bobo, mas não... Não na minha delegacia! Fiquem sabendo que só não estão algemados agora porque EU dispensei as algemas! –gritou, cuspindo horrores. –Querem saber da última? Eu os deixaria algumas horas de castigo na nossa “cela do pensamento”, mas não posso, porque já temos um empiastro ocupando lugar! —e apontou para o Doutor.

O Senhor do Tempo fez uma careta.

Empiastro? —murmurou, indignado.

O policial ignorou-o e prosseguiu com seu sermão.

—Já que vocês não poderão ficar presos agora, então eu sugiro que fiquem fora do meu caminho! Assim que eu decidir o que fazer com vocês, eu volto para a gente “trocar uma idéia”—ironizou, marchando para longe. O grupo relaxou os ombros quando ele se afastou. Porém, seu sossego chegou ao fim antes mesmo de começar, quando o rapaz da caderneta cruzou o hall de entrada, todo alvoroçado, trazendo caneta e papel consigo.

—Com licença... Harry Styles, não é? Oi, como é que vai? Será que vocês todos poderiam autografar esse papel? É para minha irmã, sabe...?—disse, entregando a folha e a caneta nas mãos de Harry. O rapaz entreolhou-se com o restante do grupo.

—Hã... . Tudo bem... –deu de ombros. –Zayn, será que você pode me dar uma mãozinha? –pediu. No momento seguinte, o rapaz de topete inclinou-se para Harry, e este usou suas costas de apoio para o papel.  

—Qual o nome da sua irmã?

—Bem... Ela... Ela se chama...

O policial gordinho estava a ponto de soltar fumaça pelas orelhas. Mais rápido que um raio, ele surgiu entre seu funcionário e os adolescentes, e confiscou o papel e a caneta, muito zangado.

O que é isso homem? Que absurdo! Estamos em horário de trabalho! As pessoas esperam competência de nós... Por acaso pensou que isso arruinaria nossa imagem!?

Nã-nã-não senhor...—o rapaz da caderneta engoliu em seco, quase desaparecendo por detrás do uniforme meio largo. –Desculpe. Não vai mais acontecer!—bateu continência e tratou de se retirar, antes que o outro tomasse alguma medida drástica para puni-lo. 

Aborrecido, o chefe da patrulha ajeitou a altura do cinto e desapareceu por um corredor. A garotada pode finalmente respirar fundo. E como respiraram... De um segundo para o outro, sua postura mudou drasticamente: agora eles estavam por todos os lados, jogados no sofá, arrumando o cabelo no espelhado da porta, e até mesmo sentados no chão. Melissa sentiu o sangue congelar e se concentrar nas bochechas, quando notou que o tal Harry vinha vindo em sua direção.

Tentou agir naturalmente.

—Oi. –o rapaz cumprimentou. 

—O-oi –Melissa gaguejou, de um jeito meigo. –Puxa, que chato, né? Parece que todos estamos tendo uma noite complicada...

—Pois é. Acho que “péssimo” talvez seria uma definição melhor...

Sim!—Melissa sorriu extremamente. Nem sabia que conseguia fazer aquilo. –E então, o que o traz aqui?

—Bem, na verdade, eu vim pegar alguns copos de café. Será que você poderia... –ele apontou para a máquina de café. Só então, Melissa percebeu que estava parada bem diante dela. Embaraçada, abriu caminho para ele passar.

—Hã... Desculpe.

—Não tem problema. –Harry abriu um sorriso incrivelmente largo para ela. Covinhas destacaram-se em seu rosto. Melissa ficou imediatamente apaixonada por elas. Harry prosseguiu: -Você também está tendo uma noite difícil?

E como! —Melissa bufou, encostando-se na bancada do café. –Na verdade, estou aqui por causa da minha própria mãe. Acredita que ela denunciou nosso amigo só porque eu e minha melhor amiga estávamos viajando um pouco com ele?

Nossa—Harry fez uma careta de aflição. –É tudo muito injusto, não é? Nós também fomos traídos por alguém muito próximo: nosso próprio empresário.

Melissa ergueu as sobrancelhas.

—Então meus ouvidos não me enganaram: Vocês tem mesmo um empresário.—Melissa parou para tomar um gole de café. –Hum... Vocês devem ser importantes, então.

Harry fitou-a com curiosidade.

—Não sabe quem somos?

Ela baixou o copo de café, novamente embaraçada.

—Ham... Bem... Tenho direito a alguma dica?

Harry achou graça.

Sério que você não sabe mesmo quem nós somos?

Melissa mordeu o lábio, constrangida.

Eu devia saber, né? Desculpe. É que, estive meio “desconectada” ultimamente...

—Não tem importância. –Harry colocou o copo em cima do balcão. –Eu adoro quando isso acontece.

Adora?—Melissa corou de leve, esperançosa. –Quer dizer que você gosta de garotas que não conheçam você, nem seu trabalho? Interessante...

—Não é isso. É que as turnês são sempre muito desgastantes e, no final, é sempre bom ter alguém que fale “normal” com a gente... Sabe? Que nos trate como pessoas normais e nos faça por os pés no chão, só pra variar.

—E eu fiz tudo isso?

—Sim, você fez. –ele confirmou.

Melissa prendeu a respiração.

Sabe...? Acho que nunca estive tão feliz pela minha ignorância—afirmou.

Harry sorriu para ela.

Enquanto os dois trocavam uma idéia, os outros rapazes conversavam entre si.

—Garotos, isso foi ridículo! Você viu o jeito daquele cara com a caderneta? –comentou Liam. –Eu sei lá, soou tão fingido!

—Concordo. –Zayn esticou-se no sofá. -Por que será que nenhum homem consegue admitir que é nosso fã?

—Aposto que ele nem tem irmã –Louis resmungou, entediado.

Niall cruzou os braços, aborrecido. 

Eu tô com fome!

Todos trocaram olhares por um momento. Por fim, a cela do Doutor chamou-lhes a atenção.

—Como é que vai, amigo? Esses policiais estão azucrinando você há muito tempo ou é recente? –sondou Louis.

O Doutor aproximou-se das barras de ferro que compunham o engradado.

—Se vocês soubessem o que me trouxe aqui, ficariam chocados.

—Sério? Não quer nos contar? Estamos doidos para sofrer um choque de realidade... –argumentou Louis. -Esse lugar é deprimente!

—Bem... –o Doutor ia começar a falar, quando percebeu algo de estranho pairar no ar. Piscou rapidamente. Olhou de novo e notou algo realmente diferente: Os rapazes, atentos às suas palavras; Os policiais atrás do balcão, assaltando um pote de biscoitos; Melissa e Harry, perto da máquina de café; A delegacia inteira havia congelado na pose. E, não só isso: o Doutor agitou o pulso esquerdo, e o relógio dourado, que sempre carregava consigo, escorregou para fora da manga, comprovando suas suspeitas.

Não só as pessoas haviam congelado, como também o tempo. O tempo havia parado!

Perguntou-se muitas coisas, inclusive porque só ele fora poupado do congelamento; Contudo, não teve tempo para pensar em uma resposta satisfatória, pois no “não segundo” seguinte, a porta da delegacia foi escancarada e as luzes se apagaram, de modo que apenas a luz que iluminava mal e porcamente o interior de sua cela, fora poupada.

Por entre novas indagações, uma figura encapuzada adentrou no espaço; Observou o ambiente, depois localizou o Doutor e caminhou sem demora, em sua direção.

O Senhor do Tempo engoliu em seco. Afastou-se das grades. Esbarrou com as costas na parede fria da cela, e respirou aceleradamente, quando o vulto estranho segurou uma das grades com a mão.

—Quem é você? O que quer? –perguntou o Doutor, por entre arrepios.

Sem fazer mais suspense, o encapuzado levou a mão livre à cabeça e empurrou o capuz para trás, revelando um rosto rosado e completamente humano. Porém, isso não era tudo sobre o recém chegado. Aos poucos, o Doutor foi assimilando semelhanças naquela fisionomia. Ele parecia tremendamente familiar, só que havia alguma alteração em seu perfil... Alguma coisa que estava diferente e, por sinal, estava dificultando seu reconhecimento. Por fim, o Doutor espantou-se ao constatar que aquele era Marty McFly, ninguém menos que o primo de Melissa.

—Ah! VOCÊ!

—Até que enfim! –zombou Marty, brincalhão como sempre. –Já estava ficando preocupado que você pudesse não me reconhecer...

—E eu quase não reconheci! –admitiu o Doutor, ainda pasmo. –Mas como? Onde? Desde quando...?

—Eu fiquei mais velho? –completou Marty, com ar de riso. –Eu cresci, Doutor. Você se lembra que nos vimos pela última vez em 1985? Bem, foi um longo caminho desde lá...

O Doutor escancarou os lábios.

Ah! Já entendi! Você é o Marty McFly mais velho! O que Melissa relatou ser um verdadeiro mala sem... –o Senhor do Tempo deteve-se, antes de terminar a frase. –Hã... Desculpe.

—Tudo bem. Eu tive muito tempo para pensar em mudar. A verdade é que descobri que minha esposa sofreria um acidente de táxi, no mesmo dia que eu me aposentaria. A lesão na coluna seria tão avassaladora, que ela ficaria de cama pelo resto da vida. Muito provavelmente, teria sido este o motivo de eu ter me tornado tão amargo e me afastar da família de Melissa. Obvio que ela não tinha como saber, já que eu era calado, e não gostava de comentar sobre minha vida pessoal com mais ninguém. A sorte, foi que o dr. Brown e eu demos um pulinho no futuro certa vez, e eu pude ver como as coisas aconteceriam, inclusive, cheguei a bolar um plano para evitar tudo isso. Depois, nós voltamos para o passado. Daí em diante, eu passei a viver o tempo na ordem certa e me esforcei ao máximo para que meu plano funcionasse.

O Doutor suspirou, depois que ele parou de falar.

—Lamento por sua esposa. –disse, em consideração. Marty deu a entender que os eventos haviam se concretizado, e que seu plano não conseguiu evitar o acidente da esposa. Contudo, ele deu uma gargalhada depois.

—Que nada! O acidente foi semana passada, e minha esposa está caminhando tão bem quanto sempre!

—É mesmo? Que bom! –o Doutor se animou. –Nem acredito que funcionou... Como você conseguiu impedir isso?

—Na verdade foi bem simples... Eu disse a ela: “Ei, querida! Não tenho nada para fazer agora... Não quer que eu te leve no trabalho hoje? Podemos ir no meu carro...”. E adivinha: Ela aceitou! Dá pra acreditar? “A desgraça de uma vida evitada pela gentileza de um marido desocupado...”.

O Doutor riu.

—Pois é! Está aí uma ótima lição de moral: “Devemos sempre ser gentis com nossas esposas”. –recitou. –Então, agora que você evitou essa desgraça, pode finalmente se entender com Melissa...

Marty fitou a prima de longe. Parecia meio inseguro.

—Não sei não. Tenho medo que ela não queira me dar uma segunda chance...

—Ora, deixe disso! Conheci um lado bem mais humano de Melissa, esses dias... Ela não é tão ruim como pensávamos.

Marty respirou fundo.

—Bem, em parte, isso é o que vim fazer aqui. A outra coisa, é libertar você.

—Sério? –o Doutor impressionou-se. –Falando nisso... Como você conseguiu parar o tempo? Foi você que fez isso?

—Na verdade é um dispositivo do dr. Brown. Hoje, ele não está mais entre nós, mas fez questão de deixar o aparelho comigo, para eu poder utilizá-lo no momento certo...

Os olhos do Doutor adquiriram um brilho lacrimoso.

—Quer dizer... Que aquele cientista brilhante faleceu?

Marty fez uma careta.

Não! Mais que idéia! Atualmente, ele está vivendo no Velho Oeste. Até onde sei, ele “juntou as escovas de dente” com uma professora chamada Clara, e teve dois filhos com ela.

—Ah. Ufa! Melhor assim!—o Doutor soltou o ar dos pulmões, já recuperado do susto. –Hum... No Velho Oeste, hein? Eu bem que gostaria de me aposentar por lá...

—Bom, fica aí uma idéia...—confirmou Marty. Então deu uma conferida no relógio de pulso e quase teve um mau-súbito. –Epa! Preciso tirá-lo daqui depressa... O efeito do Congela Tempo está se esgotando!

Com destreza, ele tirou uma ferramenta do bolso e cortou fora as algemas do Doutor.

—Obrigado –agradeceu o Senhor do Tempo, massageando os pulsos. –E agora? Você vai abrir a cela?

—Não posso. Lamento, mas não trouxe comigo nenhuma ferramenta capaz de cerrar uma grade, e também, você não poderia partir sem Luisa e Melissa. Elas precisam sair com você, mas será impossível enquanto elas estiverem paralisadas pelo efeito do Congela Tempo.

—Certo. Então teremos que bolar um plano –anunciou o Doutor, já botando o cérebro para funcionar. –Já sei! Eu poderia chamar a atenção dos guardas no balcão. Eles são poucos, então, se eu começar a gemer e fingir que estou passando mal, talvez eles abram a cela! Então eu aproveito o descuido deles, escapo, tranco-os dentro da cela, recupero minha chave sônica, chamo as meninas e juntos fugiremos o mais rápido possível daqui! –disse, então parou para refletir sobre tudo que acabara de dizer, e recordou-se de um detalhe que pôs tudo a perder. –Ah! Puxa vida... Eu me esqueci que as demais viaturas retornaram para a base trazendo esses garotos. Isso significa que a delegacia vai estar mais abastecida de policiais do que nunca... E que, muito provavelmente, há uma chance gigantesca de eu ser imobilizado por dez fortões, assim que colocar o pé para fora da cela... –lamentou.

Marty ergueu as duas sobrancelhas, sugestivamente.

—Bom... Isso em teoria. –interveio. –Porque na prática, você tem um elemento que não consta no seu “passo a passo”.

—É mesmo? –ele indagou, curioso. -E qual seria?

Marty sorriu torto.

Eu!—anunciou, animado. –Gostou da “referência” Doutor?

—Ei! Essa deixa é minha! –brincou o Doutor. –Mas, fiquei curioso, então conte-me: O que pretende fazer?

—Você quer escapar, mas precisa que esses guardas bobões deixem o caminho livre para vocês. Pois bem! Aqui está o que irá afastá-los: Daqui a três minutos, após o descongelamento do tempo, eu irei até o orelhão mais próximo e direi aos policiais que está havendo um assalto no banco central da cidade. Como estarei ligando do orelhão, eles não poderão rastrear a chamada, então, não saberão que fui eu que passei o trote. Caramba! Finalmente essa brincadeira idiota está servindo para alguma coisa...

O Doutor estava encantado com a elaboração do plano.

Rá! Brilhante!

Um ruído baixo foi ouvido e Marty apressou-se.

—Preciso ir. Esse é o aviso para eu saber que faltam apenas alguns “não segundos” para o efeito do aparelho do dr. Brown passar... –e dirigiu-se para a porta, lançando um último olhar para o rapaz. –Boa sorte, Doutor! –e fitou a imagem da prima, congelada, por um curto intervalo. –Espero que com isso Melissa possa me perdoar, e perceber que eu mudei.

O Doutor acenou para ele.

—Ela vai, McFly! Pode contar com isso! Até mais! E obrigado de novo!

Marty assentiu para ele. Olhou para a rua, respirando fundo, então sumiu pela porta. O Doutor observou o breu ao seu redor atentamente, esperando que o tempo voltasse a correr a qualquer momento. 

Demorou um pouco, mas, antes mesmo do que esperava, as luzes se acenderam num fleche e as pessoas seguiram com suas conversas, como se nada tivesse acontecido.

E... Barabumba! —murmurou o Doutor, pensando em como era cômico o fato do tempo “continuar de onde parou” e ninguém notar a pausa suspeita.

Os garotos no sofá entreolharam-se. Era obvio que para eles aquele comentário não fazia o menor sentido, já que na percepção deles, o Doutor ainda estava no começo da frase.

 

*     *      *

Nos fundos da delegacia, Nik corria alegremente, perseguindo uma borboleta; Ao mesmo tempo, Luisa mostrava para Ned a gravação que fizera da profecia do Oráculo, quando de repente, sentiu uma vibração estranha, só por um segundo.

—Ai –ela esfregou o peito. –Você sentiu?

—Sentiu? Sentiu o quê?

—Eu não sei direito explicar... Algum tipo de “Variação no Tempo”... Eu sei lá! –comentou Luisa, ressabiada com o desconforto. -É esquisito. Deve ser por causa das viagens no tempo que eu te falei. O Doutor diz que ficamos mais sensíveis quanto à percepção das coisas...

Sem pudor, Ned puxou-a para deitar a cabeça contra seu peito.

—Fique calma. Tenho certeza de que isso logo vai passar. –sussurrou, com os lábios prensados contra sua testa. Uma coisa lhe chamou a atenção, enquanto isso: -Vixi! Não posso afirmar sobre mim, mas seu celular com certeza sentiu alguma coisa... –anunciou. Luisa acertou a postura para checar o aparelho e surpreendeu-se ao constatar que a gravação do Oráculo estava em looping, e justamente na parte que falava sobre “cair no vórtice”.

A criança do Vórtice será amaldiçoada e terá seu destino traçado por um feiticeiro...”; “A criança do Vórtice será amaldiçoada e terá seu destino traçado por um feiticeiro...”; “A criança do Vórtice será amaldiçoada e terá seu destino traçado por um feiticeiro...”.

Ned e Luisa entreolharam-se abismados.

 

*     *      *

—Então, você dizia...? –instigou Niall ao Doutor, chamando-lhe a atenção de volta.

—Oh! –o Doutor pareceu meio surpreso ao encontrá-los ali, ainda esperando por uma resposta. “Na boa: Aquela conversa parecia ter acontecido á tanto tempo...”. –Ah, sim! Sim... Eu estava dizendo... Hã... Dizendo... –então parou de chofre, pensativo. –Não me lembro mais o que eu ia dizer. Enfim: Não esqueçam de escovar os dentes depois das refeições. É sempre bom evitar dentistas! —desconversou, sorridente, deixando todos confusos. Na real, o Doutor estava pouco ligando para isso; Queria mesmo era ouvir o telefone tocar a qualquer momento. Quando isso acontecesse, significaria que seu momento de escapar estaria próximo... Caramba: e além de ter que rezar para um montão de coisas se desenrolarem dentro do combinado, ele ainda tinha que torcer para conseguir encontrar Luisa a tempo de fugirem juntos. Ufa! Que complicação...

O Doutor checou o mostrador do relógio, disfarçadamente: já faziam dois minutos e meio desde que McFly fora embora. Olhou ansioso, para a bancada de atendimento dos policiais. O telefone continuava silencioso.

Dentistas? Hum... Eu não entendi. –disse Liam, com ar de riso.

Louis inclinou-se para Liam, cobrindo os lábios para sussurrar, muito sério:

—Deve ser por isso que ele foi preso: Esse cara deve ser pirado.

Triiiiiiiiiin! —o telefone finalmente tocou. O Doutor acertou a postura, inquieto. Ficou muito atento ao que o policial falava:

—Como? Um roubo? O quê? Fale devagar moço... Como? No centro da cidade? O Quê? Seqüestro, tiroteio, reféns? PUXA VIDA! –ele largou o telefone fora do gancho e correu desesperado para avisar o restante dos policiais, que haviam acabado de chagar à delegacia ainda há pouco. Pouco depois, passaram pelo hall de entrada vários homens de uniforme azul, e algumas mulheres também; muito falatório e correria se sucedeu. Aparentemente, muitos deles estavam preparando-se para fazer um lanche ou esticar um pouco as pernas, pois vários foram os casos de policiais que passaram re-abotoando camisas, empurrando rosquinhas goela abaixo, colocando quepes e distintivos às pressas.

Igualzinho McFly dissera que aconteceria: Todas as viaturas deixaram a base, e o posto policial ficou novamente aos cuidados de apenas três policiais (com caras de tontos) afundando-se nos biscoitinhos com coberturas gordurosas, e pondo os pés sob o balcão, folgados.

O Doutor sorriu, sentindo um arrepio na boca do estômago, somado a uma adrenalina eletrizante. Aquela era a hora de agir.

—Foi mal, pessoal, mas essa é a minha deixa... –o Doutor soprou aos meninos, lançando-lhes uma piscadela cúmplice. –Aaaaai!—em seguida gemeu, escorregando no chão, com as mãos apertando o estômago, e fazendo uma careta muito convincente, de pura dor.

Cacilda, era só o que faltava agora!—reclamou um dos policiais, barrigudo, aproximando-se da cela do Doutor, com muita má vontade. –Qual o problema, rapaz? O que está pegando?

—Por que não me pergunta “o que não está pegando”? Seria mais fácil de responder... –ele rugiu, irritado.

Á distancia, Melissa arregalou os olhos ao ver a cena seguinte por cima dos ombros de Harry.

—Meu Deus! O Doutor! –ela arfou, correndo para perto da cela. Harry foi atrás dela, juntando-se aos companheiros de equipe.

—O que foi? O que ele tem? O que é? –indagou o guarda, feito um banana.

—Como “o que é”? Ele está passando mal! Será que não ficou claro o suficiente? –reagiu Melissa, passando a frente do policial, para checar a situação do amigo. Quando fitou-o, seus olhos estavam realmente portando um brilho aflitivo. –Doutor... Fique calmo. Só... Diga-me o que está sentindo.

O Doutor teve que admitir: para alguém que não sabia sobre o plano, até que Melissa estava interagindo muito bem. Por entre uma pausa e outra, os olhos dele encontraram os dela. Melissa franziu as sobrancelhas de leve, ao que o rapaz lançou-lhe uma piscadela disfarçada, e gemeu logo em seguida, para dar continuidade ao seu quadro melodramático. A garota não sabia o que ele estava tramando, mas continuou cooperando, fingindo preocupação.  

Oh, meu Deus! Aquela crise hereditária de novo não!!!—inventou ela, levando a mão á testa em tom dramático, teatral.

—O quê? Qual o problema dele?—sondou o policial.

Melissa fitou o guarda como se ele fosse tonto.

Qual é o problema dele? QUAL É O PROBLEMA DELE? –Melissa repetiu, histérica, peitando o policial. –Oh! Mais que ingenuidade... Como consegue não saber o que ele tem? Até o meu cachorro é capaz de identificar esses sintomas! Como assim não consegue ver? Olhe! Olhe só pra ele! Olhe só a cara de boçal da criatura!—apontou. O Doutor ficou vesgo propositalmente, reforçando a informação. -Está vendo? E isso não é nada comparado ao que vem pela frente... Espere só até ele começar a soltar fumaça pelas orelhas e fogo pelas ventas... Vai ser um verdadeiro show de horrores!

Hããã...—o Doutor gemeu de novo, deixando o olhar distante. Melissa agilizou para chegar o desfecho.

—Rápido! Rápido! Tirem-no daí! Ele precisa tomar ar... Está tendo um ataque gravíssimo de Gemenite Uivante! Precisamos tirar ele daí agora mesmo, antes que a coisa fique pior... Rápido com isso!—gritou energica, enquanto o policial bobão se atrapalhava todo com o bolo de chaves.

Pronto, pronto, pronto, está aberta! —o policial abriu a grade, e Melissa ajoelhou-se na frente do Senhor do Tempo.

Oh! Meu pobre amigo... E pensar que a coitada da sua mãe nos precavera de que isso poderia tornar a acontecer um dia... Sinto muito. Luisa e eu devíamos tê-la escutado quando ela tentou nos avisar sobre levar leite com manga sempre conosco, por onde fossemos... –Melissa chorou, fingidamente. –Puxa... Ela era uma grande mulher! Sempre sabia o modo certo de cuidar de você...

Os cinco garotos observaram a cena, chocados, por cima dos ombros do policial. Este coçou a cabeça, confuso.

—Ué? Não dizem que “tomar leite com manga” pode matar uma pessoa?

Melissa fitou-o com petulância.

Isso é lorota! No caso dele, é a única coisa forte o bastante para conseguir acalmá-lo. –mentiu.

 O policial se empertigou, junto dos demais, alarmados. Luisa e Ned entraram na sala principal naquele instante, trazendo um Nik agitado na coleira.

—Vamos comentar isso com o Doutor. Garanto que ele saberá explicar essa coisa estranha que eu e meu celular sentimos... –sussurrava ela para o rapaz. Então deparou-se com todo aquele circo montado no hall de entrada, e quase teve um troço quando viu o melhor amigo naquele estado. –Oh, não... DOUTOR! –ela correu até ele, seguida de perto por Ned e Nik, que logo começou a latir, alvoroçado. –Que aconteceu? O que há com ele?

—Não se preocupe Luisa. Ele só precisa de um pouco de ar fresco... –disse Melissa, tentando suavizar um pouco as coisas. Ela sabia que a amiga nem desconfiava de que toda aquela encenação fazia parte de um plano de fuga.

—Vamos! Tire logo ele daí! –disse o segundo policial, aproximando-se do companheiro gordinho, com os dedos presos à fivela do cinto. O terceiro, que segurava firme numa lanterna desligada, também chegou logo em seguida, para observar a cena de perto. Pareciam um bando de urubus: loucos para ver o circo pegar fogo.

Melissa e Luisa ajudaram o Doutor a ficar de pé e, com muito custo, saíram da cela. No curto percurso em que estiveram em contato, o Doutor transmitiu mentalmente para Luisa o que estava se passando ali, e a garota respirou aliviada por dentro –ainda que, por precaução, procurasse manter a expressão discreta, diante dos demais observadores. Contudo, uma vez do lado de fora da cela, a ação finalmente começou: Num piscar de olhos, o Doutor empurrou um dos policiais, que se desequilibrou e caiu dentro de uma lata de lixo, entalando o traseiro gordo nela; enquanto Luisa e Melissa surpreenderam os outros dois com tubos de ketchup, que Luisa tirara disfarçadamente da Bolsa Que Tudo Tem. Como ambos os dois usavam óculos escuros, elas espirraram o molho em suas lentes, depois derrubaram o restante no chão, para eles escorregarem.

Diante da confusão, Nik uivou, feliz da vida; Entrementes, os rapazes da Boy Band sorriram, empolgados, enquanto o Doutor passou correndo por eles e recuperou sua chave sônica, que estava lambuzada dentro do pote de biscoitos.  

Argh!—ele fez uma careta, limpando o resíduo melequento na cortina. –Que nojo! Vocês não se enxergam não, hein? E se a minha chave sônica fosse “a pista mais importante para solucionar o crime mais audacioso do século”? Onde vocês armazenariam uma coisa dessas: “Dentro do pote de biscoitos”! Náá... Faça me o favor! –praguejou, retirando-se pela porta lateral. (Pretendiam sair pelos fundos da delegacia para não chamar atenção).

—Rápido! Corram vocês também! –Melissa pegou Nik pela coleira e, ao passar correndo, gesticulou para Harry, Louis, Niall, Zayn e Liam se juntarem à comitiva de fuga. –Vocês não querem passar a noite toda nessa delegacia, ou querem?

Eles nem precisaram responder. Todos já saíram correndo atrás dela. Luisa veio logo depois, seguida por Ned. Ele veio vindo com eles, mas com a desculpa de que “os alcançaria e tentaria detê-los”. Pois é, Ned teve que dizer isso aos policiais, afinal, seu pai fazia parte da equipe: e o que o sr. Bigby pensaria se mais tarde aqueles três homens relatassem que seu próprio filho ajudou os suspeitos a fugirem? –felizmente, os policiais ficaram atrapalhados dentro da delegacia e não conseguiram acompanhá-lo na perseguição, de modo que a desculpa serviu perfeitamente. 

Correram num pique só até o ex-estacionamento, onde Ned abriu-lhes o portão da garagem.

—Vão rápido! Antes que eles os peguem! –disse, dando-lhes motivação. O Doutor e Melissa, com Nik na coleira, passaram pela porta, agradecendo Ned e regendo o grupo de volta à rua Bannerman, correndo contra o frio gélido da noite; os outros cinco rapazes os seguiram sem pestanejar ou dar opiniões. Quando Luisa passou correndo pela porta, ela esperou por Ned, mas ele negou com a cabeça.

—Vá. Vocês precisam continuar. O Doutor ainda corre o risco de ser recapturado junto daqueles cinco garotos, e você e Melissa atingiram os policiais dessa vez... Acredite, eles não irão poupá-las desta vez, se conseguirem botar as mãos em vocês.

—O Doutor sabe se cuidar. Eu jamais duvidaria da capacidade de Melissa e Nik. E aqueles cinco parecem ser “maiores e vacinados”, devem saber contornar uma situação dessas... –ponderou. –Mas e quanto a você? Não pode ficar aqui e enfrentar essa barra toda sozinho... Não seria justo.

Ned contemplou-a.

—O mundo nem sempre é justo. Assim como nem sempre é o que parece ser –ele disse, com um brilho diferente no olhar: parecia mais confiante; inspirado, talvez... Com todas as coisas incríveis que ela lhe contara durante aquela maravilhosa noite; e especialmente, por saber que ela sentia algo por ele. –Vá! Ande logo, ou vai ficar para trás. Eu dou cobertura à vocês...

—Mas... –Luisa sentia que aquilo não estava certo. Ned pensou em despachá-la para fora ou em fechar a porta; Quem sabe assim, ela caísse na real e recuperasse o tempo perdido. Contudo, não teve coragem de fazer nenhuma das duas coisas. Sabia que seria arriscado ficar se demorando ali com ela, pois os três policiais da base poderiam aparecer a qualquer momento, mas ele também não sabia quando a veria de novo, e isso falou muito mais alto dentro dele do que todo o perigo eminente.

Movido pela adrenalina, Ned inclinando-se para fora do portão, tomou-a em seus braços e a beijou. Luisa aderiu perfeitamente ao beijo, que infelizmente acabou mais rápido do que ela gostaria.

—Agora vá. VÁ! –Ned afastou-a, fechando o portão.

Com um turbilhão de sentimentos fervilhando dentro de si, ela tentou muito mesmo não se perder ao refazer o caminho para casa.

 

*     *      *

Chegou na rua Bannerman e viu a TARDIS estacionada logo na esquina; Melissa estava na porta, esperando por ela.

—Oi Lu! Achei que não viria—brincou para com a amiga. Ao mesmo tempo, era possível ouvir os latidos animados de Nik, ecoando à distância, diretamente do quintal da casa dos Rivera.

—Ué, Méli, o Nik não vem com a gente? –Luisa perguntou, estranhando.

O Doutor achou melhor ele ficar desta vez. –Melissa disse, balançando a cabeça com ar de riso. –É que surgiram cinco lindos imprevistos das quais o Senhor do Tempo não conseguiu contornar –ela riu, segurando a maçaneta das portas azuis. –Você vai ver, ele tá piradinho com tantos hóspedes curiosos a bordo da TARDIS!

Luisa achou graça, e assim, ambas adentraram na cabine –que decolou logo em seguida.

Luisa mal entrou, deparou-se com os cinco rapazes –que também haviam fugido com eles da delegacia –fuçando o interior da caixa azul e o Doutor praticamente surtando com tudo isso.

—... Ei! Você aí! Não toque nos estabilizadores! Não, não, não, não, não! Fique longe do armário! Espere! Você nem pense nisso!—gritava com cada um dos garotos.

Melissa suspirou e tomou a frente de toda aquela confusão.

—Desculpem, pessoal. Este é o Doutor: ele fica meio irritado com gente nova no pedaço.—disse, para quebrar o gelo. –Mas não se preocupem com isso: Logo ele se acostuma. E essa do meu lado, é Luisa Parkinson. Minha melhor amiga! Eu sou Melissa Rivera, -ela fitou-os com cara de danada. -e, fiquem tranqüilos: Eu sei tudo sobre vocês.

Como?—Zayn disse. –Você é uma fã?

—Não, bobinho! Harry me contou. –ela revelou, cheia de expectativas. Harry foi bombardeado por todos os olhares possíveis, e atou as mãos, como quem diz “foi inevitável”.

—Uma Fã? Méli... Que história é essa deles terem fãs? –Luisa perguntou, curiosa.

Melissa sorriu, danada.

—É porque eles são uma banda nova, já mundialmente famosa... –explicou, quase nem cabendo em si. –Luisa, Doutor, conheçam o ONE DIRECTION. Gostaria de comunicar que: Eles vão ficar conosco de agora em diante!

Luisa sorriu, contente por ter mais gente na equipe. O Doutor estapeou a própria testa.

Só me faltava essa agora!


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Notas finais do capítulo

Sim! Digam olá para a 1D!!

Há anos trás, em 2012, uma amiga por quem tenho muito carinho até hoje, me apresentou esse quinteto maluco (assim como ao Nyah!fanfiction, e ao maravilhoso mundo literário das Fanfics. Isso mesmo! Foi ela que me inseriu nesse universo), e desde aquela época, eu decidi colocar a 1D na história da Luísa e fazê-los interagirem com a Melissa (que foi criada inspirada na mesma garota), em homenagem a nossa amizade e tudo que passamos juntas.
Creio que ela nem deva imaginar que eu concluí mesmo isso, pois passaram-se anos desde então... Porém, eu nunca esqueci nossa amizade, nem esquecerei aqueles tempos incríveis!
Bianca D.R, a próxima aventura é pra você!

Bjs cheios de nostalgia para todo mundo! *-*



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