Sangue, Suor, Lágrimas e Estilhaços escrita por Blue Blur


Capítulo 19
O Despertar de Sekhmet


Notas iniciais do capítulo

Após a deprimente derrota na batalha de Kenusa, as Crystal Gems mandam uma mensagem para o reino de Sebek



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A cidade de Kenusa continuava queimando. As tropas de ocupação de Homeworld iam adentrando a cidade, lidando com o que havia sobrado dos defensores, mas não havia mais nenhuma Crystal Gem que não fosse agora um punhado de fragmentos, e a maior parte dos humanos estavam se rendendo às forças invasoras. Ônix deu uma mexida no brinco direito que usava e de seu visor saiu uma projeção holográfica que mostrava a Comandante Hessonita.

(Ônix): A terceira onda já está adentrando. Não mandem mais veículos, apenas gems, a cidade foi tomada, repetindo: a cidade foi tomada.

Dois homens, vestidos com roupas de camponeses, saíram de uma casa destruída com as mãos para cima, gritando uma frase repetidas vezes:

— nahn lasna junud! nahn falahuna! la taqtaluna!

Jade, segurando um blaster que ela pegou de uma lignita destruída, e Larimar, com seu arpão, foram andando em direção aos dois, ainda em guarda. As duas não entendiam uma palavra do que era dito.

(Jade): É o quê? Hein? Falem um de cada vez, seus macacos desmiolados!

Jade atirou nos dois sem nenhuma cerimônia. Logo depois que ambas inspecionaram os corpos, Larimar ficou com uma interrogação na cabeça.

(Larimar): Afinal, o que eles estavam gritando?

(Jade, rindo): “Tapem seus narizes! Estamos podres! Estamos fedendo mais que enxofre!”

Em outro ponto, Esmeralda e Bixbita vasculhavam alguns corpos humanos e estilhaços gems, em busca de coisas importantes. Bixbita não conseguiu deixar de notar como as armas humanas estavam avançadas, apesar da aparência um tanto arcaica.

(Bixbita): Caramba, os humanos dessa cidade andaram bem ocupados! Dá uma olhada nisso, Esmeralda: lanças com disparos de blasters, escudos defletores, eles até têm umas armaduras bem resistentes. Essa aqui por exemplo, só não aguentou o disparo de blaster à queima-roupa. Eu aposto que aquele tal Rei dos Humanos roubava tecnologia das nossas tropas e entregava para... Esmeralda, você está bem?

Bixbita estranhou o fato de Esmeralda ficar ouvindo sua conversa e não dizer nada, mas ao se virar ela entendeu o porquê: a gem verde havia achado uma pedra triangular, coberta de terra. Ao limpá-la, Esmeralda reconheceu a coloração azul-bebê da pedra e a abraçou com força, com lágrimas nos olhos. Esmeralda também já tinha guardado consigo uma outra pedra, de coloração negra e forma losangular.

(Bixbita, solidária): Ah, Esmeralda, eu sinto muito. Mas ei, as pedras delas ainda estão intactas. Só precisa dar tempo a elas.

Esmeralda não disse nada, apenas continuou assentindo com a cabeça enquanto chorava, o que deixou Bixbita ainda mais chateada. A gem rosada não queria ver uma amiga tão abatida como Esmeralda estava.

(Bixbita, triste): Escuta, se você quiser eu posso levar as pedras da Celestita e da Jet para um local seguro. Assim você pode se empenhar em cuidar de outras gems que podem estar rachadas.

(Esmeralda): Você pode levar a Jet, mas eu faço questão de ficar com a Celestita. Tudo bem?

(Bixbita): Errrr, sim. Eu acho.

Depois de pegar a pedra de Jet, Bixbita continuou inspecionando a área até achar, próximo a um cadáver de um índio, uma machadinha de pedra (http://i112.photobucket.com/albums/n190/bonellihq/Gadgets/machadinha.jpg). Bixbita reagiu como se tivesse acabado de encontrar uma nota de 50 reais e saiu correndo para mostrar para uma de suas amigas gems.

Vários humanos andavam em fila indiana, com as mãos na cabeça, sendo conduzidos por vários quartzos rosas, que marchavam pelos quatro lados da coluna, como se fossem vaqueiras tocando gado. Ametista havia se colocado numa posição onde ela podia ver facilmente os diversos humanos que passavam por ela. Quando cada um chegava bem perto, ela afastava os cabelos, revelando uma marca em sua testa: um losango grande, dividido em quatro losangos menores (https://vignette.wikia.nocookie.net/steven-universe/images/d/db/Earthlings_034.png/revision/latest/scale-to-width-down/640?cb=20160811025746). Era basicamente o símbolo da Grande Autoridade Diamante, mas parecia ter sido entalhado na pele dela. Para cada humano que passava, ela fazia questão de exibir a marca em sua testa, enquanto repetia uma única palavra para cada um deles, com visível nojo.

(Ametista, com asco): Ahkvata! Ahkvata! Eu já fui prisioneira em Ahkvata, sabiam? Ahkvata! Ahk...

Bixbita interrompeu a Ametista e chegou com a machadinha em mãos.

(Bixbita, sorrindo): Ei Ametista, olha o que eu encontrei. Uma machadinha humana de guerra. Tirei de um humano de pele avermelhada.

Ametista deu um sorriso e pegou a machadinha.

(Ametista, sorrindo): Agora é só mais uma bugiganga para tacar em rubis irritantes.

Não, não era só mais uma “bugiganga para tacar em rubis irritantes”. Ametista ficou encarando aquele objeto por alguns segundos, e as lembranças começaram a vir num turbilhão: os gritos das quartzos amordaçadas e amarradas como animais, os brados animalescos dos humanos de pele vermelha. O som agonizante da lâmina cortando... o sorriso no rosto de Ametista foi se dissipando, até que seu rosto começou a se contorcer de dor e tristeza pelas lembranças vindo e a gigante púrpura jogou a machadinha para longe, como se tivesse raiva daquilo, e as lágrimas começaram a jorrar, compassadas por soluços. Aquilo deixou Bixbita mais chateada ainda. A pequena gem rosada de cabelos cacheados decidiu então simplesmente voltar ao trabalho.

Cornalina estava sentada no que parecia ser uma estátua da cidade, ou pelo menos o que restou dela. A oficial ficou observando tudo com uma expressão apática, muito diferente da que ela costumava fazer antes quando entrava numa cidade humana conquistada. Normalmente, ela entrava toda pomposa (até um pouco debochada, inclusive) na construção que aparentava ser a mais importante da cidade. Depois ela lia uns termos de rendição de mentira (afinal, a cidade já havia sido toda destruída. Não é como se aquele pedaço de papel fizesse muita diferença) para o humano que aparentava estar no comando. Depois prendia o humano e o levava ao zoológico ou o matava ali mesmo.

Na maioria das vezes, era a segunda opção que acontecia, isso porque os humanos geralmente ordenavam à sua guarda-real que lutassem até a morte em nome do “Echito”... ou será que era “Esbarda”? Teve uma vez que ela foi numa cidade chamada “Antenas”. Antenas de quê? O que é uma antena? A tecnologia gem não usa um aparato tão primitivo quanto esse, então era óbvio que, para Cornalina, aqueles nomes estranhos que eles davam para cada setor das facetas da Terra não significava nada para ela. Eram só nomes.

Mesmo assim, Cornalina ficou sentada ali, refletindo. De repente, lembrar daquele comportamento dela pareceu errado. Como se ela não devesse fazer aquilo. Claro, eram humanos e estavam atrapalhando a construção da colônia da Diamante Rosa, por isso deveriam ter suas cidades desmontadas e serem realocados nos mini-zoológicos, até que fossem considerados aptos para viverem no Zoológico Principal, que ficava no espaço sideral. Mas ela podia ter tratado eles, sei lá, com um pouco mais de respeito.

Antes, Cornalina não acompanhava as tropas nas batalhas, afinal, ela não era apenas uma estrategista, como também uma diplomata. Por não participar, ela normalmente tratava com desprezo as tropas que perdiam batalhas contra humanos, principalmente as ametistas e quartzos da Diamante Rosa. Mas depois que ela viu em Zoar e agora em Kenusa como os humanos lutavam, ela começou a rever sua conduta. A forma como os humanos lutavam mostrava muita inteligência e estratégia. Nem de longe lembravam as bestas ambulantes que saíam gritando e balançando paus e pedras descritas pelas ágatas.

Os pensamentos da oficial da corte amarela foram interrompidos quando sua companheira Jade apareceu com uma mensagem.

(Jade): Cornalina, a comandante Hessonita mandou chamar você.

(Cornalina): Obrigada.

Cornalina foi atrás de Hessonita, dessa vez sem ser acompanhada por sua companheira verde. Ao achar sua superior, percebeu que Ônix também estava lá.

(Hessonita): Cornalina Laranja, Ônix, eu gostaria de parabenizar as duas. A atuação de ambas neste campo de batalha foi esplêndida. O nosso trabalho em equipe permitiu nossa vitória contra as forças rebeldes.

(Ônix, seca): Foi um prazer servir à Diamante Amarelo, comandante.

(Hessonita): Ótimo, ótimo. Agora, nossas novas ordens: devemos aguardar aqui por uns tempos, enquanto os reforços não chegam, afinal, os humanos realmente fizeram um grande estrago nas nossas forças de ataque. Claro que isso é apenas um pequeno retardo em nossa marcha, mas com isso eles provaram que não devem ser subestimados. Quando estivermos prontas, o que não deve demorar muito, continuaremos marchando até conseguirmos eliminar o tal humano que lidera esses nativos resistentes.

(Cornalina): Desculpe-me comandante, mas os relatórios da inteligência apontam mais de um humano liderando essa resistência nativa. Pode ser que esses outros humanos montem um plano de retaliação e tentem encurralar nossas forças.

(Hessonita): Tolice. Mesmo que tenham um contingente grande o bastante para isso, eles não têm tecnologia para se comunicarem. Mesmo que cheguem a se comunicar, não conseguirão deslocar um contingente tão grande de forma rápida.

(Cornalina): Mas comandante Hessonita, era exatamente isso o que pensávamos naquela batalha da faceta 5 em que um humano sozinho atacou sua frot...

(Hessonita, séria): Eu sei exatamente o que aconteceu naquela batalha, Cornalina. Eu revi o relatório da batalha e aquela era uma situação diferente: os reforços vieram de um ponto muito mais próximo. Aqui não, eles terão que vagar por muito mais chão antes de chegarem até aqui, e mesmo que cheguem, os nossos reforços chegarão antes.

(Cornalina): Mas...

(Hessonita, séria): Cornalina, sei que você é um grande diplomata, uma das nossas melhores estrategistas, mas não seja arrogante.

(Cornalina, incrédula): A-Arrogante?

(Hessonita, séria): A nossa Diamante me colocou no comando e eu sei exatamente o que estou fazendo. Acredite em mim quando digo que tudo dará certo. Descansar.

Cornalina e Ônix se retiraram da presença de sua superior. Ônix parecia indiferente, mas Cornalina andava pisando duro e extremamente carrancuda.

(Cornalina, aborrecida): V-Você ouviu aquilo, Ônix? Dá para acreditar nas palavras daquela... daquela...? Primeiro ela diz para não subestimarmos os humanos para depois fazer exatamente isso! Francamente, eles fizeram ela fugir com o rabo entre as pernas e agora ela quer esperar aqui, sentada, com várias gems combalidas, por reforços? Sem levar em conta que o inimigo pode chegar a qualquer momento? Qualquer gem com meio cérebro saberia que deveríamos trazer naves de transporte e ficarmos sobrevoando o lugar, não há porque ocuparmos o solo desse jeito, sem falar que assim nos defenderíamos melhor dos humanos e...

(Ônix, rindo): Whoaa, vai com calma. Se continuar resmungando desse jeito, vai acabar verde que nem a Jade.

Cornalina deixou uma risota escapar, mas logo voltou a falar sério de novo.

(Cornalina): Ônix, isso não é hora para piadinhas!

(Ônix): Desculpe, é que é tão estranho ver você acusando a Hessonita de ser arrogante depois de tudo o que passou.

(Cornalina): Mas eu não sou arrogante!

Ônix apertou um botão em seu traje de batalha, reproduzindo algumas gravações antigas que fizeram Cornalina corar de vergonha.

“Ora, danem-se as ametistas! Um bando de terráqueas burras incapazes de dar um jeito naqueles macacos desmiolados! ”

“Ônix, com todo o respeito, mas só porque você fracassou na sua missão, não significa que eu deva fracassar na minha! Minha Diamante me ordenou a construir um posto avançado neste lugar e é exatamente isto o que vou fazer! Eu estou no comando agora, entendeu? ”

“Um truque um tanto simples. Foi nisso que você caiu? ”

(Cornalina): Essa vai ter volta, viu?

(Ônix): Eu sei que vai. Agora, por que não vamos nos reunir com nossas colegas de pelotão?

(Cornalina): Boa ideia.

Assim, as duas amigas foram andando para se reunirem com suas colegas enquanto o resto das gems cuidavam dos trâmites da ocupação.

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Uma escuridão implacável reinava no lugar, tão intensa que qualquer um que estivesse lá não veria um palmo à frente do nariz. Nesse lugar, Amennekht andava cambaleante. Em sua barriga, o horrendo corte que ele fez com sua própria arma já não doía tanto quanto antes e já havia parado de sangrar.

(Amennekht, confuso): Olá? Tem alguém aí?

Uma luz longe, de cor rosa com tons dourados, começou a se aproximar de Amennekht. Quando chegou perto o suficiente, Amennekht reconheceu Rubelita, acompanhada de Anúbis (https://pre00.deviantart.net/af27/th/pre/i/2015/105/a/6/anubis_by_officalrotp-d82b8m1.png). A luz rosa vinha da gem, a luz dourada vinha do deus egípcio.

(Amennekht, abraçando Rubelita): Rubelita!

(Rubelita): Agora está tudo bem, Ameni. Vamos ficar juntos, por toda a eternidade.

(Anúbis): Antes disso, Hórus, você deve passar pelo julgamento de Osíris. Você fez o que pôde no campo de batalha, mas não venceu por ser limitado por sua forma mortal. Mas tirar a própria vida? Isso é algo que pode trazer consequências incalculáveis, e você terá que responder aos deuses por isso antes que você e sua amada fiquem juntos de novo na próxima vida.

(Rubelita, nervosa): Amennekht? O que está acontecendo?

(Amennekht, nervoso): Está tudo bem, Rubelita! Eu só preciso ser julgado por Osíris, mas eu fui um homem bom. Tudo dará certo, Osíris é justo, ele não me jogará à Amnut por causa...

(Rubelita, nervosa): Não, eu estou falando DISSO!!!

Quando Amennekht se atentou, notou que sua mão estava se dissolvendo em pó lentamente. Isso fez o egípcio arregalar os olhos de surpresa e o deus egípcio grunhir de raiva

(Anúbis, irritado): Malditas sejam essas semideusas de cristal!

(Amennekht, assustado): Do que você está falando?

(Anúbis): Você ainda não pode ser julgado por Osíris. Como é sabido, só os mortos podem passar para a próxima vida.

(Amennekht, nervoso ao extremo): Do que você está falando? Eu ESTOU morto! Eu me atravessei com minha própria arma! Todas aquelas gems me viram morrer!

(Anúbis): Sim, elas viram. Mas você realmente achou que elas ficariam paradas vendo um amigo tão importante morrer?

(Amennekht): Mas o quê?

O resto do corpo de Amennekht foi rapidamente virando pó e se dissipando pelo vazio da escuridão enquanto o egípcio gritava de medo, de desespero, enfim, por causa de um turbilhão de sentimentos. Quando tudo acabou e o lugar ficou silencioso de novo, Anúbis soltou um suspiro.

(Anúbis): Devia ter mirado na cabeça, garoto.

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Amennekht acordou na cama de seu quarto, no seu palácio em Mênfis. Ao lado de sua cama, a fusão que salvou sua vida ainda estava lá, com uma aparência de que já estava aguardando há bastante tempo.

(Amennekht, incrédulo): E-Eu estou vivo? M-Mas como?

Amennekht olhou para sua barriga. Não havia nada, nem cicatriz, nem marca, nem mesmo uma pele de cor diferente, denotando um processo de cicatrização. Na verdade, ele nem sequer sentia dor ao se mexer, era como se o ferimento que ele causou no próprio corpo nunca tivesse existido.

A fusão, que aguardou pacientemente o despertar de Amennekht, voou para cima dele, o agarrou pelos ombros e começou a gritar com ele enquanto sacudia-o. Os dois olhos superiores tinham uma expressão de raiva, enquanto que os dois inferiores choravam (http://img1.reactor.cc/pics/post/SU-art-Steven-Universe-%D1%84%D1%8D%D0%BD%D0%B4%D0%BE%D0%BC%D1%8B-SU-%D0%9F%D0%B5%D1%80%D1%81%D0%BE%D0%BD%D0%B0%D0%B6%D0%B8-3040639.png)

(Fusão): POR QUE VOCÊ FEZ ISSO, AMENNEKHT??? VOCÊ QUASE ME MATOU DE SUSTO!!!

Amennekht pareceu ignorar o fato de que uma fusão gritou com ele, porque ele fez uma pergunta em um tom de voz bastante calmo...

(Amennekht): Foi você que me salvou?

(Fusão, mais calma): S-Sim...

... uma calma que apenas disfarçava o sentimento de revolta que ele sentia.

(Amennekht, gritando com a fusão): POR QUE VOCÊ NÃO SALVOU A RUBELITA??? ELA AINDA PODIA TER SIDO SALVA!!!

(Fusão): N-Não Amennekht, ela não podia... a pedra dela se estilhaçou quando aquelas explosões caíram perto dela. Tudo o que eu pude fazer foi recolher os estilhaços e entregar para...

(Amennekht, furioso): É MENTIRA!!! EU FALEI COM ELA!!! ELA AINDA PODIA AGUENTAR!!! ELA PODIA!!! Ela... podia...

A fusão novamente abraçou Amennekht, se controlando para não chorar de novo. O faraó estava quebrado por dentro. Não aceitava aquilo. Por que ele teve que perder a Rubelita. Depois de tanto tempo que ficaram juntos, por que teve que acabar daquele jeito? Eles não haviam feito uma cerimônia de casamento formal porque faltava tempo. Havia um reino inteiro para ambos administrarem, mas eles já estavam fazendo os preparativos. Inclusive acharam uma data livre para ambos fazerem a festa de casamento.

Só que aí teve aquela maldita batalha em Kenusa, e o rei ficou sem sua rainha.

Naquele momento, seu reino havia deixado de existir. Tudo o que restava era um amontoado de cidades aglomeradas, com Mêfis, sua cidade natal, no meio de tudo. Ele libertou trocentos humanos? Deu a eles vida, liberdade, um lugar para morar?

Dane-se.

Reconstruiu cidades destruídas, restabeleceu linhas comerciais combalidas, ressuscitou a linhagem de sua família?

Dane-se.

Nada mais importava.

(Fusão): Eu sei que talvez não seja uma boa hora para falar isso, mas eu mandei uma Crystal Gem viajar até a cidade do seu irmão para chama-lo. Ela vai voltar em breve e nós vamos te ajudar a recuperar a cidade perdida.

(Amennekht, apático): Aquela cidade não significa mais nada para mim, mas mesmo assim obrigado pela consideração...

(Fusão): Rainbow Quartz.

(Amennekht, apático): Rainbow Quartz. Escute, se não for pedir demais, quero que você me deixe sozinho por um tempo. Se alguém precisar de alguma coisa de mim, quero que você assuma tudo, ok? E não deixe ninguém entrar aqui.

(Rainbow Quartz): Mas Amennekht, e se você precisar de alguma coisa?

(Amennekht): Tem um sininho na mesa perto da minha cama. Vou usá-lo para chamar você.

(Rainbow Quartz): Amennekht...

(Amennekht): Chega Rainbow, eu preciso ficar sozinho.

A fusão saiu do quarto de Amennekht, cabisbaixa. Ao fechar a porta, Amennekht começou a ouvir um som de choro. Hathor (https://orig00.deviantart.net/3f82/f/2016/116/9/4/hathor__goddess_of_love_and_joy_by_sibauchi-da0bl96.png) estava sentada na cama do faraó, chorando amargamente.

(Hathor, chorando): Por que, Hórus? Vocês eram tão lindos juntos! Por que teve que acabar assim?

Amennekht estava sentado no chão, se apoiando com uma das mãos, olhando para baixo com uma expressão neutra. Hathor desceu da cama e foi até Amennekht, abraçando-o com força.

(Amennekht): Hathor, pare de me chamar de Hórus. Se eu fosse mesmo Hórus, eu teria salvado ela. Agora ela está... c-com Anúbis e Osíris... ela est-tá me aguardando... me aguardando no...

Amennekht não conseguiu terminar a frase porque voltou a chorar.

(Amennekht, chorando): Eu devia ter morrido em Kenusa! Então eu e Rubelita ficaríamos juntos pela eternidade! Se a Rainbow Quartz não tivesse intervido, eu...

— Que bom que ela não interviu.

Amennekht ouviu Hathor voltar a falar, dessa vez com uma calma extremamente anormal.

(Hathor): Você ainda está vivo. As gems de Homeworld não conseguiram te matar, e você vai fazer com que elas lamentem profundamente por isso.

Enquanto Hathor falava, seu corpo começou a mudar: sua pele bronzeada começou a assumir uma cor mais intensa, ficando ainda mais parecida com a cor do metal. Seu corpo sensual, rechonchudo e curvilíneo assumiu um formato mais esguio e musculoso. A voz da deusa também começou a engrossar.

(Hathor): Eu sei o que você quer, porque eu também quero. Sua mãe ensinou você a ser um guerreiro piedoso com suas inimigas. A nunca se igualar a elas, e foi justamente essa piedade que tirou a Rubelita de você.

Hathor se ergueu completamente transformada: agora ela tinha uma aparência similar à de um centauro, porém à parte equina era felina, semelhante à uma tigresa. Ela usava enfeites egípcios, tinha uma postura ameaçadora e falava com uma voz que demonstrava fúria intensa (https://orig00.deviantart.net/efb4/f/2015/055/1/3/sekhmet_card_by_mike_tr-d8jdaqw.jpg).

— Chega de derramar sangue, suor e lágrimas por conta dessa guerra, Hórus! Chega de amigas íntimas virando estilhaços! Mostre o seu poder! Vingue cada morte 100 vezes, não, 1000 vezes! Faça com que as invasoras chorem de agonia por pisarem em sua terra. Enxugue essas lágrimas e volte à luta! Então traga para mim, Hórus, os estilhaços de quantas gems puder carregar!

Amennekht então levantou o seu olhar, que agora estava carregado de seriedade. Uma feição dura, digna de um guerreiro calejado como ele.

(Amennekht): Sekhmet, me dê sua determinação! Ajude-me a ir até o fim para vingar Rubelita!

(Sekhmet): Se quer tanto assim essa sua determinação, terá que esquecer tudo o que Rose Quartz ensinou sobre empatia e piedade! Você verá inimigos aos seus pés, que tentaram te matar, implorando para que você não os mate. Alguns deles terão a aparência de mulheres indefesas, outros até mesmo de crianças. Ainda assim, você não deve hesitar. Se hesitar por um instante que seja, se sentir empatia pelo inimigo como sentiu naquele momento em Kenusa, você morrerá, sua linhagem morrerá, e Rubelita terá morrido em vão. Você está disposto a trilhar este caminho até o fim, sem hesitar?

Amennekht se lembrou do tal momento dito por Sekhmet. O momento em que sentiu pena das gems de Homeworld por estarem sendo forçadas a lutar contra suas irmãs. Pensou na hipótese delas serem libertas da tirania das Diamantes e virarem Crystal Gems. Lembrou-se das quartzos rosas que pareciam com sua mãe, das fusões rubis se desfazendo e sendo estilhaçadas.

Não, não podia mais haver tais pensamentos. Nada de empatia, nada de piedade, nada de perdão. Para impedir que outras gems queridas tivessem o mesmo fim de Rubelita, ele teria que abandonar estes sentimentos e adquirir uma determinação férrea.

Aquilo partiria o coração de sua mãe, é claro, mas faria com que sua pedra continuasse intacta.

(Amennekht): Estou, Sekhmet.

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Longe de Mênfis, na região do Oriente Médio, nas ricas e férteis planícies do vale de Sidim, estava Ahkvata, a cidade de Sebek, irmão de Amennekht. Os habitantes da cidade estavam em polvorosa: dois soldados, acompanhados de um destacamento, carregavam nos braços uma rubi exausta, com uma estrela tatuada em sua roupa, que tinha a pedra localizada no peito do pé. Os soldados se dirigiram ao palácio, abrindo a porta e mostrando a rubi para a corte. Na corte, estavam Sebek e Merit, sentado em dois tronos de tamanho igual. Do lado de Sebek estava Menob, seu guarda-costas pessoal e do lado de Merit estava Thanos, capitão do Esquadrão Platina. O rei e a rainha de Ahkvata ficaram perplexos com a chegada dos soldados, que prontamente trataram de explicar a presença da visitante de cristal.

(Soldado): Vossa Majestade, nossos homens estavam patrulhando os arredores da cidade quando encontraram esta rubi indo em direção à cidade. Ela tem uma estrela desenhada em seu uniforme e diz ser uma Crystal Gem. Ela também disse que seu irmão, o rei Amennekht do Egito precisa de sua ajuda.

Sebek arregalou os olhos e começou a falar.

(Sebek): Você aí, rubi! Consegue falar?

(Rubi): E-Eu *arf arf* c-corri p-por mais *arf arf* de 12 horas... *arf, arf* Preciso...

(Sebek): Homens, arranjem água e alimento para essa gem e tragam também um assento para ela!

Depois que foi dada esta ordem e a rubi começou a beber a água com ansiedade, mais para resfriar o corpo do calor infernal do deserto do que por alguma necessidade orgânica.

(Sebek): Thanos, Menob, levem estes dois homens para junto dos demais e reúnam o exército. Merit, convoque o povo, eu farei um discurso em breve, só preciso acertar os detalhes com esta gem.

(Merit): Sim, Sebek.

(Menob): Assim será feito, meu rei. *se dirigindo à Thanos* Capitão, está pronto para testar as novas armas?

(Thanos): Eu ia te perguntar a mesma coisa, guerreiro do povo obi-wan.

(Menob, confuso): Qual é a dessas piadas? Desde que eu disse que sou um anaquim, você sempre chama meu povo desses nomes esquisitos. Isso é algum deboche?

(Thanos): Rapaz, se você considera essas comparações um deboche, você deve ser um pica das galáxias.

(Sebek): Homens, por favor, retirem-se já.

Quando todos se retiraram, Sebek ficou sozinho com a rubi e tratou de perguntar algumas coisas importantes.

(Sebek): Quem é você?

(Rubi, bebendo a água): Eu sou a rubi J96Y, sou uma velha conhecida do seu irmão e uma das Crystal Gems. A cidade do seu irmão foi atacada pelo exército da Comandante Hessonita, uma das comandantes da Diamante Amarelo.

(Sebek, sério): O que aconteceu?

(Rubi): Uma das cidades, Kenusa, foi totalmente destruída pelas gems de Homeworld.

Ao ouvir aquilo, Sebek começou a bufar e a apertar com força os braços de seu trono.

(Sebek, tentando disfarçar a raiva): E quanto ao meu irmão?

(Rubi, triste): Ele viu a Rubelita ser estilhaçada e aquilo arrasou com ele. Ele está muito mal, tão mal que, por muito pouco, não tirou a própria vida.

Aquilo foi a gota d’água. Sebek se levantou do trono e foi andando até a pequena gem, que ainda se saciava com a água em abundância que deram a ela. O rei de Ahkvata arrancou o odre brutalmente da mão da rubi e o jogou para o lado no chão, deixando-a assustada.

(Sebek, agarrando a rubi): Vocês não suportam isso, não é? Não suportam ver humanos prosperando, não suportam vê-los tentando seguir em frente com suas vidas, não é mesmo? Não, mesmo que sua raça imunda tenha 75-80% do território deste planeta, não basta enquanto vocês não nos destruírem, não é mesmo? Enquanto não nos quebrarem por dentro e por fora!

(J96Y, morrendo de medo): Não, o que você está fazendo? Eu sou uma Crystal Gem, eu sou uma de vocês!

Sebek deu um murro na rubi e continuou falando.

(Sebek): Uma de nós? Acha mesmo que você, Rose, qualquer uma daquelas degeneradas vai ser uma de nós? Nós somos humanos, feitos de carne e osso. Nós sangramos quando feridos, choramos quando oprimidos! Somos seres vivos, com alma. O que vocês são? Não passam de pedras!

Sebek deu outro murro na rubi.

(Sebek): Monstros homicidas que assumem a forma de seres humanos! Assumem essa aparência humana para nos fazer hesitar, para que não tenhamos coragem de mata-las. Para que nutramos empatia por vocês.

Sebek agarrou a garganta da rubi com uma mão e com a outra sacou uma adaga de lâmina serrilhada.

(Sebek): Você acha que para mim uma estrela na sua roupa faz alguma diferença? Basta eu arrancá-la e você vira uma rubi como qualquer outra.

(Rubi J96Y): Não Sebek, por favor não, não, não, NÃO, NÃO, AAAARRRRRGGGGHHHH!!!

Sebek começou a talhar a pele da rubi, tentando arrancar fora a estrela desenhada em seu traje. Porém a dor que ela sentiu foi tão forte que ela desfez sua forma física. Sebek pegou a pedra dela e encaixou no engaste de ouro de um colar, então vestiu o adorno.

Depois disso, foi andando para fora da sala principal, até seu depósito pessoal de armas. Ele encaixou suas lâminas gêmeas em dois pilares pequenos, com um buraco que lembrava um encaixe em cada um, então girou ambas as lâminas para dentro. O chão começou a tremer e se abrir, revelando uma passagem secreta com uma escadaria. Sebek foi acendendo cada tocha, até chegar numa espécie de calabouço. Lá dentro, haviam várias gems com pedras rachadas, algemadas às paredes, todas em péssimo estado: havia ametistas e rubis carecas, com claros sinais de escalpelamento. Haviam umas poucas safiras com os vestidos rasgados e com o olho inchado por baixo da franja cortada. Havia peridotes destituídas de suas próteses. Enfim, havia várias gems, algumas ainda restritas à sua forma pétrea. Sebek passou por todas, ignorando os lamentos, choros e parcas ameaças de morte, até entrar numa sala no fim do corredor.

Havia uma coisa que Sebek sempre fazia quando ficava com raiva ao receber uma notícia envolvendo humanos sendo mortos ou atacados por gems: ele descia à essa câmara, entrava naquela sala, então puxava a pérola negra de seu anel e a jogava brutalmente contra a parede.

A joia, ao invés de atingir a parede, começava a flutuar em pleno ar, emitindo uma luz negra (https://img.gadgethacks.com/img/61/93/63578451000690/0/hack-turns-any-phone-into-black-light.w1456.jpg) que foi assumindo forma humana, até revelar a forma da Pérola Negra de Sebek (https://www.paigeeworld.com/post/5896a093974071be0e609f69/blackpearl-pearl-pearlsona-gemsona-stevenuniverse-drawing-by-kitty17). Ao recuperar sua forma física, a pérola negra começou a tremer intensamente, pois sabia o que a aguardava.

(Pérola Negra): Não, por favor não, rei Sebek! E-Eu sempre sirvo bem ao senhor! P-Por favor, não faça isso!

Sebek agarrou a Pérola Negra e bateu com o rosto dela na parede, depois deu uma joelhada na barriga dela e a jogou no chão. A gem começou a chorar, não entendia porque Sebek a odiava tanto. Na verdade, ela entendia, mas a forma como ela era tratada, a despeito de ser tão servil e mansa, era cruel.

(Pérola Negra, chorando): P-Por quê? Por que você faz isso comigo, Sebek? Eu sempre faço tudo o que você me pede! Eu sirvo suas comidas, suas bebidas, eu empresto meu corpo para você e para seus convivas. Eu danço para eles, deixo que eles me toquem! Mas você mesmo assim me odeia! Por quê?

(Sebek, cuspindo no rosto da gem): Você sabe exatamente por quê, sua abominação!

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Zoológico Gem – Alguns anos antes...

Conforme o plano de Thanos (ver Flashback de Thanos no capítulo 11), Sebek e o grego dividiram suas forças entre as duas alas e atacaram ambas. O plano deu certo, a despeito das dezenas de humanos mortos: várias gems foram poofadas e estilhaçadas. Uma lignita caída, com a pedra arranhada, pegou uma espada curta e tentou assumir posição de luta. Os humanos se jogavam contra as gems que ainda resistiam. Do nada um egípcio de cavanhaque curto e grisalho e cabelos também grisalhos avançou contra ela, se jogando com tudo no chão. O egípcio sacou uma mini-picareta e tentou acertar o rosto da lignita, mas ela pegou a espada curta e bloqueou. Os dois começaram a rolar pelo chão, brigando pela arma, até que o egípcio foi arremessado para longe, mas conseguiu segurar consigo a arma.

Uma pérola negra, assistindo a tudo, correu até um blaster jogado e apanhou algumas cápsulas esparramadas, então começou a armar o equipamento, enquanto sussurrava para si mesma.

(Pérola negra, cochichando nervosa): Abrir escoltilha, encaixar cartucho...

O egípcio ia pressionando a espada curta contra o rosto da gem, que lutava para não ser perfurada de uma forma horrenda.

(Pérola negra, cochichando nervosa): Apoiar blaster, apontar...

A lâmina estava tão perto que já havia até começado a arranhar a testa da lignita.

(Pérola Negra, cochichando nervosa): Os dois olhos abertos...

https://www.youtube.com/watch?v=wjBevX4NKgk

O egípcio caiu de cima da lignita. Sebek viu aquilo e gritou em pura fúria, então golpeou tanto a lignita quanto a Pérola Negra. Depois disso, voltou para o homem ferido, que era seu tio Menkara.

(Menkara, ferido): Intestinos... queimados... Não tenho... muito... tempo...

(Sebek): Não fala, tio, por favor não fala!

(Menkara): Há uma terra f-fértil no Oriente, a nordeste do Egito... v-você deve encontra-la... Uma terra que antes era ha-habitada por uma raça de gigantes, como seu amigo M-Menob. L-Leve s-sua irmã adotiva p-para lá.

(Sebek, sério): Eu vou levar Merit e o senhor para lá! O nosso destino será o seu!

(Menkara): V-Vá embora logo, S-Sebek. As outras gems estão chegando. C-Com um pouco de s-sorte, t-talvez v-você encontre uma cidade abandonada, e n-não totalmente destruída. L-Leve os fugitivos para lá. E-Eles o farão r-rei. Q-Quando isso acontecer, u-use seu poder apenas para p-protegê-los, ap-penas para o b-bem.

(Sebek, irritado): Não, eu garanto que quando for rei vou escravizar e massacrar cada gem que eu puder!

Menkara respirou fundo, o sangue saía de sua boca. Ele não tinha mais muito tempo de vida.

(Menkara, morrendo): Essa é sua última lição, meu sobrinho... Não v-vire... N-Não v-vire um dos monstros que jurou combater. L-Lute p-para proteger aquilo que você ama, não para dest-truir o que odeia.

(Sebek, chorando): Tudo o que eu amo já se foi.

(Menkara, morrendo): N-Não é verdade... s-sua irmã ainda está aqui...

(Sebek, chorando): Tio Menkara? Tio Menkara?

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Presente

(Sebek): Seu povo tirou a vida de muitos homens e mulheres de bem.

Sebek deu um murro no rosto da indefesa Pérola Negra, como uma forma de enfatizar sua fala.

(Sebek): Mas agora isso acabou. *outro soco* Ahkvata inverteu o equilíbrio cósmico! Presas agora perseguem predadores *outro soco*! Mortais matam imortais!

A Pérola Negra estava com a bochecha e o olho inchado, enquanto o outro olho já derramava uma torrente de lágrimas.

(Pérola Negra, chorando): E-Eu n-não sou como os quartzos que você está acostumado a enfrentar... eu sou só uma pérola. Sou uma serva, não um soldado... Eu só fiz aquilo para proteg...

Sebek interrompeu a Pérola Negra com outro soco no rosto dela!

(Sebek, furioso): NÃO ME INTERESSA O QUE CARALHOS VOCÊ É!!! TUDO O QUE IMPORTA É QUE EU JUREI VINGAR MENKARA FAZENDO CADA PEDRA FUDIDA SOFRER ATÉ DESEJAR A PRÓPRIA MORTE!!! EU SOU SEBEK, FILHO DE MENKARA, REI DE AHKVATA E EU TEREI MINHA VINGANÇA!!!

Usando sua adaga de lâmina serrilhada, Sebek cortou a forma física da Pérola Negra ao meio, reduzindo-a a fumaça.

Isso, é claro, sem estilhaçar a pedra.

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— Meu povo, irmãos e irmãs de Ahkvata, ouçam minhas palavras. Nossa história será escrita com o derramamento de sangue, suor, lágrimas e estilhaços.

Sebek apareceu diante de todo o povo de Ahkvata do alto da janela de seu palácio, vestindo a mesma túnica unissex que todos usavam quando eram prisioneiros no zoológico gem (https://pm1.narvii.com/6415/22203d9a4217f233473a08786de29cd2ab0e9035_hq.jpg).

(Sebek): Esmagando os exércitos de nosso inimigo, roubando sua tecnologia e usando em prol de nosso povo, vamos lutar por nossa sobrevivência! As tiranas que buscam negar-nos a paz, que buscam tirar de nós nosso lugar de direito nessa terra sentirão nossa fúria com tamanha força que toda a sua descendência chorará em agonia!

Todos ouviam cada palavra inflamada de Sebek, incluindo Merit, com a maior atenção do mundo. Até que num certo ponto o discurso de Sebek começou a perder o ritmo, assumindo uma solenidade triste. Quase que um clima de luto.

(Sebek): Uma mensageira de meu irmão me contou uma coisa que me deixou abalado: enquanto brindávamos nossa prosperidade, fazíamos amor com nossas mulheres e realizávamos fartas colheitas, o reino de meu irmão foi atacado covardemente. Ele perdeu uma de suas cidades, perdeu sua rainha, perdeu seu espírito de luta. Não me sinto no direito de exigir que me sigam, pois muitos de vocês me seguem desde o início, e é compreensível que agora queiram seus tempos de paz... porém, por mais difícil que seja, devemos aceitar a realidade dura: não teremos paz enquanto existir uma única gem na face da terra. Meu irmão perdeu seu espírito de luta, e eu sinto que, como seres humanos, devemos nos unir e ajudá-lo a recuperar isso. Porque no final das contas, é tudo o que temos. Que o inimigo despedace nossos corpos, mas que jamais possa despedaçar nossos espíritos.

Ao ouvir aquela notícia sobre Amennekht, Merit segurou as lágrimas, e todos que escutavam aquilo começaram a ficar igualmente tristes e desmotivados. Mas aquele não era o fim do discurso.

(Sebek): Nesse momento, enquanto discurso a cada um de vocês, as gems avançam sobre nosso lar para tomar pela força o que não podem ter por direito. Mal sabem o que guardamos para elas... NÃO DEIXAREMOS QUE NOSSOS IRMÃOS SUCUMBAM ÀQUELA RAÇA GENOCIDA!!!

Todo o povo de Ahkvata bradou em concordância ante aquelas palavras.

(Sebek): Ainda que suas mãos voadoras façam chover fogo sobre nós, nunca mais nos curvaremos a elas! Nunca mais seremos trancafiados em gaiolas! Nunca mais elas sugarão a fertilidade de nossas terras! Lutaremos como um só povo, uma só nação! Nós furaremos os olhos de suas videntes, arrancaremos os escalpos de suas guerreiras! Nós escravizaremos as sobreviventes e obrigaremos elas a reconstruírem o que tiraram de nós, tijolo por tijolo! Vamos afogar seus sonhos de glória nas profundas e sombrias poças de piche de Sidim! Vamos semear toda esta terra com os estilhaços delas! Quando a última gem agonizante for reduzida a uma nuvem de fumaça, fincaremos a bandeira de nosso povo sobre as ruínas das cidades destruídas! Isto será uma mensagem às Diamantes: ISTO É AHKVATA E NÓS NÃO TEMOS MEDO DE VOCÊS!!!

Ao pronunciar esta última frase, Sebek rasgou sua túnica diante de todos, revelando estar usando uma armadura por baixo, uma armadura que ele construiu usando tecnologia gem.

O povo de Ahkvata bradava em alta voz o nome de Sebek, em triunfo e comemoração. Merit, por outro lado, estava chocada com a violência das palavras de seu irmão de consideração. Era quase como se ele nem lembrasse das Crystal Gems, que também eram gems e que eram simpáticas à causa dos humanos.

Do alto do palácio, admirando a multidão, Sebek deu um largo sorriso. Quase como se quisesse ilustrar o sorriso do rei, o sol jogou seus raios de luz no colar de rubi que ele estava usando, fazendo a pedra emitir um brilho fraco por alguns segundos.

Música de encerramento: https://www.youtube.com/watch?v=f-sQhBDsjgE


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Notas finais do capítulo

Antes de mais nada, um pouco de mitologia egípcia para vocês: Sekhmet é a deusa da vingança e da guerra, e na mitologia egípcia ela é meio que a versão maligna de Hathor, a deusa do sexo, do amor e da beleza. Ao ver a maldade do povo egípcio, Hathor se transformou em Sekhmet e passou a aniquilar os egípcios, sendo impedida posteriormente por Rá, que a embebedou e a fez voltar para sua forma pacífica.

Nesse capítulo, como fica subentendido, começa o período de decadência do Amennekht. O outrora guerreiro íntegro e irrepreensível agora encara a verdadeira face de uma guerra, sendo tentado a abandonar o caminho das Crystal Gems e seguir o seu próprio caminho. Isso será importante para eu apresentar a história de fundo de outra personagem, inclusive mostrando aqui um dos meus headcannons favoritos de Steven Universo.

Na segunda parte do capítulo, temos novamente o rei Sebek reunindo o Esquadrão Platina e o seu exército para sair em socorro de seu irmão. Acho que não preciso mais dizer muita coisa, já que aqui eu revelei praticamente toda a história do Sebek: como ele escapou do zoológico, como ele conheceu Thanos e Menob, como ele chegou à Ahkvata e virou rei, como ele realmente conseguiu aquela pérola negra... com isso eu vou passar a escrever o background de outro personagem humano que está ganhando grande destaque.

Espero que tenham gostado do capítulo. Eu volto a atualizar a história assim que eu atualizar "Além de Rainhas e Generais", minha primeira história 100% original. A propósito, o nome da música que toca no encerramento é "Helghan Forever", do jogo Killzone 2. Sinceramente achei que combinaria muito bem com o cenário.



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