Sangue, Suor, Lágrimas e Estilhaços escrita por Blue Blur


Capítulo 1
Um Exército Diferente de Qualquer Outro


Notas iniciais do capítulo

No século XXX A.C. pescadores egípcios encontram misteriosas pilastras espalhadas ao redor do Rio Nilo. Temendo que as pilastras caíam e contaminem as águas sagradas, os egípcios começam a trabalhar para a retirada delas, danificando várias delas e provocando a fúria de um povo guerreiro totalmente desconhecido



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Egito – Mais ou menos 3000 anos a.C

Comerciantes egípcios vagavam em seus barcos pelo rio Nilo. Ainda era o início da manhã quando aquela pequena frota comerciante, formada por cerca de 5 barcos, saía de Mênfis, a capital do Egito, e rumava para Desnushet, levando suprimentos como trigo, cevada e pescados. Os tripulantes admiravam a paisagem: O Rio Nilo era considerado uma dádiva dos deuses, detentor não só de grande beleza como também da fonte de sobrevivência daquele povo.

(Capitão da frota): Ptah abençoa nossa frota com esta maravilhosa manhã. Nesse ritmo, estaremos de volta a nossas casas antes do meio-dia.

(Imediato): Isso é verdade. Creio que o deus Ptah tem interesse nas boas relações que sua cidade protegida, Mênfis, deseja fazer com Desnushet. A princesa Merit estará chegando hoje. Espero que cheguemos a tempo de ver o cortejo real.

(Imediato): Eu também, mas nosso trabalho é importante. O faraó deseja que levemos estes suprimentos e especiarias para abastecer a cidade e o palácio de Desnushet, como prova de nossa boa vontade. Nós com a carga, o faraó com a recepção pomposa, é um trabalho conjunto.

O tripulante olhou algo no horizonte, algo muito estranho: às margens do rio Nilo, havia o que pareciam ser várias pilastras de ferro, sustentadas ao solo com 4 suportes metálicos, ao menos um dos lados possuía uma face revestida pelo que parecia ser vidro, ao invés de ferro. No topo de cada uma daquelas pilastras havia o que parecia ser uma enorme joia preciosa de cor vermelho-escuro. Algumas daquelas misteriosas pilastras haviam caído para dentro do rio.

(Imediato): Capitão, cuidado à frente.

O capitão olhou para as pilastras, tanto as que ainda estavam nas margens quanto as que estavam caídas para dentro do rio.

(Capitão, alertando a frota): Atenção homens, há obstáculos à nossa frente! Diminuam a velocidade! Nós trafegaremos esquivando deles!

(Imediato): Senhor, o que acha que são essas coisas?

(Capitão): Não faço ideia, mas é algo que o faraó deve saber! Aquelas pilastras misteriosas estão na iminência de desabar no Rio Nilo e poluir estas águas sagradas. Elas devem ser removidas, e seja lá quem as construiu, deve ser castigado por tentar macular as águas sagradas do Rio Nilo.

A frota continuou navegando calmamente, se esquivando dos eventuais obstáculos. Os tripulantes dos outros barcos olhavam atônitos para aquelas estranhas construções. Inicialmente eram todas parecidas: possuíam cerca de 10 metros de altura, eram feitas de ferro, sem pintura, com uma enorme joia vermelha no topo (https://vignette1.wikia.nocookie.net/steven-universe/images/4/4d/Injector_png.png/revision/latest?cb=20150829230141). Porém, a última das pilastras era diferente: possuía cerca de duas vezes e meia da altura das outras e era pintada predominantemente de rosa, com algumas partes brancas (https://vignette.wikia.nocookie.net/universosteven/images/4/45/Pink_diamond_injector.png/revision/latest?cb=20160905063154&path-prefix=es), aquela era a última das pilastras, depois de passar por ela, o resto do caminho estava livre.

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A cidade de Mênfis estava em clima de festa. Um grande cortejo passava pela via principal, trazendo em uma liteira a princesa de Desnushet, Merit, uma garotinha de mais ou menos seis anos, que estava acompanhada de seus pais. Merit usava cabelos bem curtos, como era o costume do Egito Antigo, uma peruca cheia de enfeites com joias, e se vestia elegantemente, com um vestido de linho enfeitado com fios de ouro. Os arautos que conduziam o cortejo gritavam alegremente: Todos saúdem a princesa Merit e a família real de Desnushet! Viva a princesa Merit!

O cortejo parou em frente ao palácio real de Mênfis, onde o faraó e sua esposa aguardavam. Ao lado deles estava o príncipe Amennekht, com cerca de sete anos. Ele tinha a cabeça totalmente raspada e estava vestido como um príncipe, com o enfeite característico em sua cabeça e a túnica característica, bem como um gorjal (aquele colar característico dos egípcios, bem largo mesmo) e alguns anéis em seus dedos. Os pais de A família de Merit desceu do cortejo e seguiu a família de Amennekht para dentro do palácio real.

(Faraó): Filho, eu e sua mãe conversaremos com nossos visitantes no salão real. Leve a princesa Merit para brincar com você e Sebek no harém.

(Amennekht): Está bem, pai. *se dirige* vamos Merit, meu irmão provavelmente está no pátio, vendo os soldados treinarem.

Sebek era o irmão caçula de Amennekht. Ele tinha cinco anos, sendo menor que seu irmão mais velho, porém um pouco mais “fortinho”. Ao contrário de Amennekht e Merit, que tinham a pele bronzeada, a pele de Sebek era mais escura. Mesmo tão novo, Sebek tinha como passatempo favorito assistir aos treinos de seu tio, o capitão Menkara da guarda real. Como esperado, Amennekht e Merit encontraram Sebek assistindo a uma “aula” ministrada por Menkara.

(Menkara): Então, pequeno Sebek, é importante manter uma postura que lhe dê bastante equilíbrio na hora de lutar, bem como segurar sua arma firmemente, e o mais importante: não importa se você estiver avançando ou recuando, não tire os olhos do seu oponente!

(Sebek): Entendi tio, mas quando vamos começar a treinar na prática? Eu queria tentar um duelo de verdade.

(Menkara, rindo): Hohoho, adoro seu entusiasmo, mas sabe o que seu pai, o grande faraó, pensa: você deve crescer mais um pouco para empunhar armas de verdade. Quando estiver tão grande e forte quanto seu irmão, começaremos os treinos.

Menkara era o irmão caçula do faraó, que foi nomeado chefe da guarda real. Ele tinha cerca de 40 anos, enquanto o faraó já estava beirando a casa dos cinquenta anos. Menkara era ainda mais negro que Sebek, com sua cor, beirando mesmo o preto, e seus traços africanos eram bem mais aflorados que a maioria da corte egípcia, como seus lábios carnudos. Menkara era um senhor bastante alegre e adorava seus dois sobrinhos, mas tinha apreço maior por Sebek. Como Amennekht já era preparado desde cedo para ser faraó, Sebek pretendia substituir o tio como capitão da guarda real. Tal interesse do pequeno era o que o unia ao capitão Menkara.

(Merit): Ei Sebek, vamos jogar Senet.

(Sebek): Depois, agora meu tio está me ensinando técnicas de luta de espadas.

(Amennekht): Sebek, faz isso depois, a Merit veio nos visitar. Você pode assistir essas aulas qualquer hora.

Os três então foram para o harém, onde começaram a jogar Senet, um jogo de tabuleiro popular no Antigo Egito.

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Enquanto isso, no salão real, o faraó conversava com os pais de Merit, que governavam a cidade de Desnushet. Eles se mostravam bastante preocupados com um incidente que havia acontecido próximo ao rio Nilo.

(Pai de Merit): Grande Hórus vivo, sabemos como tem interesse em fortalecer as relações diplomáticas entre Mênfis e Desnushet, e é justamente por isso que viemos humildemente pedir ajuda com uma emergência.

(Faraó): Digam qual o problema.

(Pai de Merit): Nossos trabalhadores e pescadores acharam enormes pilastras construídas próximas às margens do Rio Nilo. Elas são enormes, com cerca de 10 metros cada, sustentadas por quatro suportes cada. São bastante resistentes, de maneira que nenhuma ferramenta que temos é capaz de quebra-las. No topo de cada pilastra, há uma espécie de joia vermelha esculpida. Nossos artesãos levantaram a hipótese de serem rubis, mas são grandes demais para serem rubis.

(Faraó): Muito estranho. Sabem que povo foi responsável por construir tal coisa?

(Pai de Merit): Infelizmente não. Mandamos batedores atrás de alguém que possa saber, mas não há ninguém no deserto que seja minimamente suspeito de construir aquelas coisas. Bem, há os hititas do deserto, mas os poucos comerciantes que achamos e interrogamos se mostraram tão surpresos quanto nós.

(Faraó): Alguma hipótese de qual seja o propósito dessas construções?

(Pai de Merit): Nenhuma, ó grande Faraó, mas elas devem ser removidas o mais rápido possível. Algumas delas desabam após a areia ceder ao avanço das águas, e elas desabam sobre o Nilo. Além de oferecerem perigo aos pescadores, estão poluindo nossas águas. Pedimos que o grande Faraó envie alguns trabalhadores para escavarem as bases na direção oposta, para que não caiam mais sobre o rio.

O faraó pegou a réplica do cajado e do chicote e os empunhou de forma cruzada, como era o costume de fazer na hora de dar uma ordem de grande importância.

(Faraó): As pilastras que ameaçam poluir o sagrado Nilo devem ser derrubadas. Seu material será usado em futuras construções. Qualquer povo que tentar intervir deverá receber uma advertência, ao ignorá-la sofrerá as consequências.

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(Merit): Casa da sorte, isso!

(Amennekht): Como é que você sempre parece tirar as melhores casas, Merit? Acho que já caí em casas de água umas duas vezes.

(Merit): É questão de habilidade. Sua vez, Sebek.

Sebek jogou as tábuas, e enquanto ele movia a peça, Amennekht e Merit começaram a conversar.

(Amennekht): É tão bom quando você vem me visitar, pena que seus pais só vêm à Mênfis a trabalho. O que os trouxe aqui dessa vez?

(Merit): Há umas pilastras misteriosas que foram encontradas à beira do rio Nilo. Meus pais acreditam que elas foram construídas por algum povo estranho do deserto. Eu acredito que sejam altares dedicados a alguma divindade, há os que acreditam que sejam grandes silos, mas de qualquer forma, eles devem ser derrubados, porque muitos estão caindo no Nilo e o poluindo.

(Amennekht): Isso é terrível! O Nilo é nossa fonte de sustento, não pode ser maculado dessa forma!

(Merit): É o que eu acho, mas tenho medo de que ao demolir essas pilastras o povo que as construiu se zangue e declare guerra ao Baixo Egito.

(Sebek, rindo): Pois que venham! Meu pai é o Hórus vivo na Terra, ele pode destruir qualquer inimigo e qualquer povo!

(Amennekht): Meu irmãozinho tem razão, não há uma nação capaz de nos derrotar, por mais desafiadora que seja, mas de qualquer forma, não acho que haja alguém louco para nos atacar.

(Merit): É verdade, nós somos o maior povo do deserto, abençoados pelos deuses. Nem os hititas, nem qualquer outro povo terá poder contra nós enquanto formos favorecidos por Hórus. A propósito, é sua vez, Sebek.

(Sebek): Já joguei, é a vez do Amennekht.

Pobres crianças, mal sabiam que seus dias de paz estavam contados. Em breve o Egito enfrentaria uma ameaça diferente de tudo o que já haviam visto.

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Tão logo a ordem do Faraó fora dada um grande contingente de trabalhadores foi mobilizada para a tarefa de remover as misteriosas pilastras, escoltados por vários soldados armados com lanças, escudos e espadas, bem como arqueiros núbios. Os trabalhadores haviam atravessado a madrugada trabalhando, como as pilastras eram bastante resistentes às ferramentas usadas, a solução encontrada havia sido escavar ao redor dos suportes para que as pilastras desabassem com o peso na direção oposta ao rio Nilo. Ocasionalmente, quando uma pilastra desabava ela liberava um conteúdo esquisito: uma espécie de líquido multicolorido com alguns cristais sólidos.

(Escavador): Vejam, vejam o que encontramos. Uma das pilastras se abriu e liberou um líquido estranho acompanhado dessas pedras.

(Capataz): Pelos deuses, são cristais de quartzo rosa! São lindos demais! Escutem homens, há pedras preciosas dentro dessas coisas! Derrubem-nas e abram, então serão homens ricos!

Motivados pelas palavras do capataz, todos começaram a escavar ainda mais rápido. Quando uma pilastra caía, eles passavam a golpear a face vítrea ou a junta que ligava a grande joia vermelha ao resto da pilastra. O resultado era o mesmo e fazia todos comemorarem: um líquido iridescente, que refletia várias cores, jorrava juntamente com pequenos cristais preciosos, como quartzos rosas, rubis, ágatas, safiras... aqueles achados motivavam os egípcios a continuarem trabalhando.

— O que raios vocês estão fazendo? Parem com isso já!

Os trabalhadores voltaram sua atenção para a criatura estranha que havia gritado: ela tinha uma aparência humana, mais ou menos a altura de uma criança. Sua pele era vermelha, seu cabelo tinha um formato lembrando um quadrado e em sua roupa estava estampado um losango rosa. Mas o mais estranho é que ela tinha uma pedra vermelha cravejada no antebraço. Outras criaturas iguais a ela apareceram, formando um grupo de cinco no total. Todas elas tinham losangos rosas estampados em suas roupas

(Uma das criaturas estranhas): Rubi, o que aconteceu? Que gritaria é essa?

(Rubi): Aqueles humanos, estão destruindo os injetores e roubando as amostras de DNA!

(Outra das criaturas): Ei vocês, larguem isso agora e vão embora!

(Capataz): De jeito nenhum! Este é o Rio Nilo e nós somos os soldados do Faraó, governante supremo do Egito e o Hórus vivo na Terra! Vamos retirar essas coisas que ameaçam poluir nossas águas!

(Rubi): Estes injetores pertencem à Homeworld. Nós somos rubis à serviço da colonizadora deste planeta, a grande Diamante Rosa! Sumam daqui ou sofram as consequências!

(Capataz): Soldados, em formação! Se preparem para o ataque!

As cinco criaturas, que se identificaram como “rubis”, se juntaram em uma formação estranha. Um brilho as iluminou e depois disso havia apenas uma única rubi, muito maior que as cinco anteriores. A rubi gigante avançou contra os soldados egípcios, derrubando-os com murros e pontapés.

(Capataz): Arqueiros a postos, mirem nos olhos da criatura.

Distraída com os soldados egípcios, a Rubi gigante nem percebeu os arqueiros núbios até que as flechas lhe atingissem o rosto. Um brilho surgiu e a rubi gigante se fragmentou nas cinco rubis menores. Os soldados egípcios avançaram sobre as rubis e cravaram suas lanças e espadas nelas. Surpreendentemente, ao invés de sangrarem, elas explodiram numa nuvem de fumaça, restando apenas um pequeno rubi vermelho no chão. Quatro rubis foram “poofadas”, a quinta acabou fugindo, não sem antes fazer uma última ameaça ao exército egípcio.

(Rubi, sacudindo o punho no ar): Vocês vão pagar por isso, humanos! A Grande Autoridade Diamante não vai tolerar isso! Esperem só até nossas guerreiras chegarem!

Depois da rubi ir embora, o capataz deu novas ordens aos subordinados.

(Capataz): Uma emissária de um povo inimigo nos fez uma ameaça grave! Temos que reportar tudo ao Faraó!

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Naquela noite, Amennekht, Merit e Sebek ainda estavam brincando, conversando e se divertindo. Merit quis mostrar um presente que havia recebido de seu pai: uma adaga de lâmina curva e empunhadura de ouro, com uma cruz ansata escupida no final do cabo.

(Merit, guardando a adaga na bainha): Meu pai me deu essa adaga e me ensinou a usá-la. Ele disse que nenhum exército inimigo espera que uma princesa saiba lutar, então ele me ensinou autodefesa. Mas isso é só o começo, eu pretendo aprender a lutar de verdade, então um dia serei tão forte quanto você e Sebek.

(Amennekht, rindo): Merit, lutar é coisa de homens. Uma mulher mal consegue segurar uma espada, quanto mais lutar numa batalha de verdade. Acho melhor você não ficar alimentando esses sonhos bobos.

(Merit, rindo): Acha mesmo? Ei Sebek, vamos ver se você está prestando atenção nas aulas do senhor Menkara. Me ataque.

(Sebek): Minha mãe disse que é feio atacar mulheres. A deusa Hathor não gosta disso.

(Merit, dando uma piscadela debochada): Está com medo de perder para uma mulher?

Ao ouvir tal desafio, Sebek não perdeu tempo e se jogou contra a garota. Os dois rolaram pelo chão algumas vezes. Sebek ficou por cima, mas Merit enroscou as pernas em seu tronco e girou para o lado, conseguindo “montar” em Sebek e colocar a adaga (embainhada, óbvio) em seu pescoço.

(Merit, rindo): Eu ganhei.

(Amennekht): Com o Sebek é fácil, ele é pequeno. Quero ver você fazer isso comigo.

(Merit): É só vir.

Amennekht pensou que sua força bruta fosse prevalecer contra a menina, mas subestimá-la foi um erro: usando a mesma técnica que usara contra o irmão caçula de Amennekht, a princesa de Desnushet conseguiu prevalecer sobre o príncipe de Mênfis.

(Merit): Eu ganhei outra vez.

(Mãe de Amennekht, entrando pela porta): Crianças, o jantar está sendo servido, venham comer.

As crianças foram e comeram, depois voltaram para o harém, onde continuaram brincando. Após alguns minutos, cansadas pelo dia cheio e pela comida farta, todos se deitaram lado a lado numa luxuosa cama e começaram a conversar.

(Merit): Eu queria que esse dia nunca acabasse.

(Amennekht): Ah, sempre há um dia depois.

(Merit): Você tem muita sorte de ter um irmão para te fazer companhia.

(Amennekht): Está brincando? Você é que tem sorte por ser filha única e não ter um fardo para te perturbar toda hora.

(Sebek, irritado): Ei, eu não sou um fardo!

(Merit): Mas você pelo menos tem alguém da sua idade para te fazer companhia. Eu só tenho as empregadas do meu palácio, e elas não costumam ter muito tempo livre para mim, então eu fico brincando com o gato da minha mãe.

O sorriso de Merit pareceu murchar um pouco, o que desagradou Amennekht. Ele gostava do sorriso de sua amiga, por isso tratou logo de dar um abraço nela, um abraço tão abrupto que a fez corar levemente.

(Amennekht): Não pense nisso, está bem? Você está em Mênfis agora, e se tudo der certo, você vai ficar aqui bastante tempo. Esse é o meu palácio e vou fazer de tudo para que você se sinta muito bem hospedada.

(Merit, bem corada): Awwn Amennekht, obrigada.

(Sebek, rindo e cantarolando): O Amennekht vai se casar com a Merit, o Amennekht vai se casar com a Merit.

(Amennekht, irritado): Para com isso Sebek, não posso me casar com ela, é minha melhor amiga!

(Merit, ainda corada): É, isso seria muito esquisito!

(Sebek): Eu só estou brincando, ninguém aqui vai se casar com ninguém. Somos todos só amigos. Quem quer saber de casamento? *Blergh*

(Amennekht, rindo): Sim, nós somos só amigos, e seremos amigos enquanto durar o glorioso Egito.

(Merit): Ou seja, para sempre.

(Sebek): É isso aí, gente.

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Mais tarde, naquela noite, a rainha de Mênfis e as crianças já estavam dormindo. Na verdade, a maior parte do palácio já dormia, alguns dos poucos que ainda estavam acordados eram o faraó e o capitão Menkara da guarda real. Eles estavam montando uma estratégia de batalha para proteger Mênfis de um ataque do exército inimigo. O faraó se mostrava bastante intrigado ante as informações apresentadas por seu irmão caçula.

(Menkara): Irmão, os relatos trazidos pelo capataz e pelos soldados da escolta são bastante intimidadores. Eles relatam ter visto um grupo de cinco soldadas de um povo inimigo, todas bem parecidas, com peles vermelhas, cabelos em um corte cúbico e do tamanho de crianças, essas soldadas se auto intitulam “rubis”. Mas o mais estranho é que ele relata ter visto essas soldadas se unirem e virarem uma criatura gigante, mais estranho ainda é que, segundo os soldados, elas foram atingidas pelas lanças e explodiram em uma nuvem de fumaça, sumindo sem deixar rastros.

(Faraó): Alguma dessas “rubis” escapou?

(Menkara): Apenas uma.

(Faraó): Então o exército inimigo não vai demorar para chegar, talvez esteja aqui em alguns dias. Temos que proteger a família real de Desnushet. Organize as tropas, eu vou liderar a defesa de Mênfis pessoalmente.

(Menkara): Sim, Hórus vivo, mas temo que essa insólita habilidade das inimigas de aumentarem o próprio tamanho poderá ser um problema para nós.

(Faraó): Isso é algo que devemos tomar cuidado, mas não se preocupe tanto. Se formos realmente atacados por um exército de guerreiras do tamanho de crianças, podemos vencê-las.

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No dia seguinte, a cidade amanheceu em polvorosa. Um caos generalizado havia se espalhado pela cidade. Menkara correu rapidamente para o quarto onde estavam o faraó, a rainha e seus filhos, Amennekht e Sebek.

(Menkara): Meu faraó, acorde rápido!

(Faraó, despertando): O que significa isso, Menkara? Qual a razão de toda esta balbúrdia?

(Menkara, assustado): Pescadores estão espalhando uma notícia: um exército está marchando para cá, temos que nos preparar para a batalha.

(Faraó): Pelos deuses! Como é possível que tenham chegado tão rápido? Querida, leve as crianças para o palácio real! Menkara, proteja minha família, eu liderarei nossos homens na batalha!

(Sebek, assustado): Papai, o que está acontecendo?

(Faraó): Inimigos estão prestes a atacar nossa cidade, eu vou liderar nossos soldados na batalha.

(Amennekht, assustado): Eu estou com medo!

(Mãe de Amennekht): Não se preocupe filho, vai dar tudo certo.

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Em questão de uns 30 minutos, o exército egípcio já marchava para a entrada de Mênfis. Graças ao alerta prévio de Menkara na noite anterior, um contingente de mais ou menos 20.000 homens estavam prontos para a batalha, entre eles lanceiros e espadachins a pé, arqueiros núbios e comandantes em suas bigas. O grande exército egípcio então parou em frente à cidade, formando um grande aglomerado humano disposto a proteger a capital do Egito.

(Faraó): Onde estão os invasores? Eles já não deviam ter chegado?

(Menkara): Veja, ó rei, aí vêm eles.

Os soldados egípcios pararam para contemplar o exército inimigo, uma das forças militares mais insólitas com que já haviam se deparado: os soldados eram totalmente diferentes entre si, nem pareciam ser de um mesmo povo. Haviam soldados do tamanho de crianças, as rubis, com seus característicos cabelos em formato cúbico. Haviam também soldados robustos, com peles de cor lilás, com uma longa cabeleira branca. Haviam ainda soldados de pele rosada, com um traje que parecia mais de diplomatas do que de soldados. Enfim, haviam soldados de todas as formas e tamanhos, sendo que a única coisa que compartilhavam em comum era o losango estampado em seus peitos, a maioria era rosa, mas haviam também alguns que eram amarelos e azuis.

A organização do exército invasor também era deveras estranha: muitos dos soldados sequer carregavam uma arma, sem falar que haviam apenas cerca de 1000 invasores, um número um tanto baixo para uma força de ataque.

(Faraó): Esses invasores são loucos! Realmente acham que podem nos superar com um contingente tão baixo? SOLDADOS, ATACAR!!!

Uma das guerreiras de pele lilás prestou atenção ao grito de guerra do Faraó e não ficou atrás.

(Guerreira lilás): Expurguem essa praga daqui, em nome da Grande Autoridade Diamante!

As invasoras tomaram a iniciativa, avançando com tudo em direção à Mênfis. Os arqueiros núbios dispararam uma salva única de flechas, atingindo em cheio o exército inimigo. O resultado, porém, foi inesperado: a maioria das invasoras continuou correndo, com as flechas cravadas em seus corpos, como se nada tivesse acontecido, apenas umas poucas rubis estouraram na característica nuvem de fumaça.

(Arqueiro núbio): Pelos deuses, como puderam resistir às nossas flechas?

(Faraó): Avançar!

Os cavaleiros lideravam o exército egípcio, com o resto da infantaria correndo com lanças em riste, enquanto as invasoras avançavam em sua maioria com os punhos cerrados e os braços cruzados em frente ao rosto. Quando as hordas se colidiram, o que deveria ser uma batalha virou um massacre: as guerreiras inimigas mais robustas avançavam sobre as bigas como se fossem elefantes, atropelando os cavalos e os cavaleiros. Uma guerreira de pele azul sacou um chicote de dentro de sua pedra, localizada no braço, e golpeou uma outra biga, fazendo-a arder em chamas. Avançando com sua khopesh em punho, o faraó galopava fatiando as soldadas inimigas pelas costas, algumas poofavam, mas a maioria apenas cambaleava e voltava a lutar como se nada tivesse acontecido.

A forma de lutar das invasoras era totalmente diferente do que estavam acostumados os egípcios: elas não precisavam de armas ou armaduras, a maioria simplesmente se jogava sobre os lanceiros e acabava com eles na base dos socos. Agarravam os arqueiros e davam chutes tão fortes que eles cuspiam sangue, algumas vezes em jato. Os perplexos egípcios continuavam lutando sem saber o que fazer, quão grande era o susto deles ao verem as invasoras resistindo a ataques que eram suficientes para matar um homem normal.

Uma das guerreiras, de pele dourada e cabelos curtos, usando uma armadura marrom e empunhando uma arma que parecia uma mistura de porrete com lança, derrubou o faraó de sua biga. O rei do Egito avançou com um ataque de lança, mas a guerreira, de feição totalmente estática, agarrou a lança e quebrou sua ponta com um golpe de sua arma, depois disso, ela partiu para o ataque. A despeito de seu tamanho, ela era bastante ágil, golpeando várias vezes o faraó, algumas ela errava, outras ela acertava em cheio o escudo, que começava a envergar e a rachar.

(Soldado egípcio): Meu rei!

A guerreira simplesmente deu um tabefe no soldado que veio socorrer o faraó, derrubando-o na hora. O faraó aproveitou a brecha para usar sua kophesh e dar um corte na perna de sua oponente, depois perfurar-lhe o braço com a arma, porém a pele da guerreira se mostrava bastante resistente, de forma que tanto o corte quanto a perfuração foram extremamente rasos.

A despeito dos ferimentos, a guerreira não emitia um som sequer. Agarrando a kophesh, ela a jogou para o lado oposto. Desarmado e num profundo ato de desespero, o faraó deu um murro no rosto da oponente. De nada adiantou, servindo apenas para deixar sua feição, que já não era muito amigável, ainda mais hostil. Girando sua arma no ar, a guerreira ergueu seu bastão-lança no ar e deu um golpe certeiro, perfurando o peito do faraó, que caiu morto na mesma hora.

Ao presenciarem a morte de seu líder, os soldados egípcios passaram a atacar com mais ferocidade ainda, se jogando como loucos para cima das guerreiras maiores e, surpreendentemente, chegando a poofar mais algumas. Cinco soldados egípcios enfiaram lanças e espadas no peito de uma das guerreiras, de pele roxa, fazendo-a poofar. Os egípcios param por um momento para analisar a situação: estavam em menor número, seu líder supremo estava morto, e mal haviam conseguido eliminar algumas das invasoras, porém eram a única coisa que separavam aquelas poderosas guerreiras da cidade de Mênfis. Sem hesitar, sem tremer de medo, eles novamente avançam contra elas, dando tudo o que tem pelo bem da capital de seu país.

O HÓRUS VIVO NA TERRA CAIU PERANTE DEUSAS FEITAS DE PEDRAS PRECIOSAS...


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Notas finais do capítulo

O primeiro capítulo já começa com uma batalha entre egípcios e gems. Eu tentei ao máximo caprichar na forma como as gems lutariam, porque o desenho não mostra muito as gems de Homeworld lutando como exército, então eu tive que improvisar. Como havia a crença na época do Egito Antigo de que o Faraó era um deus encarnado, haverá diversas referências à mitologia egípcia nessa minha história. Espero que tenham gostado desse capítulo.

QUIZ: Pela descrição, qual tipo de gem matou o faraó?



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