MUTANTES & PODEROSOS I - O Segredo dos Poderosos escrita por André Drago B


Capítulo 34
Capítulo 33 - Amizade


Notas iniciais do capítulo

Penso que, às vezes, a espada pesa. E quando isso acontece, a mão dói, mas o prazer da guerra nos leva a continuar: temos motivação. O problema é quando levamos o pior de todos os golpes: o desanimo.
Desanimei sim! Confesso: pensei em desistir. Pensamentos podem voltar: posso voltar a cogitar de desistir da história algum dia. A parte boa é que essa cogitação não apaga que já foi escrito.
Me ajudem a continuar lutando pelos nossos personagens, leitores! São vocês quem os mantém vivos.
Obrigado!



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CAPÍTULO 33

AMIZADE

A areia fofa dificultava os passos deles, cansando-os mais. Todos os três estavam cansados, mas Kheryan era o que mais demonstrava isso. Sua respiração estava pesada e ele soltava suspiros sucessivamente. Ainda se sentia gelado, até mesmo pela chuva que caía sem cessar. As nuvens acinzentadas brilhavam de azul à medida que um raio passava, e o barulho dos trovões deixava o jovem shajaita com medo. Sempre quando um estourava, ele fechava os olhos fortemente e tentava ignorar o som, que o fazia ter dor na barriga. E se um raio caísse? Ele poderia torrá-los ali mesmo. E se a chuva o matasse de frio? E se...

—Está com medo dos trovões? – perguntou a loira.

  Ele mexeu a cabeça positivamente.

—Dos trovões? – repetiu ela.

—N...nunca fui mu...muito fã de tro...trovões e nem de chu...chuva.

  Taya sorriu.

—Gosto de chuva e do cheiro que vem com ela.

—Na mi...minha terra é b...bem seco. Chu...chuvas são raras lá. N...nem sempre as t...temos.

—Sério? Acho que por isso você não está acostumado com ela, né? – Taya indagou e ele apenas mexeu a cabeça positivamente. –Bem...me conta sobre você. De onde você vem?

—So...somos da tribo Sha...Shajaea, que fica em te..terras pra além do mar. Lá nós somos trei...treinados para sermos co...corajosos gue...guerreiros.

—O que não é o seu caso, né? – Kira interrompeu-os bruscamente.

—Kira! – repreendeu Taya.

—O quê? Eu só acho que ele não é muito corajoso para guerras.

  Taya olhou para ele e viu o olhar triste do jovem, que apenas mantinha sua visão em seus pés.

—Me desculpe! – disse Kira, ao ver a cara dele, fingindo se arrepender.

—N...não! Você está ce...certa. Eu n...não sou um guerreiro. É por isso que eu fu...fugi. Eu de...detesto guerras e de...testo Shajaea. – ele parecia estar indignado, com muita raiva na voz, o que fez Kira e Taya se entreolharem. –Foi numa gue...guerra que me...meu pai morreu.

—Lamento! – disse a Mutante pelas duas. Ele apenas balançou a cabeça negativamente e continuou a andar em silêncio. – Bem! Eu morava com meu pai e minha mãe...

—Taya... – Kira chamou, repreendendo-a por começar contar sua história para aquele estranho, mas ela ignorou.

—Meus pais eram padeiros, por isso minha casa ficava no meio de um campo de trigo. Não estávamos em uma situação difícil, e eu amava morar naquele campo entre aquelas duas colinas.- ela suspirou, relembrando com tristeza do lugar que ela amava. –E eu tinha dois amigos: Luke e Isaac.

—Eram os dois que estavam com você pouco tempo atrás? – perguntou Kira, e recebeu a resposta com um movimento positivo da cabeça.

—Isaac era o que puxava o cavalo e ele é um Corriqueiro, como você, Kira. – ela deu um leve sorrisinho. – Mas Luke, meu outro amigo... –ela parou e se lembrou que não eram mais amigos. –Ele é mais do que um amigo para mim. Bem...perto dele tudo fica mais ...diferente!

  Ela deu um sorriso de lado, sentindo o cabelo molhado e grudado pela água em seu pescoço. Encolhia-se para se proteger do frio, tal como os outros, principalmente Kheryan, e eles tinham que falar mais alto para que a chuva não abafasse suas vozes.

—Mas, um dia, aquilo aconteceu...–Taya olhou para a areia e tentou evitar chorar. – Tivemos que deixar meus pais em casa para que os guardas hangarienses não descobrissem que as pessoas que moravam ali fugiram. Eles ficaram para distraí-los e nós três fomos fugir.

  Kira segurou o ombro direito de Taya, como se para consolá-la.

—E o pior de tudo é que nós nem sabemos o porquê de começarem a prender os Mutantes. – Taya balançou a cabeça.

   “Eles não sabem o motivo para os guardas os prenderem!”, Kira se surpreendeu. Pensou em contar para ela, mas afastou a ideia depois. Se ela já estava chorando ali, ficaria indignada ao saber o motivo. Poderia matá-la quando descobrisse que ela era filha de Lorde, rica e que tinha apoiado a ideia de prendê-los.

—Espere, co...começaram a pren...prender todos os Almusukh? – perguntou Kheryan.

—Larughut? Que?  -perguntou Kira, tendo seus pensamentos atrapalhados pelo comentário de Kheryan.

—Almusukh! – corrigiu o jovem, sem gaguejar.

—O que é isso?

—São os Mu...Mutantes, como vo...vocês os chamam.

 Os três seguiam andando pela areia, o portão ainda longe, o céu ainda tomado por enormes nuvens cinzas. Kheryan olhou para trás e viu os navios, manchas distantes. Esperava nunca mais ver a cara daqueles ignorantes. Finalmente tivera a oportunidade de fugir, graças aos deuses. Rapidamente agradeceu a eles por isso, em sussurros.

—Então Kira, conte-nos a sua história. – disse Taya.

 A jovem foi tomada de surpresa por essa pergunta. Hesitante, disse:

—Então, eu...eu...eu sou filha de ferreiro. É isso!

—E como você chegou até aqui? Estava procurando o seu irmão, não é?

—Bem...sim! Ele fugiu de casa e eu fui procurá-lo, com a permissão dos meus pais, que não podem deixar o negócio parado.

—Espera, me perdoe a pergunta, mas...seus pais deixam de procurar o próprio filho pelos negócios?

  Kira hesitou e percebeu a falha na fala.

—É! – ela só conseguiu dizer isso. –Meus pais nunca ligaram muito para nós, sabe? Sou só eu e Jackie. – Até que não era tão mentira assim pensar que estavam praticamente a sós nesse mundo agora.

  Ela fingiu tristeza só para tentar tornar a mentira mais real. Mas mentiras nunca são reais. Ainda assim, Taya e Kheryan pareceram convencidos. “Ou são muito bestas ou sou muito boa em mentiras!”.

 -E quem é Harry?

—Harry? Ele é só um amigo. O conheci em uma vilazinha, procurando Jackie. – Kira falou.

—E...eu não tenho a...amigos em Sha...Shajaea.  –Kheryan pareceu triste.

—Uau! Isso é realmente bem triste. – disse Kira, irônica, claro.

  Taya parou de andar. Em seu rosto havia um sorriso enorme. Ela chegou perto de Kheryan e o envolveu em um abraço. Ele sentiu uma mistura de alegria com confusão.

—Agora você tem uma amiga!

—Taya, o que você está fazendo? Acabamos de conhecê-lo.

  Taya ignorou Kira, e Kheryan sorriu, os cabelos molhados e colados na testa, tais como os de Taya. Ele voltou a abraçá-la, e depois disse:

—Obrigado!

  Taya não respondeu, apenas deu um sorriso de lado e voltou a andar. Kheryan olhou para Kira, que ainda estava parada pasma à sua frente.

—Não vai achando que eu vou fazer o mesmo não, viu? – ela voltou a andar, indo até Taya. Apesar dessa resposta, Kheryan não se sentiu triste, mas alegre. Nunca se sentiu tão recebido por alguém desde seu pai, a única pessoa que lhe era mais preciosa.

  Ele voltou a correr até as jovens, que andavam logo à frente, enquanto os gritos da cidade foram se tornando cada vez mais abafados pelo barulho da chuva forte.

  Após horas andando, os três já estavam cansados o suficiente para não conseguirem mais prosseguir. Tudo em volta já estava começando a ficar escuro, e as tochas no muro que cortava a praia da cidade não seriam acesas do lado de fora pela chuva. Nem as do lado de dentro: os guardas estavam distraídos demais para se importarem com tochas. Ainda havia gritos, correria, desespero na cidade depois do muro, mas as três figuras ignoravam.

  Kheryan andava meio encolhido, os ombros esticados, os braços cruzados, no objetivo de conseguir mais calor. Sentia muito frio. De vez em quando, quando escutava um resquício da voz de alguém, seja criança, mulher ou homem, sofrendo, sentia um arrepio. Ou um frio na barriga. Ou os dois. Sentia ódio daquela tribo infernal e todas as suas maldades que eles chamavam de coragem.

—Já chega! Não consigo mais andar. – gritou Taya.

—Taya, o portão está mais perto do que nunca. Aguente, pois já estamos chegando lá.

—Kira, nós andamos o dia inteiro. Não podemos parar para descansar por pouco tempo?

—Não dá para parar agora. Onde vamos ficar com essa chuva?

—L...lá! – disse Kheryan, apontando para uma daquelas ruelas estreitas e de apenas alguns metros de comprimento, que saiam da cidade até a praia, passando pelo meio do muro, com teto arredondado, como um portal. Afinal, era um portal.

  Taya foi andando até lá, e Kheryan a seguiu, apoiando a ideia de descansar um pouco. Kira revirou os olhos, mas aceitou. Não podia achar que estavam todos preparados para as adversidades cansativas da luta e da fuga. Era acostumada à persistência por longos e cansativos treinamentos com Mestre, correndo, debaixo da chuva, durante horas, floresta adentro.

   Quando chegaram à ruela estreita, Kheryan se jogou no chão frio, e Taya sentou-se um pouco mais para dentro. Kira entrou na boca do beco, indo até Taya e sentando-se de frente para ela. Do outro lado da ruela, havia uma praça, mas ela estava totalmente em silêncio. As pessoas fugiram, ou estavam lutando em outro lugar. Era estranho ficar sentada enquanto uma cidade era atacada por uma tribo com nome complicado, principalmente quando alguém dessa tribo estava sentado junto com elas.

   Nenhum dos três sabia o que falar. Não tinham mais o que falar. O barulho da cidade gritando era ruim de ouvir, mas o que fariam? Havia pessoas morrendo, mas o que eles fariam? Por um instante, Taya pensou se Isaac e Jessie também não foram atacados, se Luke ainda estava vivo. Sua feição ficou estranha, mas na escuridão da ruela não dava para se ver muito bem, então nenhum dos outros dois percebeu isso. Ela pensou mais, e segundos depois, quebrou o silêncio, dizendo:

—Não sei se os meus amigos estão bem. Não sei se estão vivos. Estou com frio em um beco escuro e dois desconhecidos, um do qual fazia parte de uma tribo que está atacando o meu reino e que pode ter matado os meus amigos.  – ela fez alguns segundos de silêncio. Tinha dito que era amigo do menino, mas, de repente, voltou a desconfiar dele. Talvez tenha se precipitado, ou talvez não. –Acho que você tinha razão! Tínhamos que ter entrado na cidade e procurado pelo seu amigo. Pelo menos eu poderia ter achado os meus amigos.

—Mas a...ai eu nã...não teria conhecido vo...vocês! – interrompeu Kheryan. Foi ignorado. Ainda era suspeito.

—Taya, se você tivesse entrado naquela cidade, poderia ter sido morta ou outras coisas ruins poderiam ter lhe acontecido. Não se culpe! Talvez nem achar seus amigos acharia. Tenho certeza de que eles te procurarão.

—Quando? Quando já estiverem mortos?

—Taya! – Kira ficou sem palavras para responder.

—Tenho certeza de que os seus amigos vão ficar bem. Nós vamos achá-los, junto com Harry.

  Taya concordou com a cabeça e os três fizeram silêncio por alguns segundos. Depois, Kheryan disse:

—Es...está frio a...aqui, né?

—Ninguém mandou você andar por ai só de saia nessa chuva fria! – Kira tinha uma raiva na voz.

—Ei! A cul...culpa não é mi...minha se as pe...pessoas da minha tri...tribo não me di...disseram que aqui se...seria tão fri...o.

  Taya riu da resposta em meio à escuridão.

  De repente, eles ouviram Kira se colocar de pé e depois ouviram sons, como se ela estivesse mexendo em algo: estava tirando suas armas penduradas em si. Depois de já ter tirado o arco, a aljava e o bastão, tirou a sua capa e a jogou para Kheryan.

—O...o que é is...so?

—É para se proteger do frio. Eu pelo menos ainda uso roupas, mas você que não usa direito precisa se proteger do frio.

  O jovem soltou um sorrisinho em meio à escuridão.

—O...obrigado!

—Não sei se vai adiantar muito, pois já está molhada, mas vai proteger mais do que andar por ai sem camisa.

  Quando Kira voltou-se a sentar, o silêncio embalou o ambiente novamente. Mesmo tendo acabado de se conhecer, não sentiam medo um do outro, talvez um pouco de receio. Receio dele, principalmente. Mas, de qualquer forma, ali se formava uma coisa que Kheryan nunca teve: amizade.

 

  Algumas horas depois, os três se levantaram. Ainda estava muito escuro lá fora, e mesmo que a chuva tenha cessado, as nuvens ainda estavam cheias para derramar mais dessa água. O mar estava agitado como estava àquela hora em que Kheryan nadou por ele.

  Saindo da ruela, Taya sentiu aquele mesmo cheiro de maresia no ar. Era incrível. Nunca tinha ido à praia, e a sua primeira vez nela foi chuvoso e com mortes que ela mesma provocou sem querer. Mas, ainda assim, sentia-se bem desde aquele abraço de Jessie na floresta. Por um instante sua mente relembrou aquele momento em que uma estranha e maravilhosa alegria preencheu-a e dissolveu sua terrível tristeza. O vento em seus cabelos a fez lembrar dos campos do seu pai, e ela relembrou dos rostos de Bernard e de Merelyna. Lembrou-se de Isaac batendo com força na porta de sua casa.  “Temos que fugir agora! AGORA!”, lembrou-se de suas palavras. Mas antes, lembrou-se de quando estava lavando os pratos, as estrelas no céu expostas pelo vidro da janela.

—Taya! – chamou Kira. –Está tudo bem?

  Ela mexeu a cabeça positivamente.

—Mesmo com tudo isso acontecendo, nunca me senti tão bem.

 As duas sorriram, mesmo no escuro.

 Kheryan saiu do beco por último, encolhido dentro da capa, ainda molhada e fria.

—Vamos! – exclamou a Corriqueira, e os dois seguiram-na.

  O barulho do mar era delicioso, mas ainda havia guerra na cidade. Bem longe, muito longe, os três puderam ver de relance um brilho fortíssimo vermelho amarelado: fogo. O que estaria acontecendo?

  Os três apertaram o passo. Andaram mais rápido possível, o suficiente para voltarem a se cansarem.

   Passado algumas horas, a escuridão começou a ir embora e a levar consigo tudo o que acontecera à noite, e a luz do dia começava a chegar, trazendo consigo novos acontecimentos.

  Os três viram, quando tudo estava um pouco mais claro, que o portão estava muito perto. Taya sentiu uma pontada de satisfação. Finalmente, passaram e andaram por tudo aquilo para conseguirem chegar até ali e não tinha como não sentir ao mesmo tempo uma pontada de tristeza ao perceber que seus amigos não estavam ali com eles. Mas, logo se distraiu novamente com a visão daquele enorme portão de ferro, cercado por um muro de pedra. A pedra cinzenta chamava Taya a sair logo de Hangária Mindória. Tarinter estava tão perto, mas tão perto!

  Os três foram se aproximando mais e mais até que Kira disse:

—Entrem naquele beco para sairmos na ultima praça da cidade antes de Tarínter.

  Eles obedeceram e entraram os três lá dentro.  Saíram em uma daquelas praças enormes, mas não havia ninguém. Todos fugiram. Todos escaparam. Todos se esconderam.

  Kira passou o olhar pelo lugar silencioso, que um dia estivera lotado. Taya pareceu ver a multidão na praça por um segundo, mas era coisa de sua cabeça. Seguiram pela praça em direção à estrada principal, que passava no meio dela, como uma lança espetada em uma parede frágil de madeira. A estrada ia até o enorme portão, combinando com o chão da praça, feita de paralelepípedos de pedra cinza e, em alguns pontos, negros, com pequenas manchas verdes de mato indevido nascendo entre a terra que conectava um bloco ao outro. Mas os blocos não eram claros e visíveis pela enorme quantidade de areia que vinha da praia, seja pelo vento, seja pela sola dos calçados dos marinheiros.

  Havia um homem na rua principal, jogado em um canto, que ficava falando sem parar.

—A Senhora do Prazer vai chegar. Bem vinda! Bem vinda!

  O mendigo estava todo sujo, enlameado. Estava fedendo. Os três passaram longe dele e seguiram assustados pela rua.

  De repente, o homem se levantou e seguiu atrás deles, sem eles perceberem.

  O portão se tornou maior agora de perto. Eles estavam em frente a ele, e agora, bem de perto, conseguiram perceber a fenda que havia se aberto do lado de baixo do portão. Alguém abriu o portão só um pouco e esqueceu-se de fechá-lo. Provavelmente forçaram-no na fuga descontrolada da cidade.

—Olhem, tem marcas de pés e arrastões debaixo do portão. – Disse Taya.

—É co...como se u...uma multidão ti...tivesse pas...sado por baixo de...dele. – observou o jovem shajaíta, agora bem envolvido na capa longa.

  Kira abaixou-se e analisou.

—Acho que a multidão, ao saber do que aconteceu, correu até aqui e...

—E arrombou o portão, assim passando para o outro lado. – era uma voz estranha, que fez os três virarem em susto para trás. Era o mendigo.

—Quem é você?

—Ah, Kira! Se você soubesse o que eu sei de você.

—O que você quer conosco? Como sabe o nome dela?

  Ele olhou sério para Taya.

—Taya, eu vim porque tenho coisas para vocês.

—Coisas tipo o quê? – perguntou a jovem.

  Ele sorriu.

—Taya, sei que você quer ser curada disso. Ser curada dessa mutação louca, disso tudo. Ótimo! Tenho a cura! Sei que você se sente culpada pelas mortes que provocou. Eu tenho a cura!

  Taya olhou para ele meio pasma, meio triste. Havia lágrimas enfeitando seu rosto que tinha uma expressão que lhe dizia: “Eu quero!”.

—O que tenho que fazer?

  Ele sorriu de novo.

—Dê espaço a ela.

—Ela quem?

—À Senhora do Prazer.

  Kheryan deu um passo para frente, sério, como se para proteger Taya.

—Pa...para com es...essa baboseira.

—Kheryan! Ah, Kheryan! Como queria ter amigos. Tenho um lugar perfeito onde podes encontrar amigos melhores. Amigos bons. – ele sorriu ironicamente, fazendo a barriga do jovem roncar de medo. Ele dizia coisas que tinham a ver com ele. Com eles. Era como se...”ele nos conhece de algum modo!”. Havia algo ruim, algo estranho, pesado, na presença dele. O menino voltou o passo atrás e se recolheu.

—Escute aqui! Como você pode chegar para os meus amigos e dizer que eu não sou amiga de verdade? – se intrometeu Kira, com muita coragem.

—Kira! Eu sei o que você quer: descobrir quem é o assassino de seu pai. É, eu sei!

  Kira ficou paralisada. Mil pensamentos passaram simultaneamente pela sua cabeça. Um estranho qualquer sabia de tudo o que se passava pela sua vida. Como? Quem era ele? Os olhos dela o percorreram, analisando as roupas fétidas e rasgadas do homem, que variavam em tons de marrom. Todas eram de couro velho e desfiado. Uma capa manchada de sujeira envolvia-o.

—Como assim você sabe quem é o assassino de meu pai? – pensara em fingir que nada daquilo era verdade, que o pai estava vivo, mas sentia que não adiantava mentir para quem já sabia demais. Mesmo quando esse alguém era um estranho.

—Eu conheço vocês muito bem! - ele riu.

  Ela deu mais um passo de coragem. Não cansava de dá-los.

—Então...então, se você sabe...diga quem ele é!

—Quando você souber, ficará com muito ódio. Mas, para que sua vingança ocorra, tem que se entregar à Senhora do Prazer e se tornar serva dela. Todos vocês.  – ele percorreu os olhos pelos três, olhos estranhamente escuros. -Preparada para saber quem é o assassino?

  Ele sorriu. Ela assentiu. Segundos depois, Kira estava gritando de ódio e fúria.


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