Steal Your Heart AU escrita por MusaAnônima12345


Capítulo 23
Telefonemas & Relacionamentos


Notas iniciais do capítulo

OEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE, QUEM É QUE VOLTOU PRO NYAH?? EUUUUUUUUUUUUU, A MUSA MAIS QUERIDA DE TODO O BRASIL HUEHEUHEUEHUEUEHEU :V

E aí gente, supimpa? Misericórdia estamos no fim do ano de novo! '-' Cara, como 2018 passou rápido né? Enfim, peço desculpas pela tamanha demora em atualizar SYH - serião gente, muitos problemas pra pouco tempo pra resolver - e dar notícias pra vocês... Prometo que irei compensá-los com um novo capítulo logo logo, já está no forno huehue :v

Sem mais delongas, eu realmente espero que vocês gostem desse capítulo porque o próximo PRO-ME-TE MUAHAAHAHAH! Até lá pessoal!

Capítulo postado dia 07/12/2018, às 17:14.



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Alya

Com um suspiro sonhador fecho a porta atrás de mim e encosto minhas costas na mesma. Encaro minha casa - minha não, porque ela também pertence as meninas - e dou um sorriso. Minhas roupas estão um pouco amassadas e meu cabelo ainda um pouco desgrenhado. Lá fora uma tempestade ainda caia, mas nada disso consegue tirar aquela felicidade do meu rosto. Jogo minhas chaves na pequena bancada perto da porta de entrada e vou na direção do sofá aos pulinhos. "Porquê?" vocês devem estar curiosos pra saber. Ora simples: eu simplesmente tive a melhor noite da minha vida!

Ah cara, como eu amo aquelas primas malucas do Diego! Juro, se não tivesse sido por aquelas duas eu jamais tinha dançado tanto como dancei ontem. Ou ter encontrado o lindo do Nino. Ou muito menos...

Dou um gritinho de empolgação sufocado e me jogo no sofá macio da nossa sala de estar confortável, afundando meu rosto numa almofada fofa. Apesar de minha mente ainda latejar um pouco isso não é motivo para não relembrar todos os detalhes que me lembrava do que aconteceu depois daquela disputa de quem bebia mais.

"Depois de ter visto aquela muvuca toda em volta do quarto do Diego eu decidi beber mais alguma coisa pra me divertir um pouco mais. Passei por alguns caras desmaiados e até reconheci o namorado da Tikki lá esticado do jeito que tinha caído uma meia-hora atrás no chão, praticamente no meio do caminho. Dei uma pequena volta e ao longe vi uma garrafa de alguma coisa solitária na mesa em que estava. A agarrei em uma das mãos e antes que pudesse fugir sorrateiramente para longe e terminar de encher a cara, trombo com alguém e a garrafa quase pula pra longe. Apesar da minha vista estar um pouco nubada ainda consegui distinguir seu sorriso. Nino.

— Você realmente ia fugir com um Uísque 1985 e não me chamar pra te acompanhar? - ele perguntou com um sorriso travesso. Dei uma risada fraca e balancei a cabeça.

— Sabe do que eu preciso agora Nino? - lhe pergunto com a voz rouca, enquanto me aproximo um passo de onde ele estava. Ele arqueia uma sobrancelha, imitando meu gesto e logo selando o espaço entre nós dois.

— Não. - ele responde, deixando um esboço de sorriso passar por seu rosto. - O que?

— De uma distração. - digo, lhe puxando pelo pescoço e o beijando como alguns minutos atrás, quando ainda estávamos na competição de bebedeira. Com uma mão ocupada, logo que vejo uma oportunidade que tinha 50% de chances de obter êxito. Não custava tentar. Me afasto, lhe lançando um sorriso provocante. - Se quiser, poderíamos aproveitar o resto dessa noite em algum lugar mais calmo. - soltei, sem medir muito minhas palavras. - Com essa bela companhia ao nosso lado, é claro. - acrescentei com um sorriso de canto.

Ele estendeu a mão, tirando a garrafa da minha mão com cuidado e me conduzindo em direção a porta com a outra na minha cintura. Reprimi um sorrisinho e me deixei ser carregada para longe por ele, parando apenas o suficiente para pensar onde Marinette havia se enfiado e se ficaria muito irritada se eu desaparecesse sem dar aviso algum. Quando encarei aqueles olhos escuros essa preocupação desapareceu tão rápido como tinha aparecido. Nino sussurrara algo que valeria a pena enfrentar a fúria de Marinette no dia seguinte, algo que ecoou em meus ouvidos enquanto saíamos da casa do Diego e pegávamos um táxi.

— Eu acho que sei exatamente para onde podemos ir.

É claro que eu já havia pisado em alguns motéis desde os meus 18 anos - na verdade, apenas dois com aquele, mas quem tá contando? -, mas eu jamais tive a companhia do gato do Nino comigo. Quando finalmente ficamos sozinhos eu não podia deixar de imaginar em que loucura eu estava me metendo. Como combinado eu realmente havia aberto aquela garrafa de bebida alcoólica e já estávamos no seu fim quando a coisa finalmente esquentou entre nós e caímos praticamente bêbados um encima do outro. Lembro de ter tirado seus óculos, o seu boné e o lindo par de fones de ouvido com cuidado, deixando na escrivaninha ao lado da cama do quarto que havíamos alugado. Ele não tirou os olhos de mim por um só instante enquanto tirava os meus óculos e me puxava o rosto para mais perto.

— Tem certeza que é isso que você quer? Que isso vai fazê-la se sentir melhor? - ele me questionara tão baixo que precisei estreitar os olhos para entender. Dei um sorriso e mordi de leve seu queixo, lhe beijando levemente e em seguida o encarando profundamente.

— Acredite. - digo, passando minhas mãos sobre onde seu coração batia, descontrolado como o meu. - Já estou me sentindo melhor."

Um trovão me trouxe de volta para a realidade e eu levei um susto quando a porta se abriu instantaneamente, revelando uma criatura totalmente encharcada e pingando apareceu por ela. A casa inteira estava escura pela negritude da tempestade que estava do outro lado da janela. Eu estava sozinha. O que vocês acham que eu fiz? É lógico que eu dei um berro desesperado e agarrei a primeira coisa que estava ao meu alcance: um vaso de bolinhas chinês que a Marinette tanto amava. Estava prestes a jogar quando a tal criatura acendeu as luzes e se revelou.

Não pude deixar de dar um suspiro de alívio.

— Marinette sua maluca, quer me matar do coração?! - gritei, colocando uma das mãos sobre o meu coração, tentando desacelerá-lo antes que sofresse um ataque cardíaco. - Aff, vai assustar outro desse jeito! Quase eu morro aqui agora e...

Mas a mestiça nem parece me notar ali direito. Ela fecha a porta mordendo o lábio inferior e joga os saltos perto da entrada com um sorriso. Só quando começa a caminhar em direção ao segundo andar que parece me notar ali, segurando o motivo de vários chiliques sobre não mexer no seu vaso favorito de bolinhas. Ela parecia diferente. Radiante até. O que raios teria acontecido pra minha melhor amiga agir daquele jeito?

— Ah, oi Ay. - ela me cumprimenta com um sorriso, desviando o olhar do meu rosto confuso para sua decoração de mesa e parecendo lá meio aérea ainda. - Cuidado com o meu vaso, por favor. Eu adoro bolinhas, combinam com tudo. Não quero que seja você a causa de uma possível depressão minha. - dá uma gargalhada boba no final. - Tá, talvez eu não tenha uma depressão, mas...

— Mari, tu tá bem? - indago realmente preocupada com aquela súbita mudança de humor. - O que foi que aconteceu pra tu estar tão avoada? Eu hein, parece que viu um elefante colorido e depois pulou corda com um unicórnio com chifre de arco-íris.

Ela arqueia as sobrancelhas, parando próxima as escadas e com uma mão agarrando o corrimão.

— Tá tão na cara assim? - Mari me pergunta, claramente se sentindo tonta por se permitir ser lida como um espelho. Ela quase nunca se deixava ser lida facilmente por ninguém.

— Eu diria que está balançando uma bandeira enorme escrito "Estou apaixonada que nem uma idiota" com um sorriso de comercial de pasta de dente. - ela franze o nariz.

— Aquele comercial é péssimo. - comenta e eu balanço a cabeça.

— É, é péssimo. - confirmo. Não contenho um sorriso malicioso. - Mas então é verdade mesmo? Você está apaixonada por um idiota? - questiono, curiosa.

Ela hesita. Sinto um sorriso surigindo involuntariamente no meu rosto.

— Talvez. - é só o que diz, e volta para o seu trajeto rumo ao andar de cima, provavelmente até o banheiro tomar um banho quente.

Dou um gritinho de emoção enquanto a observo apressar o passo para tentar me evitar. Com a chuva batendo insistente nas janelas da casa corro atrás de Marinette em busca de respostas. Ela está no quarto arrumando uma muda de roupas secas para ficar em casa - já que nossas férias começariam por esses dias, dois ou três no máximo, porque não aproveitar um descanso? Nós bem que merecemos. Enquanto separa um jeans azul claro e um moletom rosa escuro já desbotado de tanto ser usado. Ela está vermelha. Ai. Meu. Deus. Então alguma coisa rolou mesmo com a minha melhor amiga gente! Ah, eu mal posso esperar pra saber quem é o felizardo e...

— Não acho que seja necessário você saber Alya, não sabia que a curiosidade matou o gato? - a mestiça me diz e só agora que eu percebo que estava tendo aquele ataque de curiosidade em voz alta. Me xingo mentalmente e faço uma careta.

— Ah Mari, por favor, me conta vai. Você sabe que eu não resisto a uma fofoca da vida dos outros. - peço me ajoelhando e agarrando sua cintura com um biquinho. - Conta, conta, conta vai, por favor?... Eu juro que não conto pra ninguém que você perdeu a sua virgindade, nem pros seus pais.

— Que isso garota, tá me estranhando é? - Marinette questiona incrédula, corando furiosamente. Dou uma gargalhada. - Que eu saiba a única de nós que perdeu isso aqui dentro desse apartamento foi você Alya Cesàire. - me acusa estreitando os olhos. Balanço a cabeça.

— Se tentou fazer com que eu me sentisse culpada por aproveitar a minha vida enquanto você e a Ferrugem brincam de estátua com a curtição, não conseguiu. - respondo, lhe fazendo dar um suspiro irritado. - É sério amiga, conta pra mim. - ajeito meus óculos e lhe lanço um olhar interrogatório. - Você andou dando umas bitoquinhas naquele gato do Agreste, não foi?

— O que? Rá, você só pode estar brincando Ay... Sério, você é uma ótima piadista, tô morrendo de rir... - Mari se esquiva de mim com uma risada forçada e jogando uma toalha sobre o ombro faz menção em ir até o banheiro chique do quarto dela - inveja, não tem que dividir o banheiro do corredor com aquela maluca possessiva de espaço chamada Kattie.

Por um momento pensei que pudesse estar enganada - realmente poderia ser outra pessoa. Aí vi os olhos brilhando, as mãos tremendo ao segurar a maçaneta da porta, aquele leve rubor que te deixa sem graça quando a pessoa que tu gosta tá perto de você... E saquei tudo. Não contive minha empolgação e lhe sacudi os braços com um gritinho animado. Ela me encara agora definitivamente vermelha e com os olhos arregalados.

— Você beijou mesmo o Adrien? - questiono, sem mascarar a minha empolgação. Ela apenas revira os olhos e eu dou mais um gritinho. - Oh My God, ela beijou mesmo o idiota do Agreste!

— Alya, se você continuar gritando que nem uma maluca daqui a pouco os vizinhos vão ligar pros bombeiros achando que o prédio tá pegando fogo. - a morena retruca num tom entre segurar a vontade de me esganar e a vontade de gritar de empolgação junto comigo.

— Me conta como foi? Onde vocês estavam? Porque você está toda molhada? - não consigo evitar minhas perguntas jorrando da minha boca e nem percebo meu tom se elevando com a emoção. - Ai, não me diz que vocês dois estavam na chuva! Porque isso é tão romântico, é tipo aqueles filmes que fazem você chorar e querer um namorado com os atores principais, quando você é a protagonista inferior as outras mais bonitas e ele simplesmente escolhe você, fazendo os dois viverem uma linda história de Romeu e Julieta! Claro, eles morrem no final, mas isso não tem problema nenhum se...

— Alya, cale a boca! - Mari grita e lhe encaro como se tivesse me dado um tapa na cara. Ela suspira e balança a cabeça. - Se realmente quiser que eu te conte como foi que isso aconteceu primeiro vai ter de me dizer onde é que você estava ontem a noite, na festa da prima do Diego. Você simplesmente sumiu e me deixou lá esquecida na muvuca de gente.

— Tudo bem, eu conto sua mala sem alça. - retruco, cruzando os braços enquanto meu rosto esquentar contra a minha vontade.

Ela dá um sorriso, mesmo tentando parecer brava comigo.

— Ótimo. - ela diz, segurando a porta. - Cinco minutos. Enquanto isso vá fazer aquele seu maravilhoso misto quente com queijo na cozinha.

***

Marinette

— E aí ele me trouxe de volta pra casa. - Alya disse, com metade do queijo de seu misto quente caindo pra fora da boca. A observei puxar um pedaço que se entendia cada vez mais longe de ser comido pela minha melhor amiga e juntas demos risada. - Ok, talvez eu tenha exagerado um pouco com a quantidade de mussarela que coloquei nesse misto quente.

Lhe encaro ainda incrédula, tentando absorver aquilo que acabara de me contar.

— Eu não ainda não acredito que... - começo balançando uma mão. - Você sabe, vocês fizeram aquilo.

— Eu também não. - ela rebate caindo na risada com a boca cheia. - Sei lá, eu tava tão bêbada que acho que mesmo que eu tivesse corrido na rua sem roupa nenhuma eu não lembraria de nada sem alguém me contar. Ele deve estar sentindo o mesmo que eu, na menor das hipóteses. Essa sensação de "caralho, que merda que eu fiz?". - reprimo uma gargalhada e enfio o resto do meu misto quente na boca. - Mas então... Será que agora a senhorita Dupain-Cheng pode finalmente contar o que aconteceu entre ela e o gato escroto do Agreste júnior?

— Você quer dizer o que aconteceu depois que você me largou sozinha na festa ontem. - observei, mastigando o mais devagar que conseguia.

— Eu já pedi desculpas! - Ay exclama e arqueio minhas sobrancelhas. - Quantas vezes vou precisar dizer isso pra você me perdoar? - me pergunta com cara de choro falso. Faço uma careta.

— Mais cinquenta. - respondo, pensativa. - Enquanto pula num pé só subindo as escadas nos próximos dois dias.

Ela me lança um olhar travesso enquanto se levanta pra colocar os dois pratos que antes estavam localizados dois sanduíches de tomate e muito queijo clássicos da minha melhor amiga. Dou sorriso de canto e deixo meu corpo relaxar contra o estofo do sofá nas minhas costas. Observo a chuva cair levemente lá fora pela janela e por um momento penso no temporal em que havia me metido a pouquíssimo tempo. Um arrepio faz os pelos dos meus braços se levantarem quando me lembro de Adrien debaixo do meu guarda-chuva, não muito longe de mim, enquanto aquele aguaceiro caía. Seu toque quente na minha pele fria era algo que jamais me esqueceria. Assim como a ternura com que nos envolvemos naquele beijo que poderia nunca ter fim se não fosse um telefonema urgente do pai do mesmo. Sinto o sangue subindo para meu rosto e mordo o lábio, tentando pensar em outra coisa além daquela cabeleira loira espalhada irregularmente no seu rosto molhado e dos seus lábios macios formando um sorriso sob os meus quando eu lhe abraçava o pescoço. Acho que agora eu sei exatamente como Alya deve estar se sentindo em relação ao Nino. Aquela mesma sensação.

Risadas escandalosas soam do lado de fora do nosso apartamento e me sento rapidamente no sofá. Estranho. Não era em uma porta qualquer. Era na nossa porta.

Encaro Alya voltando da cozinha com uma expressão tão confusa quanto a minha.

— Tá esperando alguém? - Ay me pergunta apontando para a entrada da nossa casa. Dou ombros, franzindo a testa.

— Não que eu saiba. - respondo, enquanto ouvimos a tranca girar e olhamos na direção da nossa porta.

Assim que ela se escancara dou uma exclamação de pura surpresa e levanto num pulo do sofá enquanto uma das figuras vem correndo na minha direção. Dou um grito enquanto minha irmã mais velha praticamente se joga encima de mim e nós duas nos chocamos com força no chão. Posso ouvir agora de onde vinham as risadas escandalosas no corredor. Kattie e a doida da Bridgette junto do primo do Adrien, Louis.

— Hã, toc toc. - ouço o moreno dizer entre as risadas esganiçadas da minha irmã. Podia jurar que ele havia batido na soleira da porta. - Permissão para entrar em território proibido?

— Permissão concedida soldado! - respondo enquanto Bridg me ajuda a levantar do chão com um puxão. O observo entrar meio sem jeito quando a ruiva se estica para trancar a porta de novo. - Veio nos fazer companhia neste dia chuvoso senhor Agreste?

— Ah, menos maninha. - minha irmã se pronuncia se colocando entre o mesmo e Kattie, me lançando uma piscadela. - Por favor, qual o problema do nosso amigo aqui tomar um café com a gente? Ele tava dando o maior duro agora pouco lá no restaurante, dá um tempo.

— Então vocês conseguiram um novo contratado? - Alya disse se encostando na beirada do sofá e cruzando os braços. - Nossa, essa foi rápida Ferrugem.

— Diga isso a dona Grace. - a ruiva reclama revirando os olhos, um pouco vermelha. Ai que fofo. - Depois que sai da universidade e fui pra lá ela simplesmente me apresentou o Louis como nosso novo auxiliar. - ela esfrega o rosto com as mãos. - Tipo, ele simplesmente brotou lá na hora do almoço e já conseguiu total proteção da minha mãe.

Não consigo segurar uma risada. Os O'Green sempre foram muito receptivos e aposto uma grana alta que no mínimo Grace teria visto alguma coisa rolando entre Kat e o primo do Adrien.

— Olhe pelo lado bom, pelo menos agora nós nunca mais vamos nos separar. - Bridgette comemora abraçando os dois ainda mais com um sorriso brilhante.

— Isso é um bom sinal meninas? - Louis murmura parecendo sem ar e eu balanço a cabeça.

— Vamos Bridg, largue os dois antes que eles morram sem ar. - peço e vou na direção da cozinha preparar alguma coisa pra comermos. - Então Louis, como foi no seu primeiro dia no L'e Vent Souffle?

— Bem, eu acho. - o escuto dizer enquanto procuro pela garrafa de café e algumas canecas de reserva que nós guardávamos no armário para visitas. - Quando descobri que estavam contratando eu tentei a vaga. Quero ajudar meu avô com as despesas, então penso que tomei a decisão certa.

— Hum, tá ouvindo isso Mari? - Alya grita da sala e dou um sorriso de canto. - Garoto trabalhador! É isso mesmo Louis, tá super certo.

— Gente, assim vocês vão assustar o garoto. - Kattie pondera parecendo se segurar para não cair na risada. - Olha, eu juro que elas não são tão insuportáveis assim o tempo todo. Talvez você acabe se acostumando com a companhia delas com o tempo.
As risadas do garoto invadem a cozinha enquanto volto para a sala de estar. Alya nem disfarça o olhar de "Meu shipp tá fluindo gente!" e Bridgette parece um corvo assistindo dois animais se matarem pra poder comer eles. Dou uma gargalhada sozinha e ofereço café aos que acabaram de chegar.

— Eu convivi com Adrien e Félix Agreste durante toda a minha infância praticamente, e, acreditem, vocês são bem mais agradáveis do que os dois. - o moreno responde simpático e brincalhão, pegando uma caneca que lhe oferecia. - Obrigado Marinette.

Sem querer deixo minha mente vagar ao olhar atentamente para o crush de Kattie. Ele realmente se parecia com o Adrien. O mesmo formato do rosto, o mesmo sorriso brilhante e o mesmo jeito brincalhão de ser. Se não fosse o cabelo castanho tão escuro que parecia preto e os olhos castanhos poderiam até ser confundidos como irmãos. Pigarreio desviando o olhar para Bridgette, que também parecia ter vagado pra longe. Coloco a garrafa de café na mesa de centro e me sento ao seu lado, enquanto Kattie e Alya conversavam com Louis.

— Ei, o que foi? - questiono, fazendo ela me encarar com os olhos espantados por um segundo. Arqueio as sobrancelhas.

— Nada. - ela responde com um sorriso amarelo. Ela parece hesitar quando nota que não desviei o olhar. - Eu só... Estava pensando se vou ter que dormir no chão do seu quarto de novo ou se dessa vez posso ficar com o sofá.

— Você sabe que nós temos um quarto de hóspedes lá encima se quiser. - rebato, ainda não totalmente convencida de sua reação. - Você está bem mesmo Bridg?

— Claro que estou! - exclama com um sorriso e dá ombros. - Porque não estaria sua doida?

— Sei lá... - começo um pouco envergonhada. Talvez fosse apenas mais uma neura minha. Suspiro, balançando a cabeça. - Esqueça. Acho que estou precisando muito de umas férias. Sair pra algum lugar, não sei, mas preciso me distrair.

— Como se você já não tivesse se distraído o suficiente por hoje senhorita Dupain-Cheng. - Alya solta do outro sofá e silencia nosso apartamento.

De repente todos os olhos estão voltados pra mim e eu engulo em seco. Dou uma risada nervosa e minhas mãos começam a suar. Até a minha própria irmã me encarou com uma sobrancelha arqueada exigindo respostas.

— O que foi que você aprontou hein? - Kat me indaga com os olhos estreitos. - Conta tudo, não esconda nada mocinha.

— O que? - solto, com a voz mais aguda do que eu gostaria. - Eu só... Só...

— Gaguejou! - Bridgette acusa apontando o dedo pra mim. - Tá escondendo alguma coisa!

— Não, eu não... - tento me justificar.

— Fala logo que você beijou o idiota do Adrien na chuva e por isso chegou aqui toda molhada. - Alya interrompe parecendo entediada com toda aquela enrolação. Ela olha de soslaio para Louis. - Desculpe, mas seu primo é um idiota. - acrescenta.

— É, ele é um idiota. - o moreno concorda, esfregando o queixo com um sorriso.

Quase fico surda quando Kattie e Bridgette começam a gritar eufóricas aos meus ouvidos me sucudindo como se eu fosse de pano e me perguntando como foi que aquilo tinha acontecido, porque e quando foi para que nenhuma delas soubesse o que tinha acontecido. Respiro fundo e choramingo para que me soltem.

— Tá legal, tá legal, se vocês calarem a boca eu conto o que aconteceu. - falo contrariada e as duas se sentam no chão de pernas cruzadas como duas crianças, loucas pra ouvir a minha "história". Reviro os olhos quando Louis e Alya imitam aquelas duas doidas e se sentam ao lado delas. Suspiro. - Certo. Ontem a noite, ainda na festa da Tikki e da Tuggi, depois que vocês dois foram embora - aponto com a cabeça para a ruiva e o Agreste - e a Alya praticamente me abandonou pra ir dormir com o Nino, me trancaram junto com o Adrien dentro de um closet a noite inteira.

— Hum, até imagino o que vocês dois estavam fazendo nesse meio-tempo lá dentro. - Bridgette sugere maliciosa enquanto cutuca Ay com o cotovelo e sinto meu rosto corar impulsivamente.

— Não aconteceu nada. - pondero, o mais firme que consigo. Os quatro me lançam um olhar desconfiado e eu reviro os olhos. - Acham mesmo que eu não iria deixar o idiota do Agreste sem descendência antes que ele tentasse fazer alguma coisa contra mim? - me viro para Louis novamente - Sem ofensa.

— Tudo bem, acho que já estou me acostumando com vocês odiarem meu primo. - o moreno responde dando ombros.

— Continua. - Kat pede, agarrando uma almofada entre as pernas. - Quero saber como foi que rolou esse beijo se você tem tanto ranço dele.

— Cala boca cabeça de fósforo, eu quero ouvir. - Alya reclama bagunçando o cabelo da ruiva. Ela lhe lança um olhar revoltado.

— Eu vou te mostrar quem é a cabeça de fósforo, chocolate amargo! - ela rebate ameaçando ir pra cima da outra doida, mas antes que as duas saíssem no tapa minha irmã se enfia no meio das duas.

— Será que dá pra vocês duas pararem de palhaçada e ouvir a minha irmã? - ela grita e eu arregalo os olhos quando na mesma hora as duas cruzam os braços resmungando. Me encara com o semblante irritado. - E você, será que dá pra pular logo pra parte de muito beijo debaixo daquela tempestade grega que tava caindo agora pouco?

— Bem... - solto, pensando no que poderia dizer. Não podia simplesmente contar tudo TUDO o que acontecera para aquelas loucas. - Hoje de manhã a mãe do Diego acabou nos achando dentro do closet, eu vim pra casa tomar um banho e encontrei com a Kattie. Cheguei na universidade e por culpa do Adrien com gracinhas com o Diego nós acabamos perdendo o horário da aula. A gente discutiu e, é, como não tínhamos mais o que fazer o resto do primeiro período, ele me levou numa cafeteria para conversarmos.

— Desculpa interromper, mas que belo jeito de acabar com uma briga, não? - o moreno comenta com uma gargalhada. - Tipo, "eu te odeio seu macho ridículo, mas sim, eu topo ir tomar um sorvete com você ali na esquina".

As meninas não conseguiram controlar a risada e eu balancei a cabeça, envergonhada. Não podia negar que aquilo era verdade, podem me chamar de hipócrita. Mas a questão é que tinha alguma coisa nele. Alguma coisa que me fazia sempre me perder naquela imensidão verde dos olhos do loiro e de alguma maneira me juntava a ele por coincidência demais ou castigo do destino. Estralo as juntas dos meus dedos, tentando me distrair.

— Mulheres, seres mais estranhos e complicados do mundo. - Kattie brinca, prendendo o cabelo num coque bagunçado.

— Vai entender. - Bridgette comenta, acenando com a mão freneticamente. - Ande, continua garota.

— Enfim, começou a chover, nós achamos que conseguiríamos fugir da tempestade e ai acabou acontecendo. - termino meu relato balançando minhas mãos. As três me olham com expectativa. - O que?

— Foi só isso? - Alya indaga, parecendo não acreditar.

— Como assim "só isso"? - repito, fazendo uma careta. - Foi o que aconteceu.

— Não pode ser que tenha sido apenas isso. - Kattie continua, me olhando acusatória. - Pare de esconder o jogo Marinette Dupain-Cheng!

— Gente, eu estou falando sério. - afirmo rindo da cara das minhas melhores amigas e da minha irmã mais velha.- Foi isso que aconteceu mesmo. Se querem imaginar que aconteceu algo a mais, o resto é com vocês. - acrescento, me levantando e começando a recolher as canecas para lavar. - Não é verdade Louis?

Eu me viro para levar as coisas para a cozinha junto de Kat. Estranho quando, ao invés de ouvir uma possível resposta sarcástica ouvimos o toque do celular de Louis. Ele franze o cenho e rapidamente pega o aparelho de um bolso da calça. Ele volta a olhar para nós e atende o telefone formando uma palavra que me acerta como um tapa na cara.

— Adrien? - o moreno pergunta, esfregando uma das mãos no cabelo e olha na minha direção sem saber o que dizer. - Onde eu estou?

— Fala que você ainda está no restaurante. - Bridgette sussurra.

— Eu ainda estou trabalhando no restaurante primo, não posso falar agora. - ele diz, seus olhos encontrando Kattie sem saber o que fazer.

— Coloca no viva-voz. - ela sussurra como resposta e ele obedece colocando o celular na mesa de centro.

— Mas então, o que você quer Adrien? - Louis pergunta em voz alta e todas nós encaramos o celular atentas. Sinto meu rosto queimar quando Alya me lança um olhar cúmplice.

"Nathalie me disse que eu e Félix vamos fazer uma sessão de fotos na praia de Calanque D'En-Vau, litoral. Aquela cabana na praia que a gente sempre ía no passado, se lembra?"

Noto Louis ficar um pouco desconfortável em um segundo. No seguinte tão impressão desaparecera.

— Claro que me lembro. - ele responde, confuso. - Porque?

"Eu estava pensando... As férias já começaram, praticamente. Não me lembro da última vez que consegui aproveitar de verdade esse período depois daquele dia. O que você acha de irmos pra lá por uns dias?"

— Ah cara, é uma ótima ideia. - o moreno diz, com um sorriso de canto triste e olha para nós novamente. - Mas, explica essa sua ideia de girico direito.

"A minha ideia é a seguinte. Ficar na cabana três dias sobre a proteção da dona Nathalie e chamar as meninas também. O Nino já topou a ideia e tenho certeza que a Alya também vai. Se você quiser pode chamar a Kattie também."

Senti meu coração disparar dentro do peito. Porque ele não falou o meu nome? Será que ele realmente estava cogitando levar as minhas melhores amigas pra praia sem mim? Estreitei os olhos e coloquei as canecas de volta na mesa, fazendo uma careta para o crush da Ferrugem.

— E quanto a Marinette? - questiona, me encarando de volta. - Você vai convidar as amigas dela e deixá-la aqui em Paris? Que injustiça senhor Agreste júnior.

Pausa. Me sinto como se meus sentimentos estivessem sendo traídos.

"Eu quero convidá-la também Yaosaka. Só não sei se ela iria querer por vontade própria ou se Alya e Kattie iriam simplesmente obrigá-la a ir com elas."

— Mas que heresia, nós nunca faríamos isso! - Alya se pronuncia com um tom de falsa indignação, colocando a mão sobre o peito tragicamente.

— Nunca obrigamos a Mari a nos seguir. - Kat continua, sorrindo pra morena de óculos como duas cúmplices. - Ou ela vai ou ela morre, não tem conversa não moço.

"Desculpem meninas, mas o meu querido primo não me disse que estava na ilustre presença de vocês duas. Por favor, perdoem minhas palavras audaciosas."

— Está perdoado vossa alteza - a ruiva responde rindo com Alya. Balanço a cabeça, me sentando no sofá de novo pra ver onde aquela história iria dar. - mas acho que agora você deve um pedido de desculpas para mais uma de nós.

"Marinette também está no restaurante?"

Reviro os olhos e reprimo uma risada.

— Não estamos no restaurante. - digo, estranhamente ansiosa por falar com o loiro em tão pouco tempo que nos separamos. Um pequeno silêncio se instala entre nós dois. Ele pigarreia.

"Então... O que vocês acham? Aceitam minha proposta para viajar?"

— Eu não sei. - solto, pensativa.

— Ah, vamos Mari. - Alya pede juntando as mãos sobre o peito, com os olhos suplicantes. - Você acabou de dizer que estava precisando viajar, se distrair.

— Não é todo dia que o modelo teen mais famoso de Paris te chama pra passar três dias na cabana de praia dele e detalhe, numa das mais belas e conhecidas praias da França. - a O'Green argumenta com os olhos brilhantes na minha direção. Balanço a cabeça. - Por favor Marinette, pensa bem. É uma oportunidade de ouro.

— Meninas, nós nos conhecemos faz o que, seis meses? - digo, tentando procurar uma boa justificativa para me agarrar. - Vocês estão simplesmente se jogando de cabeça no escuro. - elas me olham com aquele típico olhar de cachorrinho e eu mordo o lábio pra me conter. - Ah não, não me olhem desse jeito.

— Sabe Mari, você deveria ir mesmo. - Bridgette se pronuncia do meu lado e eu lhe fito incrédula. Ela parece pensativa e um pouco distante dali, mas seus olhos azuis idênticos os meus me perfuram. - Espairecer um pouco. Relaxar. Você merece um descanso que seja.

— Mas e a mamãe e o papai? - questiono, desviando do assunto. - Eles vão precisar de ajuda na padaria e...

— Eu posso ajudar. - ela me interrompe, firme. - Acho que posso dar conta do recado sozinha, não?

Olho pro chão em busca de uma saída. A opção de viajar para longe dos meus problemas era tentadora e talvez se eu fosse poderia descobrir mais sobre o Adrien, sobre o passado dele e principalmente entender o que aconteceu entre ele e o Diego. Além disso, aquela poderia ser uma chance de me livrar do medo que pintava em minha mente sempre que me lembrava do bilhete encontrado na minha porta. Respiro fundo e olho para Louis, segurando o celular em uma das mãos.

Você vai se arrepender disso depois.

— Certo. - falo, torcendo para que minha voz soasse menos trêmula do que realmente eu a ouvia. - Mas eu só vou se minha irmã for comigo.

— Isso! - minhas melhores amigas gritam juntas.

— Como é que é? - Bridgette grita ao meu lado, me encarando pálida de repente. - Quando foi que eu concordei com isso?

— Ou você vem comigo ou então nada feito. - rebato, virando o rosto para o lado e cruzando os braços, teimosa.

— Bridgette Dupain-Cheng, nem invente de dizer "não"! - Alya grita apontando o dedo em sua direção, claramente lhe ameaçando. Minha irmã recua, e eu reprimo uma risada.

— Eu não quero nem saber. - Kattie continua se levantando, revoltada. - Você vai e ponto final. Eu não vou perder essa praia nem morta meu bem, então trate de ir arrumar suas tralhas enquanto nós ligamos pros nossos pais e dizemos que tu vai com a gente. - lança um olhar mortal na nossa direção e nós duas engolimos em seco. - Entenderam garotas?

"Sem querer colocar mais fogo na lenha, mas se eu fosse vocês eu iria. Até eu fiquei com medo."

Dou uma pequena gargalhada observando a cara do primo de Adrien enquanto ele encarava Kat, assombrado. Todos os olhares recaem sobre a Dupain-Cheng - que graças a Deus dessa vez não eu. Ela bufa, vermelha de tão irritada com a gente.

— Que seja. - Bridg responde, cruzando os braços contrariada. - Se faz bem a todos, diga ao povo que eu vou.

***

Diego

Voltei para casa depois de um dia cheio na faculdade. As aulas foram insuportáveis, e devo “agradecer” por isso àquelas duas pestes que, infelizmente, são minhas primas! O curso de Medicina é um curso sério, todo mundo vai para lá para se focar nos estudos, mas eu sei que, mesmo não espalhando isso dentro da classe, tava todo mundo rindo de mim. Para evitar isso, fiz o que faço normalmente: fiquei na biblioteca, lendo meus gibis do Colt Miller - já disse que adoro faroeste italiano? Incrível como eles conseguem fazer histórias sobre a fronteira americana melhor que os próprios americanos - e só entrei na sala de aula quando começou as aulas. Depois que a aula acabou, vazei de novo para a biblioteca. Esse é o meu itinerário agora na faculdade: sala de aula-restaurante-biblioteca. Mas sendo franco, eu já fazia isso antes de toda essa zona começar. Sempre fui muito introspecto, e agora, mais do que nunca, tenho motivos de sobra para isso. Na boa, é melhor eu esquecer a Lila, duvido que uma garota daquele calibre vá querer algo comigo.

Estou aborrecido. Me jogo na cama, tentando esquecer tudo aquilo.

Resolvo simplesmente pensar no que estudei, aí me lembro de uma coisa: enquanto estava indo para a biblioteca, vi de longe a Marinette falando com o Adrien. Eles vêm conversando muito ultimamente, mas agora é diferente. Antes a Marinette olhava para o Adrien com uma cara de quem havia pisado numa poça de lama com os sapatos novos, mas agora ela parece... sei lá, ter algum tipo de interesse no sujeito. Me pergunto o porquê. O que esse cara tem para ter prendido a atenção da Marinette? Eu sei que somos amigos há pouco tempo, mas a Marinette não parece ser do tipo de menina que cai feito uma patinha nos encantos de um fanfarrão feito o Agreste.

Mas ela vai acabar cedendo, cedo ou tarde. Aí o Agreste vai pegar ela, como mais uma joia em sua manopla de canalhice.

Balanço a cabeça, tentando desviar esse pensamento.

Não tenho tempo para pensar em garotas, até porque depois do que aconteceu, duvido que terei chance com a Lila ou com qualquer outra garota. Dito isso, ligo meu notebook e me preparo para estudar para um trabalho sobre hepatites virais. Mal abro o navegador e já dou de cara com várias postagens no meu feed de notícias do Facebook. Todas, adivinhe, sobre montagens vergonhosas minhas. Eu tento não me importar, finjo não me importar. Com o tempo, após diversas discussões sobre política no Facebook, aprendi a ser cínico. Me esconder sob uma capa de sarcasmo e ironia, despertar fúria nos militantes virtuais e fazê-los perder a cabeça, ridicularizar certos comportamentos das pessoas, adoro tudo isso. É viciante essa sensação de invulnerabilidade, é incrível ver as reações emocionais exageradas das pessoas ao vê-las sendo atingidas em seus pontos fracos.

Mas é uma coisa tóxica, não te faz bem.

Veja: para mim, sentimentos são como sangue: jamais deixe que te vejam sangrando, ou do contrário, vão te acertar com mais força ainda. Mostre-se forte, mesmo que você esteja a ponto de desabar. Apenas resista.

Suspiro e subitamente a voz da Laura ecoa na minha cabeça.

Eu não entrei no banheiro de vocês "homens" pra ser mais durona nessa situação do que vocês dois. Agora toma vergonha nessa cara e volta pra sua vidinha normal, senão o bicho pega!

— Como se a minha vida fosse normal. - murmuro para mim mesmo, amargo.

Do nada uma nova notificação aparece piscando na tela do meu computador. Novo e-mail de remetente desconhecido. Franzo a testa e arrumo meu óculos sobre o meu nariz. Torcendo para que não seja nenhum vírus para idiotas clico na notificação e contemplo diante de mim uma mensagem curta, anexada a vários arquivos embaixo. Uma passagem da Bíblia.


Se um inimigo me insultasse,
eu poderia suportar;
se um adversário se levantasse contra mim,
eu poderia defender-me; mas logo você, meu colega,
meu companheiro, meu amigo chegado, você, com quem eu partilhava
agradável comunhão
enquanto íamos com a multidão festiva
para a casa de Deus!
Salmos 55:12-14

— Onde já se viu uma coisa dessas? - digo em voz alta, indignado. - Não se respeita nem o Livro Sagrado hoje em dia. Onde é que vamos chegar?

Mas assim que clico sobre os anexos e seus downloads se completam no meu PC é que eu consigo compreender o que aquela passagem queria dizer. Não consigo acreditar no que vejo. Como é que a Marinette pôde beijar aquele esdrúxulo do Adrien? Meu Deus, isso só pode ser uma montagem de muito, mas muito mal gosto! Será que a minha amiga seria capaz de uma traição dessa proporção? Pelos céus, como eu odeio aquele desgraçado do Agreste! Será que ele não desiste de se sentir o rei da cocada preta nunca? E a Mari... Eu jamais imaginei que ela se entregaria assim pra ele tão rápido! Fecho os arquivos trincando os dentes e tento descobrir alguma coisa de quem me enviara aquelas fotos. Droga. Nada. Até mesmo o e-mail que me mandara aquela aberração da natureza não sugeria nada de quem era fora do computador.

Passo a mão no cabelo já transtornado, quando meu celular começa a tocar jogado do outro lado da cama. O nome no visor faz a raiva crescer dentro de mim ainda mais.

"Oi Diego, tudo bem com você?"

— Se está tudo bem? Se está tudo bem? - repito com a voz aguda. Ela faz um ruído confuso do outro lado da linha que me dá nos nervos. - Como poderia estar tudo bem depois do que o idiota do seu amiguinho Agreste fez comigo? Achou engraçadas as montagens que o seu namoradinho novo fez com a minha cara? - pergunto irritado.

"É claro que não achei engraçado Diego. Fui a primeira a questionar qual era a graça de tamanha palhaçada com você e encostar o Adrien na parede pra saber se aquilo tinha sido ideia dele pra te humilhar de alguma forma..."

— Ah claro. - lhe interrompi pensando na mesma agarrada com o pior do clã Agreste debaixo de um temporal. - Aproveitou que encostou ele na parede e já tascou logo uns beijos não é? Pelo visto ele conseguiu mesmo te fisgar não foi Marinette?

"Diego, não estou te entendendo. O que eu beijar o Adrien tem a ver com aquelas montagens com o seu rosto?"

— Então é verdade mesmo? - pergunto, boquiaberto. - Mari... Como foi que você pôde? Não vê o mau caráter que esse cara é? Não vê que ele só está usando você? Por Thor, será que você...

"Até onde eu sei eu não sou burra e nem cega Diego. Eu sei o que eu estou fazendo, não preciso dos seus conselhos."

— Marinette, me escuta. - peço, revirando os olhos, impaciente. - Você não pode confiar no Adrien. Acredite em mim, você só irá quebrar a cara. Ele pode ser boa pinta, simpático e até mesmo dizer que você é a única coisa mais importante na vida dele, porém lá na frente ele vai te trair como todas as outras garotas. - penso na mensagem enviada e franzo o cenho. - Ele não presta Marinette. - lhe asseguro com certeza na voz.

"Meu Deus, porque vocês dois se odeiam tanto? O que foi que aconteceu entre vocês de tão grave que não suportam ouvir o nome do outro?"

— Não interessa o que houve entre nós dois! - exclamo, tentando manter a calma. Esfrego o rosto, cansado. - Só fica longe dele se sabe o que é o melhor para você!
Sua voz se torna de preocupada a irritada comigo.

"Como é que é? Você está me ameaçando, Broussard?"

— Isso não é uma ameaça, Marinette! Isso é um conselho de amigo! Acha que eu não conheço tipinhos como você? Forte, independente, poderosa, decidida, que não aceita ouvir macho falando alto com você... isso até conhecer aquele traste e começar a se arrastar de amores por ele, como uma imbecil babona e apaixonada! O Agreste come mocinhas como você no café da manhã, no almoço, no jantar e nos lanchinhos!

"Diego, você realmente não está dizendo coisa com coisa. Está aborrecido por conta das montagens e das zoações que vêm sofrendo. Está aborrecido porque, ao invés de ir para a praia com a gente, teve que ficar em casa botando os trabalhos da faculdade em dia. Sei que você deve estar uma pilha de nervos porque Medicina é um curso puxado, mas isso não te dá o direito de falar assim comigo! Vamos encerrar a conversa por aqui e você retorna mais tarde, quando estiver com a cabeça fria."

Arquejei, sentindo minha voz se elevar sem que eu pudesse controlar. Marinette parecia chateada do outro lado, mas tenho certeza que nem se comparava ao que eu estava sentindo.

— Está bem, pode ir! - mando, com um sorriso sarcástico. - Se diverte aí com seu modelinho mais-que-perfeito. Aproveita que vocês vão na praia e bota um biquíni bem chamativo para ele te dar mais alguns beijos. Se você caprichar, talvez ele até te adote como estilista. - dou um suspiro fraco. - Só não vai chorar depois quando ver ele agarrado com outra modelo, viu? - acrescento me sentindo enjoado com minha própria amargura.

A linha fica quieta por longos e irritantes segundos. Por um momento penso que ela simplesmente desligou na minha cara sem nem se dar ao trabalho de me responder à altura, porém assim que capto um soluço baixo sinto boa parte da minha fúria momentânea ir embora. Eu tinha feito ela chorar. E a Marinette que eu conheci no François Dupont jamais chorava.

— Eu... Eu não... - começo tentando arranjar uma maneira de me desculpar.

Tarde demais pra pedir perdão Diego.

"Você é um idiota Diego!"

A linha ficou muda do outro lado. Se ainda estivéssemos no tempo dos telefones de mesa, tenho certeza de que teria ouvido o baque dela batendo o telefone no gancho. Abro a galeria de fotos do meu computador novamente e vejo lá as fotos que alguém me mandou anonimamente, da minha amiga agarrada na chuva com o modelinho de Paris, que estava vestindo aquele moletom ridículo. Ah, se fosse eu vestindo aquilo, todo mundo ia passar longe de mim e dizer que quem cruzasse comigo teria 7 anos de azar. Mas o Agreste pode, afinal, ele é filho do maior modelo da França! Grrr, obrigado Agreste! Você conseguiu me deixar furioso, mesmo a quilômetros de distância daqui! Ligo a minha playlist mista de Sabaton e Crush 40 e coloco na música “Night Witches”, porque não posso descontar minha raiva batendo nas coisas do meu quarto. Muita coisa da minha coleção nerd custou os olhos da cara.

From the depths of hell in silence

Cast their spell of explosive violence

Russian nighttime flight perfected

Flawless vision, undetected

Pushing on and on

Their planes are going Strong

Air force’s number one

Somewhere down below

They’re looking for the foe

Bombers on a run

Your can’t hide, you can’t move

Just abide their attacks has been proved

Raiders in the dark

Silent through the night

The witches join the fight

Never miss their mark

“Você é um idiota, Diego”.

Essa foi a última frase que eu ouvi sair da boca da primeira garota por quem me apaixonei, até ela ir correndo pros braços dele. Parte de mim queria desabafar isso com uma amiga de confiança, como a Marinette. Mas o que eu diria? Que me apaixonei pela garota mais popular do Ensino Fundamental, que era minha amiga de longa data, mas ela preferiu ficar com o Agreste? A última coisa que quero é alguém com peninha de mim por algo que aconteceu mais de uma década atrás. Além do mais, se eu contasse isso, aí sim ninguém ia dar bola para o que eu falo. Iam achar que isso é tudo birra de alguém que não sabe admitir a derrota.

O Agreste sempre teve tudo do bom e do melhor de mão beijada. Ele teve todos os tipos de console da geração atual e até alguns da anterior, tudo original, sem emulador. Sabe esses clássicos do Playstation, como God of War, Call of Duty, Black, Call of Juarez, Uncharted, Tomb Raider, Crash Bandicoot, etc? Pois é, ele teve todos os originais, e mais dezenas de clássicos de outras empresas, tudo CD ou cartucho original. Eu tive que esperar até entrar na faculdade para ganhar meu PS4. Ele também sempre os melhores aparelhos eletrônicos - eu só ganhei um da nova geração no final do Ensino Médio -, as melhores roupas, os melhores colecionáveis - toda minha coleção nerd foi comprada ou com meu dinheiro suado ou ganhei de presente da Tuggi. Apesar de ser uma doida de pedra, ela sempre dava os melhores presentes de aniversário e Natal -, o melhor de tudo. Até as melhores garotas ficavam para ele, na verdade, TODAS ficavam para ele. Enquanto eu ficava fazendo um esforço colossal para não parecer um idiota na frente de uma garota, ele simplesmente aparecia e fazia cinco ou seis desmaiarem de paixão.

Sim, eu tenho inveja dele, e também tenho raiva porque ele trata tudo isso como se fosse descartável. Meus pais sabem que eu sempre tive um pouco de inveja dele e vivem falando que “dinheiro não traz felicidade”, “ser modelo é uma carreira cheia de incertezas”, “Tem muito rico que sofre de depressão”, blá-blá-blá. Eu queria ter esses problemas de rico! Meu Deus, como deve ser difícil ter um monte de empregados à sua disposição, lixando suas unhas, coçando suas costas, mastigando sua comida para você. Que tormento deve ser não saber com qual garota sair de noite! Nem imagino como deve ser a dor de cabeça de ter que escolher apenas uma! E o que dizer da dificuldade em planejar quais filmes, séries e jogos maratonar, não é mesmo? Nossa, a vida do Agreste é tão difícil! Tô morrendo de pena dele!

Eu não me importo com o que você pensa

Quando olha para mim

Porque o que eu tenho em minhas mãos

É o bastante para me levar até o fim (até o fim)

A questão das garotas sempre foi o que mais me irritou. Uma das lições que meus pais me ensinaram foi que você só deve namorar alguém se você realmente se preocupar com a outra pessoa. Eles viviam e ainda vivem dizendo para mim que nunca se deve namorar apenas por pressão social, carência ou necessidade de provar algo. Já o Agreste namora por esporte, por diversão, só para mostrar que pode. As garotas são para ele o que os bisontes eram para Buffalo Bill: troféus, nada mais que isso. O pior de tudo é que mesmo sendo reduzidas a isso, várias garotas que tiveram os corações partidos por ele ainda se arrastam atrás dele, suspirando feito umas tontas por um pouco de afeição daquele lixo. Elas não querem saber de outros garotos, dispostos a amá-las de verdade. É como naquela história tosca dos 50 tons de cinza: preferem ser amarradas, chicoteadas e tratadas feito objetos pelo ricaço do Christian Grey do que serem amadas por algum zé-ninguém como eu. Elas preferem sonhar com o modelo mais cobiçado de Paris porque gente normal, como eu, não é o bastante para satisfazer os desejos dela. Gente como eu nunca foi o bastante.

Por muito tempo eu resisti ao sentimento

De brigar no calor do momento

Mas quando achei que tudo acabou

Foi aí que você retornou

Mas isso tudo mudou desde que minha mãe se tornou a coordenadora dos cursos da área da saúde na universidade. Ela agora gerencia os cursos de Medicina, Enfermagem, Farmácia e Fisioterapia. Agora ela é parte da elite da universitária: o Estilista de Moda, pai do Adrien Agreste; a Empresária do ramo de Cosméticos, mãe da Jacqueline Gagnon, o prefeito de Paris, pai da Chloé Bourgeois, e agora a Médica Cirurgiã, minha mãe. Eles são tipo a Grande Autoridade Diamante do François Dupont. Isso significa que agora eu posso recomeçar. Não tenho mais que ser o insignificante, o medíocre, o rejeitado. Agora eu posso ser mais do que apenas... isso. Eu posso ser o incrível, o popular, o desejado! Eu também posso bater de frente com o Agreste, a Bourgeios, a Gagnon. Dizer a eles verdades que ficam entaladas na garganta dos outros universitários, que têm medo de botar a boca no trombone e sofrerem as consequências.

Sou eu, tu diz, que estavas procurando

Vou te mostrar quem eu sou e o que está te aguardando (te aguardando)

Eu também posso mostrar pros meus pais quem eu posso ser de verdade! Chega de “não fique desejando a garota mais popular porque ela é cobiçada por todos”, chega de “estude bastante, aí quando você se formar poderá escolher a garota que quiser”, chega de “Pare de invejar a vida do outro! Talvez ele nem seja tão feliz quanto você pensa!".

Tente então pisar em mim

Como se fosse nada demais

E eu te mostro, assim,

Do que sou capaz

Nossa, só agora eu percebi: a música que eu tinha colocado para tocar acabou faz tempo. Agora minha playlist está tocando “What I’m Made Of...”, do Crush 40. Agora que estou prestando atenção na música, é quase como se ela conversasse comigo.

Só de curiosidade

Tente me passar pra trás

E eu te mostro, assim,

Do que eu sou capaz

Encaro o teto do meu quarto, pensativo. Eu vou mostrar pra eles o que eu posso fazer. Inclusive para aquele babaca do Adrien.


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