Steal Your Heart AU escrita por MusaAnônima12345


Capítulo 22
Passado Sombrio


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, belezinha com vocês? :v

Então, eu sei que demorei um bocado pra atualizar essa fanfic, mas a minha vida ultimamente tá uma loucura. Sério, eu não aguento mais essa vida bandida viu? Hueheuehue, brincadeiras a parte, aqui está a atualização de SYH - um pouquinho atrasada (ok, MUITO atrasada), mas acho que ainda tá valendo.

Boa leiturinha e nos vemos no próximo capítulo! ;)

Capítulo postado no dia: 03/11/2018, ás 21:20



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Adrien

Só depois de fechar a porta atrás de mim e me encostar nela percebo que um sorriso insistente está preso no meu rosto. Pelas janelas do meu apartamento posso notar que a tempestade lá fora continua, sem dar trégua em momento algum. Ah cara, até agora não acredito no que eu fiz. Eu beijei a Marinette. Eu realmente beijei a Marinette! Ela me retribuiu! Acho que estou ficando louco. Nunca me senti desse jeito antes com menina nenhuma, sabe, essa ansiedade toda, todo esse trabalho pra conseguir o meu objetivo, muito menos toda a insistência que tive por ela. É como se de repente a minha vida fizesse sentido. Como se aquela baixinha insuportável fosse as cores do meu mundo cinza. E como se aquele beijo, aquele simples gesto que já estava tão acostumado a receber das mulheres ao meu redor, tivesse costurado as partes quebradas do que restara de um coração que eu imaginava que nem tinha mais. Argh, o que é isso? É o maldito sentimento que eu tanto me esforcei pra enterrar longe de mim, não é? Essa doença chamada amor. Suspiro, me sentindo feliz demais pra dores antigas voltarem a tona e ameaçarem me derrubar. Ouço passos se aproximando de mim e levanto a cabeça. Mandy.

— Onde foi que você se meteu menino? Nathalie estava ligando aqui que nem uma condenada atrás de você enquanto eu não fazia a menor ideia de onde você estava e... Porque não levou um guarda-chuva ou chamou o Gorila pra te trazer até em casa Adrien? - ela me pergunta com a preocupação estampada no rosto e me envolvendo nos seus braços fortes e musculosos que ela não fazia questão de esconder. Só então que havia lembrado que estava encharcado dos pés a cabeça.

Lhe encaro enquanto ela continua com uma sessão interminável de perguntas, irritada por eu simplesmente ter "desaparecido" sem deixar nenhum vestígio pra trás. Pela primeira vez consigo notas alguns fios grisalhos em seu cabelo preto amarrado num coque bem firme, os olhos castanhos tão escuros sendo marcados por pequenas linhas expressão em sua testa e no cantinho dos olhos e como ela realmente deveria ter ficado preocupada comigo porque não lhe avisei de nada. Dei uma pequena gargalhada e lhe deposito um beijo no topo da cabeça.

— Sinto muito dona Mandy, prometo não fazer isso de novo. - digo mostrando meus dedos estendidos como fazia com Nathalie quando eu e Félix éramos pequenos e prometíamos não fazer algo de novo. Ela me encara descrente e arqueia uma sobrancelha. - Agora se me dá licença, preciso tomar um banho quente e me preparar pra tal sessão de fotos que a senhorita Nathalie agendou pra mim.

— Hã-hã mocinho, primeiro você vai ligar para a Nathalie e dizer que está vivinho da silva, sem nenhum fio de cabelo a mais ou a menos. - ela me agarra pelo braço, me arrastando para o centro da sala e colocando o telefone fixo nas minhas mãos. - Tome, ligue na minha frente Adrien.

Suspiro, subitamente sentindo uma pontinha de frio e disco o número da mesma no aparelho. Ela atende no segundo toque.

"Adrien?"

— Sim, sou eu Nathalie. - respondo com um mínimo sorriso. Ela começa a descarregar uma verdadeira ladainha interminável nos meus ouvidos e até o afasto por alguns segundos. - Tá, tá, já entendi que deveria ter dito para onde fui, mas antes de chamar o exército francês pra me seguir quero te pedir um favor. - ela dá uma risada sem humor do outro lado da linha.

"Um favor?"

— Isso. - confirmo, balançando a cabeça e me lembrando da conversa que tivemos mais cedo naquela mesma manhã. Uma onda de adrenalina e impulso sobre pela minha pele. - É sobre a sessão de fotos da nova coleção. Quero que meus amigos viagem comigo pra cabana que temos lá ou nada feito, pode dizer ao meu pai que sem eles eu não dou as caras e nem mesmo o Gorila me arranca daqui do apartamento.

A linha fica em silêncio por longos cinco minutos e quase me arrependo de ter feito tal pedido, mas tento me manter firme do que estava falando.

"Vou providenciar tudo isso pra você com uma condição."

Meu coração acelera quase com a mesma intensidade que meu sorriso se alarga na minha face.

— Que condição? - lhe indago, morrendo de curiosidade.

"Que você e seus supostos amigos só ficarão três dias na cabana e então voltarão para Paris. E que o Gorila ficará responsável por todos vocês nesse meio tempo fora da cidade."

— Combinado então Nathalie. - exclamo um pouco alto demais pra mim mesmo e dou uma pequena gargalhada. Gorila de vigia era bem melhor do que não poder ir a lugar nenhum nas férias. - Nathalie você é a melhor, obrigado mesmo!

"É, eu sei Adrien, eu sei."

Vou rapidamente pro meu quarto, deixando para trás uma verdadeira mãe confusa e balançando a cabeça, ainda um pouco nervosa comigo. Passo pelo corredor que separa o meu quarto do quarto dos meus amigos e quando passo pela minha porta levo um verdadeiro susto. Tinha uma pessoa lá dentro. Uma pessoa parecida comigo, com uma roupa casual demais pro meu gosto e com um penteado muito certinho em contraste com o meu cabelo do jeito que estava. Quase não consigo acreditar e no meio de tantas reações que poderia pensar só uma inesperada sai da minha boca: uma risada.

— Sabe irmão, se você estava procurando alguma coisa de valor pra levar de volta pra casa e pro nosso pai deveria dar uma olhada no meu cofre. - brinco, arrancando meu moletom preto ensopado e jogando no chão do meu banheiro. O escuto soltar uma gargalhada contida.

— Por acaso a senha ainda é "12345"? - Félix pergunta enquanto me encosto na beirada da porta para lhe encarar. Sorrio, cruzando os braços.

— Não, mudei essa senha há dois meses. - respondo enquanto ele balança a cabeça, parecendo se divertir. Franzo a testa. - Gabriel que mandou você vir até aqui pra deixar essa "sessão de fotos mais divertida"?

— Adrien, por mais que não amemos o nosso querido pai, ele infelizmente ainda continua sendo o nosso pai. - o loiro rebate com um tom sarcástico. Reviro os olhos e desvio meus olhos do mesmo.

As vezes Félix falava como se não tivesse sofrido tanto com o nosso pai quanto eu na nossa antiga casa. Bom... É claro que se não fosse por ele talvez eu não estivesse encontrado pessoas tão boas e maravilhosas como Mandy, Nino e os caras, mas eu não consigo entender como é que ele ainda consegue chamar o Gabriel de "nosso pai". Com um arrepio subindo pelas costas não consigo evitar pensar em como ele se alterava quando trancado o dia inteiro no seu escritório e quando saia descontava toda aquela raiva em nós dois, como se nós fôssemos os responsáveis pela morte da nossa mãe. Até hoje me lembro como havia ganhado aquelas marcas nas minhas costas.

"Era noite. Naquela época eu ainda vivia apenas com o Félix e o meu pai, pouco tempo após a morte da minha mãe e eu me lembro que naquela semana nós ainda estávamos de luto. Meu irmão estava trancado no quarto dele e eu estava no hall da escada, encarando o quadro que havia acabado de ser pendurado na parede com uma pintura de nós três vestidos de preto. Eu tinha 17 anos.

Eu ainda amava o meu pai.

Foi quando ele simplesmente saiu do escritório, ofegante. De onde eu estava podia ver muito pouco do escritório do meu pai, mas o que eu tinha conseguido enxergar era horrível. Várias estátuas de arte no chão, totalmente destruídas; alguns quadros caríssimos com longos rasgos em suas telas e vários vestígios que um verdadeiro furacão tivesse passado por ali. O olhei completamente horrorizado, ali, segurando um pedaço de fio que até hoje não descobri de onde ele havia arrancado. Ele me encarou e eu soube naquele momento o que significava a palavra medo. Eu nunca esqueceria aquele olhar mortal que ele tinha no rosto, os gritos, os palavrões que ele me chamou e como meu irmão havia sido corajoso o suficiente pra apanhar no meu lugar.

Depois de tanto pedir pra que ele parasse com todo aquele ódio, junto com toda aquela dor nas minhas costas e com as lágrimas desesperadas que rolavam pelo meu rosto, eu aprendi três coisas naquele dia. A primeira é que eu havia perdido um pai naquele noite e ganhado um inimigo. A segunda era que o amor que eu achava que existia entre meu pai e nós era pura mentira.

Já a terceira... Bem... Era que a única pessoa que eu podia confiar era no meu irmão mais velho."

— Eu não tenho pai Félix. - afirmo, sem dar espaço pra questionamentos. - Não depois de tudo o que aconteceu no passado. Esse tipo de coisa não se esquece de um dia pro outro, - olho novamente para ele e ele não se mexe. - apesar de você parecer já ter feito isso.

Ele suspira e se senta na minha cama, esfregando o rosto com as mãos. Após alguns minutos ele encara o chão como se fosse uma pintura indecifrável.

— Não maninho, jamais vou esquecer. Assim como você eu também carrego minhas cicatrizes. - sua resposta é afiada, me atingindo como um tapa na cara. Me sinto mal e culpado ao lembrar que ele se colocou no meu lugar. - O que quero dizer é que, por mais que o passado seja um pesadelo, temos que seguir em frente. - ele solta um pequeno sorriso pra tentar amenizar todo aquele papo. - Mas não, não foi ele que me mandou. Foi a dona Nathalie.

— Deixe-me adivinhar, preocupada com Mandy não saber onde eu estava? - indago conseguindo dar um pequeno sorriso, esperando que não saia forçado. Ele balança a cabeça, confirmando. - Bem, digamos que eu tive um pequeno contratempo e agora estou com uma doença grave.

— Uma doença grave. - Félix repetiu, me encarando com um sobrancelha arqueada. De repente o sorriso bobo de quando cheguei retorna a minha face. - Me conte mais.

— Acho que estou apaixonado. - digo, me lembrando da maciez dos lábios da Cheng nos meus e sentindo meu coração acelerar um pouco. - E dessa vez é de verdade.

As risadas exageradas daquele loiro de olhos azuis cortaram todo o meu quarto, indo das enormes janelas até os meus ouvidos. Lhe lanço um olhar debochado e esperei que acabasse com toda aquela cena forçada.

— Cuidado maninho, essa doença pode te matar. - ele diz entre risadas, quase rolando na minha cama. - Ela que enfiou uma faca na sua barriga? Meu Deus, eu claramente já teria fugido pra longe dessa garota.

— Não, ela não me esfaqueou. Eu a salvei de uns loucos que podiam tê-la matado se não tivesse me jogado em seu lugar. - expliquei enquanto a memória antiga de não muito tempo atrás voltava a minha mente. Instintivamente olho para baixo e toco o local onde havia sido ferido. Agora só me restava uma cicatriz. - Aliás, eu aprendi que quando se ama alguém, você deve dar sua vida no lugar da dela se necessário.

No mesmo instante o observei se calar e trocamos um olhar significativo. Bem, eu não estava errado. Dei um espirro e me lembro que precisava tomar um banho para não ficar resfriado como provavelmente já estava. Esfrego as mãos no rosto e faço menção de entrar no banheiro de novo quando Félix me chama. Me viro para ele e estreito os olhos, já esperando um sermão. Porém, o que escuto não é nada do que eu estivesse preparado no momento.

— Tome cuidado com essa garota Adrien. - ele me adverte, sério. Seus olhos azuis estão tão gélidos que parecem me atravessar como estacas de gelo. - Você também dizia estar apaixonado de verdade pela Kyoko e ela despedaçou o seu coração como se fosse de papel. Não quero que isso se repita, me entendeu?

Me volto para a porta a minha frente e entro no banheiro. Respiro fundo e aperto a maçaneta.

— Acredite Félix, eu também não quero. - afirmo, lhe lançando um olhar sério como o que ele me encara. Em seguida fecho a porta do banheiro.

***

Laura

Eu já estava na casa do Jacques novamente, naquilo que chamava de meu quarto. Estava sentada mais uma vez na minha janela, com meus fones de ouvido nas alturas e com o meu caderno de escrita nas mãos. Meus lápis de cor e aquarelas de pintura e desenho estavam encostados ao lado do meu corpo, enquanto deixava meus dedos guiarem meu desenho mais uma vez. Lá fora a chuva cortava a beleza de um dia ensolarado, trazendo nuvens grossas e raios aqui ou ali de vez em quando. Simplesmente um dia perfeito. Ouvia Heart By Heart, da Demi Lovato enquanto lembrava de uma das minhas personagens favoritas das séries de livros que já havia lido: Clary, de "Os Instrumentos Mortais". Éramos muito parecidas em diversos aspectos e isso fora o que me incentivara a ler a série inteira em menos de um mês. Quando vejo o que estou desenhando sem querer dou um pequeno sorriso. Jacques, mesmo ainda um pouco imperfeito, mas mesmo assim lindo. Meu Deus, o que está acontecendo comigo? Suspiro, guardando meus materiais e começando a folhear minhas páginas cheias de frases de livros e de músicas que tanto combinavam com a minha vida até ali. Paro minha mão na página que apenas há alguns dias havia escrito e feito uma pequena ilustração sobre meus pais.

Automaticamente me vejo obrigada a trocar de música na minha playlist aleatória. Eu sou uma garota que acredita que uma música fala mais do que muitas palavras vazias. Palavras são apenas palavras.

Eu não quero comprar

O que eles têm vendido ultimamente

Fecho meus olhos e minha mente viaja de volta para casa. De volta ao Brasil. De volta a aquele dia. Bem... Era um sábado qualquer de maio. Minha mãe e eu íamos sair a noite com o meu pai naquele dia. Eles tinham brigado feio na noite anterior e eu achei que um programa com a família seria uma saída pra que os dois não saíssem na porrada um com o outro, portanto aquela ideia tinha saído de mim. Aquela ideia que eu achava que seria a salvação pra minha família.

Dizendo que sentir

E se apaixonar é um erro não, não

Eu tinha curso a tarde naquele sábado, mas por conta do meu professor que teve que ir ao médico na última hora com uma reação alérgica a pasta de Amendocream, a minha aula de piano havia sido marcada pra outro dia e eu estava voltando pra casa junto com a minha mãe. Meu pai devia estava trabalhando aquela hora ainda, então eu teria mais um tempinho pra arrumar as coisas de casa pra sairmos mais tarde. Claro, tinha os empregados que faziam isso, mas nunca gostei de me aproveitar do trabalho deles então quando sempre fazia questão de fazer as coisas eu mesma. Aquele dia não era diferente.

— Querida, você pode levar essas compras na frente pra mim enquanto eu estaciono o carro? - minha mãe havia me pedido enquanto estacionávamos na frente de casa. Assenti com a cabeça, pegando as poucas sacolas de dentro do carro e jogando minha mochila sobre o ombro direito.

— Claro mãe, te espero lá dentro. - disse, caminhando até a porta da entrada enquanto ela estacionava o carro dela na garagem. Minha mãe também preferia fazer as coisas ela mesma.

E por que todos olham para os corações jovens

Se apaixonando

Como se fosse uma questão de tempo

Até eles partirem, não, não

A primeira coisa que estranhei quando pisei em casa foi tudo estar deserto, sem sinal de nenhum empregado. Nem mesmo os seguranças que cuidavam do nosso jardim do lado de fora estavam lá em seus postos. A segunda coisa foi uma bolsa marrom cheia de brilhantes de tamanho médio jogada no sofá da minha sala. Franzi a testa. Nunca havia visto aquela bolsa com a minha mãe. Coloquei as compras na pia da cozinha e notei que tinham dois copos de vidro ali. Arregalei os olhos quando os analisei melhor.

Um estava manchado de batom. Um batom vermelho escarlate.

Cambaleando voltei para a sala e segui para o quarto dos meus pais. Poderia ser apenas coincidência. Poderia ser alguma tia que viera visitar meu pai, afinal todas adoravam beber até encherem a cara. "É apenas uma coincidência." era o que eu repetia sem cessar dentro da minha cabeça, avançando pela sala de jantar em direção ao corredor dos nossos quartos. Se eu realmente achava que aquilo iria diminuir a dor que ameaçava tirar o meu chão?

É, eu achava.

Eles começam a dizer que

Quando não puder se esconder, corra

Quando não puder correr, se esconda

Foi quando vi as roupas. Prendi a respiração quando reconheci a camisa azul e impecável do meu pai espalhada pelo chão com um casaco visivelmente feminino. Não. Não podia ser o que eu estava pensando. Passei por mais algumas peças e parei em frente a porta do quarto dos dois, mexendo na maçaneta e desejando desesperadamente que tudo fosse apenas alguma paranóia da minha cabeça. Encostei meu ouvido na porta e não consegui ouvir nada a princípio, mas quando me concentrei pude escutar vozes lá dentro. Murmúrios. Não. Sussurros. Meu coração estava acelerado e meus olhos começavam a arder.

— Pai? - chamei baixo, estreitando os olhos para ouvir qualquer resposta. - Pai, é você que está ai dentro? Quem está ai com você?

Silêncio completo do outro lado. Num ímpeto soquei a porta com força três vezes. Um nó na minha garganta insistia em não se desfazer e senti como se estivesse sufocando de repente.

— Pai! - gritei, esmurrando a porta mais uma vez. Subitamente um peso impedia com que conseguisse respirar direito.

Não consegui conter a avalanche de sentimentos que passaram pela minha mente e antes que percebesse uma revolta enorme havia se instalado dentro de mim. A minha vida toda até ali eu havia aprendido que o amor superava qualquer coisa, que meu pai amava minha mãe apesar de todas aquelas discussões, que ele sempre seria meu pai não importasse o que acontecesse... Aquilo era apenas mentira então? Era apenas uma lorota que me contara para querer insistir na nossa família, pra "lutar" do lado dele naquela batalha? E nesse tempo todo ele estava traindo minha mãe. Estava me traindo.

Comecei a pensar que o amor era uma arma carregada

— Vai fazer o favor de abrir a porra dessa porta ou eu vou precisar chamar a polícia? - gritei, sentindo meus olhos arderem com uma fúria que jamais havia achado possível.

Antes que eu pudesse sequer pegar o celular no bolso para realmente cumprir o que havia dito a porta se abre com um clique. Lentamente, meu pai aparece com o cabelo totalmente desgrenhado, o pescoço vermelho borrado com o batom da possível vadia que estava naquele exato momento deitada na cama da minha mãe. Senti meu rosto ficar quente como se estivesse na frente de uma fogueira e antes que pudesse pensar em qualquer coisa escuto aquela vagabunda loira me encarar e dar um sorriso cínico.

— Carlos, não vai me apresentar para a mocinha? - ela pergunta com uma voz tão nojenta quanto a minha repulsa por sua presença ali. A maldita provavelmente tinha feito aquilo de propósito.

Não consigo me mexer. Apenas observo meu pai dividir seu olhar entre aquela galinha e mim, e em seguida se voltar pra minha direção querendo formar uma única frase completa. A essa altura já estou ofegante e meus olhos já não ardem. Sinto as lágrimas quentes descerem rolando pela minha face enquanto avanço pra cima dele, o socando com toda a minha fúria sem ligar pra mais nada ao meu redor. A dor havia me ferido mortalmente aquele dia. Como se ter virado motivo de piada na escola por ter acordado gritando de um pesadelo no meio de uma aula de literatura e ter me envolvido numa baita revolta xingando a política brasileira, sendo arrastada pelo meu pai ao vivo e depois ter virado alvo de críticas e mais xingamentos nas redes sociais não tivesse sido o suficiente no dia anterior. Eu tinha mais do que motivos para estar com os nervos mais do que a flor da pele.

Como foi que você pôde? — berrei, sem querer mais controlar meu choro desesperado. Eu estava tentando entrar naquele quarto de qualquer jeito e rasgar a cara daquela loira de programa com as minhas próprias unhas, mas meu pai não me dava nenhuma brecha para passar. - Você traiu a minha mãe na cara dura mesmo depois de tudo o que aconteceu! Como é que você pode ser tão desprezível assim com aquela prostituta no lugar da minha mãe! Eu...

Num impulso, ele conseguira me desequilibrar com um tapa no rosto. No chão eu só conseguia encará-lo com descrença. Incredulidade com o que ele acabara de fazer. Chocada demais pra qualquer outra palavra sair da minha boca. Minha garganta fechou e eu mal sentia meu rosto molhado, somente a dor no local onde havia recebido aquele tapa. Foi quando o observei melhor que vi que ele estava tão assustado com o que tinha feito que percebi que ele também havia agido por impulso. Naquele momento... Eu senti o meu coração ser quebrado como um espelho dentro de mim.

Ninguém quer lutar

E quando todos começarem a pensar que o mundo

Para de girar quando se dá um beijo de boa noite

E quando sua pulsação acelerar

Comece a pensar que valeu a pena a espera

— Laura, o que está acontecendo ai? - ouvi a voz da minha mãe me chamando preocupada, mas ela parecia distante. Muito distante.

Meu pai estava balbuciando um pedido de desculpas, se aproximando levemente de mim e eu me senti recuando como um verdadeiro bicho que havia apanhado de seu dono.

Depois disso... Bom... Toda a minha história mudaria depois da minha mãe também ter flagrado meu pai a traindo. Nós havíamos ido pra casa da vovó. Ela e Carlos haviam ficado dias sem se falar. Foi quando ela decidiu pedir de vez o divórcio e ficou sabendo que nesse meio tempo ele tentaria ficar com a minha guarda. Fazendo um acordo com a Justiça ela conseguiu arranjar uma maneira de não me envolver tanto e decidiu me mandar pra casa da mãe do Jacques, a dona Charlotte. Elas eram melhores amigas na faculdade e o tio Achille também era conhecido dela. Logo, eu estava viajando de um dia pro outro pra fora do meu país como se fosse uma peça de xadrez sendo exilada para outro tabuleiro para que obtivesse vantagem posteriormente. Paris. Do outro lado do meridiano de Greenwich. Em nenhum momento eu fui consultada sobre se queria ou não ir embora. Eu queria a minha mãe. Queria o abraço dela. O amor dela. Não queria desampará-la num momento como aqueles.
Porém, mais uma vez eu havia sido ignorada. E mais uma vez o meu coração se machucava.

Eu quero, eu quero ser amada

Eu quero, eu quero ser amada

Entretanto, eu não sabia como minha vida mudaria ao ver Jac novamente. De algum tempo pra cá eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Ele era exatamente o que eu precisava. Era quase um refúgio nos meus momentos de fraqueza. Seu abraço era o único que conseguia me acalmar quando entrava nas minhas crises de desespero. O tempo que passávamos juntos nunca seria suficiente para me fazer satisfeita. Seu sorriso era tão lindo quanto o de que Jace, Maxon, Cal ou até mesmo de Daniel, onde todos saíam juntos de seus livros para disputar o meu coração. A questão é que eu não o enxergava mais só como um amigo. Talvez eu quisesse que ele fosse mais do que apenas o meu amigo de infância.

Eu quero, eu quero ser amada

E eu não quero correr

Eu não quero me esconder

— Laurinha?

Alguém me sacode e rapidamente volto para a minha realidade atual, fechando por instinto meu caderno e encarando quem era o intruso nos meus devaneios com a cara surpresa. Com espanto percebo que ele estava ali. O mesmo olhar preocupado camuflando as mais belas safiras que já vira na minha vida. O cabelo molhado bagunçado sobre o rosto e quando olhei um pouco mais para baixo notei que ele estava totalmente encharcado dos pés a cabeça. A lembrança de que ainda está caindo um pé d'água lá fora volta a tona quando um relâmpago corta a atmosfera e me faz me encolher de medo, mesmo ainda com os fones com música alta. Os tiro rapidamente dos ouvidos e encaro o loiro a minha frente com o mesmo olhar preocupado.

— Jac. - devolvo, tentando não soar tão melancólica como me sentia. - Você estava querendo tomar um banho com roupas? Acho que não foi lá uma boa ideia, sabe?

— Engraçadinha. - ele retruca com um sorrisinho irônico, balançando a cabeça e me molhando no processo. Dou uma risada fraca. - Porque você estava chorando?

— Eu não estava chorando. - disparo, na defensiva. Ele arqueia uma sobrancelha.

— Não? - Jacques indaga, inclinando a cabeça para um lado. - Então porque seus olhos estão vermelhos e seu rosto molhado?

Rapidamente passo as mãos na minha cara e limpo aquela fraqueza tão visível que deixara passar. Se tinha algo que não queria comentar era como a minha vida podia ser terrível pra outra pessoa. Imagina. A última coisa que eu quero pra mim é a aproximação das pessoas por terem pena de mim.

— Eu só estava ouvindo uma música triste. - comento, tentando parecer o mais verdadeira que consigo. - Sabe como é, garota "naqueles dias" é complicado. Os hormônios estão totalmente desequilibrados e nos tornam choronas por tudo.

— Sei Lau. - o loiro rebate, não parecendo muito convencido. Se ele decidiu realmente acreditar em mim ou não, nunca saberia. Ele dá uma espiada no meu colo, na direção do meu caderno. - O que é isso?

— Isso? - repito, indicando o mesmo com as mãos. Ele assente, parecendo curioso. - É o meu caderno de criação. Tem todos os meus desenhos e coisas que acho que merecem estar aqui por mérito próprio. Pessoas, objetos, letras de músicas... De tudo um pouco.

— Interessante. - o escuto comentar, me lançando um sorriso travesso. - Por acaso você não tem colocado coisas eróticas ai dentro e por isso não quer que ninguém mais veja, tem?
Sinto meu rosto esquentar e reviro os olhos, envergonhada.

— Claro que não seu babaca, não sou dessas. - respondo franzindo a testa, irritada. Ele sustenta aquele olhar malicioso que só ele tem e chega perto do meu rosto. Perto demais.

— Mesmo mesmo senhorita Novaes? - ele questiona, com um sorrisinho de canto, provavelmente querendo me testar. Entro do seu joguinho, encostando nossas testa com um sorriso provocador.

— Mesmo mesmo senhor Olivier. - digo, com a voz baixa e cheia de segundas intenções. Dessa vez ele cora e se afasta com um pigarreio.

— Bom mesmo, senão a dona Charlotte iria te matar. - ele argumenta, indo na direção da porta. - Preciso tomar um banho.

Se não o conhecesse tão bem diria que ficou envergonhado com a minha atitude. Bom, isso quer dizer que há algum probabilidade, não? Ou fora apenas impressão minha o brilho no seu olhar há apenas alguns segundos?

Com um sorriso, abro meu caderno em seu desenho novamente e abraço o mesmo com uma pontinha de esperança nascendo em contraste com o meu passado.

***

Jacqueline

Eram duas da tarde e se tinha algo que eu odiava quase tanto quanto aquela pobretona da Dupain-Cheng era esperar. Estava esperando como o combinado em frente a confeitaria mais fina de Paris, no centro quando ao longe poderia avistar a figura com a qual havia marcado de encontrar ali. Sua paciência e sua calma no andar, porém com segurança como eu sempre caminhava, entravam em grande contraste com toda a proposta que havia lhe oferecido há algumas semanas que agarrara com unhas e dentes. Bem, o que mais se esperar de uma garota negada? Aperto meus punhos, sentindo as unhas machucarem levemente minhas mãos e procurando manter a postura enquanto ela finalmente se aproxima o suficiente para trocarmos palavras.

— Pensei que recusaria o meu convite. - começo, mantendo contato visual com a garota a minha frente. Ela me lança um olhar divertido e inclina a cabeça.

— Claro senhorita Gagnon, claro. - responde com certa ironia na voz. Reprimo a vontade de sair gritando com a mesma. - É claro que não perderia essa oportunidade de ouro para fazer Adrien Agreste pagar por ter me abandonado sem mais nem menos. Porém, acho que aqui fora não seja o melhor lugar para tratarmos desse assunto, não acha?

— Pensei que não iria perceber isso. - rebato, com um sorriso frio. - Me acompanhe, por favor.

Juntas adentramos o fino estabelecimento no qual sempre frequentava com Chloé quando ela estava disponível. Todavia, quando percebi que a Bourgeios não daria uma lição naquela rata de esgoto para mim, eu tive que tomar as minhas próprias providências com uma única certeza: ela pagaria muito caro por ter se metido comigo. Lá dentro, em umas das mesas mais afastadas do movimento da confeitaria, ela as colocou sobre a mesa. Sorri com satisfação enquanto analisava cada uma das fotos que aquela garota tão sedenta de vingança como eu, havia tirado. Realmente precisava admitir que ela havia feito sua parte no plano com perfeição, mas é claro que não o faria. Quero uma aliada para o mesmo propósito: livrar Adrien das mãos interesseiras daquela garota. Não uma fotógrafa.

— Eles não viram você? - indago, colocando as fotos novamente sobre a mesa e lhe encarando. Ela dá um sorriso presunçoso.

— É claro que não. - responde. - Além de uma exímia esgrimista, sou muito discreta em assuntos assim. Nenhum dos dois pombinhos suspeitou de nada em momento algum.

— Perfeito. - digo, lhe devolvendo as provas que havíamos juntado até ali. - Já sabe o que fazer com isso. Execute a fase dois do plano e assim que conseguir mais notícias quero ser avisada imediatamente. Não podemos dar mole em momento algum para aquela miserável. - deixo meu olhar viajar na direção da entrada enquanto ela se levanta com um pequeno suspiro. - Ela vai se arrepender de ter se metido com a família Gagnon.

— Espero que não esteja errando seu alvo Jacqueline. - a escuto dizer e dou uma risada sarcástica, lhe encarando profundamente.

Ela ergue uma das sobrancelhas ao reparar meu escárnio.

— Eu jamais erro. - afirmo, convicta. Lhe lanço um pequeno sorriso. - Kyoko.


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Notas finais do capítulo

Música usada nesse capítulo (recomendo pra geral):

https://www.vagalume.com.br/sabrina-carpenter/run-and-hide-traducao.html

https://www.youtube.com/watch?v=CT2wgON_rzQ



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