James e eu nos olhamos, sem saber quem falava primeiro.

— Nós... demos uns beijos ontem... — James falou inocentemente, levantando os ombros.

— Como assim deram uns beijos?! — Lili perguntou com os olhos arregalados. — Desde quando amigos se beijam assim?! De repente?! O que aconteceu?!

— Se acalma ou você vai ter um treco...

— Eu vou ter um treco se vocês continuarem enrolando!

— Foi o que eu falei, caramba. Estávamos no gazebo por causa da chuva, rolou um clima e nos beijamos, foi isso.

Agora que ele estava expondo o acontecimento, parei para pensar na vergonha e minhas bochechas responderam. Encarei o chão.

— Mas... não, não é só isso. Como vocês se beijaram assim, de repente? — Bebê questionou, confuso. — Não é possível que isso não tenha sido combinado.

— Mas não foi! Nós... até ficamos bem confusos, sem saber direito o que estava acontecendo. Só aconteceu.

— E vocês iam ficar nas escondidas mesmo? Sem falar pra gente? — Júlio pareceu levemente ofendido.

— Não, nós queríamos ver se alguém ia descobrir, e na realidade ficamos decepcionados com vocês. Nem a Lili percebeu nada, isso porque ela é a bruxa vidente do grupo.

— Como eu ia perceber alguma coisa?! Vocês sempre foram grudados!

— É, a gente pensou nisso depois... Estávamos esperando alguém perceber, mas também íamos contar, já que ninguém percebeu.

— Que bonito, né? — Lili dramatizou. — É isso o que ganhamos por sermos os melhores amigos. Onde eu errei, senhor, onde? — Tapou o rosto com as mãos.

Júlio a olhou como se fosse doida. — Deixa de drama, mulher. Já que descobrimos, temos que ficar felizes, não é não?

— Eu estou feliz, mas estou brava. — Ela cruzou os braços. — E agora? O que tá rolando? — Me encarou, querendo que eu respondesse.

— Eu... não sei.

— Como não sabe? Vocês estão ficando, não tão?

— Hm... sim.

— Namorando não?

Dei uma olhada rápida para James, sem saber o que dizer.

— Não, não temos um rótulo, só está rolando algo legal. — Ele deu de ombros.

Lili parecia considerar aquelas palavras. De repente, veio em nossa direção e nos abraçou.

— Ai, que coisa linda! Secretamente eu sempre achei que vocês deviam ficar juntos!

— Secretamente para quem? — Júlio riu.

— Shiu.

Todos riram. Lili nos soltou, sorrindo toda boba.

— Ah, nós temos outra coisa para anunciar — falei.

— O quê?

— Estamos esperando um neném! — Me aproximei de James e antes que eles arregalassem seus olhos, coloquei minhas mãos na barriga dele. — Queremos ajuda para o nome.

Lili nos olhou uns segundos, pensando.

— Tem certeza que não é cocô? — Bebê questionou seriamente.

Nós rimos e James colocou a mão no queixo, teatralmente.

— Agora que você falou... Lembrei que eu ainda não fui no banheiro.

— Então eu não serei pai? — Coloquei as mãos no rosto, chocada.

— Te confirmo mais tarde, pode ser? — James deu risada.

— Tudo bem... Que pena. — Fiz uma carinha triste.

— Vocês terão outras oportunidades, não se preocupe. — Lili deu um tapinha no meu ombro.

— Isso aí, agora saiam para a gente arrumar logo essas camas. — James nos empurrou para o chão. — Já que não estou grávido, não preciso ficar de repouso.

— Ainda bem, porque eu não estava nem um pouco afim de arrumar essa bagunça. — Lili falou, o olhando se mover.

James só deu um olhar reprovador para ela e voltou sua atenção para os lençóis. Comecei a ajudá-lo junto de Júlio. Lili e Bebê desceram para arrumar as coisas do café. Depois, nos trocamos e fomos à praia.

Assim que chegamos, estendemos as cangas e sentamos. Bebê ficou ao meu lado direito, Lili no esquerdo e os meninos do lado dela, quase de frente ao Bernardo, que observava o mar, um pouco quieto.

— O que foi? — perguntei a ele.

— Nada.

— Tem certeza? — Puxei uma pequena mexa do seu cabelo.

Ele apenas afirmou, sem me olhar. Senti um pequeno nervoso se formar no estômago, temendo que ele estivesse daquela forma por minha causa. Dobrei os joelhos na altura do queixo e abracei as pernas, tentando pensar o porquê ele estava chateado.

Será que ele está assim porque eu não contei sobre mim e James? Mas não contamos para ninguém... E agora? Eu não quero que ele fique assim comigo...

Notei Lili se levantando e, sem falar nada, puxou James e Júlio.

— Vamos nadar um pouco. — Os puxou para o mar.

Senti as mãos ficando frias e engoli seco.

— Bebê... O que foi?

Ele me lançou um olhar sério e rápido, voltando a encarar o mar. — Já falei que nada.

— Se não fosse nada você não estaria quieto assim.

Dando de ombros, puxou seus cabelos para o ombro direito, me deixando ainda mais nervosa.

— É porque eu não falei nada sobre o James? Me desculpe, mas a gente não falou porque queríamos que vocês suspeitassem. Não achamos que ia demorar, até pensamos que a Lili perceberia na hora que nos encontramos na praia ontem... — falei rápido, tentando explicar.

— Eu sei, eu entendi essa parte.

— Então... por que você está assim?

Bernardo começou a cutucar a areia entre suas pernas dobradas.

— Eu tô com ciúmes, tá bom? — esbravejou.

Fiquei uns segundos parada, pensando se eu o xingava por me deixar nervosa ou se ria e o abraçava. Suspirei, pelo menos, aliviada.

— Você é besta? Ciúmes de quê? — perguntei rindo.

Ele virou o rosto, irritado. Me aproximei e o cerquei com os braços.

— Bocó, eu não deixaria você de lado jamais. Ouviu? Não tem motivo para você ter ciúmes do James. Vamos continuar como sempre fomos.

— Eu não duvido disso, mas... Não sei, é um pouco estranho. Ele era seu amigo, assim como eu, e agora vocês estão... juntos.

— Você... não gostou disso?

— Não é que eu não gostei, eu achei legal. Vocês combinam. É só ciúmes besta, depois passa.

— Não quero que depois passe. Eu quero que você saiba que eu não vou trocar você por ele, continuamos amigos como antes, nada vai mudar. Você continua sendo meu Bebê chato de mau-humor.

Bernardo me olhou com o cantinho da boca erguido. Soltou seu braço e o colocou em mim, me abraçando de lado.

— Eu sei. Você vai continuar sendo minha bocó inocente, eu acho. Talvez não tão inocente mais...

— Para, seu besta! — Ri e lhe dei um tapa na perna.

Ele deu risada. — Você começou a gostar dele?

Encostei em seu peito, observando os três dentro da água, ao longe.

— Não sei... Eu sempre gostei muito do James, mas... sei lá. Não é como se eu fosse apaixonada por ele, eu só... Eu não sei explicar, é confuso demais.

— Tá, você gosta dele, mas não é a mesma coisa que você sentia pelo Yan, certo?

— Hm... Não. Parece um sentimento mais... natural. Eu não fico super nervosa perto dele, não fico com medo de falar besteira...

— Claro, vocês são amigos há muito tempo, não tem mais isso de ter medo de passar vergonha. Vocês se conhecem muito bem, é normal que se sinta assim.

— O engraçado é que nós dois ficamos confusos na hora. Teve um clima, mas depois ficamos confusos.

— E vocês falaram sobre o futuro? Se vão namorar ou sei lá.

— Mais ou menos. Não decidimos nada, só vamos... deixar do jeito que está. Por um lado, eu tenho medo de... não dar certo e acabar com a amizade, por outro quero me deixar levar...

— Sinceramente, não acho que a amizade de vocês vai acabar. Vocês são tão transparentes um com o outro que, eu acho, não ficaria aquele clima estranho, mesmo que não desse certo.

— Sério?

— Sim. Desde o começo vocês estão demonstrando o que sentem e isso é a melhor coisa. Ainda mais porque vocês não têm certeza do que estão sentindo... Acho importante ter isso.

— É, faz sentido...

Ele me olhou, sorrindo. — Eu estou feliz por você.

— Obrigada. — O abracei mais forte, sendo correspondida.

— Só não esqueçam de usar camisinha.

— Para! — O soltei e o empurrei, o fazendo cair para o lado enquanto ria igual besta.

— Não dá, eu adoro fazer isso.

Revirei os olhos e acabei rindo.

Pelo menos ele tinha deixado de besteira.