P.o.v. Jungkook

Acordei com uma bela dor de cabeça. Não fazia ideia de onde estava. Só me lembro de ouvir um grito e depois apagar. O local onde me encontrava estava em silêncio. A luz era fraca mas pude notar que estava numa sala de luxo. Levantei e andei cuidadosamente pelo ambiente desconhecido, até que reconheci uma sombra. 

Jimin estava sentado próximo a onde eu estava e sua atenção estava voltada a um outro canto da sala.

— Hey, você acordou - disse se levantando quando percebeu minha presença.

— Quanto tempo eu dormi? - perguntei direto. Era a segunda vez que eu ficava desacordado nos últimos dois dias.

— Não mais que duas horas, não se preocupe.

O mais velho foi em direção a uma mesinha próxima e encheu um copo com água e me ofereceu.

— Onde estamos? - perguntei após agradecer.

— No apartamento do Warlock. Ele nos trouxe aqui depois da confusão.

— O que aconteceu? Só me lembro do grito, e depois apaguei.

— Bem que a Yumii disse que você é curioso - riu - Teve um ataque de demônio, mas já resolveram tudo.

Assenti levemente com a cabeça. Estou começando a reparar que onde quer que eu esteja, mais confusão aparece. A pior parte é que mesmo sendo impossível acreditar em tudo isso, sinto que viver no mundo sobrenatural é natural para mim. E isso já está na minha cabeça há um bom tempo.

— Onde está Yumii? - perguntei tentando me livrar dos pensamentos.

O loiro apontou com a cabeça para um sofá do outro lado da sala onde encontrei uma Yumii dormindo profundamente.

— Ela precisava dormir - disse com calma em sua voz.

— Mesmo sem precisar - completei.

— Como sabe disso? - voltou a me encarar.

— Yumii me contou algumas coisas hoje cedo - dei de ombros - Além das que eu havia perguntado.

— Engraçado - riu Jimin - Ela deve gostar mesmo de você. Nem comigo ela falava muitas coisas sobre sua vida de Siren.

— Porque não? - a frase do loiro realmente me intrigou - É tão impressionante.

— Talvez - pendeu a cabeça enquanto voltava sua atenção para a Noona - Mas eu sei que pra ela é difícil. Viver todo esse tempo como Siren, sabe?

Realmente não havia parado para pensar nesse lado. A Noona havia dito que já era Siren há 80 anos. Oitenta anos carregando esse peso. De ser caçada, viver escondida e levar diversas pessoas a morte durante esse período.

— Como é a Yumii? - tentei mudar de assunto - Ela sempre me conta sobre ser Siren, mas nada remetente à ela.

— Bem - suspirou ainda sem tirar os olhos dela - Yumii é alguém que ama chocolate, chuva e a cor azul mais do que ninguém. Extremamente cautelosa com quem será importa e odeia decepcionar os outros. Simpática, inteligente e diverida. E além de bonita, é dona da risada mais linda que eu já ouvi.

Não imaginei que Jimin fosse se declarar assim, me deixando sem saber o que responder.

— Quer saber de uma coisa? Ela nem sempre foi assim.

— Assim como?

— Ela está bem diferente de quando a conheci. Apesar de ser uma Siren, ela era tímida, calma e muito fofa - Jimin deu um pequeno ênfase na última parte - E era um prodígio nas aulas. Acho que foi isso que me fez prestar atenção nela.

— Estamos falando na mesma Yumii? - ri nasalado - Ela não aparenta ser tímida.

— Acredite se quiser, essa foi a Yumii que eu conheci.

— A Noona realmente mudou bastante - encarei o Park - Você sabe o porquê?

Jimin baixou um pouco a cabeça e mudou sua expressão.

— Acho que depois daquele dia, alguma coisa aconteceu.

Apenas acenti com a cabeça. Sei exatamente o dia que ele está falando. E eu tenho quase certeza que Yumii não vai se esquecer daquilo tão cedo. Mas, a maneira como Jimin respondeu, me colocou uma leve dúvida.

— Ainda gosta dela? - realmente queria saber como ele se sentia em relação a Noona.

— Talvez - suspirou o loiro - Achei que depois de todo esse tempo, meus sentimentos em relação a ela teria mudado. Mesmo ela estando diferente, eu ainda vejo a minha Yumii naquele sorriso.

Novamente me surpreendi com a confissão do Park. Ele realmente gostava dela.

— Mas prometi a ela que seríamos só amigos - continuou - E eu prefiro isso do que perder o contato com ela novamente.

— Ela gosta de você, digo, não sei se no sentido amoroso, mas no sentido de amigo. Ela engasgou quando eu falei de você hoje de manhã

O garoto riu e novamente revelou seu Eye Smile.

— Já está confiando em mim agora? - Jimin voltou a me encarar.

— O que? Como assim? Como você..

— Seu cheiro - respondeu simplesmente - Você não confiava em mim até agora, certo?

Minha única resposta foi encarar o garoto que achou leve graça da situação.

— Mas eu te entendo. Pelo o que aconteceu com a sua Noona, você pode achar que sou um "quebra corações", mas pode confiar, não sou assim.

Confesso que realmente não confiava muito nele, mas após essa conversa percebi que ele não está se aproveitando da Noona. E que ele quer realmente me ajudar.

— Confio em você - sorri para o mais velho - Mas em troca, eu quero saber sobre os Werewolves.

Jimin riu da oferta, realmente sou curioso. Segundo meus tios, puxei isso da minha omma enquanto a capacidade de manter a calma em situações extremas veio do meu appa. E essa sempre foi uma pulga atrás da minha orelha, meus pais morreram quando eu havia nove anos e mesmo assim eu havia poucas lembranças deles. Agora isso faz sentido para mim.

— Um dia eu te explico então - o garoto voltou sua atenção a um outro canto da sala, acenando com a cabeça - Mas, acho que tem alguém que quer falar com você.

Olhei na direção que Jimin apontava e Taehyung estava sentado em um sofá enquanto encarava o nada.

Voltei o meu olhar para o mais velho e o mesmo assentiu com a cabeça. Então tomei coragem para falar com Taehyung.

Ele nem pareceu reparar em mim enquanto me aproximava.

— Annyeong - disse me sentando ao seu lado.

— O que? - saiu de seus pensamentos e me encarou - Ah sim, annyeong - soou cansado, assim como sua expressão.

— Você está bem? - perguntei mesmo já sabendo a resposta.

— Sim, mas estou preocupado com meus sunbaes. Não os vi depois de entrei na Casa.

— Eles devem estar bem. São experientes, não são? - tentei acalmar o loiro.

O garoto apenas assentiu com a cabeça, mas sua expressão demonstrava que ele pensava em outra coisa.

— E me desculpe, por ter sido seco com você no Instituto - desabafei - Estava tudo muito confuso e você não tinha culpa de nada

— Não precisa se desculpar, é bem compreensível você agir assim. Até eu agiria - deixou escapar uma leve risada, mas que rapidamente sumiu - Você está bravo comigo? Por não ter falado com você antes? - perguntou deixando a boca entreaberta.

— Não não, não estou bravo.

— Não mesmo? - ele pareceu se surpreender com a minha resposta - Que alívio - suspirou.

O garoto sorriu quadrado e não pude conter o sorriso. Se você olhasse para Taehyung agora, você veria apenas um garoto de dezesseis anos com uma alegria de criança, não alguém que vive matando Demônios desde sei lá quando. Seu olhar recaído em mim, me fez lembrar da noite em que nos encontramos.

— Porque você disse que podíamos te chamar de V? - perguntei me referindo ao que o garoto havia dito naquele dia - Não vi ninguém te chamando assim.

— Bem, na verdade, esse apelido é por sua causa.

— Minha? Porque?

— Bem, quando éramos pequenos, você disse que eu venceria várias coisas na vida. Então usei o apelido V da palavra Vitória. Mesmo ninguém fazendo isso, eu costumo me chamar assim.

— Então realmente erámos amigos - foi a única coisa que consegui dizer após a confissão do loiro.

— Bem próximos, pra falar a verdade.

— Quando nos conhecemos? - a curiosidade voltou novamente.

— Bem, foi na praça local. Eu estava observando as crianças brincarem quando você se sentou do meu lado e ofereceu um pouco do seu lanche. Eu realmente achei estranho o fato de alguém ter ido falar comigo do nada, mas não perguntei. Nos apresentamos e você disse que eu não ficaria mais sozinho. E por seis meses, nos encontrávamos na praça todo dia pra conversar ou brincar. Até que ocorreu o acidente e você foi embora, mas eu fiquei esperando.

Não sabia o que responder. Como aquilo foi parte da minha vida e eu nem me lembro? Agora compreendi porque Taehyung ficou tão feliz quando me reconheceu. Eu havia sido importante para ele, mas no momento, não conseguia encará-lo. Então reparei nas marcas negras presentes nos braços do loiro assim como em seu pescoço.

— Sua Multum são suas runas certo? - mudei de assunto, e o garoto nem pareceu notar - A Noona me disse algo sobre elas ontem.

— Ye. As runas que nos dão a maioria das nossas habilidades. Tem a de silêncio, velocidade, bloqueio, visão - dizia alegremente apontando para várias das marcas de seu corpo - E essa eu tenho uma história muito engraçada com o Hyung.

Assim como quando estávamos no Instituto, a expressão de Taehyung mudou rapidamente. Ele voltou a ficar preocupado de novo.

— Você deve se importar muito com eles.

— Claro. Não sei o que faria sem Baek- Hyung pegando no meu pé ou da Somin-Noona pegando no pé do Hyung para ele arrumar uma namorada - o loiro riu ao terminar a frase.

— Mas, eles não são namorados? - pelo comportamento que os dois demonstravam quando estavam juntos, qualquer um diria que ambos namoram.

— Ani. São Parabatais, por isso são tão próximos

— Parabatais?

— Coisa de Shadowhunter - deu de ombros - Longa história.

— Eu gosto de ouvir histórias.

O loiro soltou um sorriso quadrado com a minha fala.

— Basicamente é uma ligação extremamente forte entre dois guerreiros. É bem mais forte do que amor ou amizade, é uma ligação na qual um dá a vida pelo outro. Eles sentem quando o outro não está bem, como se fossem uma alma só.

— Aigoo! Sério?

— Ye. A ligação Parabatai é uma das mais importantes para os Shadowhunters.

— E você, quem é o seu Parabatai?

Taehyung ficou em silêncio por um momento e então encarou um parte de sua pele levemente bronzeada que não possuía uma Runa.

— Eu não tenho um Parabatai - sua fala não pareceu triste, mas com certo pesar - É preciso ter uma relação com alguém por anos para que ambos possam confiar um no outro. Baek-Hyung e Somin-Noona já se conhecem desde que tinham 11 anos. Eu não tive tanta intimidade com alguém assim, exceto você. As crianças do Instituto costumavam me chamar de 4D, e não era no sentido legal.

Mesmo não querendo demonstrar, era nítido que esse era um assunto que entristecia Taehyung, e por um breve momento, senti a mesma coisa.

— Além do mais, tenho 16 anos. O limite para achar um Parabatai é 18. Acho que não encontro algum Shadowhunter que eu me importe o suficiente para confiar a minha vida.

— São uns idiotas - encostei as costas no sofá cruzando os braços.

— O que? - Taehyung me olhou confuso.

— As pessoas que se afastavam de você. Pelo o pouco que eu te conheço, você é uma das pessoas mais incríveis que poderiam ter. Eles não sabem o que estão perdendo.

O loiro ficou em silêncio por um momento e parecia que mil pensamentos estavam em sua cabeça agora.

— Kowamo - um sorriso mais que sincero surgiu em seus lábios - De verdade

— Não há de quer - retribui o sorriso fazendo o mesmo - E o que mais você faz como Shadowhunter?

Nem sei quanto tempo deve ter se passado desde que o loiro começou a explicar o mundo dos Shadowhunters. Se eu achava o Submundano incrível, imagina agora.

Ouvimos um som vindo do outro cômodo e passos de alguém se aproximando. O Warlock de mais cedo surgiu na sala e foi em direção até onde Jimin estava. Vi Yumii-Noona já acordada ao lado deles nos chamando para irmos até seu encontro.

— Vamos, V - chamei o garoto pelo apelido e foi evidente a surpresa e alegria em seu rosto.

Fomos até onde Yumii dormia anteriormente. Ela ainda estava sentada no sofá, agora com Jimin ao seu lado e o Warlock em pé ao lado do sofá

— Trago noticias - revelou Namjoon quando todos estávamos reunidos - E por incrível que pareça, são boas.

— Então diga - manifestou-se a Noona com o rosto levemente inchado por conta do sono -  Não gosto muito de suspense.

— Estive analisando sua memória enquanto estava dormindo, e pude concluir duas coisas - O mais velho fez um suspense deixando todo nós curiosos - A primeira é que a sua memória não foi só bloqueada, como também levemente alterada. E a segunda é que eu sei exatamente como reverter isso.

— Sério? - nos quatro perguntamos curiosos.

— É claro - respondeu com um tom exibido - Mas vai levar um tempinho, um mês pra ser mais exato.

— Arriscamos - resolvi tomar a frente. Além do mais, era a minha memória que estava bloqueada.

Jimin resolveu falar algo para o Warlock, mas não consegui ouvir pois estava pensando em outra coisa.

— Você disse que minha memória também foi alterada. O que foi mudado?

— Para você, seus pais morreram em um acidente de carro, certo?

A pergunta me travou. Esse era um assunto delicado para mim. Taehyung também pareceu estar incomodado.

— Ye, por que?

— Algo me diz que não foi isso que ocorreu. A morte dos seus pais pode ter tido relação com o mundo sobrenatural e por isso alguém pediu para bloqueá-la.

— Faz sentido - Yumii voltou a falar - Deduzi isso há algumas horas. Parece que você já tinha contato com o mundo sobrenatural, Dongsaeng - piscou para mim.

— As memórias em relação a mim também vão ser restauradas? - era notável o fio de esperança presente em sua fala.

— Se ambos os acontecimentos ocorreram na mesma época, então possivelmente sim.

Agora foi minha vez de ter um pouco de esperança. Encarei Taehyung e ele fazia o mesmo comigo. Não duvido que estejamos pensando igual.  Finalmente vou lembrar de verdade do Kim.

— Vou começar a tentar reverter o bloqueio - declarou o Kim.

— Eu ajudo - ofereceu-se a Noona - Além do mais, lembranças são minha especialidade - sorriu de lado.

— Certo, então resolvido. Iremos recuperar sua memória - o sorriso de Namjoon revelou surpreendente revelou um par de covinhas em ambas as bochechas, e todo aquele ar de Grande Warlock da Coréia sumiu por um momento.

Namjoon deu dois passos para trás e fez um movimento circular com as mãos, fazendo com que aparentemente um portal surgisse atrás dele. Pode ser coisa da minha cabeça, mas eu posso jurar que vi seus olhos roxos.

— Shin, me acompanha? - estendeu a mão para a ruiva.

— Mas é claro - Yumii levantou e foi em direção ao Warlock  mas parou e deu mipeia volta - Ah, quase ia me esquecendo.

Yumii se aproximou do rosto de Jimin deixando um beijo em sua bochecha.

— Obrigada pelo o que disse hoje - disse se afastando do Park, que estava bem mais do que vermelho - Você realmente me conhece.

Ao dizer isso, Yumii some junto com o Warlock, deixando nós três sozinhos surpreendidos com o que aconteceu. Houve alguma instantes de silêncio antes de V quebrá-lo

— Ela é bonita - falou Taehyung num tom muito natural. Encarei o Kim que me olhou com a boca levemente aberta - O que foi? - perguntou pendendo a cabeça.

Não pude conter a risada. Taehyung se juntou a mim e um pouco depois Jimin, que agora tinha a mão direita sobre a bochecha que ainda estava claramente vermelha.

"Continua"