Primavera sem flores escrita por Megitsune


Capítulo 2
2 - Admiração cega


Notas iniciais do capítulo

Nada como um capítulo novo no dia do halloween, não é mesmo?

Eu agradeço a todos pelo apoio e carinho. Sem ele eu certamente não estaria postando capítulo novo tão cedo, só dia 8.

Este capítulo tem como foco a Sakura. Peço para que se atentem a detalhes, lembrem-se que nem toda situação é como o personagem a descreve e que as pessoas são capazes de denominar as outras de maneira contraditória.

Boa leitura!



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  Se Sakura soubesse que Gaara os acompanharia até o cinema, teria chamado Ino. Há meses que ela tentava aproximar a amiga dele, mas nunca que o seu plano dava certo. O rapaz sempre parecia distante em sua cordialidade. Ele aceitava a companhia das pessoas, era gentil e prestativo, mas evitava todo tipo de contato físico. Para piorar, nenhuma conversa rendia com ele.

Ino também não se esforçava em nada. A loira mais extrovertida e sensual do colégio perdia as palavras quando ficava próxima de Gaara, como se qualquer assunto fosse estranho, sem sentido. Faltava química e Sakura não poderia forçar isso.

— Algum problema, Sakura? — Sasuke perguntou. Eles já estavam em frente aos portões da escola e só agora ela se dava conta de que esteve calada o caminho inteiro. Não que isso fosse um problema para o namorado.

— Nada, Sasuke-kun. Eu estou bem! — Sakura sorriu. Ela adorava o fato de Sasuke não ser como os outros garotos.

— Certo, nesse caso, vamos comprar o lanche em uma loja fora do cinema.

— É, sai mais barato! A tia de lá vai com a nossa cara. — Naruto completou. — Se importa de dividirmos o custo, Sakura-chan?

Ela não teve uma resposta imediata para a pergunta. Estaria Sasuke desinteressado nela, ao ponto de não reparar que estava fora de si? Teve vontade de abrir um buraco na terra e pular dentro. Por um segundo quis acreditar que Sasuke estava preocupado com ela. Como sempre, garotos... Nunca se importavam demais com as namoradas.

— Não me importo — ela respondeu, se considerava uma idiota por não ter percebido que o Uchiha ficou entretido conversando com Naruto no meio tempo em que ela se via perdida em pensamentos. — Onde está o seu irmão, Gaara?

— Ali. — o rapaz apontou para uma SUV preta estacionada do outro lado da rua. Era o modelo mais novo do ano, não era segredo para ninguém que a família de Gaara era rica, o pai dele possuía inúmeras ações de diversas empresas do ramo eletrônico, além de ser dono da marca de celulares Suna. Só de se imaginar dentro daquele carro novinho, Sakura tinha vontade de sorrir feito criança.

Enquanto ela tinha apenas vontade, Naruto por outro lado ficou muito animado e deixou transparecer para todos. Sasuke resmungou um “tsc” desinteressado. Ela sabia que, no fundo, ele também havia gostado da ideia, só não admitia. Nenhum dos três vinha de família próspera, o pai de Sakura era vendedor, enquanto a mãe era dona de casa; o mesmo com a mãe de Sasuke, já o pai era delegado no distrito de Meguro; Naruto era órfão, vivia com o padrinho que era escritor. Ele até ganhava bem, mas gastava tudo com viagens e mulheres.

Os quatro se aproximaram do carro. As janelas estavam fechadas, Gaara abriu a porta da frente e logo foi possível ver Kankuro a digitar algo no celular. O rapaz parecia o pai nos traços físicos, tinha o rosto cheio e o mesmo formato de olhos. Dos três irmãos, ele era o único moreno.

Gaara foi quem herdou os genes ruivos do pai, mas em contrapartida, seus traços eram mais delicados e a pele alva. Se bem que o maior atrativo dele, na opinião de Sakura, eram os olhos cor de menta. A cor ficava ainda mais evidente pela borda negra em volta de seus olhos, era exótico, até fazia parecer que ele passava delineador. Mal ela sabia que Gaara sofria de insônia.

No som do veículo a melodia dramática e monótona do Jōruri(1) preencheu os ouvidos da garota de desgosto. Ela não gostava daquele estilo de música, achava parado, sem graça. Por mais que Kankuro tivesse gostos estranhos, ser obrigada a ficar o caminho todo escutando o que não gostava fazia-a querer ir a pé para o cinema.

— Kankuro — Gaara chamou, sem elevar o tom de voz. O mais velho rapidamente parou o que fazia e abaixou o som.

— Chegou bem na hora! Vamos, eu preciso buscar Kuroari e Karasu em meia hora — Kankuro comentou, com seu distinto dialeto de Yokohama. A jovem se perguntava como ele havia aprendido a falar igual um gângster.

— Na verdade, eu ia pedir para que deixasse eu e os meus amigos no cinema.

— Ah, pensei que você iria comigo — ele pareceu desapontado, mas logo sorriu. — O cinema fica no caminho, posso deixá-los lá. Entrem.

Naruto foi o primeiro a abrir um largo sorriso e entrar, satisfeito porque o ar-condicionado estava ligado. Setembro não costumava ser um mês muito quente, contudo, o tempo estava abafado naquele dia. Perfeito para ficar na sala gelada do cinema e tirar um cochilo. Sasuke foi o segundo a entrar, e colocou o cinto de segurança. Sakura fez o mesmo, o interior do carro era confortável e o ar refrescante fazia-a querer permanecer lá dentro por horas. Sem contar o cheiro de couro novinho que os bancos exalavam.

— Naruto, o cinto de segurança — Kankuro avisou.

— Mas ninguém está... — o loiro ia reclamar, mas olhou em volta antes. Todos seguiam as regras de segurança, menos ele. — Tá bom...

— Tinha que ser um idiota. — O tom de chacota na voz de Sasuke fez Naruto cruzar os braços, irritado.

Kankuro ligou o carro e deu partida. No rápido trajeto até o cinema, ele comentou com Gaara que iria para Naka Meguro buscar os tais Kuroari e Karasu na casa de alguém chamado Sasori.

— Tem certeza de que chega nesse bairro a tempo? — perguntou Sasuke. — O trânsito costuma ser intenso agora e estamos um pouco distantes.

Sasuke tinha razão no que dizia. Estavam no distrito de Shinjuku e para chegar aonde queria, Kankuro precisaria atravessar o distrito de Shibuya e Ebisu. Em um trajeto de metrô, seriam gastos quinze minutos, mas de carro, o tempo poderia triplicar. Era por motivos como esse que dirigir por Tóquio era uma péssima ideia. 

Kankuro coçou a cabeça, pensativo. Ficava claro que ele acreditava ser impossível completar todo o trajeto em menos de vinte minutos.

— Não sei, mas deve dar para cortar caminho e economizar tempo. Acho que chego apenas alguns minutos atrasado — Kankuro comentou, procurando um local para estacionar.

— Eu conheço um caminho que fará você chegar no horário — Sasuke anunciou com um sorriso convencido. Como o pai dele era delegado há muitos anos, sabia a maior parte dos atalhos da cidade. Pelo visto, ensinara alguns deles ao filho.

— Oh, sério? Quero saber que caminho é esse.

O Uchiha gostava de se gabar, ainda mais para provocar Naruto que se perdia com facilidade. Sendo aquilo um defeito ou qualidade, a jovem de cabelos rosados adorava ver o sorriso do namorado.

Sasuke-kun é incrível! Ele conhece tudo e é tãão bonito!, Sakura pensava, sem esconder o sorriso apaixonado. Ela gostava do fato dele se oferecer para ajudar alguém sem pedir nada em troca, do jeito dele de fazer tudo parecer fácil. O certo seria dizer que tudo nele era perfeito para a garota.

Ele foi a primeira e única pessoa a fazer o coração dela bater mais forte. Ela queria ter sido a única a cair nos encantos do moreno, mas não, havia uma legião de garotas na mesma situação. Dentre elas, sua melhor amiga, Yamanaka Ino. No início, a competição parecia injusta, Ino era muito mais atraente, e à medida que envelhecia, seu corpo adquiria formas esculturais. Enquanto Sakura continuava tão reta quanto antes. Se bem que o motivo da injustiça não era esse... Antes fosse.

Sakura tinha péssimas lembranças da infância. Era insegura quanto a própria aparência e as outras garotas se aproveitavam disso para implicarem com o tamanho de sua testa, com o tanto que ela era solitária, por estudar demais. Não fossem as notas altas, Sakura tinha certeza de que teria feito muitos amigos. Ninguém lembraria da testa imensa dela, e ela teria passado bem menos horas em frente ao espelho tentando jogar o cabelo para frente e tampar o incômodo.

A única a lhe estender a mão foi Ino, que deu-lhe uma fita vermelha para enfeitar o cabelo.

“Use isso, eles implicam com a sua testa, porque sabem que você se importa e esconde. Deixe essa testa grande à mostra que ninguém mais vai falar nada.”, foram as palavras de Ino na época. A garota estava certa, mas o bom mesmo era saber que havia alguém pronta para defendê-la. Sakura não poderia ter encontrado amiga melhor.

Ela lembrava como se fosse ontem as tardes que passavam na floricultura da mãe da loira. A Yamanaka amava flores e seguiria com o negócio da família, independente das consequências que isso acarretasse na vida dela. Ino era como as flores de ameixa, independente da situação, ela nunca desistia de seus objetivos e Sakura era admirada com esse lado da amiga.

Não fosse Ino, ela nunca teria sido capaz de confiar em si mesma. Era injusto as duas terem se apaixonado pelo mesmo garoto. Mais injusto ainda terem virado rivais, quase inimigas.

A loira tinha muito mais chance de conseguir Sasuke. Teria conseguido, caso Sakura não tivesse a peça-chave: Naruto. Ser amiga dele foi o que gerou a aproximação dela com o Uchiha. De certa forma, o golpe foi desleal, porque Naruto gostava dela e ela fingiu pouco se importar, utilizando-o como instrumento para conquistar o homem de sua vida.

— ... Aí você vira a rua Y... e segue pela avenida — Sasuke ia explicando e Kankuro traçando todo o trajeto com uma caneta no monitor do GPS. A nova tecnologia parecia sugar a atenção dele.

— Sakura-chan, quer ir na frente e comprar os doces comigo? — Naruto perguntou, pronto para abrir a porta do carro e sair.

Sakura não estava com vontade de comprar doces, em meio as lembranças, a vontade de ir assistir o filme era mínima. O momento era péssimo para começar a sentir culpa pelos próprios atos do passado, mas a voz de Naruto, tão calma e compreensiva a fez ter vontade de sair para conversar.

— Sim. — Destravou o cinto e abriu a porta do carro. Uma lufada de vento quente atingiu-a em cheio. Detestava aquelas mudanças bruscas de temperatura, no ano passado, teve uma gripe forte por esse motivo. — Obrigada pela carona, Kankuro.

— Por nada — o moreno sorriu. — Divirtam-se.

— Gaara, você compra os ingressos. — Naruto anunciou, gostando da ideia de se sentir no poder e organizar as coisas. — Aliás, gosta de que doces?

— Eu não gosto de doces.

— Ah... — o loiro ficou pensativo por alguns segundos. — O que prefere?

— Jianbing(2) ou sembei(3) — o ruivo destravou o cinto de segurança e olhou rápido para os dois. — A carteira estudantil de vocês.

— A-ah...

— Não me diga que esqueceu — Sasuke disse, irritado, enquanto Naruto tateava o bolso em busca do documento. Sakura não podia acreditar que aquilo estava acontecendo.

— E-Eu trouxe, certeza!

Sasuke revirou os olhos e rapidamente tomou o controle da situação. Juntou o dinheiro de todos e dividiu para cada grupo: o da comida, ingressos e bebida. O montante não era grande; os três haviam levado dois mil ienes cada e o ruivo tinha dinheiro o suficiente para o ingresso e o lanche.

No meio tempo, Naruto encontrou a carteirinha e entregou a Gaara. Sakura saiu do carro e olhou em volta. O estabelecimento onde comprariam os salgados ficava ao lado, julgando pelo amontoado de crianças e adolescentes no local, talvez fosse melhor comprar toda a comida em uma lanchonete.

— Acho que me contento com pipoca... — Naruto falou ao ver o tamanho da fila.

— Eu também. — O tempo era curto, não dava para ficarem esperando ou dando voltas em busca de um lanche.

— Sakura-chan...

— Hm?

— Está tudo bem com você? Você ficou calada o caminho inteiro — ele perguntou, preocupado. — Se for porque eu chamei mais uma pessoa, eu...

— Não. Está tudo bem. — Sorriu. — É que eu tinha pensado em chamar a Ino, mas não deu tempo.

Ela pensava mesmo era em arranjar um namorado para a amiga, de forma a fazerem as pazes. Como se algo assim tivesse o poder de resolver o desentendimento entre as duas.

— Entendi. — Naruto não estava convencido, porém era alheio ao plano da amiga. — Ela iria gostar do filme. Vocês gostam de assistir coisas chatas. — Brincou.

— Não é chato! — Sakura riu, socando de leve o ombro do loiro. Ele gemeu de dor, a jovem desde pequena tinha uma força muito grande, a qual ela não sabia controlar direito. — É um drama com romance.

— Tá.

— Você vai gostar. — Era incrível como Naruto conseguia aumentar o astral dela com uma conversa idiota.

— Vou tentar gostar.

— E se começar a dormir ou resmungar, o faço atravessar a tela — ela ameaçou, claro que não faria nada daquilo, mas daria uns beliscões.

— Duvido que vai ver algo namorando o Sasuke — provocou. Ela sentiu tanta vergonha que corou.

— Naruto! — exclamou, erguendo o punho para socá-lo.

O loiro não perdeu tempo e correu para dentro do cinema. Sakura sorriu com a cena. Seguiu-o a passos lentos, pois agora que pensava na real possibilidade de namorar em meio ao filme, mil e um momentos românticos brotavam em sua cabeça. Quantos beijos poderiam ser dados no escuro, quantos sussurros de amor e carícias discretas... Parecia um verdadeiro sonho prestes a se tornar realidade.

Era bom não ter trago Ino, caso contrário poderia jogar todo o momento romântico no lixo. No coração de Uchiha Sasuke só havia espaço para uma pessoa, e era ela.


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Notas finais do capítulo

Notas:

(1) Jōruri - É uma forma de música narrativa tradicional japonesa. Geralmente cantada por um tayū (artista), acompanhado de um shamisen (guitarra japonesa de duas cordas). Esse tipo de música era comum no teatro de bonecos.

(2) Jianbing - Comida de rua tradicional chinesa. É um crepe frito, feito de massa de trigo e farinha de grãos, frita numa frigideira e depois coberta com coentro, cebolinha, molhos e baocui, que é um tipo de biscoito fino frito. É dobrado várias vezes antes de ser servido.

(3) Sembei - É um biscoito feito de arroz. Pode ser produzido em vários formatos, sabores e tamanhos. Geralmente são salgados.

Só por mera curiosidade, no Japão não é preciso ir ao cinema para assistir filmes, mas o preço é bem salgado, cerca de 1300 ienes. Com a carteira de estudante você consegue economizar uns 300 ienes na compra.

Tóquio é formada por 23 distritos que se subdividem em mais de 50 bairros, cada um deles cheio de características próprias. A escola dos personagens fica no distrito de Shinjuku que é conhecido por ser uma grande área de entretenimento, compras e trabalho. Devido a isso, possui o metrô mais cheio da capital, com mais de 2 milhões de passageiros por dia.

Não é um distrito nobre e para um personagem como Gaara estudar lá, é porque ele foi expulso de diversas escolas mesmo. E só para terminar, é em Shinjuku que fica Kabukicho (caso alguém aqui conheça Gintama, vai entender).

Desculpem pela nota final imensa, mas eu gosto de trazer informações extras para os meus leitores. Sempre que eu puder, trarei coisas novas para compartilhar com vocês.

No próximo capítulo, voltaremos para o Gaara e finalizaremos essa ida ao cinema que já está demorando para acabar. Hehe

Por favor, não deixem de comentar. Gosto de saber o que estão achando dos capítulos para poder melhorar.

Beijos!



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