Primavera sem flores escrita por Megitsune


Capítulo 1
1 - Falta


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. Os capítulos iniciais são levinhos, mas depois a coisa fica mais underground. Apenas aguardem. Hehe

Boa leitura!



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O ano se arrastava junto ao compasso de uma vida calma e um tanto monótona, mas boa. Gaara se sentia feliz com o rumo de sua vida naqueles últimos anos. As pessoas à sua volta gostavam dele, ao ponto de o escolherem como representante de turma pela terceira vez consecutiva. Nos dias de São Valentim, podia levar a mochila vazia que ela voltaria cheia de chocolates, os quais compartilhava com os dois irmãos ou oferecia para quem pedisse, afinal, ele nunca foi um fã de doces.

Desde pequeno, ele foi um grande observador e notar no olhar dos outros alunos respeito e admiração faziam o seu dia valer a pena, mesmo quando nada de extraordinário acontecia. O cenário era oposto ao de cinco anos atrás, quando o mundo ao seu redor parecia odiá-lo e ele fingia não dar a mínima, odiando a todos em igual proporção.

 Machucar uma pessoa não era um problema naqueles dias, mas uma fonte de prazer viciante. Nenhuma escola o aceitava por muito tempo, apesar de seu currículo ser exemplar no quesito das notas. A verdade era que a insubordinação sempre pesou mais e o corpo docente era treinado a ensinar matérias, não a ajudar o psicológico dos adolescentes. Essa parte era obrigação dos pais, mas nem todo pai sabia lidar com o filho; o de Gaara era um exemplo.

 Aliás, Sabaku no Rasa desprezava o filho. Não era preciso palavras para que Gaara entendesse isso, o simples fato de quase nunca conversarem um com o outro era o suficiente. Talvez, se ele não tivesse perdido a esposa quando o filho nasceu, as coisas pudessem ter sido diferentes. De fato, seriam, Karura era o tipo de mulher que encheria o seu pequeno de amor e carinho.

Ela nunca culparia Gaara por sua morte, diferente de Rasa. Ela nunca pensaria em descartá-lo por começar a dar problemas, diferente do irmão dela, Yashamaru.

Sorte que tudo era passado agora. O pai ainda o ignorava, mas ele não o via mais como o vilão de toda história. Havia mudado a si mesmo e a chave de tudo foi uma pessoa: Uzumaki Naruto.

Bastava cruzar os corredores e chegar ao refeitório que logo se via o rapaz a rir e brincar com os amigos. Naruto era de uma alegria contagiante, barulhento, sempre preocupado com quem estava à sua volta. Gaara o comparava ao verão, afinal, até mesmo sua aparência lembrava a época. Ninguém na escola era capaz de esquecer o “baixinho” loiro e agitado de olhos azuis.

Naruto era amigo de todos e Gaara tinha uma consideração especial por ele ter salvo sua vida. Graças ao loiro, ninguém tinha medo dele e seus irmãos sentiam prazer em estar ao seu lado fazendo companhia. Nos dois últimos anos foi diferente, pois cada um ingressou na universidade e a maior parte do tempo consistia em estudar e fazer trabalhos, mas nada impedia Kankuro de ir buscá-lo na escola no fim da tarde. Gaara só recusou uma vez e foi para voltar a pé com Naruto.

A verdade era que o jovem Sabaku era capaz de recusar qualquer compromisso para poder ter um pouco da companhia do loiro. Cada momento com uma pessoa era único e quando se tratava de seu grande amigo, Gaara levava esse conceito muito a sério. Isso nunca causou problemas, os tais momentos únicos podiam ser contados nos dedos. Depois que resolveu ser uma pessoa melhor, seus momentos a sós com Naruto se resumiam a, no máximo, uma tarde de estudo para repassar a matéria da prova.

O rapaz podia repetir para si mesmo todos os dias que não se importava, contudo a verdade era que a cada ano que se passava, o incômodo crescia. Era normal querer estar perto de um amigo, querer um pouco da atenção dele para si. Poder conversar livremente sobre qualquer assunto, sem medo de alguém ouvir. Estar rodeado de pessoas era diferente de estar ao lado de alguém especial, era o tipo de falta que gerava um vazio estranho. Uma sensação de monotonia que não combinava com a alegria de não estar solitário. Com efeito, chegava a ser contraditório.

Era em meio a tantas dúvidas que o rapaz resguardou-se de todo o contato humano no intervalo e ficou a observar do terraço a cidade, vez ou outra seus olhos percorriam o pátio repleto de alunos. No fundo, sabia ter como objetivo encontrar aquele que para ele era como o verão, mas preferia enganar-se, pensando que o principal objetivo era observar as casas que se estendiam como um manto de retalhos.

 Foi no fim do intervalo que ele o viu, sozinho, com o casaco do uniforme jogado sobre o ombro e andar despreocupado. Parecia pensativo e um pequeno sorriso iluminou o rosto de Gaara. Sabia que Naruto não estava pensando em nada sério, faltava clareza em uma imagem vista de longe, mas a imaginação do rapaz servia de lupa, guiando-o para cada detalhe do rosto bronzeado que ele havia gravado tão bem.

Naruto caminhou pelo pátio, sem rumo, até parar próximo de uma árvore sem folhas e começar a acenar e gritar. Qualquer um saberia que o loiro chamava por Sakura e Sasuke, seus amigos de infância. A leitura labial era dispensável.

 Sakura, como seu próprio nome dizia, parecia uma flor de cerejeira, com exóticos cabelos rosados e expressivos olhos verdes. Há dois anos ela namorava o garoto mais popular da escola, Uchiha Sasuke. Assim como a maioria no clã, Sasuke tinha cabelos e olhos negros como ônix, e uma pele clara como a do próprio Gaara. Os traços do rapaz eram harmoniosos ao ponto dele parecer esculpido, todas as garotas gostavam dele, porém foi Sakura quem conseguiu conquistar o coração do rapaz.

 Os dois poderiam ser considerados o círculo íntimo de amizades de Naruto, apesar de Gaara ser considerado um bom amigo, ele sabia bem que não havia espaço entre Sakura e Sasuke. Nem no segundo plano de amigos.

Pensando por esse lado, seus dias na escola andavam bem solitários, mas ele fingia não se importar. Estava acostumado, e só de poder ver seus colegas a se divertirem, podia sentir o ânimo revigorado. Quando deu o horário para o recomeço das aulas, Gaara saiu do terraço disposto a esquecer todo pensamento negativo assim que cruzasse a porta.

 Uma pena que disposição não bastava para esquecer as coisas. Ele estava sozinho, por mais que pessoas o rodeassem e aquilo era um fato. Se bem que não era falta de qualquer companhia que o rapaz sentia. Já era impossível negar o quanto queria estar na companhia do loiro; a vontade criava nele uma onda de adrenalina, um desejo imediato de sair da sala e ir convidá-lo a passar a fim de tarde em sua casa.

Desde quando ele sentia essa urgência? Não sabia, provavelmente, desde o último semestre de provas. Um período não muito bom para Naruto; no dia em questão, ele fora obrigado a ficar na escola depois das aulas estudando por ter esquecido de fazer o dever de casa pela terceira vez.

O professor ao conceder o castigo não pensou em passar as duas horas junto de seu aluno. Como Gaara precisou ficar um pouco mais tarde ajeitando alguns documentos que o supervisor entregou, o professor aproveitou a chance e, em troca de um ponto extra que o rapaz nunca precisaria, pediu para que ele olhasse Naruto.

Gaara lembrava com detalhes de tudo, porém a sala de aula não era o melhor lugar para devaneios. Notou isso quando o professor lhe fez uma pergunta e ele nem percebeu. Na verdade, ele não havia prestado atenção em nada da aula até o momento.

— Se continuar assim, suas notas irão cair, Gaara — o professor resmungou, irritado porque o seu melhor aluno estava desatento à aula.

 — Eu sinto muito. — Foi tudo o que ele conseguiu responder, em uma vã tentativa de prestar atenção no restante da explicação.

Acabou que os momentos de atenção ao longo das aulas foram curtos. Por sorte, não houveram perguntas novas e foi com alívio que o jovem recebeu o som do sinal, anunciando o fim de mais um dia letivo e o início de um pequeno martírio.

Por que tudo o que ele queria naquele instante era poder encontrar com Naruto no corredor. Gaara era acostumado a migalhas de atenção e algumas poucas palavras bastariam para estancar o fluxo de adrenalina que vinha do desejo de não estar só.

Nunca lhe pareceu tão estranho o paradoxo de tantas pessoas gostarem dele e mesmo assim se sentir sozinho. Nunca foi tão doloroso pensar que encontrava forças na alegria alheia para em seguida cair em desespero, e a troco de quê? Ele não devia ter passado aquelas horas ensinando a matéria a Naruto se soubesse das consequências para si.

 Porque pessoas acostumadas a migalhas se cansavam delas facilmente quando recebiam um prato cheio. Gaara queria a companhia de Naruto aquela tarde e iria atrás disso. Depois de algumas despedidas rápidas e de reafirmar que estava bem para um grupo de garotas, ele saiu rápido da sala e espiou a sala ao lado para saber se o loiro estava presente. Estava.

Mas saiu acompanhado, o que não impediu Gaara de abordá-lo. Sakura e Sasuke seguiram na frente, dando espaço para os dois conversarem, mas o rápido olhar do Uchiha foi o suficiente para o outro perceber que atrapalhava algo. Não que Naruto tivesse percebido o mesmo, ele era lento para essas coisas.

— Ei, Gaara. O que foi? — Naruto perguntou com um sorriso que levou o rapaz a fazer o mesmo.

— Você tem algum plano para o fim da tarde? — Simples e direto. O coração bateu mais rápido na rápida expectativa da resposta.

— Hmm... — Naruto coçou a cabeça, pensativo. — Bem, eu, a Sakura-chan e o Sasuke combinamos de ir ao cinema.

— Entendo. — A decepção era invisível por fora, mas ardeu como veneno no peito. Ele já devia ter imaginado.

 — Mas você pode ir com a gente, se quiser. Vamos assistir a um romance e tenho a certeza de que vai ser chato, então é bom ter mais um garoto no grupo.

Gaara era indiferente a qualquer gênero cinematográfico, o importante era a companhia.

— Será um prazer. Kankuro pode dar carona a todos.

 O sorriso de Naruto aumentou.

— Maravilha! Sakura-chan, Sasuke, vamos ter carona! — o loiro gritou para os amigos que estavam a meio metro de distância.

Sasuke arqueou uma sobrancelha, sem entender, mas assim que olhou para Gaara compreendeu. Sakura por sua vez, se aproximou rápido pedindo explicações.

— O Gaara vai com a gente e o irmão dele vai nos dar carona — Naruto prontamente respondeu.

— Gaara? Não sabia que você gostava de romances — a garota comentou, surpresa.

— Eu não me importo em assistir.

— Bom que você coloca limite no idiota do Naruto. Não quero ele roncando ou gritando durante o filme. — Sakura sorriu. No fundo, o que ela queria mesmo era poder namorar um pouquinho com Sasuke sem ter o amigo atrapalhando.

— Sakura-chan, você é cruel! — Naruto resmungou. As acusações dela eram verdadeiras. Quando não gostava de um filme, o rapaz ficava inquieto, mas ela precisava comentar isso na frente dos outros?

Com Naruto gritando ou não, Gaara estava feliz em ter a companhia dele.

— Andem logo ou vamos perder a hora do filme — Sasuke disse, mal-humorado.

 — Certo, certo. Vamos. — Naruto falou, colocando as mãos atrás da cabeça e começando a caminhar.

Em silêncio e com um sorriso discreto no rosto, Gaara os seguiu. Uma ida ao cinema era o suficiente para suprir a falta, mas até quando?


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram? Já possuem alguma ideia do que pode acontecer?

Deixem um review para eu saber, prometo que não mordo! ♥

Façam uma autora feliz.

Até a próxima!

Beijos!



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