A Promessa escrita por Morgenstern


Capítulo 58
Era Uma Vez...




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Eu iria morrer.

Não havia qualquer outra hipótese que diria o contrário e eu estava com medo. Fraca o bastante para chorar, idiota por não manter-se digna em sua própria morte que provavelmente outras pessoas estarão assistindo aquilo, provavelmente Maxon saberia dias depois, provavelmente meu pai iria enfartar. “Só deixarei ir para essa faculdade se eu tiver certeza de que estará bem” foi o que ele disse quando ouviu a mim e minhas amigas ao falar sobre a faculdade em Boston. “Karlla vai se dá bem, pai", meu irmão disse caído no sofá encarando a TV. Lembro-me de não dá tanta atenção a ele, lembro-me de revirar os olhos para o duplo sentido naquela frase e estava verdadeiramente derrotada por não ser a verdade. “E agora Danny, o que eu faço?” era o que eu perguntava para ele desde quando tinha cinco ou quatro anos, porque era sempre meu irmão quem me incentivava. Era sempre ele quem me metia em encrencas por diversão e era sempre ele quem me guiava, quem me protegia. Meu irmão estava feliz pela minha mudança – não por se livrar de mim – mas por saber que era o melhor e agora eu preferia nunca ter saído de casa.

— Vamos acordar! – alguém gritou em meu ouvido, fazendo meu corpo tremer com o susto, meus olhos arregalarem atrás do pano e meu coração ameaçou explodir. – Você precisa trabalhar, mocinha. – falou ao tirar o pano dos meus olhos, me fazendo piscar com tamanha claridade, numa sala de quatro paredes e apenas uma porta.

Era a mesma loira, com roupas novas e cabelos puxados para trás em um rabo de cavalo e ela não parava de sorrir.

— Primeiro, vamos conversar. – disse cruzando os braços em minha frente, esperando qualquer aceno ou resposta, mas eu não poderia falar algo, não poderia porque estava me acostumando com as paredes e teto branco, estava me acostumando a enxergar, minha mãos presas em minhas costas e ao meu corpo formigando. – Ok, isso deve ser um sim. – sorriu tão irônica, tão safada que me que deixou irritada. – Você é realmente uma idiota. Por favor, não pense que foi a primeira. Isso já aconteceu com muitas outras e você foi apenas mais uma.

O que?

Eu queria gritar, queria correr através daquela porta e não olhar para trás.

Queria chutá-la antes disso.

— Vocês não aprendem, não é? – a mulher perguntou ao se inclinar para mim, para manter a mesma altura de nossos olhares. – Vocês nunca aprendem! Acham que são espertas, mas no final do dia, quebram seus corações.

— O que você quer dizer com isso? – foram as palavras que saíram de minha boca.

A mulher se ergueu com uma feição sombria no rosto, me dando um arrepio na espinha.

— Você acha que conhece seus amiguinhos. Você acha que pode salvá-los, mas no final das contas você não fez nada por Lethicia. Fez? Ou Dylan.

— O que você quer? – gritei apertando os olhos tentando não vê-la, interrompendo-a para não ouvir nada que me possa me fazer chorar. A mulher riu e voltou a se inclinar para mim, sussurrando ao falar.

— Você acha que os conhece. – abri os olhos e ela já estava encostada na parede no outro lado da sala, de frente para mim encarando suas unhas bem feitas quando ergueu o olhar encontrando o meu. – Vejamos. Sabe porque Maxon Maddox não fica com apenas uma mulher? Sabe porque Julia tem tamanha amizade com os irmãos e Mariana, que é prima, não tanto? Sabe porque Julia não aceitou ser parte da fraternidade? E principalmente, sabe porque Aaron fez a tal aposta com Maxon?

Meu coração estava pedindo por favor para sair pela boca, minha mente rodava em círculos me deixando tonta e atordoada. A mulher sorriu vitoriosa enquanto assistia minha reação, vitoriosa por ter conseguido me atacar, me desarmar – mesmo eu já estando desarmada – e agora, assustada.

— Serei breve com você. A propósito aceito seu agradecimento por contar sobre a aposta. Só não imaginava que você seria tão rápida para terminar. Me deixou orgulhosa, Karlla.

— O que você quer? – era tudo o que eu queria saber.

— Porque tão ansiosa? Não, porque tão curiosa? – ela sorriu e voltou a encarar suas unhas. – Vou contar uma história, sobre um lindo garoto que se apaixona por uma linda garota de cabelos castanhos. Ela era realmente muito bonita e sempre dividia sua comida na hora do lanche da escola, os dois estudavam juntos por dois anos quando, pela primeira vez, o garoto finalmente teve coragem de se declarar para ela. A garota? Não sabia o que fazer. Era tão jovem e inocente que aceitou, seja lá o que for – disse entediada. – Passaram-se quatro anos até que os dois ingressaram no ensino médio, tão apaixonados, tão perfeitos uma para o outro que qualquer um poderia desejá-los juntos. Mas nem sempre tudo é flores e arco-íris. A garota sonhava alto, queria conhecer o mundo, estudar enquanto o garoto estava pensando nos dois, esquecendo de si mesmo. Ele poderia ter sido mais inteligente. E talvez seja por isso que perdeu a garota. Ela desejou tudo de melhor para ele, que realmente encontrasse alguém que valia a pena e ele só desejou uma coisa. – a mulher parou e me encarou como se esperando uma pergunta, esperando que eu pedisse para dizer o que era mas eu não queria saber, não queria conciliar Maxon a esse garoto. – Bem. O garoto desejou a si mesmo, que não iria confiar em outra mulher tanto quanto havia nela. Que não seria de uma só e sim de todas. Você reconheceu alguém? – perguntou animada, esperançosa e neguei com a cabeça desviando meu olhar para o chão. – Ah, por favor Karlla! Você sabe de quem estou falando. Vamos lá. Diga!

— Não.

— Diga! – ela gritou fazendo sua voz ecoar pelo quarto. – Diga e eu a libertarei. – encarei-a observando sua feição, procurando um traço de mentira. Ela era tão boa que eu não pude decifrar se o sorriso em seus lábios eram sinceros.

— Está falando do Maxon.

— Sim! Muito bem. – disse ao bater palmas. – E a garota? – perguntou. Voltei a negar com a cabeça e a mulher suspirou. – Estou falando da Julia.

Minha cabeça estava prestes a explodir.

— Estou surpresa por não ter notado. – disse me analisando. – E é por isso que Maxon Maddox não se apaixona. Ele usa e descarta. E você foi uma delas. Agora, próximo passo...

— Já entendi. – falei antes que ela continuasse a me torturar daquele jeito.

Seria menos doloroso uma faca no peito.

— Entendeu o que? – a mulher perguntou erguendo uma sobrancelha para mim, pela primeira vez, intrigada.

— Você foi uma dessas não é? – perguntei com um sorriso debochado que consegui fingir. – Maxon te usou e você está com raiva. Você deve ser uma Gama. Elas não tem boa fama, se me permite dizer. – falei encarando-a, analisando a cada passo que ela dava para perto de mim. Os lábios em linha dura como se eu estivesse machucando justamente na ferida. – Sempre ouvi dizer que as garotas Gama são fáceis demais e é por isso que Maxon não perde tempo em usá-las.

— Você se acha esperta porque não faz parte desse título, mas está na mesma situação que qualquer uma. – ela disse se inclinando para mim.

Minha costas encostadas na parede estavam tensas, mas de frente meu corpo estava relaxado e tranquilo. Me pergunto se era autodefesa entrando em ação.

— Não. Não estou. – sorri amplamente. – Porque Maxon trocou vocês Gama, por mim.

Lá estava meu sorriso de superioridade dando olá. Lá estava a raiva no rosto da outra mulher e lá estava a palma da sua mão em minha bochecha. Tão duro, tão forte que o barulho ecoou pelo cômodo e me fez cair em desequilíbrio.

— Você. Não. Está no comando. – ela disse entre dentes. – E só irá acabar, quando eu mesma disser que acabou. – suspirou profundamente e se ergueu voltando a postura. – Você quer salvar sua amiga e eu lhe dou apenas uma opção. – a mulher disse erguendo o indicador para mim, que tentava não chorar, tentava mostrar que não estava afetada pela bochecha vermelha e ardida.

— Que opção? – foi o que perguntei, ansiosa demais.

— Não será tão fácil, mas você vai se dá bem. Agora deixe-me lhe apresentar seu companheiro.

"Meu companheiro"? Eu queria gritar. A única porta naquela sala se abriu lentamente, o outro lado estava completamente escuro, não saberia dizer se era um corredor ou outro cômodo e um frio passou pela minha espinha quando a bota entrou seus passos fortes e pesados, calça jeans surrada, blusa sem mangas colada demais no corpo musculoso e o rosto de alguém que eu não sabia quem era. Tatuagens do pulso ao antebraço, piercing na ponta da sobrancelha esquerda e lindos olhos azuis. Cabelos desarrumados não era seu problema para tanta beleza, para tanto charme em um sorriso. Ele se ajoelhou em minha frente e não arrisquei me mexer enquanto me analisava atentamente.

— Está aqui é a do Maxon? – ele perguntou se virando para a mulher, que concordou com a cabeça cruzando os braços no peito. – Achei que ele tivesse bom gosto.

— Vamos logo com isso, Kent. – a mulher disse virando pelos calcanhares indo em direção a porta enquanto o homem se erguia e do bolso de trás de sua calça, puxava finas tiras de couro presas em um suporte de borracha.


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Notas finais do capítulo

Wow, estão gostando da história?
É o suficiente para recomendá-la? Para divulgá-la? Estou contando com vocês ein.



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