Autistic Love escrita por Claraneko


Capítulo 6
Um Menino Diferente


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, peço desculpas pela demora, quase dois meses sem postar. Tive uns problemas de falta de net, sério, um mês sem net é fogo (o resto do tempo é folgadisse mesmo ;). Mas estou de volta e Feliz Ano Novo atrasado :)
Sem mais delongas... Boa leitura



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Suzuno seguia para o treino com os pensamentos focados no campeonato que chegava, apenas mais duas semanas e já sairia o escalamento dos times e então já saberiam contra quem iriam jogar. Estava tão ansioso que não via para onde suas pernas o levavam. Mas em meio a sua empolgação estava cravado certa agonia, uma aflição de não querer ser humilhado em quadra quando perdessem, o que provavelmente aconteceria. Perdendo, a inferioridade de seu time e dele próprio seriam reveladas. Queria ganhar, sonhava com isso, mas como poderiam se não lutava com tudo? Se não jogava com todo o seu potencial?

O medo do fracasso o fez fincar os pés no chão, o olhar se dirigindo ao mesmo. Se pudesse lutar com todo o seu poder... Poderia ser útil ao time, mas não podia, só iria estragar tudo, como sempre fizera. Tinha vergonha, temia o que os outros lhe diriam, e como lhe olhariam. Não sabia o por que, mas eles não lhe entendiam.

Em um sobressalto ergueu a cabeça e olhou para o lado. Ouviu passos se aproximando. Eram alguns de seus colegas, juntos de outros alunos de outra classe, enfim, gente que estava na sua lista de pessoas a serem evitadas. Suzuno mirou-os sem expressão e logo virou-se no corredor, entrando no banheiro.

Costumava chegar cedo aos treinos, entretanto, naquele dia estava menos adiantado. O vestuário do time devia estar cheio, então preferira trocar-se ali mesmo. Ao terminar, lavou as mãos e jogou água em seu rosto. Estava fria... Fazendo-lhe divagar novamente no campeonato.

O barulho da porta batendo seguido por um clic fez-o retornar no momento presente. Suzuno imediatamente correu até a porta e tentou  abrir, em vão, estava trancada.

— Não... - murmurou assustado. Os risos dos alunos no outro lado eram tão altos que chegavam a ser palpáveis, estavam claramente se divertindo. Suzuno congelou. Queria gritar para que abrissem a porta, mas não tinha coragem de chamá-los ou de falar qualquer coisa. O som dos passos se afastando deu-lhe um frio aterrorizante na barriga, ao contrário daquele que tinha antes de entrar em uma partida, esse era ruim.

Suzuno deu alguns passos para trás, afastando-se da porta, sentindo as batidas em seu peito ficaram mais altas ao ver-se naquela situação. Um desespero percorreu-lhe o corpo, tencionando cada músculo por onde passava. Estava preso. Sentiu algo dentro de si descontrolando-se, desequilibrando todas as suas emoções. Só queria sair dali.

Podia ser normal para as pessoas serem vítimas dessas brincadeiras e sentirem descontentamento, raiva, impaciência oo até um certo sentimento de vingança, mas para Suzuno não era assim tão simples, era algo pior. Era angústia, um estado de sufocamento, tormento que fazia o peito apertar.

Sempre preferira manter-se isolado do que a agonia de viver rodeado por outros, mas não desse jeito, não assim. Essa situação era apavorante, sua mente imaginou as quatro paredes esmagando-lhe.

Suzuno girou, tentando se acalmar e procurando alguma rota de fuga, mas ao ver que não tinha, voltou para a maçaneta da porta e chacoalhou-a. Não soube quanto tempo ficou fazendo isso até deixar seu corpo cair no chão, trêmulo. Abraçou-se nos joelhos e balançou-se para frente e para trás, a procura de conforto.

Os olhos azuis do albino se voltaram para a porta, em sua cabeça se passava aonde estaria um garoto de cabelos como o fogo. Deixou sua testa bater na porta e encolheu-se, entre soluços.

— Nagumo... - chamou num sussurro.

Culpava-se. Culpava-se por que sabia que a culpa disso tudo era sua. Sempre, as coisas que fazia, sua dificuldade em fazer amigos e em iniciar e manter uma conversa, seus hábitos repetitivos na escola... Não saber o que falar quando as pessoas vinham falar consigo e não conseguir se expressar como queria. Isso afastava as pessoas. Seus colegas, até os mais conhecidos, estranhavam-lhe. Estranhavam seu comportamento diferente, sua fixação por desenhar, estranhavam e temiam sua aparente frieza emocional.

Suzuno não conseguia mostrar, mas não era frio como as pessoas pensavam. No final, as pessoas acabavam sempre evitando-lhe. Mas tinha um ser que era diferente, que lhe entendia. De repente, uma pequena chispa de esperança acendeu, abrindo espaço por entre os sentimentos negativos, mas não foi forte o suficiente para parar-lhe os soluços. Com os olhos fechados imaginou se o avermelhado estaria treinando agora, lá com o time, e quis muito estar com ele, brigando pela bola.

— Suzuno - uma voz gritou, mas chegou a Suzuno como um eco longínquo, um som que não soube distinguir se era real. O chamado prosseguiu, cada vez mais alto. Ao percebê-lo, o albino abriu os olhos, tentando entender o que dizia. - SUZUNO - dessa vez a voz forte do outro chegou até ele, despertando-o. O albino soube que precisava fazer algo para chamar sua atenção, para que soubesse onde estava. Devia gritar de volta, chamar seu nome, mas não encontrou forças para isso, e se a tivesse, novamente não teria coragem. A voz do avermelhado se afastava, novamente Suzuno desesperou-se. Com as forças que encontrou, bateu duas vezes na porta com o punho, esperava que ele tivesse ouvido.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                      

— Suzuno, está aí?

O coração do prateado pulou de felicidade ao ouvi-lo. Antes que pensasse em responder, ouviu-o trabalhar na tranca da porta, que logo foi aberta.

...

Nagumo abriu a porta e logo teve que se abaixar repentinamente para segurar o outro. Suzuno caiu em cima de si, os olhos inchados e fortemente apertados, segurou firme a camisa do outro, voltando a soluçar. O avermelhado abraçou-o  forte.

— Calma - disse ao afagar os cabelos cinza-prateados do menor, puxou-o mais para perto. - Está tudo bem agora.

Doía vê-lo assim, tão indefeso, e ao mesmo tempo vinha uma vontade enorme de protegê-lo. E pensar que uma simples brincadeira sem graça deixaria o colega desse jeito, não sabia que a situação era tão ruim, o que aumentava a vontade de voltar até os colegas imbecis e dar o que eles mereciam. No entanto, neste instante sentia que não devia fazer nada ou falar qualquer coisa, apenas acalentou o companheiro entre os braços, ali mesmo na entrada do banheiro, e ficou em silêncio. Permitiu a uma de suas mãos fazerem movimentos de ida e volta nas costas do amigo, enquanto sentia-o umidecer sua camisa de treino.

O corredor estava vazio, as aulas da tarde começariam em um pouco mais de uma hora. Em dado momento alguns alunos quaisquer passaram por ali e olharam para a cena, curiosos, e ao receber um olhar intimidante de Nagumo, logo deram no pé sem nada perguntar.

Não muito mais de dez minutos depois, Suzuno levantou o olhar, chamando a atenção de Nagumo. Os olhos azuis, mesmo com o dono tão abatido, continuava encantador. O avermelhado ajudou-o a levantar e pôs o seu braço sobre os ombros, indo no caminho da saída da escola. Suzuno o fitou como se quisesse perguntar algo e Nagumo  entendeu, logo negando com a cabeça, não iria mais ao treino.

Suzuno deixou-se levar, mostrando o caminho até chegarem em sua casa, onde Nagumo hesitou em entrar, mas se negou a se separar do colega naquele momento. Suzuno sorriu pela insistência do outro, e mesmo envergonhado, o avermelhado se sentiu aliviado ao vê-lo melhor. Adentraram a casa juntos e logo os pais adotivos vieram correndo, extremamente preocupados.

Nagumo ficou em pé só a observar enquanto os adultos falavam com o colega que permanecia de cabeça baixa. Reparou na diferença entre eles, ao contrário do filho, o pai possuía os olhos e cabelos castanhos, e a mulher, negros. Viu-os levar Suzuno até o quarto. Demoraram a voltar, e quanto o fizeram, sua atenção foi voltada ao garoto estranho que tinha trazido o filho de volta e até então permanecera parado como uma estátua. Nagumo engoliu seco, sentindo o olhar deles sobre si.

— Nagumo-kun, certo? - a mãe de Suzuno perguntou, suave e com um sorriso gentil. Nagumo acenou com a cabeça - Pode se sentar, quer chocolate quente? - Nagumo afirmou com a cabeça novamente, sentindo-se desconfortável. Ouviu o som do chuveiro, devia ser Suzuno.

Eles não perguntaram, mas queriam saber o que tinha acontecido e Nagumo contou-lhes, seguidamente falando que eram amigos e como tinham se conhecido, sem entrar em detalhes. Os dois ouviram atentamente, aparentemente meio surpresos. Nagumo viu que a notícia de Suzuno ter um amigo era novidade para eles.

— Nagumo-kun, você parece ser um bom garoto - ela começou -, só precisamos saber... se sua amizade é realmente verdadeira...

— Sabe que Fuusuke não é como os outros - O homem continuou.

— Temos medo que ele se machuque. Nosso menino já sofreu demais. Queremos ter certeza que você não é um risco para ele.

Nagumo ouvia-os, palavras de pais receosos, pais superprotetores. Admirou-se. Desde pequeno, seus pais sempre o deixaram fazer o que queria, sempre tivera uma grande liberdade no que fazia e com quem convivia. Seus pais nunca se importaram com quem saia e para eles não era importante saber, tampouco perguntavam. Mas aqueles dois na sua frente, estavam claramente alarmados, estudavam-lhe cada gesto.

— Querem saber se eu não tenho segundas intenções para com ele, não? - Perguntou e logo recebeu afirmação dos dois. - Eu nunca faria nada que o magoasse. Posso não ter como provar agora, mas minhas palavras são sinceras. Suzuno é um amigo importante para mim, nós compartilhamos um gosto muito grande por futebol, e pretendo estar junto dele quando chegarmos ao Nacional.

O avermelhado recebeu olhares carinhosos e sorridentes dos dois.

— Não sabe o quanto ficamos felizes ouvindo isso. Sua companhia vai fazer muito bem para ele - a mãe disse, levemente empolgada.

— Cuide dele por nós, aonde não podemos ir com ele - o pai pediu.

— Pode deixar - Nagumo disse com firmeza. Não precisava nem pedir. Entretanto, tinha uma coisa que queria muito saber, algo que desconfiava, mas não tinha certeza. - Eu posso perguntar uma coisa?

Eles o fitaram curiosos.

— Prossiga. - A mãe movimentou a mãe para que continuasse.

— O Suzuno tem... Alguma coisa? - isso lhe intrigava já fazia um tempo, desde que falara com sua mãe e ela lhe dissera algo que o surpreendera e o pusera pra pensar, era quase imperceptível, mas com o convívio tinha constatado. Envergonhava-se em perguntar, e se ele não fosse? Só iria receber olhares perplexos e reprovadores por ter achado isso, principalmente de Suzuno, mas precisava tirar essa dúvida. - Ele é...

— Sim - ela o cortou gentilmente, enquanto o pai de Suzuno olhava atentamente para as ações do avermelhado. - Nosso Fuusuke é autista.

 


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Notas finais do capítulo

Eu acabei não escrevendo tudo o que queria nesse capítulo, acabou ficando pequeno, mas queria postar logo já que faz tannnnnto tempo, pra vcs n esquecerem q essa fic existe ;) Brinks :D
Então, já desconfiavam que ele era autista, né? Está até no título (só pra tirar a suspresa, q baka eu sou)
Bjus



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