Autistic Love escrita por Claraneko


Capítulo 15
Northern Impact




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Suzuno encarou sem medo o monstro alaranjado que se aproximava da defesa. Não sentia medo, ao menos não tanto como antes; e o motivo era simples: não se sentia mais preso naquela posição. Sentia-se livre, como se pudesse correr para qualquer lugar que ninguém o alcançaria.

As palavras e modos de agir das pessoas sempre tinham lhe machucado, seus pais sempre percebiam isso e se preocupavam consigo. Por isso, agiu como se não importasse com nada, como se as agulhas que jogavam sobre ele não pudessem lhe ferir e, fazendo isso, as pessoas ao seu redor começaram a achar que realmente não se importava, que era indiferente para com tudo e com todos.

Ainda assim, seus colegas perceberam sua insegurança e sua fraqueza, o prateado perguntou-se se conhecer Nagumo o tinha mudado tanto assim. Desde que conhecera o avermelhado que falava demais, muita coisa tinha mudado na sua vida, principalmente nos seus pensamentos e emoções. Isso fazia-o sentir... Alguma coisa por ele. Não sabia explicar, mas era algo quente, algo que fazia seu coração acelerar quando o via e todos seus pensamentos abrirem passagem para o sentimento que ainda não nomeara. Não podia dizer que não gostava daquele sentimento, pelo contrário, queria entendê-lo melhor.

Queria jogar lado a lado com Nagumo, que lhe esperava perto da zona de ataque no campo. Ele ainda estava longe, e Usagi se aproximava estrondosamente.

Como sempre, ele ria, risos acompanhados com um par de olhos cruéis.

— Dessa vez, o garoto verde não está aqui para te proteger. - Ele disse enquanto passeava os olhos maldosos no menor.

Os quatro zagueiros, que observavam o desenrolar do jogo logo a frente, enraiveceram-se com a citação de seu companheiro machucado. E Suzuno sentiu seu corpo pesar com os olhos do outro sob seu corpo. Contudo, o prateado soube assim que viu Usagi: dessa vez, ele pretendia lhe machucar de verdade, como fizera com Midorikawa. O atacante da Seishou faria de tudo para ganhar aquele jogo.

Não permitiria que isso acontecesse.

Suzuno não esperou que Usagi dissesse mais alguma palavra, tampouco esperaria que ele se aproximasse mais. Com olhos aguçados, calculou a sua distância para a do atacante e observou a posição de todos os jogadores e do gol adversário.

Deu um passo para a frente, preparando-se. Estava, enfim, fazendo aquilo? Tremeu de excitação. Decidiu, finalmente, ultrapassar a linha que separava a defesa e o meio campo.

Disparou no solo verde, como um vendaval branco.

Com um piscar de olhos, Suzuno reduziu a cinzas a distância que ainda separava ele de Usagi e tirou-lhe a bola facilmente, com um movimento extraordinariamente veloz que terminou com a da bola entre seus pés. O prateado encarou-a, era a primeira vez que ela estava em sua posse naquele jogo. Sentiu uma emoção percorrer-lhe o corpo, que esquentava por finalmente entrar em ação, fazendo a dor em seu joelho de dissipar como se tampouco existisse alguma irregularidade naquele ponto. Ignorou os olhares estupefatos e exclamações surpresos que sentia sobre si, principalmente de um chocado Usagi, e continuou a avançar pelo campo, sem olhar para trás.

Dois atacantes da Seishou correram em sua direção e Suzuno desviou com facilidade para em seguida avançar com sua velocidade, prontamente deixando-os para trás. “Já foram três ”, pensou. Percorreu todo o perímetro do meio-campo e do ataque do seu time em alguns segundos. Parou ao deparar-se com Nagumo lhe esperando.

— Finalmente. - O avermelhado lhe ofereceu um sorriso de orelha a orelha. - Estava cansado de esperar.

Suzuno olhou para o lado contrário, enrubescido.

— Não lembro de ter dito que viria. - Disse cético e Nagumo riu com a resposta.

— Então... - Nagumo encarou o campo da Seishou. - Vamos jogar.

— Sim. - Suzuno olhou para a frente, ansioso, algo incomum em si.

Dois meio-campistas e um atacante adversário correram para eles a fim de roubar a bola. Suzuno e Nagumo dispararam no campo, um acompanhando a velocidade do outro. Suzuno fez um passe-rápido para Nagumo quando o atacante adversário lhe alcançou e, ao passá-lo, recebeu a bola de volta.

Os meio-campistas da Seishou atacaram juntos e o prateado adiantou-se para enfrentá-los sozinho. Foi rápido, preciso e sem movimentos desnecessários. Driblou o primeiro com um giro para a esquerda. Seus movimentos eram leves e belos, porém certeiros. Quando o outro lhe alcançou, Suzuno parou bruscamente e chutou a bola para cima com o joelho, fazendo-a voar por cima da cabeça do meio campista. “Já foram seis”. Suzuno chutou a bola para Nagumo, que continuou a penetrar na defesa adversária.

Suzuno sentiu uma energia sutil percorrendo o seu corpo. Aquilo era muito diferente de jogar o futebol da defesa e treinar com adversários imaginários. Aquilo era real. Aquelas eram pessoas de verdade. Agora fazia o que realmente nascera para fazer, fazia o que decidira fazer, e a opinião daquelas centenas de pessoas que lhe assistiam eram irrelevantes.

Seu corpo estava leve, tão leve quanto o vento que acompanhava cada um de seus movimentos. Esse era o segredo que sempre fizera de maneira inconsciente: se movimentar juntamente com os elementos da natureza; com a ar, a água da chuva, a luz do sol, o firme solo, como se fossem um; desse jeito, eles lhe emprestavam sua força e conhecimento e assim se movimentava do jeito que queria.

Nagumo também parecia conhecer esse segredo. Ao lado dele, Suzuno sentia que era capaz de qualquer coisa.

Os dois moviam-se como raios. Confiantes nas próprias habilidades e conhecedores dos próprios limites, ninguém conseguia os deter. Faziam os passes em um sincronia aterradora, como já tinham feito dezenas de vezes em seus treinos sozinhos.

Dessa vez era oficial, ganhariam aquela partida.

“Já foram dez”.

Dez. Um time de futebol só estavam completos com onze jogadores, agora só faltava...

Suzuno sentiu um calafrio na barriga quando Nagumo passou-lhe a bola, acenando confiante com a cabeça. Parou em frente ao gol com a bola entre os pés e o goleiro adversário preparou-se.

Agora não podia mais voltar atrás. “Eu vou conseguir” Suzuno sorriu. “Porque eu sou um gênio, não é mesmo Nagumo?” O prateado estranhou, do mesmo usando o nome que o avermelhado outrora tinha lhe chamado. Afinal, tinha rechaçado ser chamado daquele jeito tantas vezes.

Seu olhar passou da bola para o goleiro adversário. Também era estranho pensar que aquela era a primeira vez que chutava a bola em uma partida de futebol oficial, com um goleiro de verdade para tentar pará-la. Claro que já havia chutado muitas vezes ao gol, mas nunca tivera ninguém na mesma.

Não sabia como e a quem agradecer por ter a oportunidade de mostrar o que era capaz.

Havia falhado com sua técnica tantas vezes e entre todas elas, só acertara uma. Precisava se lembrar do sentimento de chutar aquela única bola; que Nagumo se dedicara tanto a lhe ajudar.

Aquela não era hora para errar.

Com um profundo suspiro, limpou sua mente.

Suzuno cruzou os braços e o clima no campo mudou, uma névoa gélida cobriu toda a extensão do campo da Seishou, e o gelo alastrou-se em mesmo lugar. A bola congelada ergueu-se no ar.

Os Zagueiros da Seishou que antes corriam para chegar ao prateado, tiveram seus pés envolvidos em gelo, impedindo que continuassem o contra-ataque.

Northern Impact. — Suzuno proferiu antes de chutar a bola coberta pela sua energia. Força da bola, posição, velocidade, ângulo. Havia controlado todos, assim como no treino.

O goleiro da Seishou levantou sua defesa, mas essa foi imediatamente destruída pelo poder congelante do chute. Um segundo depois, a bola caiu inofensiva, após passar pela linha do gol e congelar toda a rede da Seishou.

Após anunciado o gol, o apito do fim da partida foi ouvido e o time entrou em êxtase, maravilhados. Não acreditavam no que haviam acabado de presenciar.

— Nagumo - o prateado chamou com olhos arregalados. O avermelhado que estava por perto, foi imediatamente ao lado dele, ainda tremendo um pouco pelo frio que agora tomava conta do campo. - Eu realmente... Fiz isso?

Nagumo sorriu com a expressão desnorteadamente fofa que o menor lançava ao gol de gelo.

— Sim.

Suzuno inclinou a cabeça, pensativo.

— Isso... Vai demorar um pouco para derreter. - Suzuno olhava atentamente para a bola que havia escapado por pouco da prisão de gelo que a rede se tornava. Aquele resultado nunca tinha acontecido enquanto treinava.

Nagumo gargalhou.

— Vai sim. Você é incrível, Suzuno.

Fuusuke corou com o comentário dito de maneira tão informal pelo atacante. Fitou o gol por mais um momento antes de virar-se para o mesmo.

— Er... Nagumo...

— Uh?

— Eu... Estou morrendo de vergonha de encarar o time agora.

Nagumo percebeu o rosto do albino ruborizar, realmente, o mesmo parecia incapaz e virar para a outra direção, onde os outros jogadores do time se encontravam. Nagumo tinha pensado, equivocadamente, que o prateado se sentiria mais seguro e confiante depois daquele gol, mas parecia que aquele jeito não mudaria assim tão rápido. E tampouco se importava, aquele era o Suzuno que amava, afinal de contas. O avermelhado sorriu e segurou a mão alheia, aquecendo-a com a sua.

— Vamos lá, esse time esteve esperando por você.

— Esperando por mim?

— Sim, eles estavam esperando para poder jogar futebol com você também. Mas...

— Mas eu me distanciava - Suzuno completou. - Sou culpado por isso também. - Baixou o olhar.

— A culpa não é sua - Nagumo colocou um pouco mais de força em sua mão em envolvia a do albino. - Os jogadores também não culpam você, por isso deram todo o tempo necessário para você se abrir com eles. Agora, devemos ir lá, certo?

Suzuno concordou com a cabeça.

Foram juntos até onde o time havia se reunido. A medida que se aproximavam, Suzuno sentia-se cada vez mais ansioso e receoso do que diriam. Contudo, essa preocupação durou pouco.

Todos os jogadores encaram o garoto prateado com uma expressão admirada.

— Suzuno, aquele era você não é? Era você mesmo, não é? - Um zagueiro perguntou, entusiasmado.

— Foi tão legal.

— Foi demais, você é tão forte, vai fazer isso da próxima vez também?

— Foi tão lindo...

— Foi congelante. - Disse um atacante, ainda esfregando os braços com frio, pensava na idéia de encomendar uniformes de inverno.

Suzuno sentiu as bochechas esquentarem.

— Parem... De dizer essas coisas. - Disse escondendo o rosto e o time riu em resposta.

— Vocês foram incríveis. - O goleiro disse, orgulhoso.

Nagumo riu.

— Sim, eu sei que sou incrível - Nagumo se gabou de brincadeira, em seguida fitou o prateado que parecia encolhido em um cantinho de vergonha. - Nosso treinamento valeu a pena.

— Huh? Vocês dois treinaram juntos? - Um meio-campista perguntou e se aproximou mais dos dois. - Suspeito...

— Está insinuando alguma coisa?

O meio-campista riu, provocativo.

— Nos treine também. Nós queremos ficar mais fortes como o Suzuno. - Um atacante pediu, esperanço.

— Está bem - Nagumo disse. - Mas saibam a força do Suzuno não existe por minha causa, ele é um gênio. Eu só deu algumas dicas.

Os jogadores exclamaram murmúrios maravilhados e encararam o prateado boquiabertos.

— Apesar de eu tê-lo vencido um monte de vezes.

Suzuno apertou os olhos e o dirigiu um olhar sério e frio, sentindo-se desafiado.

— Ham? - Lembrar-se da sua última sequência de perdas despertou uma vontade de jogar contra o atacante.

Nagumo aceitou o olhar desafiador com um de mesma frequência, encantando-se em como aquele garoto ficava atraente com aquela expressão.

O time observou a tensão entre os dois com certo receio e diversão misturados. Pouco tempo depois, o treinador Timo chegou para chamá-los.

Nagumo e Suzuno vieram juntos, atrás do time. Suzuno, quando fora dar um passo, parara de se mover.

— O que houve?

— Tinha me esquecido do meu joelho. - Suzuno respondeu.

Nagumo o avaliou, o grande hematoma em seu joelho direito estava mais escuro. Suzuno havia se esforçado demais e parecia cansado, precisava descansar.

— Vamos voltar. - Nagumo disse.

— Sim.

Suzuno acompanhou Nagumo, atrás do time que parecia feliz por um um novo atacante.


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