Era o dia.

Já estavam todos lá, esperando pela partida que logo chegaria. Exceto um, cuja ausência fora facilmente sentida por todos no recinto. Nagumo ainda não tinha chegado. A ansiedade e o nervosismo caminhavam soltos pelo vestiário.

Suzuno deixou seu olhar percorrer por cada um cada dos seus colegas de time, estranhamente impaciente. Diante daquela situação, nenhum deles tinha se lembrado em enchê-lo de perguntas sobre autismo, o que era bom, de certa forma.

Naquele mesmo dia, dois times já tinham sido eliminados do campeonato, apenas nessa primeira fase. Somente os mais fortes seguiriam para a próxima etapa. Suzuno pensava sobre isso: se era forte o suficiente, não... Se poderia ser forte o suficiente junto com seu time. Estavam todos receosos se poderiam vencer, exceto Nagumo, que sorria e dizia a todos que iriam para as finais. No ponto em que estavam, o time dizia que esse era um sonho impossível, mas Fuusuke aprendera a acreditar nas palavras daquela pessoa. Queria imensamente confiar nelas.

No momento estavam todos terminando de se preparar para a partida que não tardaria a chegar, pois a próxima seria a deles. Suzuno foi até a porta e saiu, fechando-a atrás de si. Ao fazê-lo sentiu-se muito melhor, deixando todo aquele clima pesado de seus colegas para eles mesmos. Começou a caminhar sem objetivo pelo corredor vazio e logo chegou a uma bifurcação que levava ao campo, observou o verde ao longe e se perdeu nele. Nervosismo, ansiedade, medo, também sentia tudo isso, pois era um ser humano afinal, isso é normal.

— Esse tipo de sentimento não devia ser normal - falou baixinho, abaixando o olhar para suas mãos. Elas tremiam. Era a primeira vez que jogaria uma partida oficial, e estariam filmando. Suzuno apertou os olhos, assustado, ao lembrar-se que também deveria ter um grande público assistindo. Não gostava da idéia de tanta gente olhando para si. - Não, eles olharão para a bola... Quanto menos tempo ficar com a bola melhor... - Mas não era isso que Nagumo vinha lhe dizendo tão incessantemente nos últimos dias, e ademais, Suzuno vinha sendo surpreendido com um estranho desejo de querer que o avermelhado se orgulhasse se si, se isso fosse possível. Deixou que sua alva mão passasse pelos fios brancos de seus cabelos e respirou fundo. Realmente, não sabia como progredir.

Ouviu vozes se aproximando e vindos do campo, levantou os olhos azul-acinzentados para fitá-los. Era a Seishou, o time com que jogariam. Suzuno não demorou muito para encontrá-lo, os olhos de um preto viscoso, cabelos arruivados e a barba mal feita, era a pessoa com quem tinha se esbarrado outro dia. “Eu quero você”. Suzuno sentiu um calafrio percorrer-lhe o corpo ao lembrar-se daquela voz arrastada e aqueles olhos lhe avaliando. Rapidamente deu meia volta pelo corredor até o vestiário, onde o time já estava se aquecendo.

Suzuno apertou os olhos e procurou por ele, dando voltas aleatoriamente com esse objetivo, mas parecia que aquela pessoa ainda não tinha chegado. Suspirou pesadamente, já estava ficando apreensivo, justo nesse dia, Nagumo ainda não tinha chegado. Sentou-se no banco, esperando. Sentiu uma mão suave sobre seu ombro.

— Não se preocupe, ele vai chegar a tempo. - Midorikawa lhe lançou um olhar acolhedor, na qual Suzuno só conseguiu olhar de volta. Isso era engraçado, normalmente não conseguia suportar olhar diretamente por muito mais de alguns segundos, inclusive com Nagumo, mas com Midorikawa era diferente. Pensou se era pela  aura brilhante e transparente que o esverdeado emanava. O prateado não a enxergava, mas a sentia. Suzuno acenou com a cabeça para o colega, que sorriu como o de costume.

Uma moça entrou no recinto para chamar-lhes, estava na hora. Se dirigiram em fila para o campo que já se encontrava preparado para a partida. Seishou veio em seguida, com um uniforme vermelho e roxo.

Enquanto o time recebia algumas últimas instruções do técnico Timo, Suzuno percebeu uma cabeleira conhecida se aproximando em velocidade anormal.

— Cheguei. - Nagumo disse divertido diante do time que o olhou curioso.

— Tem algum motivo no seu atraso, Haruya-kun? - o treinador indagou.

Nagumo levou a mão a cabeça.

— Sinto muito, dormi demais e perdi a hora - curvou-se. - Não vai acontecer novamente.

O time o olhou incrédulo, em seguida soltando suspiros de alívio.

— Não nos assuste mais dessa forma. - Disse um jogador, batendo nas costas de Haruya.

— É, o que nós faríamos sem você, nosso atacante principal? - Perguntou outro.

Midorikawa arqueou uma sobrancelha “Atacante é?” se perguntou, pensativo e olhando de relance para Suzuno.

— Nagumo, - o goleiro do time o chamou, chamando a atenção do avermelhado. - Aqui. - Estendeu para ele uma faixa de braço amarela. - Todos nós concordamos que você deveria ser o capitão do time. Não adianta recusar.

Nagumo recebeu a faixa, hesitante, e a colocou no braço. Os jogadores do time e rodearam e parabenizaram, dando palavras de boa sorte.

Um minuto depois, estavam alinhados no campo do adversário. Curvaram-se e sortearam quem iria começar com a bola. Suzuno estremeceu. Imediatamente olhou com o canto dos olhos para o jogador da Seishou, no outro extremo da fileira adversária, que engolia-o com os olhos. O prateado voltou o olhar para a frente, ignorando-o.

A posse de bola começaria com o Colégio Seishou. Ambos os times se dirigiram para suas posições. Suzuno foi para seu lugar na defesa, e depois de estranhar-la como sempre, observou o atacante de cabelos rubros em forma de uma flor indecifrável prostrado relaxadamente na sua posição. Nagumo virou-se e seus olhos se encontraram.

Aquilo novamente, o albino sentiu aquele pulsar ardente em seu peito. O avermelhado sorriu, como se dissesse: dê o seu melhor. Suzuno achou estranho, como aquele simples gesto de incentivo daquela pessoa tinha o poder de lhe acalmar.

Após o apito do juiz a partida começou, seguido pelo avanço dos atacantes da Seishou. Suzuno observou sem surpresa quando Nagumo roubou a bola do atacante que acabara de entrar no território do seu time, driblando mais um para em seguida seguir agilmente em direção ao gol adversário. O avermelhado com facilidade ultrapassou a defesa e lançou sua técnica principal, onde se elevou até o sol em uma velocidade surpreendente e chutou a bola, criando uma explosão que destroçou a defesa do goleiro da Seishou.

— Atomic Flare. - Disse sorrindo enquanto a bola rolava pelo campo até parar ao lado do goleiro caído.

Após um momento de silêncio, o time vibrou.

Suzuno apertou os lábios, em menos de um minuto de jogo, Nagumo havia aumentado a moral e a confiança do time. De alguma forma, aquilo o deixou perturbado.

— Na próxima vamos juntos. - Ele gritou para o time, que novamente vibrou em resposta.

Uma risada arrogante foi ouvida.

O time olhou para o capitão do time da Seishou, que estava perto da sua área do campo. As mãos na cintura e o queixo erguido. Suzuno reconheceu-o como aquele que pretendia evitar e inconscientemente recuou um passo.

— Nada mal - o jogador da Seishou disse, debochado. - Para um time de fracotes, nada mal mesmo. Agora chega de pegar leve e vamos jogar a sério.

— Em um partida se deve ser sério o tempo inteiro - Nagumo devolveu. - Então, vamos parar de brincar e jogar logo.

— Você - o ruivo da barba rala apontou para Haruya. - Até que você é forte, perde seu tempo arrastando esse bando de perdedores.

Nagumo cerrou os olhos, em sua volta, a tensão cresceu no seu time.

— Eles são um fardo para o seu talento. Desista deles e venha para o nosso time, nós somos fortes de verdade. - O atacante riu. - Fracotes deveriam se curvar como as presas que são e servir de alimento para os fortes.

De súbito, Suzuno estremeceu ao sentir aqueles olhos gélidos sobre os seus ao encará-lo. Cerrou as sobrancelhas e desviou seu olhar dos dele.

— Tsc - Nagumo cruzou os braços. - Recuso seu pedido idiota.

— O que? - O jogador da Seishou o olhou incrédulo.

— Os jogadores desse time não são fracos - Nagumo elevou um pouco o queixo e revelou um sorriso diabolicamente confiante. - Não nos subestime. - Disse antes e virar e voltar a sua posição.

— Seu... - O capitão da Seishou cerrou o punho, irritado. - Você vai me pagar por isso. - Murmurou e, elevando a voz, fez questão de olhar para seu alvo. - Me chamem de Usagi, aquele quem vai acabar com vocês, lembrem desse nome. - E sorriu.