Rio de Emoções escrita por Crisântemo Lirium


Capítulo 1
Capítulo 1




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Segundo o folclore brasileiro, Iara era uma bela índia, de longos cabelos negros, orbes castanho escudos e pele cor de jambo, trajando penas e um pedaço de cipó a emoldurar a cintura, ficando o resto de seu corpo à mostra. Seu pai, o pajé a amava muito, apoiando-a em tudo o que ela fazia, despertando ainda mais a inveja de seus irmãos, que já a invejavam por sua beleza.
Uma bela noite, Iara estava dormindo em sua loca, no chão sobre a cama de palha, de sono leve, Iara ouviu seus irmãos entrarem e também suas reais intenções para consigo, como uma guerreira Iara armou-se e se defendeu, acabando por matar seus irmãos, um por um. Temendo a reação de seu pai, caso ele descobrisse o que havia feito, Iara fugiu e embrenhou-se na mata.
No dia seguinte, o pajé descobriu os filhos mortos e jurou vingança a quem os tinha matado, iniciando uma busca incessante por sua filha, acabando por encontrá-la na floresta e descobriu ter sido ela que matou seus filhos, ceifando sua vida e jogando seu corpo nas margens do Rio Negro com Solimões. Os peixes encontraram o corpo de Iara, trazendo-o à superfície e sob a luz prateada da Lua, Iara tornou-se uma sereia: a parte superior corpo de mulher da cintura para baixo, cauda de peixe. Reza a lenda, que além da mãe d'água ter olhos verdes, seduz os homens com suas canções, os levando para a morte, ela carrega um pente de ouro que usa para pentear seus cabelos e atrai muitos homens, por sua beleza, já que sua cauda fica sob a água. Iara costuma ficar sob bancos de areia, admirando seu reflexo na água e brincando com os peixes.
Entretanto, uma certa família não é fã da mãe d'água: a família dos Santos, que tem dois filhos: o mais velho, chama-se Valdemir, tem doze anos e parece um peixe na água, o mais novo tem cinco anos e não sabe nadar, se chama João. Típico caboclo, João, assim como seu irmão Valdemir, tem a pele cor de jambo e os cabelos lisos, como seus pais.
Pedro e Joana, pais dos jovens, moram em um flutuante, trabalham o dia todo e João é olhado por vizinhos, brincando sempre dentro de casa, depois de fazer a lição de casa. Gostava muito de colocar os pés na água, para sentir a frieza do rio e foi exatamente isso que ele fez.
João trajava um short azul, com o tórax à mostra, estando descalço, sentou-se na pequena fachada de sua casa e colocou os pés na água. Os vizinhos vendo que o menino estava quieto, voltaram a fazer seus afazeres, mas algo estranho aconteceu naquele dia.
Um ser saiu da água, ficando com o corpo submerso, fazendo João se assustar e retirar os pés da água, quase que imediatamente, ficando a observar aquela figura nova. É a mulher mais linda que João já viu, de modo que o menino ficou encantado com aquela moça, recuando um pouco, quando ela falou consigo.

— Olá, pequeno, como vai? - indagou a sereia, os longos cabelos negros cobriam seus seios.

— Er... Oi, moça. Bem e você? - respondeu timidamente o garoto.

— Vem cá, vem nadar comigo. - convidou-o, com um sorriso nos lábios e fitou-o com os orbes verdes.

— Eu... Eu não sei nadar. - disse o menino, fitando a água, sem graça.

— Não tem problema, eu te ensino. - disse, nadando para perto do menino, que recuou. -—Não precisa ter medo. - assegurou.

Com cuidado, João se aproximou dela, colocando um pé após o outro na água, sendo amparado pela sereia, porém a curiosidade de João falou mais alto.

— Como se chama, moça? - indagou o menino.

— Me chamo Iara e você? Bate os pés e mova as mãos, puxando água. - disse a sereia, segurando-o na barriga.

— O meu nome é João. - respondeu o garoto, fazendo como ela havia dito, " puxando" a água com as mãos e batendo os pés, espalhando água.

Ficaram assim por um tempo, um aproveitando a companhia do outro, compartilhando confidências, talvez esse fosse o início de uma bela e perigosa amizade. O dia passou rápido para João, havia se divertido muito com a amiga nova, ela deixou-o na beira da fachada casa dele e desapareceu na água em um piscar de olhos.

°°°Alguns dias depois °°°

João estava nadando que nem peixe, talvez até melhor que seu irmão, trazendo orgulho a seus pais e alegria de seu irmão, não que seu irmão ou seus pais não tivessem tentado ensinar o garoto a nadar, é que o menino parecia ter aversão à água. Agora estava nadando como ninguém, todavia uma pergunta ficava martelando suas cabeças: como João tinha aprendido a nadar?
Joana chamou João para dentro de casa e relutante, o menino saiu da água e atendeu o pedido de sua mãe, assim entrando em casa. Joana estendeu uma toalha branca para o caçula e este se enxugou.

— João, como você aprendeu a nadar?- indagou a mãe, fitando o menino.

— Com uma amiga, mãe. - respondeu o garoto e fitou a mãe.

— Quero conhecer sua amiga, como ela se chama? - indagou, curiosa.

— Iara. - respondeu o menino, sem entender as caras de espanto de seus parentes.

— Iara, mãe d'água?- indagaram a mãe, o pai e o irmão mais velho do menino que estavam boquiabertos com a notícia. Joana desmaiou com a notícia, o coração de Pedro estava na boca e Valdemir deixou cair o lápis sobre o caderno.
— Ela é bonita? - indagou Valdemir, interessado na conversa e recebeu um olhar repreensivo de Pedro que pegou Joana no colo e colocou-a sobre a cama, abanando-a com a mão direita.

— Ela é linda. - respondeu João, com uma cara de bobo ao lembrar-se da amiga, talvez ela fosse o primeiro amor do menino e ele deitou-se na rede, sonhando acordado. - Um dia, ela será a senhora dos Santos. - disse o menino para si mesmo.

— O que disse João? - indagou Pedro, com uma expressão séria estampada no rosto.

— Nada pai, não disse nada. - desconversou o menino, continuando a sonhar acordado, Será que Iara iria aceitar seu pedido? Ou ela faria dele mais uma vítima de seus encantos?


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