Percebi nas entrelinhas da sua carta uma ponta (de um iceberg) de inquietações e lamúrias. Será que enviei para a Susana certa? Talvez eu tenha errado o endereço.

A Susana que conheci não perdia o tempo com lamentações. Ela se levantava e corria atrás do que deseja, mesmo que isso fosse ganhar cinco reais do meu pai para tomar sorvete, uma carona com o professor de geografia ou um beijo do Roger do terceiro ano.

Susi, não vista sua alma e sua vivacidade em uma mortalha!

Vinte e oito anos não são nada comparado aos anos de glória que virão pela frente. E não ouse usar as obrigações de casa como desculpa, ou farei uma relação minuciosa de todas as estrelas que são ótimas mães, assim como você.

Não vou permitir que você oculte todo seu talento atrás de um avental e um balcão. Perdoe-me pelo clichê, mas você nasceu para brilhar.

Sei que as coisas não são tão simples e que falar é mais fácil do que fazer, mas se um guri gago e medroso conseguiu falar para o mundo, uma mulher maravilhosa, tanto em beleza quanto em talento e graciosidade, pode conquistar as galáxias se assim desejar.