Marjorie abre os olhos, está aturdida.

Bernardo a encara sem expressão.

— Por que você fez isso? — Seus olhos lacrimejam, ela não queria reviver aquilo. Um aperto em seu peito.

Se pudesse faria uma trepanação ali mesmo, apenas para expurgar todo o passado que havia dentro dela.

— É preciso encarar a verdade. — Ele disse.

— Parece entender muito disso, por que não experimenta?

Ele não respondeu, o semblante sisudo.

— Algo me diz que ainda está aqui porque não é capaz de encarar a verdade... Então não me venha com julgamentos. E saia da minha casa! Mortos não tem morada, apenas covas e esquecimento! — Ela não ficou para encarar a reação do fantasma.

Marjorie sabia o que havia feito em seu passado. Ela já havia encarado as duras consequências, mas isso não a liberava de carregar o peso de suas ações.

Matara o marido, matara Fernando. Isso não havia volta. Isso não havia concerto.

Ela estava se defendendo de toda a opressão.

Violência gerava violência.

Na mesma proporção que o amou, ela também odiou.

Mas estava feito.

Essa era a sua fuga do passado.

Mas não das consequências, era dos fantasmas que ela fugia.

Parecia injusto encontrar um fantasma que não era seu.