Como o Céu escrita por SBFernanda


Capítulo 2
Capítulo Um


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal!

Quero agradecer imensamente a todos que confiaram nessa história e deram uma chance em ler e acompanhar. O 'segredo' da Hinata, no fim das contas, não é nada muito grande, mas é muito significativo para ela e será revelado aqui. Eu espero que gostem do capítulo.

Aos que ainda não respondi, estarei o fazendo o mais breve possível ♥



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Capítulo Um

 

"Eu não quero ser alguém que vai embora tão facilmente

Estou aqui para ficar e fazer a diferença que eu puder

Nossas diferenças fazem muito para nos ensinar como usar as ferramentas e os dons que temos

Sim, temos muita coisa em jogo

E no fim, você ainda é minha amiga

Pelo menos tínhamos a intenção

Para funcionarmos, não terminamos, não queimamos

Tivemos que aprender como nos virar sem o mundo desabar

Tive que aprender o que tenho e o que eu não sou

E quem eu sou"

 

A história de Naruto e Hinata teve início no ensino médio, era verdade. Após se casarem, eles tiveram o primeiro filho alguns anos depois. Boruto era um menino loiro e de olhos azuis como os do pai, mas era uma criança extremamente ligada à mãe. E esse fato acabou sendo de fundamental importância na história do casal.

Como costuma acontecer nos relacionamentos longos, após os muitos anos juntos, sete para ser mais exato, Naruto e Hinata se afastaram. Eles ainda moravam na mesma casa, ainda passavam alguns fins de semana juntos, mas eles quase não se falavam, quase não conversavam sobre eles, sobre seus problemas e, principalmente, sobre os dois.

Naruto estava com sua empresa em crescimento, após muito tempo lutando para tornar o seu negócio próprio conhecido. Todos os dias, incluindo os fins de semana, ele se dedicava aos números e marketing. Quando estava em casa, era comum que ele saísse com o celular na mão e se trancasse por horas no escritório. No início, Hinata aceitava sem contestar, afinal, era o sonho do marido finalmente acontecendo. Mas ela viu uma pessoa sentir mais que qualquer um.

Boruto tinha quatro anos de idade. Ele sentia cada vez que estava falando animadamente sobre uma brincadeira ou seu dia com o pai e ele saía, sem pensar duas vezes, com apenas um sinal do celular. Aquilo sim irritou Hinata, pois seu menino começou a mostrar apatia.

Porém, ela não disse qualquer coisa. Ao invés disso, afundou ainda mais no próprio trabalho. Hinata era uma excelente designer de interiores e, cada dia mais, se dedicava ao trabalho. Apesar disso, não deixava o filho de lado, o que acabou criando um laço ainda mais forte entre eles.

Passou então a ser comum para Naruto encontrar o filho dormindo abraçado à mãe quando ia para o quarto. E, com o tempo, passou a ser comum também ele dormir no sofá cama do escritório em vez de ao lado da esposa. O casamento caminhava para o fim e nenhum dos dois parecia perceber isso.

Até a chegada do fatídico dia.

Hinata chegou mais tarde em casa naquela noite. Seus clientes, um casal que havia acabado de ficar noivo, não conseguia decidir determinadas coisas para a casa. Estavam em uma bolha de felicidade que sempre havia no inicio do relacionamento e um ficava tentando agradar ao outro. No fim das contas, foi um dia muito mais estressante para a Uzumaki, que, não podia negar, sentira inveja de não possuir mais isso em sua vida.

Assim que ela passou pela porta, notou algo errado. Naruto estava sentado na poltrona, ainda com o terno que usava no trabalho e fitava a porta com o olhar sério e... decepcionado? Assim que a porta se fechou, ele se levantou.

— Onde estava?

— Como assim, onde eu estava? Estava trabalhando. Eu lhe mandei mensagem avisando que hoje terminaria a casa do casal de noivos, os jovens.

— Sim, mas não olha seu celular? — Aquilo pegou Hinata desprevenida. Apesar de tudo o que tinham passado nos últimos anos, nunca Naruto foi tão frio. — Não pude buscar Boruto na escola e lhe avisei antes, para saber se você poderia fazer isso. O garoto ficou na escola a tarde toda. Te ligaram, mas você nem mesmo atendeu.

— Boruto está bem? — Ignorou tudo o que tinha sido dito. Seu filho deveria estar se sentindo mal por conta daquilo. Ela caminhou até as escadas, mas parou ao ouvir Naruto:

— Sim. Quando me ligaram, pedi para Sakura o pegar e ela ficou brincando com a Sarada até agora a pouco. Mandei ele tomar um banho antes do jantar.

Após saber daquilo, suspirando aliviada, Hinata voltou a ficar de frente para o marido. Os dois se olharam e o silêncio pareceu pesar ainda mais no pensamento de ambos.

­— O que era tão importante que não poderia ser adiado pelo seu filho, Naruto?

— Uma reunião com o pessoal da Índia. Eles foram embora hoje mesmo e eu não podia adiar. — Passou as mãos pelo cabelo. O cansaço finalmente se mostrando presente. — Olha, eu sinto muito se fui rude... Eu... Eu não...

­— Imagina se todas as vezes que precisasse de mim, eu não estivesse? — Ele parou o que falava quando a ouviu dizer aquilo. Hinata não o olhava. O rosto dela parecia vermelho. — Imagina se meu filho me procurasse para contar algo e eu não estivesse, Naruto? O que seria de Boruto? Como seria a nossa relação? Pois é isso que acabou de imaginar que você tem feito.

— Hinata...

— Não. O seu filho precisa de você. Eu sei que faz isso pelo futuro dele, mas não pode mais ignorá-lo! Eu errei em não olhar o celular. O coloquei no silencioso em uma reunião e esqueci de tirar. Mas apenas o Boruto pode me condenar por isso. Você não tem moral. E nem eu com você. Nosso casamento tem acabado a cada dia e eu não fiz nada... — Finalmente, ela percebeu e quando o olhou, o rosto estava banhado em lágrimas.

— O quê? Acabado? O quê? Hinata... — Aquelas palavras não apenas fizeram com que ele despertasse, como também lhe deixaram desesperado. Ela estava se separando dele por conta de um problema?

— Não somos um casal já tem algum tempo, Naruto. E eu não disse nada não sei por quê. Talvez pelo Bolt, talvez porque fosse mais cômodo. Mas não somos.

— O que...? O que vai fazer? Não pode...

— Não ficarei aqui hoje. — Ela passou a mão pelo rosto e caminhou, passando por ele, até a porta novamente. ­— Irei arrumar um lugar para mim e para o Bolt, mas enquanto isso, por favor, cuide dele.

— Você vai nos deixar? Hinata... O que deu em você?

— Você precisa ser pai, Naruto. Mas se não puder ficar com o seu filho hoje...

— Isso não está certo, você sabe disso...

— Eu não sei de nada nesse momento.

Ela chorava quando saiu pela porta da casa. Quem conhecia a doce Hinata nunca imaginaria que ela faria uma coisa como aquela. E, provavelmente, por conta da surpresa, Naruto não teve qualquer reação ao ver sua esposa saindo de casa sem nada.

Só que Hinata não havia saído ainda. Assim que entrou no carro outra vez, esse que ainda estava na garagem, ela desabou. Se perguntou por que havia deixado chegar onde chegou. Se perguntou como não agiu quando ainda era tempo e, principalmente, se o que fazia agora era o certo.

Sua vida era marcada por abandonos. Pensar nisso lhe deu a resposta do motivo de não agir quando tudo começou a caminhar naquela direção. Ela não queria ser abandonada mais uma vez. Ela não queria de Boruto sofresse o mesmo abandono que ela sofreu.

O desespero se abateu sobre a mulher quando notou que ela estava causando esse abandono agora. Estava saindo e deixando o filho com o pai sem qualquer explicação. Estava saindo, sem saber se era o que Naruto queria também. Saíra, porque parecera conveniente, porque parecera... mais fácil.

Em meio a seus pensamentos ela conseguiu ouvir o filho e o marido do lado de dentro da casa e seu coração se apertou no mesmo instante que as palavras a atingiram:

— MENTIRA! Mamãe nunca me deixaria. Nunca! — Ela já havia dito as mesmas palavras um dia e agora, era seu pequeno menino que dizia.

Hinata não ouviu o que Naruto respondeu, mas ouviu o grito de Boruto para ele. Não eram palavras, eram apenas gritos de ódio. Ela saiu do carro, correndo para dentro de casa novamente. A cena que viu, mais uma vez, lhe partiu o coração. Naruto estava de pé, a cabeça baixa e com lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto o filho gritava e lhe socava a barriga. Seu menino também chorava.

— Bolt... — ela o chamou em um tom baixo e os dois a olharam. Boruto correu na direção dela e lhe abraçou.

— Eu sabia que era mentira dele. Eu sabia.

— Bolt, me desculpe. A mamãe agiu sem pensar. — As palavras mostravam que Naruto não mentira e isso fez o filho a olhar. — Mas não consegui sair da garagem sem você.

Naruto estava parado no mesmo lugar, apenas olhando a cena à sua frente. Hinata ficaria? O que seria dos dois? O que ele poderia fazer para que ela ficasse e ficasse com ele?

Durante aqueles minutos em que ela saiu e que teve que enfrentar o filho, soube que o casamento tinha mesmo caminhado para o fim e, com isso, ele percebeu que o que mais queria era voltar a ser como antes. Queria o casamento feliz que tivera, queria fazê-la e ser feliz ao lado dela, porque quando escolheu se casar com Hinata, escolheu que seria assim para sempre.

— Vou cuidar dele e depois conversamos, tudo bem? — Só então ele notou que ela falava consigo e acenou rapidamente, afirmando.

Hinata fez como dissera. Levou o filho para a cozinha, onde fez o jantar em sua presença e, em seguida, lhe deu a comida na boca. Naruto ficou o máximo escondido que podia, apenas olhando como os dois pareciam sincronizados. Ele perdera tudo aquilo por conta do trabalho? Perdera sua família se desenvolvendo daquela forma?

Quando Hinata subiu, levando o filho no colo, ele permaneceu na sala. Com os cotovelos apoiados nas pernas, abaixou a cabeça e passou as mãos pelo cabelo. De tudo o que tinha aprendido com seu pai, a primeira coisa é que deveria sempre cuidar de sua família e não deixar que nada faltasse. Ele pensou que trabalhando e dando o melhor para sua família, estaria cumprindo com seu dever. Mas não podia negar que se enganara. Foram muitas as vezes que, em seu escritório, olhou para as fotos de Hinata e Boruto e sentiu falta dos dois, mas se consolou achando que era o melhor.

Errara. Errara feio e agora podia ser tarde.

Sabia que logo Hinata estaria descendo para conversar com ele, bastaria que o filho dormisse. Ele, por outro lado, estava com medo dessa conversa. Deveria ceder à vontade e sair de casa? Não poderia obrigar Hinata a ficar consigo, mas haveria outra alternativa que não ceder a uma vontade que não era a sua?

Qual era a sua vontade então?

Não demorou para que Hinata descesse as escadas. Assim como ele, ela estava com a roupa que chegara do trabalho e ele se permitiu olhar melhor para ver como a sua esposa ia trabalhar. Ele percebeu que, há muito tempo, não sabia que ela usava uma saia lápis preta com uma blusa social de tecido leve e de botões. A perna não estava muito à mostra, mas dava para ver, pela batata da perna, que ela tinha um corpo bem definido.

Há quanto tempo não parava para admirar sua mulher com roupas formais? Há quanto tempo não parava para admirá-la que não quando ela estava dormindo? Aquela realidade bateu sobre ele e lhe causou culpa. Como Hinata saberia seus sentimentos e admiração quando ele nunca mostrava? É claro que ela iria achar que ele não ligava para o casamento dos dois.

Ela se sentou a sua frente e, mais uma vez, o silêncio tomou o lugar. Nenhum dos dois sabia como iniciar aquela conversa, mas os dois pensavam que deveriam.

— Primeiro, quero te pedir desculpas. ­— Foi Hinata quem deu o primeiro passo. — Eu não deveria agir sem conversar, fui covarde demais durante o último ano e fui ainda mais agora, querendo fugir do meu problema.

— Você é infeliz há um ano e não disse nada, Hinata?

— Não sei quando. Sei que eu preferi aceitar ter você do meu lado sem dizer nada do que correr o risco de ser abandonada de novo...

— Se é pelo seu pai...

— Sim, é por ele e por minha mãe também. — Naruto a olhou depois que ouviu aquilo. Hinata nunca, em todos os anos que estiveram juntos, falou sobre a mãe com detalhes e ele aceitou, por imaginar que era um assunto muito doloroso. — Eu não quero ser como ela, Naruto. Eu não quero ser alguém que vai embora tão facilmente. Mas eu também não sei mais quem eu sou e quem você é.

— Acho que passou da hora de conversarmos... Especialmente sobre o seu passado. Eu nunca pedi que me contasse sobre esses detalhes, mas eu preciso saber. Droga, Hinata, você me deixou ser um imbecil durante um ano sem dizer nada por medo. Medo de algo que, claramente, tem a ver com o seu passado. Eu não tiro a culpa que existe sobre mim e nós vamos falar sobre isso, mas eu preciso conhecer a pessoa com quem me casei há sete anos.

E ele tinha razão. Hinata sabia que não contar havia ajudado a gerar o problema tanto quanto ele se afastar. Ali não havia um único culpado.

— Quando eu tinha dez anos minha mãe foi embora. Ela simplesmente juntou as coisas dela, passou por mim e por Hanabi sem dizer nada. Ela sempre tinha sido presente em nossas vidas, mas sempre pareceu distante. Papai mudou a partir dali. Ele tentou encontra-la e fazê-la voltar, mas ela disse que não servia mais para ser mãe e esposa, que queria seguir a vida dela, a carreira dela e nós atrapalhávamos. Ele se focou na carreira dele e, com o tempo, conforme crescia, Hanabi fez o mesmo. Minha família é desunida e meu pai, um homem triste, incapaz de demonstrar afeto, como você já sabe.

E, realmente, Naruto sabia que a mãe de Hinata havia ido embora, que o pai se tornou frio depois disso, mas ele nunca imaginou que sua esposa havia sido renegada ela mãe. Aquilo deveria doer e, provavelmente, era um trauma que ela carregava. O abandono que ela mencionou talvez fosse isso.

— Por que nunca me contou sobre isso?

— Vergonha. Medo também. Sempre fui uma pessoa carente e tinha medo que descobrisse o motivo e me visse com pena. Não queria e não quero nunca a sua pena, Naruto. Se estou te contando agora é para que saiba o motivo de eu ter ficado. Eu não quero ser como ela. Eu não quero abandonar a minha família sem lutar. Nós dois temos muito em jogo para eu desistir assim.

— Nós temos uma família, Hinata. — Naruto viu ali a sua oportunidade. Ele se ajoelhou na frente dela, apoiando as mãos em seus joelhos e a olhando nos olhos. — Sei que errei. Quando pensava nas palavras de meu pai, que eu nunca deveria deixar faltar nada a vocês, que meu papel era protegê-los e cuidar de vocês, só conseguia imaginar que eu precisava trabalhar e dar tudo o que eu pudesse. Isso pra mim era o suficiente para justificar minha ausência. Eu... acho que eu não estava olhando com os olhos certos.

— Nós dois erramos, Naruto.

— Mas podemos fazer dar certo. Eu não vou desistir de nós. Não posso. Eu não sei o que sente em relação a mim agora, Hinata, mas eu te amo e quero te amar mais.

— Acha que conseguimos fazer funcionar novamente? Uma família de novo?

— Se nós dois quisermos, sim. Podemos demorar, mas precisamos ser honestos um com o outro. Você não precisa ter medo de falar... Eu não vou te abandonar. Jamais.

Ela se aproximou então, deixando-se cair de joelhos na frente dele. Naruto, imediatamente, envolveu o rosto dela em suas mãos e fechou os olhos ao encostar a testa na dela. Ambos deixaram as lágrimas virem em silêncio enquanto os corações se enchiam de esperança.

— Eu não vou desistir de nós dois — por fim, ela falou e Naruto sorriu aliviado. Ainda havia esperança.


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