Operação Cinderela escrita por Lily


Capítulo 14
13. Felicity




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F E L I C I T Y

 

Ela observou a foto tentando entender onde havia errado em seu plano mirabolante. Aquele sorriso estampado no rosto de Caitlin era algo que Felicity nunca havia visto antes, o jeito como os olhos de barry brilhavam também. Às vezes o destino erra o caminho e acaba trocando os fios, talvez ele tivesse errado ao ter colocado eles juntos apenas agora depois de tanto tempo, Felicity definitivamente não sabia o que se passava na cabeça do destino ao colocá-los lado a lado em uma situação tão complexa quanto aquela.

—Sinto que isso ainda vai dar merda. - a voz grave a fez pular na cadeira, se virou dando de cara com Cisco.

—Que porra é que você está fazendo aqui? - indagou com a mão sobre o coração.  

—Vim falar com Mirabella, mas resolvi com te dar um Oi. O que você está fazendo?

—Caitlin e Barry. Algo está muito errado nisso tudo. - disse soltando um longo suspiro. Admitir aquilo em voz alta era libertador.

—Você acha que algo vai dar ruim?

—Eu tenho certeza que algo vai dar ruim. Eles estão próximos demais, agora Barry vai comprar a casa de Caitlin, quando Iris descobrir vai surtar. Mas… - ela hesitou e lentamente voltou a atenção para a tela do computador. - Eles parecem feliz, não é? Digo, olhando de fora.

—Todos acham isso. Veja. - Cisco se inclina sobre a mesa, o que faz Felicity afastar um pouco mais a cadeira para o lado, ele então usa o mouse para abrir os comentários. Felicity então se pôs a observar atentamente aquilo. Palavras soltas ao vento, algumas afirmações mentirosas e um tanto exageradas  sobre o amor, haviam vários comentários, alguns mais fofos e outros mais realistas. Mas apenas um chamou a atenção de Felicity. O nome do usuário era HeyLi’l e em seu comentário havia apenas uma palavra, Inefável. — O que não pode ser descrito em palavras. - Cisco leu em voz alta.

—Acho que as pessoas estão exagerando um pouco com isso. - falou batendo a ponta do dedo contra a mesa.

—Pessoas crêem no que querem crer. Além do mais, que mal pode ter em deixar eles se apegarem algo tão trivial quanto uma foto?

—Não é apenas a foto, mas o que ela representa. Eles não sabem a história por trás dela, apenas sabem o que vêem, um casal sorrindo feliz, não duas pessoas que haviam acabado de se conhecer. - explicou. - Não sei como isso vai acabar, mas sei que não vai acabar de uma boa maneira.

×××

Felicity entrou pela porta sem fazer muito barulho. A luz da sala estava acesa e alguma música dos anos 80 tocava no rádio, ela já podia ouvir a voz de Donna Smoak da sala, tirou o casaco e o colocou no cabide. Caminhou até a cozinha e parou no batente vendo a mãe dançar enquanto segurava o cabo da colher o fazendo de microfone.

Sometimes you picture me. I'm walking too far ahead. — Donna cantarolou puxando Felicity pela mão e a rodando. - You're calling to me, I can't hear. What you've said.

—Olá mamãe. - disse abraçando-a com carinho.

—Olá meu anjo. Você está bem?

—Estou e você? - indagou se afastando da mulher e caminhando até o fogão. - Está fazendo macarronada?

—Não, estou testando uma nova receita. Frango atolado.

Felicity olhou um tanto descrente para a mãe, aquilo na panela mais parecia um ensopado de carne do que um frango por si só.

—Só testando, né? Me diga pediu delivery.

—O coreano.

—Obrigada. - Felicity olhou para cima e lentamente agradeceu por a sanidade de sua mãe ainda estar ali.

—Como está indo o concurso?

—Bem, quer dizer mais ou menos, estamos tendo alguns problemas técnicos.

—Tipo?

—Tipo minha noiva estar se apaixonado pelo cara que ela não deveria se apaixonar e que não é o noivo dela. - disse rapidamente. Donna arqueou a sobrancelha e riu.

—Você tem o jogo em suas mãos querida. Você vai ganhar.

—Tomara. - murmurou sem conseguir deixar o incômodo que havia se instalado em seu estômago.

Se moveu pela cozinha em direção a geladeira, porém não a abriu, pegou a foto que estava presa por um ímã com o formato de ganso e a observou. O sorriso Justin ainda podia iluminar seus momentos mais sombrios, mesmo estando congelado para sempre.

—Você já foi visitá-lo está semana? - Donna indagou, ainda havia uma certa melancolia quando mencionavam Justin em alguma conversa.

—Ainda não. Mas quando sair daqui vou levar algumas flores.

—Justin adora tulipas brancas. - sua mãe disse apoiando o queixo em seu ombro e observando o sorriso de Justin. - Se lembra desse dia?

—Estávamos no parque e eu disse a ele que um dia estaríamos dentro de um avião em direção a Cancun.

—Era o sonho dele.

—Eu disse que iria realizar esse sonho dele, mas não deu tempo. - se lamentou sentindo a garganta apertar, previa que acabaria chorando ali mesmo. - Ok, antes que cairmos em lágrimas aqui, vamos comer que o meu tempo é curto e eu ainda tenho que voltar para a revista.

Donna assentiu e então a campainha tocou. Elas almoçaram Doshirak e conversavam sobre os novos vizinhos de Donna que tinham três cadelas que estavam atraindo os cachorros da região. Felicity ouvia tudo com atenção e assentia quando necessário.

Quando saiu da casa de sua mãe ainda faltava mais de meia hora pra voltar para a redação. Decidiu passar na floricultura e ir até o cemitério local, desceu do carro com o buquê de tulipas na mão e caminhou pela estrada de pedra antes de subir o morro até o túmulo de seu irmão. Havia feito aquele caminho tantas vezes que já tinha decorado a maior parte dos nomes nas covas, estava distraída soletrando o sobrenome Halliburton que só notou que algo estava estranho quando parou alguns metros do túmulo de Justin. Ele estava parado à frente da lápide, usava um casaco preto por cima da roupa, calça escura e sapatos formais. Felicity deu dois passos e acabou atraindo a atenção dele.

—Oi. - Oliver lhe sorriu com carinho e ela sentiu as pernas bambearem.

—O que faz aqui? - indagou não soando grossa, mas estava incomodada com o fato de Oliver estar ali.

—Fazia um tempo que não vinha vê-lo. Eu gostava de Justin, Feli.

—Ele gostava de você também. - afirmou caminhando até o túmulo e se agachando, tirou as flores murchas que estavam no vaso e as trocou pelas tulipas que havia trago. - Mas você não deveria estar no trabalho?

—Uma das vantagens de ser o chefão é poder ir à reuniões quando quiser.

Felicity riu e se apoiou no joelhos para se levantar, porém acabou sentindo um leve tontura, se apoiou na lápide e respirou fundo.

—Você está bem? - Oliver indagou indagou a pegando pela cintura. O toque dele, mesmo por cima do tecido da blusa, fez seu corpo se arrepiar.

—Estou. Apenas levantei rápido demais.- murmurou se afastando dele. - Tenho que ir, já estou atrasada para o trabalho.

—Você consegue dirigir?

Felicity cogitou dizer que sim, mas se sentia fraca e aquilo não era um bom sinal. -Meu carro esta na entrada.

—Eu peço para alguém vir pega-lo e levá-lo para a Vênus, mas agora deixa eu te levar. - ele pediu, o tom de sua voz fez Felicity se lembrar de todas as vezes que ela saía tarde do apartamento dele e Oliver implorava para ela ficar, pois era perigoso àquela hora. Ela suspirou abaixando os olhos para desviar do olhar pedinte dele.

—Ok, mas só porque eu realmente não estou me sentindo muito bem.

—Quer que eu te leve ao hospital? - Oliver indagou passando o braço pela cintura dela.

—Não precisa, acho que minha pressão baixou.

—Então vou te levar para comer alguma coisa. Tem um café aqui perto que vende um ótimo bolo de limão.

—Pode ser. - murmurou em afirmação, sua boca salivou com o recente desejo de comer aquele bolo.

×××

—Não acho que seja normal alguém do seu tamanho devorar isso tão rapidamente. - Oliver falou um tanto admirado, Felicity mastigou lentamente o pedaço de bolo e ergueu os olhos na direção dele, já era a terceira fatia, mas ela não tinha culpa se aquele bolo estava divino. - Eu tinha esquecido que o seu apetite era de ogro.

Ela mostrou a língua arrancando uma risada dele.

—Então, como anda Thea? Soube que ela preferiu seguir a carreira artística, ao invés de ir no mesmo caminho de sua mãe. Moira surtou, não surtou?

—Não tanto assim. Mamãe mudou um pouco, está com a mente mais aberta e aceitando mais as coisas.

Felicity franziu a testa aquela descrição não se encaixava em nada com a louca controladora que era Moira Queen.

—Acho melhor eu ir indo ou Mirabella comerá o meu fígado. - disse pegando a bolsa e abrindo a carteira, tirou algumas notas para pagar a comida, mas Oliver a impediu.

—Não. Deixa que eu faço isso.

—Eu não posso, você não comeu nada, já eu comi mais do que o necessário.

—Deixa de ser chata e me deixa fazer isso. - ele pediu já chamando a garçonete com a mão, a garota se aproximou e ele lhe entregou o cartão de crédito.

—O que eu posso fazer para pagar essa gentileza? - indagou sorrindo.

—Me responda apenas uma pergunta. - ele falou cruzando as mãos sobre a mesa, ele estava sério e isso a incomodou. - Por que me deixou? Por que fugiu me deixando para trás sozinho? Pensei que me amava.

—E eu amo. Mas… - respirou fundo se levantando da mesa, estranhamente Oliver não a impediu. - Pergunte a sua mãe Oliver. Sinto que Moira vai te contar a verdade se você insistir.

Saiu do café sem olhar para trás, pegou o primeiro táxi que viu e o guiou até o cemitério, seu carro ainda estava onde ela o havia deixado. Deu a partida seguindo direto para a Vênus. Sua mente borbulhava de pensamentos e memórias antigas, conversas que havia tido com Oliver e flashes de lugares que eles gostavam de ir. Se lembrava da vez que havia conhecido Thea, irmã mais nova de Oliver, uma das pessoas mais maravilhosas que ela havia tido o prazer de conhecer, seu riso, suas piadas ainda estavam cravadas na memória de Felicity.

Ainda gostava de Oliver e aquele era o maior problema de todos.

As portas do elevador se abriram a jogando no meio do caos que era a revista naquela hora do dia. Ignorou alguns olhares indiscretos enquanto caminhava até a sua mesa, porém decidiu ir para o banheiro retocar a maquiagem, já estava quase na porta quando ouviu vozes vindas de dentro do cômodo, pensou em entrar, entretanto algo na conversa lhe chamou a atenção.

—Laurel está de total acordo. - a voz aguda, que Felicity identificou sendo Sara, disse.

—Ótimo, se tudo seguir como o combinado no final venderemos essa edição mais do que qualquer outra. - a outra voz disse, era Mirabella. - Mas ninguém pode suspeitar.

—Ninguém vai. Nenhuma das outras tem noção de como ser uma noiva de verdade, apenas Iris, a noiva número dois. As outras são apenas tolas. - Sara ironizou.

—Principalmente a noiva quatro. Deus, às vezes tenho até pena dela. Pobre coitada.

Sara e Mirabella riram, e suas risadas pareciam aumentar, Felicity julgou que elas estavam se aproximando da porta, rapidamente correu para detrás de uma das paredes que dobrava em direção a saída de incêndio, se escondeu até ouvir os passos delas desaparecerem. Suspirou olhando para os ladrilhos coloridos a sua frente.

—Merda. O que está acontecendo aqui? - indagou em um sussurrou e então decidiu voltar para sua mesa, Curtis sorriu com sua aproximação.

—Você demorou, em.

—Você não faz idéia do que eu ouvi no banheiro. - disse fazendo o sorriso dele aumentar. Curtis adorava fofoca.

—O que?

—Sara e Mirabella estava tendo uma conversa muito estranha, não sei sobre o que era, mas tenho certeza que é algo relacionado ao concurso.

—O que elas disseram?

—Foi estranho, Sara disse que Laurel estava de acordo e então Mirabella disse que ninguém poderia saber e que no final essa edição venderia mais do que as outras. - contou resumidamente o que havia ouvido, ocultou a parte que elas haviam falado mal de Caitlin, Curtis não precisava saber que a sua favorita era sofrendo bullying, Felicity tinha certeza que se ele soubesse acabaria fazendo um abaixo assinado desnecessário.

—Como assim? - ele indagou com a testa franzida.

—Eu não sei. - deu de ombros. - Curtis, acho que tem alguma coisa rolando aqui. Algo ruim.

×××

Felicity abriu a porta do seu apartamento e jogou a bolsa no sofá, retirou os sapatos e caminhou até a geladeira pegando o vinho branco já aberto, depois se virou para os armários e ficou na ponta dos pés para pegar a taça. Despejou uma generosa quantidade de bebida em sua taça e a virou, caminhou de volta para o sofá e se sentou o mais confortável que conseguia, estava pronta para relaxar quando de repente seu celular tocou. Bufou deixando a garrafa e a taça em cima da mesa e remexendo a bolsa em busca do aparelho.

—Alô?

—Felicity é a Caitlin. - a voz do outro lado soou calma, Felicity sorriu enquanto se ajeitava em meio às almofadas e esticava o braço pegando a taça.

—Oi Cait. Algum problema?

—Não, ainda não. - ela disse soltando uma risadinha. - Apenas te liguei porque Lily insistiu. Ela vai ter um recital de balé na escola e queria te convidar, mas ela não sabia se você iria aceitar ou não, então pediu para eu fazer isso. Você topa ir?

—Quando vai ser?

—Neste final de semana. Tem alguma coisa na agenda?

—Não. Vou adorar ir.

—Que bom. Te passo o endereço por mensagem.

—Perfeito. Agora se me der licença, preciso descansar um pouco, o dia foi longo.

—Bom descanso.

—Obrigada e Tchau.

—Tchau.

Desligou o celular e tomou um longo gole de sua bebida. Fechou os olhos apenas curtindo o momento, já estava quase adormecendo quando a campainha tocou, cogitou voltar ao seu sono e ignorá-la, entretanto a pessoa do outro lado da porta era insistente.

—Droga. - grunhiu se levantando do sofá e fazendo o caminho até a porta. A abriu e instantaneamente seu sono sumiu. - O que está fazendo aqui?

—Vim te ver. - Cooper lhe sorriu e Felicity sentiu o sangue esquentar.

—Cai fora. - ordenou irritada. - Cai fora ou eu começo a gritar.

—Felicity…- ele insistiu, mas ela apenas empurrou a porta na direção dele, Cooper empurrou de volta pondo o pé no meio. Felicity tinha vontade de quebrar o pé dele.

—Não me faça gritar. - gritou já nervosa. - Socorro! Estrupador!

—Felicity!

A porta do apartamento da frente foi aberta com força e o seu vizinho, Jefferson Pierce, apareceu com um taco de beisebol na mão, Cooper se afastou assustado e correu para longe. Felicity suspiro aliviada e se virou para Pierce.

—Obrigada.

Ele lhe sorriu.

—Não tem de que criança. - Pierce voltou para o seu apartamento e Felicity para o dela. Trancou a porta e atacou o litro de vinho.

—E eu pensei que não tinha como o dia piorar. - murmurou irritada.


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