Bravura escrita por Temperana


Capítulo 1
Capítulo Único: So brave, Astrid Hofferson


Notas iniciais do capítulo

Olá, Docinhos Azuis, tudo bem com vocês?
Uma one hiccstrid após tanto tempo, né? Essa temporada me fez escrever e cá estou eu. Espero que curtam!
Até as notas finais...



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So brave, Astrid Hofferson (Tão corajosa, Astrid Hofferson)

 

Uma coisa a ser falada sobre mim: eu sou muito teimosa. É claro que eu não admito isso facilmente, mas como eu sei que poucos vão ler isso, eu posso confessar aqui.

Eu sou bem teimosa mesmo. Talvez mais do que a teimosia natural que todos os vikings possuem.

O fato é que eu quase matei o Soluço várias vezes por problemas cardíacos, o que ele fazia questão de enumerar diversas vezes ao longo dos anos. Eu costumava dizer que ele se preocupava excessivamente comigo, quer dizer, nada poderia dar errado. De um jeito ou de outro, sempre dávamos um jeito de nos salvar e de sair de situações inoportunas.

Isso é algo bem hipócrita de minha parte, é claro, tentar escapar das broncas de Soluço quando eu dava o dobro de sermão quando ele fazia alguma loucura. É óbvio que eu me preocupava e quase enlouquecia quando ele era pego ou aplicava um de seus planos suicidas, para variar. Eu não era de demonstrar muito essa preocupação, mas não conseguia esconder dele que estava louca de preocupação.

Mas quando era comigo, é claro que eu desviava de acusações.

Quando começamos a namorar, ele tinha sempre uma maneira de me desarmar quando eu reclamava de sua paranoia comigo. Bastava ele dizer algo como se eu tivesse feito isso, estaria brigando comigo agora, o que era a mais pura verdade,

Havia vezes que a discussão acabava, porque não tinha como negar a realidade. Mas, na maioria das vezes, eu não dava o braço a torcer e sempre vencia a discussão, é claro.

Eu repeti milhões de vezes para ele que nada poderia dar errado, por que não poderia mesmo, certo? Bom, errado.

Lá estava eu, presa em uma das celas de algum navio dos caçadores. O lado bom? Heather estava comigo. O lado ruim? Ora, estávamos presas, nada de bom pode sair realmente de bom no meio disso tudo. Aliás, parecia mais um interrogatório a nossa prisão, com ela ali comigo.

Eu só queria sair dali, voltar para Soluço e tentar não levar uma bronca gigantesca dele por ter sido pega. Muita coisa tinha acontecido naqueles tempos.

Claro, vamos explicar isso melhor, que eu acho que eu já estou confundindo as coisas.

Tudo começou com o Projeto Fogo de Bala. Quando Viggo e Riker atacaram o Domínio e quase provocaram a explosão da Ilha — com a gente quase morrendo no processo depois que o vulcão quase explodiu umas quatrocentas vezes — tudo mudou.

Eu e Soluço assumimos nosso relacionamento para os outros cavaleiros, nossos amigos. Isso foi meio estranho no começo, pois não haviam se acostumado com a ideia de um casal no Domínio. Nós dois evitávamos qualquer demonstração de afeto perto deles por um tempo. Na verdade, sempre fomos muito discretos.

No fim, as coisas voltaram ao normal.

Não tive a oportunidade de falar com Heather durante um bom tempo, visto que ela estava empenhada em reconstruir a Ilha dos Beserkers. No fim, minha amiga ficou sabendo que finalmente estávamos juntos em uma Carta do Terror. Ela quase me matou em um pedaço de papel. Detalhes e percalços da amizade viking.

O caso é que quando eu vi, estávamos a um ponto de noivarmos. Tradição viking, no caso. Não tem algo no vocabulário viking como um namoro, é tudo meio extremo. Ou casa ou não casa. O estádio intermediário é o noivado.

Na prática.

Soluço, é claro, sempre daria um jeito de quebrar, mesmo que minimamente, as tradições. Eu me lembrava, todos os dias, do momento em que ele me levou para uma casa da árvore no meio da floresta, um projeto antigo seu, e me pediu em namoro, antes de irmos falar com nossos pais — que, é claro, já iriam marcar a data de nosso casamento, mesmo que fosse para 5 anos depois.

Nós não nos importamos muito com a precipitação e nem com o fato de o rótulo sobre nós fosse de noivos. Os trâmites demoravam bastante, e o noivado não era sinônimo de vamos-nos-casar-agora. Esperávamos que nos casássemos em dois, três anos pelo menos. Afinal, já tínhamos lá nossos quase 20 anos e de qualquer forma estaria na hora de nos casar de qualquer forma.

Repito: tradição viking. O Kostr, casamento, era sagrado.

Fazia uns três ciclos de lua que havíamos ido até Berk informar Stoico sobre estarmos juntos e, consequentemente, contar ao meu clã também. Na verdade, vale a pena contar essa história também, já que estou presa aqui nessa cela e preciso pensar em outra coisa.

Em uma coisa boa.

Fomos até Berk um pouco receosos de deixar o Domínio a cuidados de Perna de Peixe e dos outros cavaleiros. Não era uma combinação maravilhosa, mas se chegasse aos ouvidos de nossos pais que estávamos juntos sem um compromisso sério, era morte com certeza.

Eram feitos contratos, basicamente, então era necessário muita formalidade para que as coisas ocorressem. Nós vivíamos juntos no Domínio, algo que os vikings não aceitariam sem o mínimo de compromisso.

Meio sem sentido, pois não faríamos nada, é claro.

— Você parece nervosa — Soluço constatou, voando calmamente ao meu lado.

— Não é todo dia que você vai contar a seu futuro sogro que vai ser sua futura nora — eu disse, enquanto chegávamos em Berk.

Já podíamos avistar a Ilha que sempre seria nosso lar. Respirei fundo, sentindo o ar de casa novamente.

— Se serve de consolo, ele estava louco para te chamar de nora, vai ficar com certeza feliz que seu filho desencalhou — ele disse sorrindo.

— É, eu também queria chamá-lo de sogro, faltava certo Haddock me pedir em namoro — eu respondi divertida.

— Sou um pouco lento para essas coisas, deveria saber — ele riu. — Também estou nervoso, para mim vai ser bem mais difícil, dona Astrid. Você é o orgulho do seu clã, caso não saiba.

— Você também é, Soluço. E o filho do chefe. E o maior treinador de dragões que já existiu. Sou só uma guerreira — soltei mais um longo suspiro.

— Pra mim você é perfeita, sabe disso, milady. Muito melhor viking do que eu sou. Ele não poderia escolher nora melhor, acredite — encarei seus olhos profundamente. — E pare de pensar essas coisas, vai dar tudo certo. O máximo que pode acontecer é você não querer se casar comigo quando a hora chegar.

— Olha só, isso não vai acontecer — encarei seus olhos. — Devíamos parar com essa paranoia. De uma vez por todas.

Ele sorriu e chegamos aos limites de Berk, acelerando para pousar em nossa Ilha. Desmontamos e nos encaminhamos para a casa de Soluço. Melhor começar com o pai dele mesmo. Falava que estava nervosa, mas tinha muito mais certeza de que Stoico me aceitaria como namorada-noiva de seu filho do que meus pais, que também aceitariam, mas sei lá.

Meus pais são meio estranhos às vezes.

Soluço abriu a porta e entrei atrás dele. Tempestade ficou do lado de fora, mas Banguela invadiu a casa bem animado. Eu ri e pai e filho já estavam se cumprimentando enquanto eu me distraí. Banguela recebeu o carinho de Stoico e Soluço segurou minhas mãos.

— Astrid — Stoico me chamou. — Como vai a senhorita?

— Eu vou bem, chefe — respondi formalmente.

— Soluço me disse que vocês tinham que falar comigo — ele encarou nossas mãos entrelaçadas e pude ver um traço de seu sorriso. — Do que se trata?

— Bem, pai, nós temos uma novidade para contar — Soluço encarou meus olhos e sorriu. — O senhor sabe que sempre gostei muito da Astrid e bem, que esperava que um dia pudéssemos nos acertar — sorri para ele. — Eu queria dizer que estamos juntos e gostaríamos muito da sua bênção. Sabemos que para todos os efeitos deveremos noivar, mas sua aprovação é muito importante para nós.

Stoico nos encarou durante um tempo, muito sério, seus olhos piscando sem parar enquanto nos olhava. Eu senti minhas mãos tremerem um pouco e Soluço as apertou fortemente. De uma hora para outra senti o líder de Berk nos enforcar em um abraço.

Eu sorri quando escutei suas felicitações e soltei minha respiração. Ele nos encarou por um tempo, radiante. Bem que Soluço havia dito que ele ficaria maravilhado com a notícia.

— Minha querida Astrid, fico muito feliz em saber que você fará parte de nossa família. Soluço não poderia escolher alguém melhor — Stoico disse e se virou para seu filho. — Lembro-me de quando noivei com sua mãe. Estava tão nervoso que quase desisti de fazer o pedido. Mas bom, você está aqui, então eu não desisti.

— Eu não iria desistir nunca da Astrid — Soluço diz e arranca de mim mais um sorriso. — Mesmo que eu quase desmaie no processo de pedir a mão dela para os pais.

— Eu que estava também nervosa, não sabia o que o senhor iria achar e, bom, fico feliz em saber que aceita nossa união — Stoico sorriu para mim.

— Não haveria como dizer não, senhorita Hofferson.

Saímos da casa do líder de Berk com um sorriso no resto. Pelo menos tudo havia dado certo com ele. Na casa dos meus pais — que finalmente pararam em Berk após algumas expedições com os mercados — não foi diferente. Eles ficaram muito felizes ao saber que, finalmente, estávamos juntos. Parecia que todo mundo esperava que nos uníssemos.

Eu não duvidava daquilo e ficava muito feliz pela torcida.

No fim, a ida até Berk foi ótima. Infelizmente, quando voltamos para o Domínio, encontramos o caos do Vulcão a beira da erupção. Conseguimos, com a ajuda de Garff, estabilizar o vulcão e a vida no Domínio do Dragão. Porém, os caçadores não pararam.

Foi quando Heather veio nos visitar, rapidamente, pois estava passando no território do Domínio e decidiu fazer uma pequena visita, e acabamos caindo em uma emboscada. Vimos alguns dragões presos em armadilhas e ao tentar soltá-los fomos capturadas por caçadores, completamente despreparadas para a quantidade de homens que as encurralaram.

E lá estávamos nós, presas em alguma cede de caçadores. Eu suspirava enquanto encarava as grades da cela, sentindo certo tédio me invadir. Heather também encarava as celas com um olhar que dizia que arrancaria a cabeça de alguém, e sabia que ela também estava segurando a raiva. Quando você pensa que se livrou dos caçadores, eles continuavam por aí, fazendo reféns.

Encarei o teto da cela, sentada no chão. Eu dobrei minhas pernas, as abraçando com meus braços. Muitos pensamentos me rondavam naquele instante, mas um era inevitável.

— Ele vai ficar furioso — eu disse simplesmente.

Heather estava de pé em minha frente, encostada na parede, e me encarou com certa curiosidade no olhar.

— Quem vai ficar furioso? — ela questionou.

— Soluço, é claro. Ele vai dizer, no mínimo umas trezentas vezes, que já me pediu para tomar cuidado e não me aventurar com um pequeno grupo em qualquer coisa que possa gritar que é uma armadilha.

— Bom, ele tem razão até certo ponto — a encarei com certa impaciência no olhar, vendo-a levantar as mãos como se rendessem. — Mas é claro que não íamos deixar os dragões presos, Astrid. Só porque é irresponsável, não quer dizer que não é o certo a fazer.

— Tem razão e eu concordo contigo — eu respirei fundo. — Mas agora diz isso pra ele. Uma palavra sobre Soluço Haddock III: superprotetor.

— Não finja que não gosta, Astrid Hofferson — Heather riu. — Ele te ama, sabe disso.

Corei por um instante com seu comentário. Não que eu não o amasse, isso era óbvio, eu o amava. Mas ainda não entramos na fase dos eu te amo e acho que eu demoraria a externar meus sentimentos. Falar sobre eles me deixava um pouco envergonhada, pois não era natural para mim, eu nunca fui a mais aberta a falar deles.

Mas confesso que amava receber as declarações de Soluço, mesmo que fossem involuntárias e mínimas. Era bom se sentir amada perto dele.

— Ele é exagerado. Você sabe, assim como eu sei, que vamos conseguir sair daqui. Os guardas tem uma péssima estratégia de vigia e nossos dragões não estão muito longe, as celas não são distantes pelos rugidos que conseguimos ouvir. Podemos nos libertar e soltar muitos dragões que estão aqui sem maiores problemas.

— Astrid, ele vai vir resgatar a gente, não se iluda — Heather me disse e eu odiava admitir que ela estava certa.

— Eu sei — suspirei e encostei minha cabeça na parede, encarando o teto. — Não queria que ele viesse. É arriscado para ele estar por aqui, ainda mais na maneira que Vigor e Ryker entram na cabeça dele.

— Bom, não deixa de ser perigoso para nós também — ela se sentou ao meu lado e eu me virei para encará-la. — Minha amiga, você precisa me contar muita coisa. Você está noiva já, e na última vez que nos falamos você estava naquela história de “somos só amigos, Heather” — ela fez uma voz engraçada ao me imitar, mas com um sorriso no rosto. — Você nunca me enganou, Astrid Hofferson.

— Cala a boca, Heather — eu disse, embora estivesse rindo. — Mas falando sério, ainda não estou noiva, só daqui a três luas, teoricamente.

— Já pensou no presente de noivado? É uma tradição — Heather perguntou.

— Não me lembra disso — gemi com o pensamento. — Não faço a mínima ideia ainda do que dar, estou adiando o máximo que posso a hora de pensar nisso.

Soluço com certeza já estava planejando desde que nasceu o presente de noivado e eu nem imaginava o que poderia dar para ele. No mínimo, eu não teria o que dar e deveria começar a me preocupar, mas você deve imaginar que eu estava adiando a hora de procurar o bendito presente.

— E como você está se sentindo com isso tudo acontecendo tão repentinamente? — ela me perguntou.

Suspirei. Era uma pergunta difícil.

— Sinceramente, eu nunca imaginei que estaria tão bem, sabe, tão feliz por estarmos juntos — ela sorri pra mim. — Ele é incrível, acho que todos podem enxergar isso, mas eu vejo com mais clareza hoje. Ele é perfeito do jeito que dele, tão romântico, tão sensível, tão Soluço — nós rimos. — Eu gosto tanto dele. De uma maneira que não conseguiria imaginar que gostaria de alguém.

— Pensei que não gostaria dessa história toda de noivar de uma vez. Desculpa, mas não parece algo que você apoia.

— Não é lá a melhor coisa para se pensar, mas é como Soluço sempre diz, vivemos cada momento de cada vez. Ele me pediu em namoro e disse que quando chegar a hora me pedirá em noivado e um dia iremos casar, quando estivermos prontos.

— Isso é realmente tão Soluço — nós rimos.

— O fato é que não vamos nos casar agora, talvez daqui há uns quatro anos, sendo bem otimista. Temos muitas tradições a cumprir com Soluço sendo filho do chefe. Ele tem que virar líder para se casar antes dos 25 anos. Até lá seremos namorados e noivos.

— Vocês são tão fofos juntos, eu sempre soube que iriam se casar um dia — ela exclamou animada e eu ri.

— Desde quando apareceu em um naufrágio em Berk, quando tínhamos 15 anos? Eu não era o protótipo de menina apaixonada.

— Ah, mas você estava morrendo de ciúmes — ela soltou uma gargalhada e eu balancei a cabeça negativamente, com um sorriso.

— Claro que eu não estava com ciúmes de você, não me faça rir, Heather — ela me encarou como se eu tivesse falado em alguma língua estranha.

A verdade era que eu havia sentido uma pontinha de ciúmes sim, é claro. Mas eu preferia morrer a admitir isso, óbvio.

Pode ser que eu tenha tido uma vontade de querer matar a Heather umas cinco vezes, mas depois daquilo tudo nos tornamos muito amigas. Detalhes e percalços da amizade viking: você vai querer matar a sua amiga, às vezes.

— Eu vou acreditar nessa sua mentira por enquanto. Mas se quer saber, Soluço nunca fez meu tipo. Na verdade, ele tinha um penhasco por você, não tinha como outra pessoa tentar ficar com ele. Ele é o único que resistiria ao meu charme.

— Claro que sim. Eu o mataria se não resistisse — nós rimos. — Mas não se preocupe, Heather, o Perna de Peixe não vai resistir a você. Aliás, ele já não resiste.

— Cala a boca, Astrid — soltei uma gargalhada. Amava ter Heather comigo.

Ficamos esperando um tempo, para que os guardas voltassem e tentássemos roubar as chaves. Nenhum guarda apareceu, porém, e começamos a ficar bem impacientes. Comecei a bolar planos em minha cabeça desesperadamente, pois eu precisava sair dali.

Quanto mais tempo eu ficasse ali, mais tempo Soluço ficaria preocupado e enlouquecendo.

— Você tem algo pontudo? — perguntei de repente a Heather, tendo uma ideia.

— Um grampo de cabelo, eu acho — ela respondeu e mexeu em seu cabelo, achando o grampo. — Aqui. Pra que você quer isso?

— Você vai ver, senhorita Heather.

Peguei o grampo de suas mãos e testei no cadeado. Soluço era melhor nos planos mirabolantes, porém eu tinha as minhas habilidades herdadas das Ladras do Pântano para as artes furtivas. Minha tia era uma ladra, assim como a minha mãe que havia fugido para se casar com meu pai. Escândalos da vida viking.  

Durante um tempo, minha vó nem ao menos ousava pronunciar o nome da minha mãe, já que se envergonhava daquela ação. Mas, aos poucos, fomos retornando relações com a nossa família.

Tentei durante um tempo abrir a fechadura e quando estava conseguindo escutei uma movimentação. Travei minhas mãos, achando que havia sido pega pelos guardas.

— Não seria melhor abrir com uma chave? — escutei a voz dele e fechei os olhos.

Estava bem encrencada. Mas bem feliz também por escutar a sua voz.

— Bom, se você tiver uma — encarei os olhos de Soluço. Eles não demonstravam nada naquele momento. — Pode ser bem útil.

Ele balançou um molho de chaves em sua mão com um leve sorriso. Ele abriu a cela e Heather saiu antes de mim, cumprimentando o meu quase noivo. Aproximei-me de Soluço que suspirou. Banguela se aproximou de mim e me lambeu, provocando em mim uma risada.

— É bom ver você também, Banguela — eu disse sorrindo. — E os nossos dragões? — perguntei a Soluço. — Viu eles?

— Vamos achá-los. Acho que estão nessa direção, Banguela já deu uma investigada no outro lado, então devem estar por aqui — ele indicou uma direção da prisão. — Temos que ir, os cavaleiros estão nos dando cobertura lá fora, mas não temos muito tempo.

Seguimos nos corredores, libertando os dragões que achávamos pelo caminho, andando cada vez mais rápido. Achamos Tesoura de Vento e Heather montou em seu dragão. Soluço montou em Banguela e me ofereceu sua mão para que eu montasse também. Continuamos a procurar.

— Você não vai dizer nada?  — eu perguntei.

Estava aguardando a bronca que ainda não havia chegado.

— Se eu for discutir com você agora, não vou ter argumentos, porque estou muito aliviado em ver você bem. E aí não poderei ficar bravo o suficiente com você agora, então prefiro esperar um pouco. Não que vá alguma hora conseguir ficar bravo com você de verdade — ele soltou um suspiro. — Você apenas apronta, senhorita Hofferson.

— Estamos bem. Além disso, eu estava quase conseguindo abrir a porta e já íamos sair.

— Eu estava vendo. Não adianta discutir com você, sempre achará que está certa.

— E estou — o abracei pelas costas, circundando sua cintura. — E eu estou bem, Soluço. Não precisa se preocupar tanto assim comigo.

— Mais fácil falar do que fazer.

Ele pôs suas mãos sobre a minha e pude quase sentir o seu sorriso. Coloquei minha cabeça em seu ombro e continuamos a procurar Tempestade. Achamos minha amiga e fugimos por pouco da prisão dos caçadores. Quem estava por trás daquilo tudo? Eu não saberia responder. Mas precisávamos encontrá-lo.

— Vou me livrar dessa bronca, né? — perguntei, enquanto ganhávamos o céu em cima de Banguela.

— Vai sonhando, milady. — ele riu.

Beijei sua bochecha. Ele sempre iria me encontrar.

 

*

 

— Você fez o que? — Soluço me perguntou retoricamente.

— Peguei com as minhas próprias mãos o veneno do Asa Serpenteante e usei para o antídoto para Tempestade. Satisfeito com a confissão? — respondi, revirando os olhos.

— Ah nossa, muito satisfeito, agora estou muito mais calmo — Soluço respondeu ironicamente. — O que você tinha na cabeça, Astrid? Você poderia ter morrido.

Revirei os olhos e caminhei pela sua cabana, sentando em sua mesa de projetos. Aquela discussão iria durar. Ele cruzou os braços e me encarou bravo, ainda querendo provar seu ponto.

— Soluço, eu estou viva. O Perna de Peixe já tinha os ingredientes para o antídoto e me ajudaria. Precisava salvar Tempestade de qualquer jeito, não poderia vê-la morrer em minha frente.

— Ela não estava envenenada, Astrid, quem iria morrer era você — ele disse calmamente, colocando as mãos na testa.

Bufei com o seu olhar irritado. Ele estava exagerando. Eu estava bem, não tinha com o que ele se preocupar. No fim tudo deu certo, porque todo aquele estardalhaço?

— Eu não sabia disso, fiquei desesperada, Soluço. E nem você saberia naquele momento, não podia simplesmente arriscar perder Tempestade. Você faria a mesma coisa com Banguela, não finja que não me entende.

Ele encarou meus olhos como soubesse que eu estava certa — pelo menos em partes— mas não quisesse assumir. Levantei-me da cadeira e andei até ele, segurando suas mãos. Ele fechou os olhos e suspirou ao sentir meu toque.

 — Quantas vezes você vai me matar do coração? — ele perguntou e eu ri.

— Mais algumas vezes, perdão — entrelacei meus braços em seu pescoço, obrigando-o a me olhar. — Estou bem, eu sempre vou dar um jeito, sabe disso. Vou voltar bem, assim como você prometeu que sempre voltará para mim.

— Repete para mim o que você fez — ele disse fechando os olhos. — Você foi lá, simplesmente parou em frente do dragão, socou ele, e pegou o veneno?

— Olha, eu sei, não vai acontecer de novo, parece ser mais preocupante quando você coloca nesses termos, mas..  — ele colocou seu indicador em meus lábios, impedindo-me de continuar.

— Você é incrível, sabe, mas não tenho condições de perder você — ele disse em um sussurro. — Não mais uma pessoa que eu amo. Não teria condições de continuar.

— O que? — eu perguntei meio extasiada.

Não que eu não soubesse que ele me amasse, mas ouvir de sua boca era tão chocante, tão bom. Ele encarou meus olhos profundamente, como se quisesse mostrar para mim que precisava acreditar em cada uma de suas palavras.

E eu verdadeiramente acreditava em cada uma delas. Sem sombra de dúvidas.

— Minha mãe se foi quando eu era muito pequeno, nunca vivi com ela. Mas eu a amava, disso eu sempre tive certeza, sinto em meu coração um calor bom quando penso nela. Lembro-me de seu colo, até de sua voz, às vezes, cantando para mim. Amei ela, e continuo a amando até hoje.

Ele parou por um instante, desviando o olhar, como se seus pensamentos estivessem distantes. Acariciei seu rosto e ele sorriu para mim.

— Você é a pessoa mais importante na minha vida, entende, sempre será. Perder você seria perder minha vida, Astrid.

— Você está sendo super dramático agora — eu disse, meio incerta do que responder com tudo aquilo que ele falava. — Não consigo pensar em nada mais para responder do que você é minha vida também. E não tenha dúvidas de que isso é verdade. Eu não suportaria perder você também, e sabe que eu quase morro quando você se arrisca, mas sei que você vai ficar bem. Tem que confiar em mim também. Sou uma guerreira experiente, sabia?

— Eu sei e confio em você, Astrid. Essa não é a questão.

— Eu sei disso. Também sinto isso que você sente — ele sorriu para mim, acariciando meu rosto. — Você me deixa sem palavra às vezes.

— É meu objetivo — eu rio. — Mas tudo o que eu digo é verdade — ele aproximou seu rosto do meu e senti sua respiração se misturando a minha. — Quer saber de uma coisa?

— Do que? — perguntei.

— Eu amo você — ele disse simplesmente. Minha respiração parou e ele me encarou profundamente. — Eu te amo, Astrid Hofferson.

Demorei um tempo para processar essa informação. Se eu falasse qualquer coisa iria sair algo bem sem sentido, então procurei uma alternativa. Puxei seu rosto para junto do meu e o beijei. Não havia outra reação para aquela declaração.

Eu já havia dito uma vez para ele que ele era a pessoa mais sensível que eu havia conhecido e que aquilo fazia dele a pessoa mais perfeita que eu havia nesse mundo para mim, consequentemente. E eu o amava de diferentes formas, embora não conseguisse admitir.

Nos separamos e ele encarou meus olhos com um sorriso. Sorri também e tomei coragem para aquilo. Ele precisava daquilo, assim como eu.

— Eu também te amo, Soluço — respondi em um sussurro, sentindo minha pele esquentar.

— Oi? — ele perguntou meio surpreso, provocando a minha risada.

— É isso mesmo que você ouviu — senti minhas bochechas corarem. — Amo você, Soluço Haddock III. E vou te amar para sempre. Mesmo que eu não admita às vezes, amo tudo em você. Sou meio ruim para admitir meus sentimentos. Mas meu coração é seu, pra sempre. Você é tudo pra mim.

Ele sorriu e senti suas mãos puxarem minha cintura para mais perto. Seus lábios tocam os meus novamente e sinto tanta paz que era impressionante. Quando nos separamos, olhei para a porta da cabana aberta e as luzes do pôr do sol nos iluminando.

Ele envolveu minha cintura em um abraço e observamos a paisagem por um tempo. Meus lábios se curvaram em um sorriso involuntário. Não havia braços melhores para se estar nesse mundo.

— Sabe de uma coisa, senhorita Hofferson?

— O que? — perguntei, encarando seus olhos.

— Não vejo a hora de colocar um Haddock em seu nome — ele sorriu. — Toda vez que te chamo de Astrid Hofferson soa incompleto. Astrid Hofferson Haddock é muito mais interessante.

— Pode ter certeza que é o que eu mais quero, senhor Haddock. Mas sabe de uma coisa? Gosto desses nossos momentos. Temos muita coisa para viver, você vai ver que será maravilhoso.

— Com você tudo é maravilhoso, Astrid — ele acariciou meus cabelos carinhosamente. — Enquanto estivermos juntos, irei a qualquer lugar. Aonde ninguém jamais foi.

— Então que tal um voo noturno para começar? — perguntei com um sorriso.

— Estava esperando você perguntar.

Soltei uma gargalhada quando ele puxou minhas mãos para que montássemos em Banguela. Como nos velhos tempos.

Quando eu já era apaixonada por um certo Haddock.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Espero que sim!
Não esqueçam de deixar um comentário, é muito importante mesmo para mim saber suas opiniões.
Agradeço a quem favoritar a história também. Adoro vocês, Docinhos Azuis!
Até a próxima one!
Mil beijos, Temp ♥