O Garoto dos Olhos Castanhos escrita por Alison


Capítulo 1
Capítulo I - Escola Tecnica.


Notas iniciais do capítulo

Esse aqui é o primeiro capítulo feito a bastante tempo. Espero que gostem e nele tem muito dos meus sentimentos de quando passei na Escola Técnica da minha cidade.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/742393/chapter/1

Eu estava muito ansioso, faltava poucos minutos para finalmente sair os classificados da escola técnica. Sabe não é a primeira vez que eu tento e sim a terceira, eu nunca passava e a cada ano que eu tentava de novo eu ficava mais e mais nervoso… eu preciso passar dessa vez, é algo que eu quero muito e vai me ajudar pra caramba no futuro, esse ano eu estou confiante, me esforcei muito mais que qualquer outro ano anterior.

Dessa vez eu não estava sozinho nisso, meu amigo Guilherme faria este ano a prova junto comigo, já que nos anos anteriores ele nunca aceitava fazer ela, dessa vez ele abriu uma exceção e ali estava eu e ele falando coisas ansiosas por mensagens. Faltava apenas dez minutos para dar meia noite e então sair os resultados, eu estava suando de nervoso e olha que o frio estava gigantesco na minha cidade, era até engraçado, meus pés estavam congelando enquanto parte do meu corpo estava pegando fogo, deve ser normal quando se está à beira de pirar de ansiedade.

Comecei a pensar logo no pior, de a lista sair eu procurar meu nome e ele estar abaixo dos quarenta primeiros, vai ser tão triste e acho que nunca mais vou tentar, já estou quase acabando o ensino médio então nem vai compensar. Todos meus pensamentos foram voando para longe quando escutei meu celular tocar, que inclusive era a maravilhosa Lady Gaga.

— Fala Gui!

— Eu não aguento mais Rafael, a hora não passa, olha o que você fez comigo cara, estou rolando no chão de ansiedade. - Lá estava o cara mais dramático, porém meu melhor amigo fazendo seu típico jogo.

— Você não presta! Imagine eu que tentei vários anos seguidos e não passei? Como acha que eu estou? - Falei sério mas acabei rindo no final.

— Pois é... Vamos ficar conversando até dar o horário, certo?

— Certo, amigo!

Eu e Guilherme somos amigos já fazem mais de dez anos, somos aquele tipo de amigos grude que nunca separa um do outro, bom, somos bem parecidos em questão de gostos por isso acho que nós damos tão bem e somos até hoje inseparáveis. De aparência posso dizer que ele é bem mais bonito que eu - deduzi isso pelo número de garotas que pedem para ficar com ele e o número de garotas que pedem para ficar comigo -, bom ele é moreno e alto, tem o corpo muito bem definido, os olhos dele são os destaques, malditos olhos azuis que se você olhar muito vai parecer que tem um peixinho nadando neles, e cabelos pretos bem bagunçado. Agora eu já sou bem diferente começando pela altura, eu bato um pouco mais para cima do ombro dele, sou bem mais branco que ele - e isso me levou a ter o apelido de chocolate branco - meus olhos são a tradicional “cor de merda" ou se preferirem castanho, não sou definido igual a ele, muito longe disso, sou magro mas também não tanto. Meus cabelos são loiros e costumo bagunçar ele do mesmo jeito que do Guilherme algo que combinamos a anos atrás de termos quase o mesmo corte.

— Aí meu Deus falta um minuto cara! - Dava pra perceber pela voz dele que estava muito animado.

— Dessa vez eu entro! - Eu estava confiante.

— DEU A HORA! - Ele berrou do outro lado da linha me assustando

Foi nesse momento que ficou um total silêncio, eu e ele tentando acessar o site oficial da escola técnica, assim que acessamos fomos para a área da classificação, colocamos as informações, coloquei meu curso que seria administração e apertei o confirmar. Meu coração nunca bateu tanto quanto naquele momento que a página carregava.

Escutei ele comemorando no outro lado da linha, ele passou, Guilherme conseguiu passar no curso de informática que tanto queria, agora eu estava em silêncio ouvindo ele gritar, a página não carregava logo.

Então quando ela finalmente carregou, rolei a página pra baixo e comecei a procurar meu nome… "Rafael Donizete". Fiquei com medo, não estava achando meu nome por nada, meus olhos estavam começam a querer lacrimejar, mas então foi aí que eu olhei e lá estava meu nome, em segundo lugar.

Eu não acredito nisso!

— Cara… eu ...- Não conseguia falar.

— Ah não, não me diz que não passou!!! - A voz de animação dele até diminuiu

— EU PASSEI EM SEGUNDO!!!

— Não brinca! Vai se fuder cara que delícia!!

Eu nem estava acreditando, comemorei horrores com ele no telefone, gritando iguais uns idiotas, ele levou xingo da mãe dele e eu também, mas o importante é que estávamos felizes e por fim classificados para o técnico. Agora era apenas esperar chegar amanhã para fazermos a matrícula e aí sim confirmado. Eu nem acredito que fiquei em segundo, perdi apenas para um tal de Lucas Moura, mas isso não importa agora! Estou muito feliz.

***


Nunca tinha dormido tão bem na minha vida depois da notícia de ontem, foi uma noite de sono maravilhosa e sem nenhuma interrupção, foi perfeito. Assim que acordei fui direto me arrumar pois o dia seria bem corrido, tomei meu banho, mas não lavei o cabelo para não ter o trabalho de secar ele novamente, escovei meus dentes e desci todo contente pra cozinha onde estava minha mãe preparando o almoço.

— Cadê meu tapete vermelho? O segundo lugar merece muito mais!

— Menos Rafael - Minha mãe soltou uma risada.

Minha mãe é um doce de pessoa, mas não queira irritar ela, aqui em casa ela que manda, eu e meu pai apenas abaixamos a cabeça e obedecemos tudo o que ela fala, puxei totalmente pra ela no quesito de aparência, sou praticamente um xerox masculino da minha mãe.

— Hora mãe, mas é verdade - Chego atrás dela para conseguir ver o que ela está preparando.

— Estou orgulhosa, já estava mais que na hora de passar não acha? Vai fazer a matrícula hoje?

— Obrigado pelo apoio! E sim, vou fazer assim que almoçar, já separei as coisas para a matrícula.

— Está separado desde o primeiro ano que tentou. - Mas essa mulher está venenosa hoje hein?

Dei uma risada debochada e fui pra sala, liguei meu computador e comecei a ver as notificações das minhas redes sociais e assim que vi todas fui fazer o que eu mais queria fazer todos esses anos, publicar um status que passei finalmente e dessa vez terá um destaque que foi em segundo lugar, coloquei exatamente assim: "Passei e ainda foi em segundo lugar, escola técnica que me aguarde!". Agora só falta esperar chover comentários e curtidas.

— Está pronto, vem logo! - Gritou minha mãe da cozinha.

— O pai não vem para o almoço?

— Não, ele vai vir só a noite, mas mandou dizer parabéns para você.

Meu pai é um cara bem ocupado, ele trabalha em uma empresa da cidade e vire e mexe ele precisa ficar lá muito tempo pra arrumar todas as papeladas, mas o salário dele compensa todo o esforço que ele passa, mas é … as vezes dá uma saudade dele aqui.


Fui almoçar, nunca comi tão rápido como hoje, realmente a ansiedade estava a mil eu precisava fazer aquela matrícula só pra ficar despreocupado mesmo. Assim que terminei escovei os dentes novamente, peguei as papeladas que como disse minha mãe já estavam arrumadas desde a primeira vez que eu tentei a prova e sai para me encontrar com Guilherme na casa dele e de lá iríamos juntos, a escola não é tão longe assim das nossas casas, ainda bem, assim eu não preciso nem ir de bicicleta nem de ônibus, posso vir caminhando pensando na vida mesmo ao som de alguma música depressiva da minha playlist.

Cheguei na frente da casa dele e toquei a campainha, ele nem perguntou quem era e já saiu pela porta com vários papéis na mão, o sorriso dele estava de orelha a orelha.

— Eai cara!! - Fizemos nosso toque com a mão - Pronto?

— Estou pronto desde ontem de madrugada, ou hoje sei lá… - Ele riu. Bom eu sempre fui meio que o palhaço da dupla.

— Trouxe a sua foto 3x4 maravilhosa? - Ele perguntou com um sorriso malicioso.

— Não começa, ela está horrível...

Realmente, meus amigos minha foto 3x4 é a encarnação do diabo amassado por um trator. Não sei por que eles pedem essa maldita foto, não poderia ser uma simples selfie? Ou uma foto mais preparada?  

— A qual é - ele ri - Aposto que a moça vai gamar quando ver.

— Isso vai ser até ela ver a sua né - Também tentei caçoar ele mas saiu mais como um elogio.

— Falando sério agora - Ele coloca a mão em meu ombro enquanto íamos pela rua - Eu estou louco pra ver as gatinhas de lá! Dizem que lá tem as melhores bundas.

E lá vamos nós aguentar ele falar de garotas novamente. Não que eu não goste, mas ele fala toda hora.

— Uau que cara estudioso, devia ter colocado "estudo da bunda" em vez de informática.

— Deixa de ser gay!

— Você sabe que eu não gosto que me chama disso, que merda.

— Relaxa, é brincadeira.

Não sei por que me ofendo tanto com isso, desde quando eu era pequeno os meninos mais velhos me chamavam de viadinho ou coisa do tipo, mas eu sei que não sou isso, porém me sinto bem incomodado quando falam isso pra mim, deve ser por causa do tanto que eu sofri de bullying na época.

Enfim não demorou muito para chegarmos lá, entramos na escola técnica que era enorme é muito bonita, fomos pra uma área de espera onde tinha algumas cadeiras para sentar e ficar esperando como se fosse aquelas filas de banco sabe? Pegamos até senha. Guilherme era o número 37 e eu o 38, estava já no número 36, tinha pouca gente mas demorava pois atendia um de cada vez.

— Tá nervoso? - Perguntei

— Porra cara, tô formigando...  

— Então somos dois… - Assim que falei isso uma menina saiu da sala e a senha mudou para 37, dei um cutucão em Guilherme que saltou rapidamente da cadeira e correu pra salinha.

Fiquei ali esperando mexendo no papel da senha sem parar, meus pés então estavam no clima de carnaval de tanto que batiam no chão, só parei quando uma nova pessoa chegou e sentou do meu lado, era um garoto aparentemente da minha idade e da minha altura, era branquinho e tinha os cabelos castanhos, os olhos da mesma cor, porém aquele castanho era bem diferente, era um castanho mais claro e muito mais bonito que o meu o que me fez dar uma bufada quando vi, parece que só eu tenho o olho feio nesse mundo.

— Desculpe, estou atrapalhando? - O garoto falou, provavelmente por causa da minha bufada.

— O que? Não, só não aguento esperar - Fiquei sem graça.

— Eu também não... não consegui dormir à noite direito. - Ele olhou pra mim e nesse instante eu fiquei meio hipnotizado pelos olhos dele, aí não sei o que aconteceu.

— Eu até que consegui... - Mudei o olhar.

— Fez para que curso?

— Administração, passei em segundo. - Hora de me gabar.

— Ah, eu também. - Ótimo, melhor ainda me gabar pra alguém do meu curso - Passei em primeiro.

Okay, parece que eu caí do meu cavalo de cara no esterco fresquinho. Sorri pra ele sem graça e não falei mais nada.

O silêncio ganhou parte daquele lugar, eu estava muito sem graça, duplamente ainda. Primeiro eu bufo e ele percebe, depois tento me gabar e ele foi o que passou em primeiro lugar, queria enfiar minha cara na terra igual aquele bicho pescoçudo que não sei o nome…

— Como você chama? - Ele quebrou o silêncio.

— Rafael…

— Prazer Rafael, me chamo Lucas. - Olá Lucas que me humilhou indiretamente. - Acho que será bom ter você no mesmo curso, parece ser legal... me mudei de cidade a pouco tempo e não conheço ninguém.

A que legal, ele já se intitulou meu amigo.

— Era de onde?

— Uma das cidades vizinhas…

— Hum… por que mudou?

— Motivos familiares…

É, percebi no tom dele que eu não devia insistir mais nisso se não ia ser a terceira vez que ficaria sem graça pra mesma pessoa. O silêncio reinou novamente, mas me livrei já que Guilherme acabou de sair da salinha e era minha vez, levantei rapidamente e corri pra dentro da sala e lá eu comecei finalmente o que eu mais queria.

— Boa Tarde! - Uma ruiva muito bonita me atendeu. - Trouxe os documentos e a foto?

— Sim, claro! - Entreguei tudo para ela.

— Você lembra a sua colocação e o curso?

— Administração e segundo lugar.

— Nossa, meus parabéns! - Ela sorri e começa a digitar algumas coisas no computador.

Fiquei ali esperando olhando pra cara dela e cutucando minhas unhas, eu estava muito nervoso naquele momento, queria explodir sério...

— Pronto. A matrícula está feita, agora você pode voltar amanhã ou semana que vem pra comprar sua carteirinha, a camiseta escolar e pedimos também a cada seis meses uma contribuição de trinta reais, pagando essa contribuição você recebe desconto da carteira e blusa. As aulas começam semana que vem no dia vinte.

— Aa... Muito obrigado! - Eu estava explodindo de felicidade.

— Então até semana que vem - ela sorri e aperta um botão que aparentemente mudaria a senha.

Levantei, peguei meus documentos e fui saindo da sala, mas antes de sair esbarrei em alguém já que eu estava no meu mundo da lua de felicidade e adivinha quem era…

— Opa, desculpa… - Falei olhando novamente para aqueles olhos castanhos.

— Tudo bem - Ele sorriu e continuou seu caminho.

Meu Deus Rafael, só hoje você pagou vergonha três vezes para o mesmo menino e ainda ficou pagando pau para o olho dele. Pelo amor, preciso da minha cama...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom, o capítulo 2 já está pronto, talvez eu poste ele semana que vem ou o quanto mais breve melhor. Espero que comentem o que acharam!