Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 91
CAPÍTULO91




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CAPÍTULO91

    Depois de duas semanas de viagem, lugares exuberantes e a lua de mel
dos sonhos, Camila e São José estavam de volta à sua casa e suas
rotinas. Ela estava de férias do hospital, mas ele não podia se afastar
da empresa por muito tempo.
Camila, mesmo casada com um homem que poderia lhe dar tudo, decidiu que
não deixaria seu trabalho na maternidade do hospital. Ela amava o que
fazia, e cada bebê que passava por seus braços e seus cuidados tinha um
significado especial.
    Parado junto à cama de casal de seu quarto, São José, pronto pra
ir pro trabalho, olhava Camila dormir; era a primeira vez que a deixaria
sozinha na cama depois do casamento, era seu primeiro dia de trabalho
depois da viagem de lua de mel.
Camila parecia sorrir enquanto dormia, e seu sorriso foi se tornando
mais intenso; ela virou-se na cama lentamente, estava acordando:
— Bom dia, senhora minha! - sussurrou São José inclinando-se junto à
cama:
— Senhora eu acho que sou muito jovem pra ser, mas sua eu sou sem sombra
de dúvida! Bom dia!
— Você tem sempre uma resposta pra tudo! - ele sorriu e depositou um
leve beijo na testa de sua mulher:
— Já está indo?
— Já; tenho uma reunião com o pessoal do RH na primeira hora; tentei
marcar pra mais tarde mas não consegui escapar!
— Sabe o que é que eu estava pensando? Em ligar pra Jaraguá depois,
convidar ela e Palhoça pra vir aqui em casa almoçar, pegar uma piscina,
elas só vão pra aula a noite mesmo! Eu quero muito que elas sintam que
aqui também é a casa delas, tenho que fazer essas coisas agora enquanto
ainda estou de férias!
Enquanto ouvia a esposa falar, São José não conseguia deixar de prestar
atenção no sorriso dela:
— Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, Camila! Eu estava
aqui, olhando você dormir e pensando, eu fiz as minhas filhas sofrerem
por causa de uma mulher que não valia nada, se eu não tivesse...
— Não, meu amor, chega de sofrimento, chega de culpa, por favor; eu não
posso mudar o que já aconteceu, eu não posso arrancar Criciúma da sua
história, da história das meninas como se arranca uma folha de um caderno ou de
um livro, mas eu posso escrever outro final pra ela!
Camila estava certa, São José percebeu naquele momento que não podia
mudar o que havia acontecido e que não precisava se cobrar tanto. Cobriu
com cuidado sua mulher, deu-lhe um beijo e saiu para trabalhar.
Sozinha no quarto, Camila ligou a televisão em um canal qualquer, estava
passando um telejornal desses que são transmitidos pela manhã; virou-se
na cama, pegou o travesseiro de seu marido e colocou-o junto de seu
corpo. Estava confortável, tomada por uma sensação gostosa de aconchego;
pretendia convidar as filhas de São José para passarem o dia em sua
casa.
    Jaraguá acordou naquela manhã com uma mensagem de sua madrasta;
ficou radiante com o convite e foi acordar Palhoça.
As duas foram para a mesa de café da manhã, Camila viria buscá-las em
seguida:
— Você não se importa, mãezinha? - perguntou Jaraguá, meiga, com um
sorriso lindo:
— É claro que não, meu amor, muito pelo contrário! A atitude da Camila
me deixa feliz, isso prova que ela ama o pai de vocês! Jaraguá, manda um
beijo pra ela, e diz que eu estou esperando ela pra tomar um chá comigo
aqui em casa!
    Era a primeira vez que Jaraguá e Palhoça iam para a casa do pai
depois do casamento dele; já não eram mais crianças mas aquela situação
ainda as deixava meio confusas. Criciúma passou pela vida de São José e
deixou um rastro de destruição, ou seria de insegurança? Mas Camila
estava pouco a pouco reconstruindo o que deixou de existir.
A enfermeira passou o dia todo com as duas enteadas; fez questão de
cozinhar para o marido e para elas, passou a tarde toda sentada junto à
piscina, e no fim do dia, Florianópolis acabou indo buscar as meninas,
levando o filho caçula.
Jaraguá e Palhoça saíram da piscina e foram se vestir; Camila, ainda
sentada no mesmo lugar, se derreteu toda quando São Joaquim, com seus
pequenos passos, foi até ela. Pegou-o no colo, beijou, fez cóssegas:
— Florianópolis, senta enquanto as meninas se arrumam; quer alguma
coisa?
A mãe de família se sentou em uma cadeira ao lado de Camila:
— Não, Cami, obrigada; eu só vim mesmo buscar essas duas, que tem aula
daqui a pouco e esqueceram da vida!
— Me desculpe por não ter ido levá-las como prometi; o Jackson levou o
carro de São José pra revisão agora a tarde e ele foi trabalhar com o
meu! Moral da história, fiquei a pé!
— Imagine, Cami, sem problema nenhum! Elas estão felizes, você precisava
ver hoje de manhã!
— Eu queria ter feito isso ontem que era domingo, chamado elas pra vir
pra cá, mas nós chegamos de viagem sábado a noite e você pode imaginar a
quantidade de coisas que eu tinha pra arrumar!
    Camila voltou seu olhar para São Joaquim:
— E você, príncepe? Você não foi na creche hoje não?
— Estou vindo de lá - respondeu Florianópolis -, a professora disse que
não parou um segundo hoje!
    Florianópolis deixou a casa do ex-marido minutos depois; levou as
filhas até em casa e foi até o apartamento de Joinville e Chapecó para ver o
neto.
Encontrou sua filha em casa com o pequeno e a babá, Chapecó estava para chegar do
trabalho:
— Eu estou vindo da casa do seu pai, minha filha; Palhoça e Jaraguá
foram pra lá ainda de manhã e eu fui buscá-las!
— E como ele está, mãe? - perguntou a moça, sentada no sofá ao lado da
mãe:
— Eu não o vi, ele ainda estava na empresa! Seu irmão pulou pro colo da
Camila e não queria mais sair!
— E como é que a enfermeira Camila se comportou, mãe?
— A enfermeira Camila se comportou muito bem, minha filha! Joinville,
presta atenção no que eu vou te dizer, meu amor! Eu sei que pra você
pode parecer estranho que seu pai tenha se casado com uma moça vinte
anos mais jovem que ele, que vem a ser a melhor amiga da sua
companheira, mas seu pai é louco por ela, ela ama seu pai, entenda isso,
Joinville!
— Mãe, eu sei que esse meu sentimento em relação à Camila não tem razão de ser, mas eu não
consigo! Eu sempre tive ciúmes dela com Chapecó, mãe, nunca falei nada
por medo de perdê-la mas eu arrebentava por dentro cada vez que eu ligava pra
Chapecó e ela me dizia que estava com a Camila, eu ficava pra morrer
cada vez que minha namorada postava uma foto com ela!
Joinville retomou o fôlego e continuou:
— E naquela noite, mãe, naquela noite em que ela esteve aqui nessa sala
me contando que estava namorando o meu pai, eu me senti invadida pela
segunda vez, e pela mesma pessoa, eu tinha tanto medo que Chapecó me traísse com ela e o
destino me cobrou por isso!
    Florianópolis estava chocada, nunca pensou que por trás de sua
Joinville compreensiva, calma e meiga, se escondesse uma jovem ciumenta,
apaixonada, quase que possessiva:
— Eu nunca pensei que... filha, eu nunca imaginei que você sentisse
tanto ciúme de Chapecó!
— Eu suportei, mãe, não me pergunte como mas eu suportei! Eu suportei
por amor, eu sufoquei meu ciúme por amor!
    São Lourenço do Oeste, com um ano e sete meses, entrou na sala no
colo da babá; esticou os pequenos braços para Joinville e ela pegou-o no
colo. Era perdidamente apaixonada por aquela criança, nunca pensou que
fosse capaz de amar tanto aquele pequeno ser que não saiu de suas
entranhas mas era seu filho, era o fruto de seu amor.
    As quatro filhas de Florianópolis e São José estavam praticamente
encaminhadas na vida; Blumenau ainda morava com a mãe mas planejava
morar sozinha com Içara assim que começasse a trabalhar, Joinville
constituiu família ao lado de Chapecó, Jaraguá estava cursando na
faculdade de psicologia, e Palhoça escolheu um curso técnico de
fotografia. E foi ela, a mais alegre, a mais desinibida das quatro, que
procurou sua mãe para conversar em uma noite de sexta feira, depois que
chegou do curso:
— Mãe, eu estou gostando de um rapaz!
Florianópolis estava diante de uma filha apaixonada, de novo; o sorriso
de Palhoça estava mais intenso, ela estava mais bonita:
— Você tem um sorriso lindo, minha filha, e ele está mais bonito agora!
Me conta, quem é o felizardo?
— É um colega do curso; a gente se deu bem logo de cara, mãe, na
primeira semana; combinamos um cinema amanhã!
— E quando é que eu vou conhecer o príncipe encantado?
— Eu vou convidá-lo pra vir aqui um dia desses; ele estuda comigo e é
músico também!
    O jovem que fez o coração de Palhoça estremecer chamava-se Santo
Amaro da Imperatriz. Vivia com a mãe, a bela e destemida Joaçaba, que
com quarenta anos de idade, era cheia de vida e a maior fã de seu filho.
O rapaz sempre teve paixão pela música; passava horas e horas com o
violão, gostava de compor, tocar e cantar, mas decidiu viver da
fotografia, a segunda paixão de sua vida.
Nunca deu trabalho nenhum; era filho de mãe solteira e perseguia o sonho
de dar uma boa vida para a sua rainha, ela que foi mãe, pai, foi tudo
para ele.
    Conheceu Palhoça no cursinho, e em pouco tempo, o jeito brincalhão e
meio atrapalhado da jovem mexeu com ele. Santo Amaro já havia namorado
uma vez e durou muito pouco, mas agora era diferente, tão diferente que, em uma tarde de
muita chuva, o jovem se sentou na sala de casa com o violão e começou a
tocar e cantar o que lhe vinha à mente. Pela primeira vez ele conseguiu
compor uma música inteira; Palhoça era a sua inspiração, de agora em
diante, era por ela e para ela que ele cantaria.
    Joaçaba entrou em casa e a voz suave do filho misturada a o som do
violão, a paralizou completamente; a mãe ficou parada junto à mesa da
sala, ouvindo, sem coragem de interromper:
— Que música linda, meu filho! - murmurou ela, emocionada quando a
canção terminou; caminhou até o sofá e sentou-se ao lado dele:
— Acabei de compor, mãe; é pra garota que eu estou gostando!
— Logo vi que tinha mulher no meio! - Joaçaba riu da própria
brincadeira:
— Ela é diferente, mãe! Da outra vez que eu namorei, o sentimento
começou de fora pra dentro, entende? Eu me apaixonei pela beleza física
dela! Mas agora é totalmente diferente, mãe; parece que agora sim é
amor, sabe!
— Sei, meu filho! E quando é que você vai cantar pra ela?
— Ainda não sei; a gente vai combinar alguma coisa, eu vou conhecer a
família dela, em fim, eu quero fazer as coisas certas, mãe!
E Santo Amaro faria tudo para dar certo; estava apaixonado pela colega
de curso e faria o impossível por esse amor.


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