Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 9
CAPÍTULO9




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CAPÍTULO9

    A segunda feira amanheceu mais linda do que nunca em Angra dos Reis;
Florianópolis e São José estavam completando vinte e um anos de
casamento naquele dia.
    O casal, que estava hospedado em um hotel de frente para o mar,
acordou cedo; foram até a praia e viram o nascer do sol. Andaram de mãos
dadas pela areia, molharam os pés e só depois fvoltaram pro hotel para o
café da manhã. Optaram por fazer aquela refeição na suite em que estavam
hospedados, sozinhos.
    De volta à casa da família, Jaraguá se arrumava para ir pra escola
enquanto conversava com a irmã, Joinville, que a observava deitada na
cama; as duas haviam dormido juntas naquela noite:
— Chapecó já está na ativa - comentou Joinville com a irmã -, levantou,
já foi caminhar...
— Você não ia pra lá ontem a noite?
— Eu ia; mas a Márcia só vai dormir aqui a partir de hoje; daí achei
melhor ficar por aqui mesmo!
— Ela caminha sozinha de manhã?
— Ela caminha junto com uma amiga dela que mora no apartamento da
frente! Essa semana eu vou marcar com ela pra gente sair, nós três!
    No apartamento de Chapecó, ela se encontrava sentada junto à
bancada; sua vizinha e amiga Camila estava sentada à sua frente, as duas
tomavam café depois da caminhada:
— Daqui a pouco está na minha hora - comentou Camila consultando a hora
no celular -, tenho que ir pro hospital; vai pra universidade agora de
manhã?
— Não, agora de manhã não! Eu vou pra lá só a noite hoje, vou aproveitar
pra organizar a minha casa!
— A parte da organização eu fiz sábado; menina, a semana passada foi
daquelas, você já imagina como é que ficou a minha casa no meio disso
tudo! Mas me conta, e Joinville?
— Ela ia vir pra cá ontem mas resolveu ficar em casa; os pais dela estão
completando vinte e um anos de casamento hoje, foram viajar, a mulher
que trabalha na casa dela vai dormir lá enquanto eles estão fora mas só
a partir de hoje! Ela achou melhor ficar por lá mesmo; a irmã mais velha
dela não tem a mínima paciência com as duas mais novas...
— A irmã mais velha dela é aquela que você me contou, que não foi com a
sua cara?
— Exatamente; na verdade ela não foi com a minha cara desde quando me
conheceu na universidade! Mas a família toda é um barato, Cami; a irmã
caçula dela me disse aqui nessa sala que é a presidente do meu
fã-clube na casa dela!
— Sério?
— Sério! Outro dia ela saiu da escola e veio aqui em casa; tomamos um
café da tarde daqueles, conversamos, eu nunca pensei que eu pudesse me
sentir como naquela tarde, completa, entende?
— É claro que eu entendo! Eu falei tanto no seu ouvido quando você
começou a namorar essa moça, disse que não era o momento de você se
envolver de novo, mas agora eu vejo o quanto você está feliz!
Camila saiu minutos depois para ir trabalhar; Chapecó aproveitou o dia
para arrumar a casa, fazer super mercado, resolver uma porção de coisas
na rua. Passou na casa da namorada no final do dia, encontrou a fiel
escudeira da família, Márcia, que cuidava para que nada faltasse para as
quatro meninas na ausência dos pais. Só então Chapecó foi para a
universidade, quando teve certeza que estava tudo bem em sua segunda
casa, a casa de Joinville.
    Já eram umas dez da noite; Márcia se sentou na sala com as duas
filhas mais novas de seus patrões; Palhoça ficou sentada no chão da
sala, prestava atenção hora na televisão, hora no celular que estava em
suas mãos. Jaraguá, por sua vez, pegou uma das almofadas, colocou-a
sobre a perna de Márcia e se deitou ali:
— Que foi, menina? - perguntou a fiel escudeira da família calmamente,
enquanto arrumava uma mexa do cabelo dela:
— Nada, Marcinha, tudo bem; te incomodo aqui?
— Claro que não; e você por acaso esqueceu que eu te conheço desde que
você nasceu? Te peguei no colo muito pequenininha, cuidei muito da
senhorita no resguardo da sua mãe!
— Eu sei, Marcinha! Minha mãe me contou que até sua voz eu conhecia
quando estava na barriga dela!
— E conhecia mesmo; eu cantei muito pra você!
— Você ainda lembra de alguma música que você cantava pra mim?
Márcia pensou por uns instantes, depois começou a cantar, com a voz mais
suave e mais reconfortante que a menina já ouviu:
— Eu tenho tanto, pra lhe falar, mas com palavras, não sei dizer; como é
grande o meu amor por você!
E Jaraguá cantou com sua amiga fiel:
— E não há nada, pra comparar, para poder, lhe explicar; como é grande o
meu amor por você! Nem mesmo o céu, nem as estrelas, nem mesmo o mar, e
o infinito; não é maior, que o meu amor, nem mais bonito!
As duas cantaram a música de Roberto Carlos inteira, era visível a
emoção naqueles olhos. Palhoça, que olhava hora para o celular, hora
para a tv, virou-se para olhar a irmã com Márcia; foi uma das cenas mais
belas que a menina já viu. Ficou vidrada na voz doce daquela mulher;
foram poucas as vezes que Palhoça conseguiu se manter em silêncio, presa
em alguma coisa; estava sempre a mil por hora, fazendo mil coisas por
minuto.
    Já passava de meia noite; São José e Florianópolis sairam pra
jantar, andaram de mãos dadas na areia da práia debaixo de um céu
carregado de estrelas; e agora voltavam pro hotel.
O taxe parou junto à porta do hotel e os dois desceram; Florianópolis já
se preparava para andar em direção à porta de entrada, mas foi impedida
pelo marido:
— Espera - ordenou ele divertido -, fica aí!
— Por quê? - perguntou ela sorrindo de leve, desconfiada:
— Por isso! - ele respondeu pegando-a no colo; ela soltou uma
gargalhada, se divertindo com a situação e encantada com aquele homem de
quarenta e cinco anos, que fazia questão de levá-la no colo como fez no
dia do casamento. O taxista ficou observando a cena sorrindo
discretamente:
— Boa noite - cumprimentou um jovem que trabalhava no hotel, ao se
deparar com o casal na recepção -, posso ajudá-los? Aconteceu alguma
coisa?
— Boa noite - respondeu a mulher um pouco envergonhada, mas lisonjeada
não aconteceu nada; está tudo certo!
— Eu posso abrir a porta lá em cima pro senhor! - ofereceu-se o
funcionário olhando discretamente para São José, maravilhado com o
sorriso e a alegria daquele casal:
— Eu vou aceitar, rapaz - ele respondeu -, vou ficar te devendo essa pro
resto da vida!
Haviam algumas pessoas na recepção, que pararam pra ver aquele homem que
entrou carregando a esposa no colo; o clima de felicidade contagiou todo
mundo que estava ali, e o jovem funcionário do hotel acabou subindo com
eles só pra abrir a porta.
    - Agora será que dá pra você me colocar no chão? - perguntou bem humorada
Florianópolis, já dentro da suite -, meu amor, eu preciso tirar esse
sapato que está me matando, tomar um banho...
— O sapato deixa comigo - ele respondeu -, e o banho a gente toma
depois!
    - Oi, minha querida! - falou calmamente Chapecó ao atender o
celular; era Joinville:
— Oi, tudo bem?
— Tudo bem! Você não ia dormir não?
— Deitei mas não consegui dormir; resolvi te ligar! Fiz mal?
— Claro que não; eu estava lendo na cama, também não estou com sono!
— Está lendo o quê?
— Cinquenta Tons de Cinza, estou no primeiro livro!
— Ainda quero ler esse livro!
— Eu te empresto!
Com o livro sobre o colo, sentada na cama, Chapecó conversou com a
namorada por mais de quarenta minutos; já era quase uma da manhã quando
as duas resolveram dormir:
— Você desliga? - perguntou Joinville; mesmo não podendo vê-la, Chapecó
conseguia notar seu sorriso:
— Desliga você! - retrucou Chapecó:
— Vamos contar até três então; no três a gente desliga!
— Combinado!
— Um, dois, três!
E as duas desligaram.
    E os dias seguiram normalmente; Florianópolis e São José
aproveitavam tudo o que tinham direito em Angra dos Reis, praias,
restaurantes, tinham mil opções à sua inteira disposição. Enquanto isso,
em casa, as filhas do casal estavam sob os cuidados da dedicada Márcia,
que durante os quinze dias de ausência dos pais, fez questão de ficar
com elas.
    - Anda logo, gente, eu não posso ficar esperando vocês duas a manhã
toda não! - reclamava Blumenau em pé junto à mesa da cozinha, já com a
bolsa e a chave do carro; deixaria as irmãs mais novas na escola:
— Já vou! - revidou Palhoça
— O "já vou" de vocês demora uma eternidade!
— Calma, maninha; desacelera! - Joinville desarmou a irmã.
Blumenau se calou por um instante e ficou observando Márcia, que saiu da
cozinha em direção a o corredor:
— Já falou com ela hoje? - recomeçou Blumenau ao encontrar os olhos da
irmã:
— Ela quem?
— Chapecó!
— Já; ela me mandou uma mensagem de manhã dizendo que já tinha acordado
e que ia caminhar!
— O meu medo é que você acabe no fundo do poço com essa história com
ela; ela nunca foi de uma mulher só e você sabe disso!
— Eu sei do passado dela, Blumenau;  a gente não tem segredos uma com a
outra se é isso que te preocupa! Ela sabe que eu nunca namorei antes,
que muita coisa eu ainda não conheço; assim como eu sei que ela namorou
bastante, e eu sei disso porque ela abre a vida dela pra mim, e não
pelos comentários que eu ouço nos corredores da universidade!
— Eu só quero que você tome cuidado, Joinville; essa moça não vai ficar
presa a você por muito tempo não; logo logo ela vai dar um jeito de sair
desse relacionamento, tal como faz sempre! Eu sou sua irmã mais velha,
eu tenho que te alertar sobre...
— Não, Blumenau; você não está me alertando, você está me punindo, me
punindo pela minha opção e pela escolha que eu fiz! Quem alerta alerta com amor, pode até
ter um tom de punição mas os olhos sempre trazem um vestígio de amor; e
é esse vestígio de amor que eu não consigo ver em você!
Blumenau se sentiu totalmente desarmada, sem chão; deixou sobre a mesa a
xícara vazia e deu meia volta para sair dali:
— Eu vou ver se as meninas estão prontas; vou acabar me atrasando por
causa delas!
— Eu levo as meninas, Blumenau; se você precisa mesmo ir eu levo as
meninas!
— Tudo bem; eu vou pra universidade, a gente conversa na hora do almoço!
E Blumenau saiu pela porta da cozinha, com a bolsa, as chaves e um olhar
que Joinville não conseguia saber se era de tristesa ou de raiva.
    Jaraguá apareceu na cozinha, de mochila e uniforme, acompanhada por
Palhoça; abraçou-se à sua irmã:
— Eu vou levar vocês pra escola! - comunicou Joinville correspondendo a
o abraço da irmã:
— Eu quero apresentar você pras minhas amigas; elas já te conhecem de
tanto eu falar!
— Combinado! Vamos?
A essa altura, Palhoça já estava na porta, cantando e dançando:
— Vou chamar o elevador! - anunciou ela enquanto saía correndo pelo
corredor do prédio.
    Naquela manhã, Jaraguá fez questão de apresentar Joinville para as
suas amigas de colégio; uma atitude muito pequena aos olhos dos outros,
mas que se tornou um momento especial para as duas.


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