Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 64
CAPÍTULO64




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CAPÍTULO64

Era segunda feira; Criciúma entrou na sala e encontrou São José
sentado junto à mesa posta para o café da manhã. O estranho é que,
naquela manhã, ele não estava de terno e gravata como sempre se vestia
para ir trabalhar; vestia calça geans e camisa azul:
— Bom dia, meu amor! - murmurou ela:
— Bom dia!
— Você não vai trabalhar? Por que é que você está vestido assim?
— Nós não vamos pra empresa agora de manhã; eu liguei pro consultório da
Doutora Ana Luísa, consegui te encaixar, nós vamos a o médico!
— Você não precisava ter feito isso, amor; eu ia marcar com o meu
médico...
— Criciúma, a Doutora Ana fez o parto do meu filho...
— Com a outra, eu sei; e agora eu tenho que ir no consultório dela por
causa disso?
— Eu confio na Doutora Ana; tome seu café sossegada, a consulta é as
nove da manhã, daqui a pouco a gente sai!
Criciúma não tinha saída, teria que contar a verdade para seu
marido. Sabia que iria perdê-lo pra sempre, mas não havia tempo para
continuar mentindo. As lágrimas vieram quase que implacáveis; mas ela
seria forte; soltou sobre a mesa a xícara de café e olhou-o nos olhos:
— Tudo o que eu fiz foi por amor a você, São José; você pode me achar um
monstro mas tudo o que eu fiz foi por amor!
— Por que é que você está me dizendo isso, Criciúma?
— Eu não estou grávida; o seu sexto filho não existe, meu amor;
Joinville disse a verdade!
E ela estava livre daquele peso; sua primeira reação foi chorar, de dor
pelo que iria perder, e de alívio por não precisar mais sustentar a
mentira:
— Criciúma, você não pode ter feito isso!
— Eu fiz, São José, eu fiz! Eu sempre tive ciúmes da sua relação com as
suas filhas, e por mais que eu tentasse, não conseguia superar isso! Eu
tentei engravidar de verdade, desde quando a gente começou a se
relacionar eu queria engravidar mas isso parecia impossível! E quando São
Joaquim nasceu, eu vi a sua dedicação com ele, com Florianópolis, a
nossa relação já não ia bem, foi a única forma que eu encontrei de não
te perder!
— Você foi cruel, Criciúma, cruel, como é que você foi capaz de descer
tão baixo? Como é que você foi capaz de brincar com o sentimento de um
homem, ou melhor, de um pai? Eu fiquei radiante de felicidade quando
você me contou que estava esperando um filho meu, eu cheguei a sonhar
com ele, e agora você me diz que o meu filho não existe?
— Pode existir, amor - Criciúma continuava chorando diante do marido -,
vamos colocar uma pedra nisso tudo, a gente pode ter um filho, a gente
pode formar a nossa família...
— Criciúma, por favor, não faz isso! Quanto mais você fala, quanto mais
você se lamenta mais raiva eu sinto; raiva de você e de mim,
principalmente de mim por ter deixado a minha esposa e as minhas filhas!
— Eu nunca te obriguei a fazer isso! Ela te colocou pra fora de casa...
— Eu jamais deveria ter me envolvido com você...
— Se você está pensando que vai me jogar pra fora da sua vida, fique
sabendo que não vai!
— Não, Criciúma, eu não vou te jogar pra fora da minha vida porque você
mesma se incarregou de fazer isso! Você mesma se atirou pra fora da
minha vida quando resolveu inventar essa mentira! Eu vou embora dessa casa;
eu vou reconquistar aquilo que eu perdi por ter sido tão burro, por ter
sido o idiota, o mal caráter que eu fui!
Naquela manhã de segunda feira, o mundo desabou para aquele pai de
família; de uma hora pra outra, ele viu que já não tinha mais nada. São
José deixou o apartamento de Criciúma ainda naquela manhã.
Uma semana se passou; as mudanças estavam ali para serem encaradas.
Depois que deixou o apartamento de Criciúma, São José estava determinado
a recuperar o que perdeu, o amor de sua esposa. Mas sabia que não seria
tão fácil; decidiu alugar um apartamento no mesmo flat onde Chapecó
morava, conseguiu se instalar no mesmo andar que ela.
Joinville teve uma recuperação surpreendente; a previsão dos médicos
era que a jovem estivesse em casa até o natal. Ela saiu da UTI em uma
terça feira de manhã, foi para o quarto.
— Como é que você está, filha? - perguntou Florianópolis iniciando
uma conversa com Joinville; os enfermeiros haviam acabado de trazê-la
para o quarto, as duas estavam a sós:
— Estou bem, mãe! Ainda meio perdida, meio confusa mas estou bem!
— Você não sabe como nós esperamos por esse dia!
— Mãe, e os meus colegas, os colegas que estavam comigo no ônibus?
— Estão bem, minha querida; o motorista do ônibus estava sem o cinto de
segurança, ele não resistiu! Mas os seus colegas estão todos bem!
— Tem alguém aqui nesse hospital?
— Três dos seus colegas foram internados aqui também; mas já receberam alta na semana
passada!
A conversa das duas foi interrompida pelo barulho da porta; Chapecó
surgiu no quarto com um enorme buquê de rosas:
— Bom dia! - cumprimentou ela com um sorriso contagiante; Joinville
tentou se levantar, mas sentiu dores no corpo e foi amparada por sua
mãe:
— Calma, filha; fica deitada!
— Chapecó! - exclamou Joinville:
— Estou aqui, meu amor - a engenheira agora estava ao lado da cama -,
fica deitada, não pode fazer esforço ainda!
Por um momento, Joinville manteve os olhos fixos no buquê de rosas
vermelhas que estava ao seu lado:
— Vou colocar aqui na minha mesinha de cabeceira! Eu sei que você esteve
na UTI, eu não conseguia reagir mas eu te ouvia, eu te sentia!
— Eu só vim aqui pra te dar um beijo, te dizer que eu te amo muito; eu
vou trabalhar mas no fim do dia eu volto pra passar a noite com você;
como é que você está, minha querida?
— Estou bem; estava agora mesmo falando com a minha mãe, estou meio
confusa ainda, mas só tenho motivos pra agradecer! Eu sei que eu escapei
de uma boa, que eu poderia ter...
— Não, meu amor, não; agora a gente só vai pensar em viver, viver
intensamente cada dia dessa vida louca mas que é nossa!
Joinville olhou para a mãe:
— Coloca as flores na água pra mim, mãe, por favor; eu quero que elas
fiquem aqui na minha cabeceira!
— É pra já! - confirmou a mãe de família sorrindo levemente:
Chapecó precisava ir pro trabalho; e ao despedir-se de sua amada,
recebeu o mais belo sorriso e uma frase que ficaria pra sempre em sua
memória:
— Eu amo você; Cuida bem do meu filho!


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