Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 57
CAPÍTULO57




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CAPÍTULO57

Camila entrou na cozinha da casa de sua mãe para preparar uma
caipirinha; começou a procurar os ingredientes por ali até ser
surpreendida por Felipe, um primo de segundo grau que estava passando
uma temporada na fazenda de sua mãe; ele fazia o tipo aventureiro,
nunca levou nada a sério mas era um bom rapaz:
— Oi, Lipe - falou a enfermeira com uma animação contagiante -, a gente
nem conversou direito!
— Relax, prima - ele respondeu com a mesma impolgação -, quer ajuda aí?
— Não, só vim mesmo preparar uma caipirinha e já volto pra varanda; só
preciso dar uma procurada nos ingredientes por aqui, algumas coisas
mudaram de lugar desde que eu fui embora!
Felipe deu alguns passos e se aproximou de Camila; ela cortava um limão
em pé junto à pia da cozinha:
— Cami - sussurrou ele -, me conta mais sobre aquele pedaço de mal caminho que veio
com você!
— Chapecó?
— Claro, né, prima querida! Me passa o contatinho dela depois, quebra
esse galho, vai!
— Eu não acredito nisso! Lipe, você não tem jeito mesmo, né! - Camila
tinha um certo tom de brincadeira na voz:
— Eu sei que você não confia muito em mim, prima, mas eu juro que as
minhas intenções com a sua amiga são as melhores possíveis! Quebra esse
galho pra mim, me passa o telefone dela...
— Eu posso imaginar as boas intenções que você tem, doutor Felipe,
eu te conheço como a palma da minha mão; acontece que não vai rolar, não vai rolar porque Chapecó é comprometida!
— Então esse cara deve ser um panaca mesmo; se eu tivesse uma mulher
dessas do meu lado, não deixaria dando sopa por aí!
— Acontece que não tem panaca nenhum nessa história não, meu querido!
— Não? Mas você acabou de me falar que ela tem namorado!
— E quem foi que falou em namorado, priminho? Ela tem uma namorada!
Felipe deixou cair o copo de cerveja que estava em sua mão:
— Você está zoando comigo! Cami, para de brincar com coisa séria...
— É claro que eu não estou brincando, criatura!
— Mas não dá pra perceber nada...
— Eu também não imaginava quando a conheci, e se ela não tivesse me
contado eu não saberia até hoje!
— Caraca, Cami, quer dizer que aquele mulherão é...?
— É, Felipe; aceita que dói menos!
A enfermeira voltou a prestar atenção na bebida que estava
preparando, e seu primo continuava ali, em pé ao seu lado, totalmente
chocado com a informação:
— Ela já deu em cima de você, prima? Conta pra mim, eu prometo que eu
não falo pra ninguém! Você já pegou a sua amiga? Como é que foi, priminha?
— Claro que não, Felipe; ela sempre fala que eu sou a irmã que ela não
teve, sempre me respeitou como tal!
— Cami, está aí? - era Chapecó, que entrava pela porta da cozinha
procurando pela amiga:
— Estou - respondeu a enfermeira -, preparando uma caipirinha e
conversando um pouco com esse maluco do Felipe! Chega pra
cá!
Felipe, totalmente sem ação, fez a primeira coisa que lhe veio à
cabeça:
— Eu vou voltar pra varanda, meninas; Cami, vê se não demora!
— Tudo bem, já estamos voltando pra lá!
A enfermeira acompanhou o primo com os olhos até vê-lo sumir pela porta
da cozinha:
— Ele queria seu telefone, Chapecó - sussurrou ela -, disse que as
intenções dele com a minha amiga eram as melhores! Disse que você é um pedaço de mal caminho!
— Eu percebi os olhares dele na varanda; mas isso não me incomoda,
amiga! Você falou pra ele que eu namoro outra mulher?
— Falei; ele vai sossegar, se você soubesse as confusões que ele já se
meteu por causa de mulher, meu priminho é o cara mais mulherengo que eu
conheço!
A enfermeira terminou de preparar a bebida enquanto conversava
descontraída com Chapecó; as duas voltaram para a varanda minutos
depois.
São Miguel do Oeste chegou da casa da namorada já passava das dez da
noite; Florianópolis fez questão de levá-lo até em casa. O garoto entrou
pela porta da sala e lá estava sua tia, com o sorriso que enfeitava sua
vida desde o dia em que sua mãe saiu do país, sentada em uma poltrona, folhando uma
revista. Um dvd do cantor Roberto Carlos tocava em um volume agradável:
— Oi, tia! - cumprimentou sorridente São Miguel:
— Oi, meu amor, veio com quem?
— Minha sogra me trouxe! E você, tudo bem?
— Tudo bem! Depois que eu te deixei lá, fui no super
mercado, acabei ficando lá mais de uma hora!
São Miguel do Oeste deu dois passos e se sentou ao lado da tia:
— Como será que minha mãe está, tia? Por que é que ela não liga, não dá
notícias?
— Não sei, meu menino; pela primeira vez a sua tia não tem a resposta
pra te dar!
— Será que eu vou passar o natal sem ela?
— Só o tempo pode dizer isso pra gente; e eu volto a te dizer a mesma
coisa que eu te falei no dia em que ela foi embora; eu vou estar sempre
aqui, do seu lado, meu super herói!
Naquele momento, começava a tocar na televisão a música Amor Sem
Limites, de Roberto Carlos; a canção, que fala de amor e trás um rítimo
parecido com o da valsa fez com que São Miguel tivesse uma ideia. O
garoto se levantou, ajeitou a camisa e sorriu; inclinou-se para
Concórdia, que continuava sentada na poltrona:
— Posso ter a honra de dançar com a senhorita? - ele perguntou:
— Pode! - ela respondeu sorrindo de volta para ele; São Miguel tomou a
tia entre os braços, e ali mesmo na sala de casa, dançou com ela como um
cavalheiro.
Já passava de meia noite; todo mundo já havia se recolhido, mas
Camila e Chapecó estavam determinadas a aproveitar cada minuto daquele
fim de semana.
A enfermeira sabia que a amiga não teve uma adolescência feliz; perdeu
os pais com quatorze anos de idade, foi viver com uma tia, foram os
quatro anos mais difíceis da vida da engenheira.
A noite estava linda; as duas desfrutavam do aconchego proporcionado
pela água morna da piscina, no quintal da casa; Gustavo, Davi e Felipe
bebiam cerveja sentados junto à piscina.
— Já passa de meia noite, todo mundo já foi pra cama e nós aqui -
comentou Camila -, parecendo duas adolescentes!
— Eu não fui uma adolescente normal, Cami; quer dizer, gostava de me
enfeitar, era vaidosa e sou até hoje, mas não sentia interesse pelos
meninos como as minhas colegas, não fui dormir na casa de uma amiga pra
virar a noite conversando, as vezes eu sinto saudade, saudade de uma
coisa que eu não fiz!
— Então a gente faz isso hoje; se você quiser eu viro adolescente com
você, a gente vira a noite conversando! A doutora Ana, bem, a gente se
conhece a muitos anos, sempre fomos amigas, tanto que eu acabei indo
trabalhar na equipe dela! A gente costumava virar a noite conversando;
como a gente morava longe, fazia-mos isso pela internet!
As duas não souberam dizer por quanto tempo ficaram ali, conversando na
piscina e curtindo a companhia dos meninos, que acabaram indo pra água
também; sentiram fome. Enquanto a amiga foi para o quarto para tomar
banho e se preparar pra deitar, Camila foi pra cozinha e preparou uma
bandeja de frutas; levou para o quarto.
— Falou com Joinville? - perguntou a enfermeira, sentada na cama ao
lado de Chapecó, com a bandeja à sua frente:
— Conversamos um pouquinho antes da gente descer pra piscina; a festa
estava rolando lá, ela estava feliz!
— E Itajaí, amiga? Você precisa resolver isso de uma vez por todas; você
vai ser mãe, esse filho foi gerado pelo método artificial mas não deixa
de ser o fruto do seu amor, do seu amor por Joinville!
— E você acha que eu não digo isso pra mim mesma toda hora? Itajaí está
determinada, Cami, ela quer destruir o meu sonho! Eu cheguei a oferecer
dinheiro pra ela ir embora, sumir do mapa mas ela disse olhando nos meus
olhos que não é dinheiro que ela quer; é o meu amor, e isso eu não posso
dar, não posso porque ela matou o amor que eu sentia, entende?
A conversa das duas foi interrompida por uma leve batida na porta do
quarto:
— Pode entrar! - falou Camila; a porta foi calmamente aberta e Davi
surgiu no quarto, de calção, sem camisa e descalço:
— Ainda acordadas? - perguntou ele com um certo tom de brincadeira:
— Estamos - respondeu Chapecó -, jogando conversa fora! E o senhor, vai
dar uma voltinha porque aqui é o quarto das moças solteiras!
— Desde quando você é solteira, amiga? - provocou Camila;
os três caíram na risada. Davi se sentou e acabou ficando ali por alguns
minutos; comeu uma fatia de melão e voltou para seu quarto.
Parecia que estava tudo calmo, só que não era bem assim.
Sentada na cama, Camila passava um creme hidratante nos pés; Chapecó,
ao seu lado, lia alguma coisa no celular:
— Cami! - a enfermeira imediatamente reconheceu a voz que estava
chamando por ela junto à porta do quarto:
— Pode entrar, Lipe!
Felipe surgiu no quarto, pálido, meio tropeçando:
— Cami, eu tô malzão!
— O que foi, criatura?
— Acho que bebi e comi demais; parece que tem uma bomba no meu estômago,
uma bomba que pode explodir a qualquer momento e causar um grande
estrago! Você tem remédio aí?
— Devo ter alguma coisa na minha bolsa, vou procurar, seu maluco!
A enfermeira tentou se levantar, esquecendo-se de que estava com
os pés cheios de creme hidratante; deu o primeiro passo, escorregou e caiu sentada no
chão do quarto:
— Também, amiga, só você mesma pra tentar caminhar desse jeito! -
Chapecó se levantou da cama e caminhou até ela:
— Chapecó, quebra essa pra mim; deve ter remédio pra dor de estômago na
minha bolsa, procura lá, por favor! Eu esqueci que estava com hidratante nos pés, o Felipe me deixa tonta!
— Eu procuro, sua doida, pode deixar; levanta, mas cuidado pra não levar
outro tombo!
Camila conseguiu se levantar e voltar pra cama; Chapecó por sua vez, se
encarregou de procurar o remédio.
— Esse mesmo, Chapecó! - confirmou a enfermeira ao ver o envelope do remédio
na mão da amiga:
— Vou descer pra pegar um copo com água pra ele, Cami!
Felipe ficou a sós com a prima; estava literalmente passando mal mas
teve forças pra fazer uma piada:
— Desse jeito eu vou querer ficar dodói toda noite, prima querida!
— Já te falei, primo adorado; aceita que dói menos! A namorada dela é super tranquila, super meiga, mas não pisa no calo dela não!
Chapecó voltou com a água para o quarto; entregou o copo e o
remédio para o jovem Felipe e ficou olhando para ele por um momento:
— Agora vai se deitar, Lipe, e descanse! - determinou Camila; o rapaz
decidiu obedecer, agradeceu sua enfermeira postiça e saiu do quarto.


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