Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 29
CAPÍTULO29




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/742293/chapter/29

CAPÍTULO29

    - Amor, a minha mãe é assim mesmo...
— São Miguel, por favor, me deixa ir embora!
— A gente sonhou com essa noite, nós esperamos por isso...
— E com que cara você acha que eu vou me sentar à mesa com a sua mãe, me
diz! Ela acabou de deixar bem claro que não me quer na sua vida, como é
que você acha que eu estou me sentindo?
— Calma, meu amor, calma! A gente janta, a minha tia vai estar por
perto, ela gostou de você, sempre apoiou a gente desde o dia que eu
falei com ela sobre você, sobre a gente! A minha tia é uma mulher de
mil artimanhas, ela não vai deixar que nada de ruim aconteça com você,
com a gente!
— Eu não vou conseguir, São Miguel; você pode até me achar uma garota
mimada mas tenta me entender, eu não vou conseguir! Pede pra sua tia me levar de volta, por
favor!
— Antes eu quero te mostrar a nossa capela; meu avô construiu
aqui nesse terreno, a casa dele já não existe mais mas a capela é linda!
Jaraguá acabou concordando; talvez fosse mesmo uma boa pedida naquele
momento.
    - Você não precisava ter falado desse jeito! - Concórdia repreendeu
a irmã, Brusque, depois da saída do sobrinho e da namorada dele:
— Você não vai agora querer me ensinar a educar o meu filho porque nem
filhos você teve, Concórdia! Eu quero o melhor pra ele, essa menina vai
atrapalhar tudo o que eu sonhei pra ele!
— Você precisa de ajuda, minha irmã; você precisa de ajuda
profissional...
— Agora zelo de mãe precisa de tratamento?
— Ah, Brusque, tenha a santa paciência, você entendeu perfeitamente o que eu falei! Meu Deus, eu já te falei que
não adianta você querer pro seu filho a vida que você queria ter e não conseguiu por alguma razão! Ele está crescendo, vai escolher o seu modo de vida e a gente não
vai poder fazer nada! Essa sua fixação no seu filho, minha irmã, isso
não é bom pra você, não é bom pra ele!
— Eu quero o melhor pra ele; ele é meu filho...
— Mas não é propriedade sua!
A essa altura, as duas irmãs já estavam discutindo; Concórdia precisava
contornar aquela situação, e rápido.
    Jaraguá e São Miguel entraram na capela e ajoelharam-se diante de
uma linda imagem de Santa Rita de Cácia; o avô dele, por ser muito
devoto da santa,fez questão de construir uma capela no terreno de sua casa:
— É linda - admirou-se a garota -, muito linda!
— Meu avô era muito devoto de Santa Rita; essa capela está aqui a mais
de sessenta anos!
Os dois deram um a o outro a mão direita e se olharam nos olhos; São
Miguel, com aquele sorriso que era apenas seu, falou o que sentiu
naquele momento:
— Um dia eu vou me casar com você aqui nessa capela! E eu prometo pra
você, eu prometo que você vai ser a mulher mais feliz do mundo!
— Eu acredito - ela respondeu -, e eu também te prometo, aqui, diante de
Santa Rita de Cácia, que eu vou ser a melhor esposa do mundo!
Aquele momento na capela ficaria pra sempre na vida dos dois; embora
ainda fossem muito jovens, os dois fizeram ali aquela prece, pediram à
Santa Rita que abençoasse seu amor, sua união.
    Depois de mais alguns minutos ali, Jaraguá e São Miguel decidiram
sair da capela; andaram de mãos dadas, a lua parecia abençoar la de cima
aquele amor.
O jovem casal entrou novamente pela porta da sala, estavam sozinhos ali;
Jaraguá deixou o namorado à sua espera e foi a o banheiro. Jamais
poderia imaginar que uma simples ida à casa do namorado iria resultar em
uma das piores experiências que ela poderia ter; uma experiência cruel
para seu coração de adolescente.
    - Vamos jantar, minha irmã; por favor, São Miguel já deve estar lá
na sala com a namorada! - a voz auterada de Concórdia chamou a atenção
de Jaraguá, que estava no corredor; aquilo parecia ser uma discução, e por mais que tivesse medo
do que poderia acontecer, a garota ficou ouvindo:
— Eu posso até ir - respondeu Brusque -, eu vou porque eu não quero magoar o meu
filho; mas eu não vou permitir que ele cometa o mesmo erro que eu
cometi, eu não quero essa menina na vida do meu filho e vou fazer tudo o
que eu puder pra evitar!
Naquele momento, a menina teve a pior certeza que poderia ter; não era
bem vinda naquela casa e não ficaria ali nem mais um minuto. Não teve
dúvidas; deu meia volta e foi para junto do namorado novamente.
— São Miguel, eu preciso ir embora! - comunicou Jaraguá tentando conter
as lágrimas, parada no meio da sala:
— Como assim, amor? - questionou o garoto -, calma, está tudo bem!
— Não, não está tudo bem! Sua mãe e sua tia estão discutindo, eu ouvi
quando sua mãe disse que ela não me quer na sua vida e vai fazer de tudo
pra impedir que você cometa o mesmo erro que ela cometeu! Me deixa ir
embora, por favor!
São Miguel não soube o que dizer; se levantou, e com mais alguns passos
se aproximou da amada; a abraçou:
— Eu só quero que você saiba - concluiu Jaraguá -, eu só quero que você
saiba que eu te amo muito, e que tudo isso que a gente prometeu na
capela aos pés de Santa Rita, tudo isso está valendo! Eu só não vou
conseguir ficar aqui! Fala pra sua tia que eu gostei muito dela, diz que
eu agradeço por tudo!
— Eu vou pedir pra ela te levar...
— Não, não! Eu pego um taxi, não estou tão longe de casa, fica
tranquilo! Se for o caso eu ligo pra minha irmã!
Jaraguá deixou a casa do namorado; e enquanto andava pela rua em busca
de um ponto de taxi, tentava juntar novamente os cacos que restaram
daquele sonho, o sonho de viver seu primeiro amor com alegria, com a felicidade que ela merecia.
A rua estava deserta naquela noite, e a única saída que a jovem
encontrou foi parar em uma pousada que havia perto da casa dele e pedir
quelhe chamasse um taxi.
A garota precisou esperar alguns minutos até que o taxi chegasse; e
quando finalmente conseguiu embarcar, pediu apenas que o motorista a
levasse até o Beira-mar Shopping, bem próximo de sua casa. Fez esse
pedido a o taxista, depois simplesmente desabou no banco de trás; ele,
enquanto dirigia, se perguntava o motivo pelo qual a garota estava
chorando.
    - Chapecó, meu celular, pode ser a minha irmã! - Joinville se soltou do abraço e das
mãos da namorada; as duas estavam sentadas na cama e a futura
arquiteta sentia que precisava atender aquele telefonema. Pegou o
aparelho no criado mudo e constatou que a ligação vinha mesmo do celular
de Jaraguá:
— Mana - Joinville atendeu -, está tudo bem?
— Joinville - Jaraguá respondeu do outro lado -, eu preciso de você,
mana!
— O que foi que aconteceu, Jaraguá? Você não está bem?
— Eu estou aqui no shopping, vim de taxi até aqui, eu preciso que você
venha me buscar!
— Eu vou, é claro que eu vou! Em que lugar do shopping você está?
— No primeiro piso, em frente à aquela loja que a gente veio comprar os
presentes hoje a tarde!
— Fica aí, mana; eu estou indo agora te buscar, não sai daí!
Joinville soltou o celular, seu rosto agora carregava uma expressão
preocupada:
— O que foi? - quis saber Chapecó, ficando em pé ao lado da
namorada:
— Aconteceu alguma coisa com Jaraguá; está no shopping, me ligou
chorando, eu vou até lá!
— Calma, Joinville; eu vou com você! A gente só precisa avisar a sua
mãe...
— Não, por enquanto não; eu converso com a minha mãe depois, antes eu
preciso tirar minha irmã de lá!
As duas saíram do quarto, Joinville carregava uma pequena bolsa e a
chave do carro, e Chapecó, ao seu lado, levava apenas o celular:
— Posso saber aonde é que as duas pensam que vão? - a pergunta veio de
Palhoça, que vinha da cozinha com um prato com dois pedaços de bolo de
chocolate:
— Mana - respondeu Joinville -, aconteceu alguma coisa com Jaraguá!
— Tipo o quê?
— Ela me ligou agora do shopping, chorando, eu estou indo pra lá!
— Eu vou com vocês...
— Não, mana, eu ainda não sei o que aconteceu; primeiro eu preciso me
certificar de que ela está bem, trago ela pra casa e depois vocês
conversam, a gente cuida dela! Eu não vou avisar a mamãe por enquanto, se ela perguntar você
diz que a gente saiu pra dar uma volta; primeiro eu quero saber se
Jaraguá está bem!
— Então tá, né! Fazer o quê? Vou ficar lá na sala, qualquer coisa me liga!
Palhoça viu a irmã sair com a  namorada pela porta da cozinha, enquanto
fazia a si mesma a pergunta que não queria calar naquele momento. O que
teria acontecido com Jaraguá?
    Concórdia entrou no quarto do sobrinho e o encontrou sentado na
cama, pensativo. Ela parecia andar a um palmo a cima do chão, se
aproximou e se sentou à beira da cama do garoto:
— E minha mãe, tia? - murmurou ele:
— Ela está deitada no quarto dela; tomou um comprimido pra dor de cabeça
e está lá relaxando!
— Como é que vai ser agora, tia? Eu não posso acreditar que a minha
mãe...
— Meu amor, eu concordo com você; sua mãe extrapolou, mas ela quer o
melhor pra você; do jeito torto dela mas é isso que ela quer!
— Eu amo Jaraguá, tia!
— Eu sei, meu menino, eu sei! Mas não confronta sua mãe, não agora;
vocês dois estão de cabeça quente, conversem amanhã!
O garoto, olhando fixamente para aquela tia que era sua melhor amiga,
tinha um sorriso no rosto mas seus olhos diziam o contrário:
— Posso dormir na sua casa, tia?
— Pode - ela respondeu -, é claro que pode! A gente pode dar uma volta
por aí, a noite está bonita, conversamos até a hora que você quiser! Eu
sei que você está passando por um momento difícil, mas eu te juro que
tudo vai se resolver!
— Você é a melhor tia do mundo, sabia?
— E mesmo que eu fosse a pior, eu sou a única tia que você tem, garoto!
E os dois caíram na gargalhada e se abraçaram em seguida.
    Quando ligou para Joinville, Jaraguá estava parada em frente à uma
loja, a mesma loja na qual esteve a tarde comprando os presentes para
sua mãe. Permaneceu ali, em pé, esperando pela irmã que viria buscá-la.
Tantas pessoas circulavam pelo shopping naquele sábado a noite, e
A menina se perguntava se alguém ali já havia passado por isso:
— Jaraguá! - a voz de Joinville soou diferente para ela, e naquele
momento, seus medos, suas dúvidas, sua insegurança caiu por terra, seu
porto seguro estava ali.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Estado de amor e de sonhos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.