Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 25
CAPÍTULO25




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    - Aconteceu alguma coisa, gente? - perguntou Joinville enquanto se
ajeitava confortavelmente na cama da irmã caçula; foi Palhoça quem
respondeu:
— Aconteceu que não vai ter jeito; Jaraguá vai ter que enfrentar a fera,
maninha!
— Que fera, Palhoça? Que é isso?
— A sogra dela, ora bolas!
Os olhos de Joinville encontraram Jaraguá:
— Sério, mana? Você vai conhecer a mãe dele? Me conta isso direito!
— Ele me convidou pra ir lá no sábado a noite, Joinville; eu já estava
nervosa com essa história, e agora Palhoça me diz que a mãe dele é
simplesmente insuportável!
— Palhoça, eu mato você! - exclamou Joinville em tom de brincadeira
enquanto encarava a irmã:
— Eu tinha que prevenir a nossa irmã, Joinville, não me mata...
— Mas não é assim, criatura; Jaraguá vai conhecer a família do namorado,
é a primeira vez que ela vai passar por isso, é um momento especial!
— E se a mãe dele não for com a minha cara, gente?
— Jaraguá - Joinville pousou calmamente uma das mãos na perna esquerda da irmã -,
em primeiro lugar, calma; sofrer por antecipação não está com nada! E em
segundo lugar, não tem razão nenhuma pra mãe dele não ir com a sua cara
e você sabe disso! Você sempre se deu bem com todo mundo, sempre foi a
mais simpática de nós quatro!
Jaraguá deu uma olhada em volta como se procurasse algo; seus olhos
encontraram Palhoça, depois Joinville:
— Gente - declarou ela -, vocês duas são as melhores irmãs do mundo;
Joinville, você tem razão; não adianta eu ficar preocupada com isso
agora! Vamos conversar sobre o dia das mães que é a nossa prioridade!
E as três irmãs puzeram-se a conversar sobre o próximo domingo, dia das
mães. Ficou combinado que no sábado, as quatro meninas iriam no shopping
acompanhadas pelo pai para escolher o presente.
    Palhoça, aos dezesseis anos de idade, sempre levou a vida com
alegria, não levava absolutamente nada a sério, nem mesmo os estudos.
Ficar dentro de casa com a cara enfiada nos livros nunca fez o tipo
dela, já havia passado por muitos sufocos por causa disso mas não abria
mão de sua vida de estudante repleta de sufocos e aventuras.
    Era sexta feira; Palhoça entrou na sala de aula já sabendo o que
iria acontecer; sairia daquela sala sabendo o resultado da terrível
prova de matemática que fez no início da semana. A menina olhou por um
instante a professora, sentada atrás da mesa, Brusque; era linda, era
aquela de quem a escola toda tinha medo, e veio a ser a sogra de sua
irmã.
A classe toda estava em silêncio, ninguém arriscava um "pio" enquanto a
professora andava pela sala, entregando as provas. Palhoça pegou a sua e
respirou fundo antes de ver a nota; quase deu um grito de horror quando
percebeu a gravidade da situação:
— Um e meio - dizia a garota, baixinho para si mesma -, caramba, acho
que me ferrei de vez! Agora que minha mãe me mata!
O tempo parecia não passar; e quando o sinal finalmente bateu para o
recreio, Palhoça saiu correndo da sala, sem coragem para encarar a
professora. Logo juntou-se a um grupo de meninas da classe e começaram a
conversar; ela sempre fora popular, tinha muitas amigas na escola.
    Já estava quase na hora de voltar pra sala de aula; Palhoça andava
pelo pátio meio sem rumo, quando foi abordada por uma garota que havia
começado a estudar em sua classe a umas duas semanas:
— Oi! - cumprimentou a menina meio tímida:
— Oi - ela respondeu sem demora e com um lindo sorriso -, tudo bem?
— Tudo bem; você é Palhoça, não é?
— Sou; e você é Itapema!
— Sim; você foi bem na prova?
— Pior que não, menina, tirei um e meio, é agora que minha mãe me
esfola viva; eu não tenho culpa se aquela professora é a insuportável das
insuportáveis! E por azar ela é sogra da minha irmã mais nova!
— Sua irmã namora o filho dela?
— Namora! Você conhece ele?
— Conheço; eu estudava em outra escola, ele também estudava lá até algum
tempo atrás!
O sinal bateu:
— Vamos? - convidou Palhoça puxando a nova amiga pela mão:
— Vamos! - concluiu ela.
Itapema estudava naquela escola a duas semanas e ainda não tinha amigos
por lá; conversou com a colega de classe pela primeira vez e simpatizou
com ela. Nunca foi muito estudiosa, mas não levava tudo na brincadeira
como sua nova amiga; as duas passariam a conversar todos os dias, se
tornariam confidentes em pouco tempo.
    As duas últimas aulas passaram como um raio, e logo era hora de
voltar pra casa. Palhoça saiu da escola com a irmã, e seu pai estava ali, dentro do
carro à sua espera; ele parecia tranquilo, e a primeira pergunta que ele
fez a o colocar os olhos na filha foi sobre a prova, se ela já sabia
o resultado:
— Fui bem, pai! - foi a única coisa que ela conseguiu responder:
— Oi, pai! - agora Jaraguá entrelaçava os braços no pescoço dele:
— Oi, filhota, tudo bem?
— Tudo legal!
As duas entraram no carro, e enquanto São José dirigia até o prédio onde
vivia com a família, Palhoça pensava em um jeito de esconder dos pais a trágica prova
de matemática. As janelas do carro estavam fechadas, a manhã estava
muito nublada, havia chovido muito no dia anterior e durante a noite.
    Enquanto o pai dirigia, a menina tirou a prova da mochila e começou
a ler; estava sozinha no banco de trás, Jaraguá estava no banco do
carona ao lado de seu pai.
Como teria que voltar à empresa dali a algum tempo, São José deixou o
carro estacionado em frente a o prédio, só que do outro lado da rua;  as meninas
desembarcaram, Palhoça atravessou a rua correndo com a terrível prova de matemática na
mão, e quando chegava perto do meio fio, olhou pra trás:
— Cuidado, Palhoça! - Jaraguá gritou tentando evitar o que não podia
mais ser evitado; Palhoça ccaiu em uma possa d'água. Nunca ficou tão
feliz por ter levado um tombo; a  prova que estava
dobrada em sua mão, ficou totalmente debaixo d'água.
    - Filha, filha! - São José se aproximou da garota, ainda caída no
chão; e antes que o pai visse o papel debaixo d'água, ela usou a
primeira ideia que teve naquela hora:
— Pai, acho que torci o pé!
— Ela caiu de mal jeito, pai - observou Jaraguá, prestativa -, me dá sua
mochila, mana!
Na verdade, Palhoça não estava sentindo nada, mas precisava sair dali o
quanto antes e evitar que o pior acontecesse e seu pai visse o papel na
possa d'água e tivesse a temida ideia de pegá-lo; foi carregada por ele até
o apartamento.
    - Você não está machucada, menina? - Jaraguá não entendeu nada ao
abrir a porta do quarto de Palhoça e encontrá-la em pé, minutos depois
de terem chegado da escola e almoçado:
— Fala baixo, criatura; entra e fecha a porta!
Jaraguá obedeceu; entrou, fechou a porta e caminhou até sua irmã:
— Eu não torci o pé, Jaraguá!
— Não?
— Não; eu só disse que tinha torcido o pé porque eu tinha que sair
rápido de lá!
— Agora que eu não entendi mais nada! Ah, Palhoça, o que foi que você
aprontou dessa vez?
— Maninha, seguinte! Hoje saiu o resultado daquela maldita prova de
matemática, que inclusive foi a sua querida sogra quem inventou! Eu tirei um e
meio na prova; quando a gente saiu do carro lá em baixo, eu estava com a
prova na mão mas o papai não viu; eu caí na poça e a folha ficou
totalmente debaixo d'água; eu tinha que sair rápido dali antes que ele
visse a prova lá!
— Palhoça - Jaraguá agora estava irritada -, você vai ter que levar essa
prova assinada na segunda feira, criatura!
— Eu sei; só que agora a prova não existe mais e ninguém vai descobrir!
— O que é que ninguém vai descobrir, Palhoça? - a menina quase caiu
dura no chão; a pergunta de sua mãe misturava-se a o barulho da porta do quarto
se abrindo:
— Eu te fiz uma pergunta, Palhoça; que prova não existe mais? O que é
que ninguém vai descobrir?


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