Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 23
CAPÍTULO23




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/742293/chapter/23

    - Está mais calma? - perguntou Chapecó enquanto se agachava junto à
banheira redonda de seu quarto; Joinville parecia mais tranquila, estava
deitada, coberta de espuma:
— Estou; você não poderia ter tido ideia melhor!
— Deixei a água esquentando lá na cozinha pro nosso chá; daí eu trago
aqui pra cima, a gente fica ali na cama conversando até a hora que você
quiser! Mas e seu pai, como está?
— Se fazendo de forte; mas no fundo a gente sabe que não é bem assim;
meu pai sempre foi um homem sensível, um homem que não tem vergonha de
chorar, só que ele está se fazendo de forte por causa da minha mãe!
— Já tem alguma previsão de quando ela vai receber alta?
— Talvez amanhã, se tudo correr bem durante essa noite! Amanhã de manhã
ela vai fazer um ultrassom pra ver o bebê, e dependendo do resultado ela
vai ser liberada, ou a médica vai mantê-la internada até domingo!
— Já está dando tudo certo, meu amor! Se o sangramento já parou, se ela
fez o ultrassom hoje e o bebê estava bem, eu tenho certeza que tudo vai
acabar dando certo!
— Mas é Blumenau quem me preocupa agora; infelizmente, Chapecó; se minha irmã tirar algum aprendizado dessa
história, vai ser pela dor!
— Eu vou lá preparar o nosso chá, trago a bandeja com as xícaras aqui
pro quarto e te trago a toalha! Fica o tempo que você quiser
aí, daqui a pouco eu volto aqui com você!
— Eu deixei uma frasqueira outro dia aqui no seu armário...
— Já arrumei tudo pra você, deixei em cima da cama; camisola,
idratante, tudo o que você precisa está ali te esperando!
    Na manhã seguinte, conforme havia prometido, Lages foi levar a
afiliada até o hospital com o namorado; o rapaz parou em uma
floricultura, comprou dois buquês de rosas, um para a namorada e outro
para sua sogra.
Florianópolis foi submetida a um ultrassom naquela manhã e foi liberada
em seguida. Precisaria tomar um medicamento durante alguns dias para
segurar o bebê e fazer repouso absoluto.
    Quando chegou em casa naquela manhã de sábado, Joinville se encheu
de coragem e decidiu tentar conversar com a irmã mais velha. Bateu na
porta do quarto, chamou por Blumenau; e ficou surpresa quando a irmã
resolveu abrir. Ela estava pálida, sem se alimentar desde o dia anterior
e parecia não ter dormido. Joinville fechou a porta atrás de si e foi
com a irmã até a cama:
— Está feliz? - perguntou Blumenau com os olhos fixos na irmã; sua
revolta era visível:
— não, Blumenau - respondeu calmamente Joinville -, não estou feliz!
— Você deve estar feliz com essa descoberta; porque afinal de contas...
— Vamos parar por aí, minha irmã! Eu não sei se você sabe, mas a nossa
mãe acabou de chegar do hospital e está na cama dela em repouso
absoluto; ela teve uma ameaça de aborto!
— A mamãe?
— Sim; mas ela está bem, o bebê está bem! Eu só vim aqui te dizer duas
coisas! A primeira é que eu te amo muito apesar de tudo; e a segunda,
bem, eu quero te dizer que pra mim nada vai mudar com essa descoberta;
eu te falo isso em meu nome e em nome das nossas irmãs, eu sou a irmã
mais velha depois de você!
— Elas já sabem?
— Já, elas já sabem desde ontem a noite!
— E como é que elas reagiram?
— Jaraguá reagiu bem, disse que pra ela também não vai mudar nada; e
Palhoça, bem, sempre feliz, brincando com todas as situações possíveis,
reagiu bem também!
— Eu nunca imaginei uma coisa dessas, Joinville; eu sempre soube que ele
casou com a nossa mãe quando ela já estava grávida mas nunca pensei que fosse
assim, nunca pensei que ele não fosse meu pai!
— Ele te ama, Blumenau!
— Eu sei, mana, eu não tenho dúvidas disso! Eu só preciso de mais um
tempo; um tempo pra colocar a minha cabeça no lugar, sabe!
— Eu acho que no seu lugar eu faria a mesma coisa; se você precisar de
alguma coisa pode me chamar, eu não vou sair de casa, vou ficar com a
nossa mãe e com vocês!
— Joinville, diz pra ela que eu amo muito ela, que eu só preciso de
tempo!
— Eu falo, pode deixar que eu falo!
Joinville deixou o quarto da irmã mais aliviada; apesar de tudo,
Blumenau estava se mostrando forte.
    - Seu chá, mãe! - Jaraguá entrou no quarto da mãe com o mais lindo
sorriso, um vestidinho lilás e os longos cabelos soltos deslisando até a
cintura; trazia uma xícara de chá, que entregou para a mãe:
— Está bem: - perguntou a menina:
— Estou, minha querida - respondeu Florianópolis sem perder o contato
visual com sua filha -, um pouco de dor de cabeça mas isso é só
consequência de uma noite no hospital!
— Eu vou deixar você tomar o seu chá e descansar; vou ficar lá na sala,
qualquer coisa você me chama?
— Chamo sim, filha; obrigada!
Jaraguá andou de vagar até a porta do quarto dos pais, e antes de sair,
ainda olhou pra trás e sorriu para sua mãe, que lhe sorriu de volta.
    Era segunda feira; faziam três dias que Blumenau havia descoberto
que não era filha de São José, e aquele homem nunca precisou ser tão
forte em toda sua vida. Sua mulher ainda de repouso por causa da ameaça
de aborto que teve, a filha mais velha que desde o dia em que descobriu
a verdade que envolvia seu nascimento, não conseguiu mais olhar para o
pai que lhe criou.
    Blumenau conseguiu abrir os olhos depois de muita luta; estava
chorando, ainda conseguia ver a expressão de fúria do homem que esteve
em seu sonho, ou melhor, no pesadelo do qual acabara de acordar. O homem que a jovem viu
seria mesmo seu pai biológico? Ela não sabia responder; só lembrava do
ódio nos olhos dele, do peso de sua mão; enquanto ele batia nela, dizia
que era seu pai biológico e que ela foi a pior coisa que lhe aconteceu.
    Já passava de uma da manhã; São José, deitado ao lado da esposa,
velava seu sono enquanto mil coisas giravam em sua mente; a televisão do
quarto estava ligada em um volume baixo, transmitindo um filme
qualquer:
— Pai! Meu pai! - Blumenau entrou chorando desesperada no quarto dos
pais, de camisola cor de rosa, descalça e os cabelos desalinhados:
— Filha! - foi a única coisa que São José teve tempo de dizer, antes que
sua menina praticamente se jogasse na cama, abraçando-se a ele como se
quisesse esconder-se de algo ou de alguém. Ele a recebeu, tentando
disfarçar que também estava chorando; e percebeu que por mais que
Blumenau tivesse crescido e se tornado uma linda moça, ela ainda cabia
perfeitamente no colo do pai que lhe deu o nome, que lhe deu amor. Ela
já o havia chamado de pai por tantas vezes, mas naquela noite, bem,
naquela noite soou diferente das outras vezes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Estado de amor e de sonhos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.