Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 20
CAPÍTULO20




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    - Cadê ela, Márcia? - durante aqueles vinte e um anos de
convivência, Márcia jamais havia visto São José tão atordoado; ele
entrou em casa pela porta da cozinha, soltou as chaves e a pasta no primeiro móvel
que viu pela frente, perguntando pela esposa:
— Ela está no quarto, doutor - respondeu a fiel escudeira da família -,
ela disse que é pouco mas tem sangramento!
— Ah, meu Deus! - exclamou ele enquanto saía apressado da cozinha; cada
segundo era precioso para aquele pai de família.
    - Meu amor! - Florianópolis ouviu essas duas palavras tão pequenas,
mas que foram capazes de lhe confortar como nunca; seu marido agora
entrava no quarto, apressado, atordoado. Sem saber ao certo o que
deveria fazer, São José sentou-se à beira da cama de casal de seu
quarto e segurou a mão de sua mulher; levou-a aos lábios e beijou-a
levemente:
— Blumenau já sabe - revelou Florianópolis -, ela já sabe que... em fim,
a mais ou menos meia hora ela entrou aqui no nosso quarto pra pegar um
livro no meu criado mudo, abriu a última gaveta e encontrou o exame!
São José parecia desolado, o que ele mais temia aconteceu. O amor que
ele sentia pela filha mais velha era tão intenso, que o fato dela não
ter seu sangue tornou-se insignificante para ele:
— Eu não posso acreditar! Meu Deus, fui eu quem guardei esse exame aqui
no seu criado mudo; eu encontrei o envelope outro dia no escritório,
Blumenau vira e mexe resolve estudar lá e eu fiquei com medo...
— Eu estou com medo, meu marido - a mãe de família agora chorava deitada
na cama, sem perder o contato visual com seu homem -, eu estou com medo
por dois dos nossos filhos agora; por Blumenau e por esse que eu tenho aqui! Eu
estou perdendo o bebê...
— Não, minha querida, não vai acontecer nada disso; Deus abençoou a
gente quatro vezes, ele não vai dizer não pra gente dessa vez;
você ficou nervosa, a gente vai pro hospital, a doutora Ana vai dizer
que está tudo bem e vai dar tudo certo!
— Liga pra ela; liga pra minha médica e me leva pro hospital, por favor!
— Eu vou pedir pra Márcia vir aqui te ajudar; você troca de roupa, eu
vou ligar pra doutora!
    Florianópolis sentia medo por Blumenau, pelo filho que estava dentro
dela, e também por suas três meninas que estavam fora de casa naquela
hora e teriam que se adaptar a tantas mudanças quando chegassem em casa.
Enquanto Márcia a ajudava a trocar de roupa, a mãe de família pediu que
ela ficasse ali, esperasse por Palhoça, Jaraguá e Joinville e fizesse
companhia a elas. O casal seguiu para o hospital logo depois; a renomada
médica Ana Luisa estaria a espera deles.
    - Fiquei orgulhosa de ver vocês duas ensaiando! - o comentário era
de Joinville, que estava no elevador com as duas irmãs mais novas,
chegando com elas em casa:
— Você ficou quanto tempo lá assistindo o ensaio? - quis saber Jaraguá:
— Uns dez minutos; mas eu fiz de propósito, fui mais cedo pra ver o
grupo de teatro de vocês!
— Eu acho que agora eu descobri o que eu gosto de verdade! - Palhoça
sorriu ao fazer essa afirmação:
— Você tem talento pra coisa, minha irmã! Todo mundo tem talento pra
alguma coisa, o seu é a interpretação, o teatro!
E as três entraram em casa nesse clima descontraído; Joinville achou
estranho que Márcia ainda estivesse no apartamento à aquela hora:
— Marcinha, vou lá dar um oi pra minha mãe! - Jaraguá já saía correndo
da cozinha em direção a o corredor:
— Jaraguá minha querida - a fiel escudeira da casa a impediu,
estendendo-lhe a mão no ombro -, a mãe de vocês não está em casa; ela
pediu que eu ficasse aqui e esperasse por vocês!
— Qual foi a bomba dessa vez, hein, Marcinha? - quis saber Palhoça
enquanto afundava o corpo em uma das cadeiras estofadas da cozinha;
Márcia olhou nos olhos da menina, enquanto Jaraguá e Joinville
observavam aflitas aquela cena e esperavam pela resposta dela:
— A mãe de vocês teve sangramento; foi pro hospital a mais ou menos meia
hora!
Eram três rostos com a mesma expressão de preocupação:
— Essa não! - Palhoça parecia desolada com o que acabara de ouvir:
— Márcia, minha mãe perdeu o bebê? - a pergunta veio de Jaraguá:
— Acho que não, meu amor; ela teve um sangramento mas foi muito pouco!
— Eu vou pra lá! - determinou Joinville nervosamente, voltando a pegar a
chave do carro:
— Eu vou com você! - reagiu Jaraguá:
— Mana - a futura arquiteta agora abraçava a irmã mais nova para
conversar com ela -, é melhor você e Palhoça esperarem aqui! Eu vou pro
hospital pra ver como estão as coisas por lá, e se Deus quiser e ele há
de querer, isso não vai passar de um susto! Daí eu prometo que venho te
buscar, combinado?
— Fazer o quê? Combinado!
—  Márcia, e Blumenau?

— Está trancada no quarto dela!
— Ela já sabe?
— Eu tentei avisar mas ela não abre a porta pra ninguém!
— Blumenau bem que podia facilitar a nossa vida! Bem, gente, eu vou pro
hospital; Jaraguá, Palhoça, vocês fiquem bem, fiquem aqui com a Márcia
que daqui a pouco eu volto trazendo uma notícia boa, se Deus quiser!
Joinville saiiu pela porta da cozinha, deixando as irmãs mais novas com
a fiel escudeira da família.
    - E agora? - perguntou Palhoça encarando a irmã -, o que é que a
gente faz?
— Eu acho melhor a gente fazer o que Joinville falou mesmo, mana -
respondeu Jaraguá -, ela agora vai lá, vê a mamãe e vai dar tudo certo!
Márcia, que ouvia a conversa das irmãs, decidiu intervir:
— Meninas, tentem ficar tranquilas! Eu tive sangramento quando estava
grávida da minha filha mais nova, e hoje ela é forte, saudável, linda;
tudo isso não vai passar de um susto, podem ter certeza! Tentem relaxar,
a mãe de vocês não ia gostar nada se soubesse que vocês ficaram assim
nervosas!
— A Marcinha tem razão - concluiu Palhoça -, é melhor a gente tentar
relaxar e esperar mesmo! Jaraguá, vamos pra sala ver um filme!
    Palhoça e Jaraguá decidiram tentar enfrentar aquele momento da
melhor forma possível; de nada adiantaria sofrer por antecipação, as
duas foram pra sala, colocaram um bom filme e se sentaram no tapete.
Márcia apareceu minutos depois, com a pipoca e se sentou com as meninas;
trabalhava naquela casa a mais de vinte anos, evitava aquele tipo de
comportamento na presença dos patrões embora fosse muito querida por
eles, mas Palhoça e Jaraguá precisavam dela.
    Joinville chegou no hospital e pediu informação sobre a mãe na
recepção. Quando já se aproximava do quarto onde Florianópolis estava
internada, a moça encontrou-se com o pai no corredor; os dois quiseram
apenas abraçar um a o outro:
— Pai, porque é que você não me ligou?
— Foi muito rápido, minha filha; eu não tive tempo pra nada!
— E como é que ela está?
— Dormindo; foi atendida rapidamente, o bebê está bem, a gente ouviu o
coraçãozinho dele e tudo!
Os dois se soltaram do abraço e seus olhos se encontraram; São José, sem
saber se estava agindo certo, pegou a filha pela mão e a levou até a
sala de espera. Os dois se sentaram, e sem soltar a mão da filha, o pai
de família começou a falar:
— Joinville, eu tenho uma coisa pra te contar! Eu e sua mãe havia-mos
decidido que nunca ninguém ia saber disso, mas hoje Blumenau acabou
descobrindo!
— Descobrindo o que, pai? Você está me assustando com isso!
— Calma, filha, calma! Acontece que... bem... a vinte e um anos atrás
quando eu e sua mãe nos casamos, ela já estava grávida de Blumenau!
— Disso eu sei, pai! Ela sempre conta que enjoou pra caramba quando
vocês viajaram pra lua de mel!
— Joinville, Blumenau é sua irmã, filha, mas só por parte de mãe!
— Como assim, pai? Você está me dizendo que...
— Eu não sou o pai biológico dela, meu anjo; eu assumi Blumenau,
registrei como filha, amei e amo do mesmo jeito que eu amo você, Jaraguá
e Palhoça, mas ela não é minha filha de verdade!


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