Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 18
CAPÍTULO18




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    Era uma linda manhã de sexta feira; Florianópolis e São José
sentaram-se à mesa de café da manhã, posta com muito zelo por Márcia,
com três de suas meninas;  Blumenau, Palhoça e Jaraguá, que iriam em
seguida para a escola acompanhadas pelo pai. Blumenau passaria aquele
dia em casa, só teria que ir a noite para a universidade como fazia
todos os dias.
    - Bom dia, família! - o cumprimento de Joinville veio acompanhado de
um lindo sorriso; todos responderam ao mesmo tempo mas a surpresa veio
em seguida. Chapecó surgiu na sala, ao lado da namorada, usando a mesma
roupa da noite anterior:
— Bom dia, gente! - ela disse com um sorriso discreto; Blumenau, sentada
ao lado de seu pai, soltou a xícara na mesa, agora sua expressão era de
espanto, quase de fúria:
— Você dormiu aqui? - a futura advogada agora encarava Chapecó, parecia
devorá-la com os olhos:
— Dormi! - ela respondeu com serenidade, como quem fala sobre a coisa
mais natural do mundo.
O olhar de Blumenau encontrou Joinville:
— Joinville, eu só não quero que você se esqueça de uma coisa; nós somos as
irmãs mais velhas aqui nessa casa, Jaraguá e Palhoça precisam de
exemplo, de bom exemplo!
— O que é que você está querendo dizer com isso, minha irmã?
— Eu não posso impedir que vocês duas deitem e rolem na rua, no flat,
dentro do carro, no elevador, aonde vocês quiserem; mas aqui dentro de casa, se eu
puder impedir essa pouca vergonha eu impeço!
— Pouca vergonha por que, Blumenau? Porque nós ficamos conversando ontem
até tarde e Chapecó resolveu passar a noite aqui comigo?
— Meu amor, não descute - tentou Chapecó nervosamente -, olha, eu vou
pro flat, depois a gente conversa...
— Você não vai pra lugar nenhum enquanto não ouvir tudo o que eu tenho
pra te dizer! - Blumenau agora estava em pé, furiosa, olhando a cunhada
nos olhos:
— Filha, para com isso! - interveio Florianópolis, sem sucesso:
— Olha aqui, Chapecó! Eu já te falei isso uma vez na universidade e vou
falar de novo! Eu conheço a fama que você tem, eu sei que Joinville não
deve ser o único caso que você tem por aí; e se alguma coisa acontecer com a
minha irmã, eu juro que eu destruo a sua vida, eu movo céus e terra mas
varro você das nossas vidas...
— Chega, Blumenau! - a ordem agora veio de São José; a moça se sentiu
totalmente desarmada pela voz autoritária do pai. Parou o que estava
dizendo e olhou para ele:
— Você não vai fazer esse tipo de cena aqui em casa - continuou o pai
—, a gente já falou sobre isso, Blumenau; você não tem o direito de
decidir o que vai ou não vai acontecer aqui dentro porque o chefe dessa
família ainda sou eu!
Ela se sentou novamente, ao lado do pai:
— Você nunca falou comigo nesse tom, pai...
— Pode ter certeza que dói mais em mim do que em você; mas eu exijo que
você respeite a sua irmã e a sua cunhada aqui dentro! Agora termine seu
café, e quanto a vocês, Joinville, Chapecó, sentem-se e fiquem a
vontade; Chapecó, essa casa não deixa de ser sua também!
Em cada rosto que estava ali, era possível perceber uma expressão de
preocupação. Blumenau agora estava sentada novamente, as palavras de seu
pai a desarmaram completamente.
Depois daquela discussão, Chapecó tomou café ao lado da namorada e da
família dela, depois decidiu que era melhor voltar ao seu
apartamento; São José saiu minutos depois levando as filhas para a
escola, Blumenal decidiu andar um pouco na praia, e Joinville, bem,
Joinville permaneceu ali, sentada junto à mesa ainda posta com sua mãe.
    Chapecó entrou em casa e deixou as chaves do carro e o celular na
bancada; ainda estava com a bolsa, mas ao prestar atenção à sua volta
percebeu que havia alguma coisa errada. Não lembrava de ter deixado uma
xícara suja em cima da pia, a cafeteira na tomada. Percebeu que alguém
havia estado ali, ou será que ainda estaria?
    Subiu a escada caracol que a levaria até seu quarto, e quase caiu de
costas quando viu o que viu, ou melhor, quem viu:
— Itajaí! - a voz de Chapecó era de espanto, seu rosto agora tinha uma
expressão assustada, uma ex-namorada em sua cama, envolvida nos lençóis
e sorridente como estava era tudo o que ela não precisava naquele momento:
— Bom dia, meu amor!
— Como é que você entrou aqui?
— Você lembra de uma vez, aqui mesmo nesse quarto que você me deu a
cópia das chaves do seu apartamento? Eu sempre guardei essas chaves
comigo, eu tinha certeza que eu ia precisar delas um dia! Eu passei a
noite aqui, te esperando! Joinville não veio com você não?
— Itajaí, eu não posso permitir que você...
— Você não vai me colocar pra fora da sua vida de novo...
— Você disse bem, eu não vou te colocar pra fora da minha vida porque
você já está fora dela desde o dia que resolveu colocar um detetive
atrás de mim!
— Eu fiz por amor, tudo o que eu fiz foi por amor e você não pode me
condenar por isso!
    Chapecó deu alguns passos à frente e se sentou na cama; ela agora
estava muito próxima da ex-namorada, que continuava deitada na cama:
— Itajaí - sua voz agora era calma, reconfortante -, eu já te falei isso
várias vezes e vou repetir! Isso que você sente não é amor, não pode ser
amor! O amor acalma a gente, faz a gente sossegar, serenar; por isso que
eu acho que o que você sente não pode ser comparado a o amor!
— De engenheira civil virou psicóloga agora?
— Eu estou falando sério, Itajaí; eu estou falando sério quando digo que
o que você sente...
— E eu também estou falando sério quando digo que eu amo você; que eu
voltei pra reaver aquilo que eu perdi a dois anos atrás e eu vou reaver,
pode ter certeza que sim! Eu fiquei a noite toda aqui nessa cama,
assisti o mesmo filme na minha cabeça milhões de vezes, o filme da nossa
vida, Chapecó; e eu sabia o tempo todo que enquanto eu estava aqui,
sozinha nessa cama, você estava lá, na casa, no quarto dela! E falando
em Joinville, me diz uma coisa, ela veio depois de mim?
— De certa forma sim! Faz pouco tempo que a gente está namorando; claro
que depois que você foi embora eu curti, aproveitei muito, mas ela foi
meu primeiro relacionamento sério depois de você!
— Eu aposto como ela nunca tinha namorado antes!
— Acertou; ela nunca tinha namorado!
— Ela tem cara de inoscente! Mas deve ser só a cara mesmo; porque pra
segurar uma mulher como você, tem que ter muita disposição! Eu duvido
muito que ela, com aquela cara de inoscente, tenha a disposição que eu
tinha!
— Você está sendo vulgar, Itajaí; vulgar e incoveniente!
— Tá bom, desculpa; esqueci que você é super discreta; esqueci que agora
o seu alvo são as moças de família, de preferência que nunca tenham...
— E agora, se você me der licensa, eu estou muito cansada, preciso tomar
um banho, trocar de roupa...
— Você, cansada? - Itajaí deu uma gargalhada ao fazer a pergunta:
— Eu já te falei que você está sendo vulgar; a gente não tem mais nada,
você não tem o direito de invadir a minha vida desse jeito e muito menos
a vida de Joinville! E eu vou te avisar só uma coisa; eu te conheço
muito bem, eu namorei nove meses com você e sei perfeitamente do que
você é capaz! Se eu souber que você aprontou qualquer coisa pra cima de
Joinville ou da família dela, eu não vou passar a mão na sua cabeça como
sempre aconteceu! Eu acho que o meu maior erro foi esse, Itajaí; eu
sempre te tratei como um cristal, fiz todas as suas vontades, passei a
mão na sua cabeça; mas agora chega!
— Você é feliz com ela?
— Como nunca fui antes! Eu agora tenho uma família, o destino foi tão
generoso comigo, mas tão generoso que me deu um amor e uma família, as
duas coisas ao mesmo tempo!
    Itajaí se levantou, agora estava em pé diante de Chapecó, com uma
camisola azul:
— Você pense o que você quiser, Chapecó; eu voltei pra retomar a minha
vida de onde eu parei e vou enfrentar o que for necessário pra
conseguir os meus objetivos!
— E um dos seus objetivos sou eu?
— É, exatamente! Eu vou me vestir e vou embora, tenho umas coisas pra
fazer, tenho prova na faculdade hoje a noite, você chama um taxe pra
mim?
— Chamo, chamo sim! E vou chamar também o chaveiro, que fique bem claro
isso! Na minha casa agora você avisa que vem e pede licença!
— Eu imaginei que você fosse fazer isso!
    O que Chapecó mais temia aconteceu; Itajaí estava pouco a pouco
adentrando sua vida novamente, e ela sabia que isso não seria bom.
Depois que a ex-namorada saiu do flat, Chapecó pegou o celular para
avisar Joinville que já estava em casa; ela não pegava o aparelho desde
a noite anterior, quando saiu de casa e esqueceu-o no criado mudo; encontrou ali duas chamadas de Camila. Ligou os
fatos na mesma hora; a enfermeira provavelmente viu quando Itajaí entrou
no apartamento.


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