Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 11
CAPÍTULO11




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    Blumenau estava sentada junto à mesa da sala, com os pais;
Florianópolis, sem saber como começar aquela conversa, olhou para o
marido, encarregando-o de fazer isso:
— Filha - começou ele, mansamente -, a gente precisa conversar com você;
é uma conversa séria mas que precisa acontecer!
— E pelas caras de vocês o assunto não é nada bom!
— Vai depender de você também! Acontece, Blumenau, que a gente está
preocupado com você, filha; a gente sabe que você sempre foi muito
prática, geniosa, que você nunca foi de demonstrar muito o que você sente e a
gente entende isso! Só que a maneira como você vem agindo com as suas
irmãs nos preocupa, meu amor!
— Quem foi que se queixou pra vocês?
— Ninguém se queixou, filha - interveio Florianópolis -, a Márcia ficou
preocupada e me alertou hoje de manhã; e eu não vou admitir nem que você
pense em ofender ou falar qualquer coisa pra Márcia por causa disso!
— Filha - continuou São José -, a gente quer saber aonde é que a gente
errou, aonde é que a gente está errando! Nós criamos você do mesmo
jeito, com o mesmo amor que nós criamos as suas irmãs, e nenhuma delas é
assim, meu anjo!
— Assim como? - irritou-se Blumenau:
— Ríspida, minha filha! Você tem sido cruel com as suas irmãs, será que
você não percebe que suas irmãs tem receio de chegar pra você, de
conversar com você? A Márcia ficou assustada com a forma como você acusa
Joinville, como se ela fosse culpada por preferir se relacionar com
mulheres! Eu e sua mãe não conseguimos entender de onde vem essa sua
atitude, filha! Me explica isso, ajuda a gente a entender!
— Eu tenho um nome a zelar, pai - reagiu Blumenau, já alterada -, eu
quero ser uma boa advogada, eu não quero uma pouca vergonha dessas na
minha família! Joinville carrega o meu sobrenome, é minha irmã; e por mais que você diga que não, pai, você sempre
protegeu Joinville como se ela fosse um cristal, vocês dois sempre
protegeram ela como se ela fosse um cristal! Mas ela não é um cristal, e
digo mais, a nora de vocês vai acabar jogando ela nos ares quando se
cansar, exatamente como ela sempre fez!
— Tudo bem, filha - falou a mãe -, mas você não precisa ficar jogando
isso na cara da sua irmã o tempo todo, você não precisa punir Joinville
o tempo todo pela escolha que ela fez!
    O silêncio tomou conta daquela sala; por alguns instantes, os três
permaneceram calados, como se procurassem um no outro as palavras para
continuar:
— Fala pra gente, filha - São José quebrou o silêncio -, aonde é que
a gente errou? Se em algum momento nós demos a entender que preferimos
Joinville como você acabou de dizer, eu peço em meu nome e em nome da
sua mãe que você perdoe a gente! Eu quero que você saiba que tudo o que
a gente fez nesses anos todos foi tentar acertar, a gente só quis
acertar!
— Vocês não erraram, pai - respondeu Blumenau, agora em um tom de voz
brando -, vocês não erraram! É mais forte do que eu, pai, eu tenho três
irmãs e uma cunhada, e essa cunhada está pouco a pouco ocupando o lugar
de irmã mais velha, principalmente com Jaraguá!
— Então assume o seu lugar, minha filha - falou a mãe -, se você acha
que Chapecó está querendo ocupar o seu posto de irmã mais velha, assume
o seu lugar! Mas assume com amor, filha; você acabou de dizer que
Chapecó está querendo ocupar o seu lugar, agarra o seu posto de irmã
mais velha com as duas mãos e cuida bem dele, minha querida!
— Filha - concluiu São José -, dói muito te dizer isso; mas ou você se
adapta à nossa casa, que é uma casa onde todo mundo se ama e se trata
com amor, ou você vai precisar aprender a se virar sozinha! Nós temos
uma família grande, você é a mais velha de quatro irmãs; e uma das suas
irmãs namora uma outra moça, linda, amável! Essa é a realidade que a
gente tem aqui em casa nesse momento; e se você não puder se adaptar a
isso, você vai ter que viver sua vida do seu jeito, em uma outra
realidade que não te incomode tanto!
— Você está me colocando pra fora de casa, pai?
— Não, filha, pelo contrário; eu estou te dando a chance de mudar essa
história! Você errou, todo mundo erra; e o momento da gente concertar
isso é agora, é na nossa casa; porque a partir do momento que você sair
ali por aquela porta pra construir a sua vida, você vai ver que o mundo
lá fora é maravilhoso, mas pode ser muito cruel também!
Blumenau jamais imaginou ouvir tudo o
que ouviu dos pais. Sabia que no fundo eles tinham razão, sabia o quanto
precisava mudar, mas será que conseguiria?
    Naquela tarde, São José voltou para a empresa preocupado; chegou e
foi direto para sua sala. Estava examinando alguns documentos que
estavam sobre a mesa quando a porta se abriu e surgiu ali uma linda
executiva, a gerente do departamento de recursos humanos. Desde que
Criciúma entrou na empresa, os dois já haviam almoçado juntos algumas
vezes e se tornaram amigos; ela era dedicada, uma boa amiga e uma
profissional brilhante:
— Ah, Criciúma - ele sorriu - eu ia te chamar na sua sala!
— Posso te ajudar? - ela perguntou mansamente:
— Eu preciso conversar com você sobre um dos nossos funcionários que
veio conversar comigo hoje; preciso de uma opinião sua não como
executiva aqui da empresa, mas como assistente social!
A jovem executiva se sentou e fitou aquele belo homem:
— Mas não é só por isso que você está preocupado; e essa ruga aqui na
sua testa?
— É, você tem razão; problemas de família!
— Eu logo imaginei que era alguma coisa na sua casa, você demorou pra
voltar pra empresa quando saiu pra almoçar!
— É minha filha mais velha; ela tem tido um comportamento estranho com
as irmãs, a gente está preocupado com isso! Eu tenho uma filha que... em
fim, namora uma outra moça e Blumenau está extrapolando todos os
limites!
— Blumenau tem que idade?
— Tem vinte e um; é linda, a que mais se parece com a mãe dela; mas tem um
temperamento forte, sempre foi geniosa, entende?
— Se entendo! Mas vai acabar dando tudo certo, você vai ver!
— A gente acaba falando só de trabalho, sempre o trabalho; você tem
filhos?
— Não, eu moro sozinha! Fui noiva durante dois anos mas não deu certo;
estou sozinha a seis meses!
E os dois puseram-se a conversar sobre assuntos de trabalho, ficaram
ali por bastante tempo, sentados naquela sala.
    Para Chapecó, aquela seria a última semana em que ela precisaria ir
para a universidade todos os dias; a sensação de euforia e de dever
cumprido já começava a se apossar dela, e foi com esse sentimento que
ela deixou a universidade naquela noite de segunda feira.
Caminhou despreocupada pelo estacionamento até seu carro, e o destino a
fez parar e prestar atenção em uma moça de cabelos curtos, que apoiada
do lado de fora da janela de um carro, conversava com o motorista; a
futura engenheira não conseguia ver direito a tal moça porque ela estava
de costas, mas seu coração já começava a estremecer no peito:
— Não pode ser, meu Deus - dizia ela a si mesma -, não pode ser!
Bastaram apenas alguns segundos para que a moça se virasse e Chapecó
tivesse a confirmação que precisava naquele momento. Pensou estar
sonhando, delirando ou algo assim, mas não estava; aquele era o
estacionamento da universidade, e a jovem que Chapecó estava vendo lhe
trazia muitas lembranças.
    Um filme lhe passou pela cabeça em questão de segundos; a primeira
vez em que ela viu aquela linda obra de arte que agora entrava em um
carro branco, o namoro cheio de problemas que durou nove meses, e o dia
em que, depois de descobrir que estava sendo seguida por um detetive
pago pela namorada que acreditava estar sendo traída, Chapecó decidiu romper o
relacionamento.
    - Cami, você pode dar um pulo aqui no meu apartamento, por favor? -
a jovem enfermeira Camila estremeceu ao ouvir o pedido da vizinha
através de uma mensagem de voz via whatsapp; já passava de onze da
noite, faziam uns trinta minutos que Chapecó havia colocado os pés em
casa depois da aula.
Camila, que já estava na cama, se levantou, vestiu a primeira roupa que
encontrou e atravessou o corredor até o apartamento da amiga.
    Chapecó a recebeu na porta com uma xícara de chá na mão; parecia
muito preocupada, cansada:
— O que aconteceu, amiga? - perguntou a enfermeira enquanto fechava a
porta atrás de si:
— Senta, Cami - Chapecó apontou o sofá -, tenho uma bomba pra te contar!
— O que é que foi, criatura? Você quase me mata de susto me chamando
aqui no seu apartamento a uma hora dessas!
as duas se sentaram lado a lado no sofá; na mesinha de centro havia uma
garrafa térmica com chá e uma xícara, que a dona da casa serviu e
entregou-a na mão da amiga:
— Cami, me desculpe por ter te ligado a uma hora dessas, mas...
— Amiga, desde quando você precisa ter hora pra me chamar? Eu estou aqui
pro que der e vier, na hora que for e você sabe disso! Me diz, o que foi
que aconteceu?
— Itajaí voltou, Cami; eu não sei quando, nem como, só sei que eu
trombei com ela agora a pouco no estacionamento da faculdade!
A enfermeira sentiu seu coração apertar no peito; lembrou-se da última
vez que viu Itajaí, a dois anos atrás; por um momento, Camila viu diante
de si aquela jovem totalmente descontrolada, dizendo que preferia morrer
a ter que viver sem Chapecó:
— Amiga - a voz de Camila era reconfortante, acolhedora -, como é que
foi isso? Como é que ela está?
— Está bem, Cami; está linda, ela sempre foi linda! Ela estava na janela
de um carro conversando com um rapaz que eu não sei quem é, já vi ele na
universidade mas não sei quem é!
— Você falou com ela?
— Não, não conversamos! Mas eu me senti tão insegura, amiga, eu não sei
te explicar!
— E Joinville, estava com você na hora?
— Não, graças a Deus não; eu estava sozinha, ela não foi pra
universidade hoje!
— Menos mal, amiga!
— Eu só te chamei porque eu queria conversar um pouco, precisava
falar...
— Eu sei como é; eu acho que no seu lugar eu também estaria meio
atordoada com isso! Mas me conta, o resto, tudo certo?
— Tudo indo, né, amiga! Hoje minha sogra e meu sogro colocaram a minha
cunhadinha mais velha na parede!
— Por quê?
— Por causa daquele nariz empinado que ela tem; ela andou tratando mal
as irmãs durante esses dias que os pais estavam viajando, e a Márcia que
trabalha lá contou pra mãe dela!
— Amiga, sabe o que é que eu acho? Eu acho que essa moça precisa de
ajuda; esse preconceito que ela tem com relação a você e a irmã dela é
uma doença, e não só por isso; essa friesa dela também!
— Ela já frequentou um psicólogo quando era adolescente, Joinville me
contou!
— Isso é fogo mesmo; e pior é que ela vai acabar aprendendo com a vida,
aprendendo pela dor!
Já passava de uma hora da manhã quando Camila, já cansada, deixou o
apartamento da amiga; Chapecó, agora sozinha, decidiu se deitar e tentar
descansar.


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