BELLA

— Devo dizer que não esperava você aqui, Andrew – a menina que havia me resgatado comentou para o garoto que acabara de entrar com Aiyrah. - Achei que tinha escolhido ficar na fábrica. Mesmo depois de ter sido tão corajoso...  

— Meredith, eu só vim para deixar essa garota aqui. Parece que o chefe está atrás dela também. Posso não ser dessa sua rebelião ridícula, mas não sou um monstro. Se ela é fugitiva, sei o que vão fazer com ela se a encontrarem.  

— Com licença, mas podiam explicar o que está acontecendo? - eu finalmente falei. Dei um pequeno gole no meu suco de maçã e encarei o garoto, depois Meredith, e meu olhar foi indo de um para o outro até que Meredith finalmente voltou a falar.  

— Aqui é o meio do nada. Uma ilha onde ninguém sabe a localização, então nunca ninguém entra ou sai. Até alguns quatro meses atrás. Uma mulher, se chamava de sacerdotisa, veio e falou com o chefe. Foi embora no mesmo dia. Agora vocês apareceram aqui.  

— Chefe? Do que? - Aiyrah se sentou ao meu lado, tomando um pouco de suco para ela mesma. Um pouco é um termo errado para essa situação, visto que ela virou uns dois copos de uma vez, e ainda encheu o terceiro.  

— Ele é um tipo de dono da ilha. Tudo aqui quem controla é ele. Tem essa fábrica, que é enorme, e cada setor dela faz uma coisa completamente diferente. Ninguém além do chefe sabe o produto final que ela fabrica. E tem os empregados. Eles trabalham nesses setores, em um esquema meio de escravidão. Eles recebem comida e uma cama minúscula como pagamento. E se eles forem bem comportados podem se tornar da elite. E os que não, vão para as solitárias. Poucos chegaram a esse ponto. E apenas um voltou - então ela se virou para Andrew.  

— Isso não vem ao caso. Eu preciso voltar agora, antes que descubram que estou acordado depois do toque de recolher – ele deu alguns passos em direção a escada antes de parar e se virar novamente para nós - Cuide bem delas, Mer, mas cuide de si mesma também. Acho que nunca vi o chefe tão bravo. 

Com isso, ele foi embora, e nós ficamos em silêncio por um tempo. Aiyrah estava um caco. Seu cabelo, que já era bagunçado normalmente, estava um completo caos, seu rosto entupido de sujeira, e por baixo do macacão que estava usando, suas roupas estavam visivelmente rasgadas.  

— Como conseguiu sair do labirinto? - ela de repente me perguntou, depois de tomar o último gole do terceiro copo de suco.  

— Foi a Meredith. Eu andei por umas duas salas depois de concluir que eram todas iguais, e só fiquei sentada sem fazer nada. Até que um pedaço do teto caiu no chão e ela apareceu apontando uma arma para mim. Perguntou o que eu era e eu contei, junto com a história de como chegamos aqui. - Aiyrah arregalou os olhos. - Por quê? Como chegou aqui?  

— Eu continuei andando pelas salas sem parar, até que em uma delas havia uma saída de ar. Eu subi e comecei a me rastejar por ela, até que um painel caiu e eu fui parar em um tipo de armazém onde Andrew estava. O tal chefe apareceu e eu tive que me esconder e perguntou se havia visto algum fugitivo. Depois, acabou indo embora dizendo que ia me procurar, assim como vocês duas. Depois que todos foram embora, Andrew me trouxe aqui. O resto vocês sabem. 

Meredith tinha suas feições estampadas com incredibilidade. Suas grossas sobrancelhas estavam curvadas e seu nariz estava franzido. Ela em si era alguém curioso. Para começar, ela era gigante. Devia ter quase dois metros de altura. Metade de suas pernas estavam encobridas por botas de borracha que iam até o joelho. Usava shorts cinza – que provavelmente provinham de um macacão semelhante ao que Aiyrah estava usando – e uma camiseta branca manchada com todo tipo existente de mancha. Além disso, tinha uma jaqueta de aviador presa em sua cintura. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo, e chegavam até sua cintura. Uma franja curta escondia sua testa, e seus olhos verdes encaravam minha amiga.  

— Você saiu do Thanonorok sozinha? - ela perguntou. Aiyrah apenas concordou com a cabeça. Finalmente, Meredith se sentou, e murmurou algo como 'de novo não', e após perguntar qual era o problema, ela se virou para mim. - O motivo de Andrew ter sido mandado para a solitária foi uma menina. Ele era da nossa rebelião, então quando encontrou-a vagando pela praia trouxe ela para o abrigo. Eles eram inseparáveis, mas tudo o que ela queria era voltar de onde veio. Nos contava histórias sobre o mundo fora, e acho que Andrew se apaixonou por ela. Enfiou na cabeça que podia fugir com ela. Construíram um barco em segredo, e tentaram fugir. Mas o chefe viu. Andrew saiu do barco para atrasá-lo. O barco foi embora e ele foi levado para a solitária. Dois dias depois, encontrei restos do barco destruído na praia. Ainda não tive coragem de contar para ele que ela morreu. Não sei o que aconteceu com ele na solitária, porque ele se recusa a contar, mas acho que saber que ela estava a salvo foi a única coisa que o fez continuar vivo. De todo jeito, depois de sair ele se tornou obediente. Nunca mais se encontrou comigo e deixou de ir as reuniões. Ele nunca nos deduraria, e sei que ele ainda acha todo esse sistema errado, por isso trouxe você aqui. Mas ele mesmo não volta. Quando eu digo que ninguém sai dessa ilha não estou exagerando. E as únicas pessoas que conseguiram sair do Thanonorok, o subsolo da ilha, sem ajuda foram ela e agora, você.  

— Mas não quer dizer que Andrew vá fazer tudo aquilo de novo.  

— Eu conheço ele muito bem. Bem demais. Aquela droga de brilho nos olhos dele... Acho que ele vai fazer tudo de novo. E acho que o chefe sabe. E está de olho nele. - ela respirou fundo e se virou para Aiyrah. - E se ele acabar expondo a rebelião... Não sei o que vai acontecer. O chefe sabe que eu pulo posto, isso é óbvio, mas tem muito mais gente envolvida. O Andrew vai acabar tendo metade da ilha morta.