Titanomaquia escrita por Eycharistisi


Capítulo 41
XL. Porque é que cheiras tão bem...?


Notas iniciais do capítulo

[Capítulo agendado]

Lembram-se de eu dizer que haveria um beijo no futuro que faria a classificação da história subir para +16? 'Tá aqui :P



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O ataque do sluagh dispersou as atenções de Nevra e Adonis, que se esqueceram, respetivamente, do castigo por me afastar do grupo e… da conversa que eu não sabia muito bem como enfrentar. Gostaria de ter deixado ambos os assuntos caminhar para o esquecimento, mas sabia que era só uma questão de tempo até voltarem a ser referidos. E se fosse eu mesma a recuperá-los, poderia evitar surpresas desagradáveis. Verdade fosse dita, ser punida pelo Mestre da Sombra preocupava-me muito menos do que explicar o meu “namoro” a Adonis, por isso, escolhi enfrentar a ira do vampiro primeiro. Talvez a minha predisposição para ser castigada impressionasse o Mestre da Sombra e levasse a uma redução da minha pena. Ao mesmo tempo… esperava recuperar alguma da familiaridade que antes tivera com o vampiro. O sorriso que ele me dirigira depois do ataque do sluagh afetara-me mais do que estava à espera. Fizera-me entender que… eu tinha saudades dele. Era ridículo, mas não podia nega-lo. Sentia saudades do sorriso de Nevra, da sua voz, das nossas conversas, dos seus incentivos… sentia até saudades dos seus piropos e dos toques ocasionais que quase roçavam o assédio. Completamente ridículo…

A noite que se seguiu ao incidente com o sluagh foi passada numa pequena aldeia. Como não havia estalagem, dividimo-nos pelas casas dos aldeões que nos ofereceram a sua hospitalidade. Eu, como era costume, fiquei com Karenn e Lithiel. A velha brownie que nos acolheu era uma senhora muito animada e extremosa e começou a mimar-nos com comida quente e saborosa ainda antes de chegar a hora de jantar. Eu gostaria de ter ficado a comer com as minhas duas colegas de quarto, mas tinha assuntos pendentes com o Mestre da Sombra. Limitei-me a pegar numa mão cheia de bolinhos e saí de casa a mordiscá-los.

Nevra, Ezarel e Lee iriam passar a noite na casa ao lado, por isso esse foi o primeiro sítio em que procurei. Infelizmente, só os elfos estavam lá e encontrei-os no pior momento possível. Lee estava a trocar os curativos nas costas do Diretor da Absinto e a visão das suturas quase me fez vomitar. Eu estava a comer, caramba…

Voltei para a rua e questionei os aldeões sobre o paradeiro do Mestre da Sombra até conseguir finalmente encontrá-lo. Estava parado diante da janela de uma casa… a namoriscar a jovem brownie loira debruçada no parapeito.

Detive-me a uma distância segura e chamei o vampiro com um pequeno grito. Por alguma razão, não queria aproximar-me o suficiente para escutar a conversa. Nevra olhou-me por cima do ombro, despediu-se da brownie com um longo beijo dado nos nós dos dedos e só então veio até mim.

— Eduarda — disse em jeito de saudação — Precisas de alguma coisa?

— Mais ou menos… — estendi-lhe os bolinhos — Queres?

— Oh… Obrigado — murmurou, pegando num e dando uma dentada — É bom…

— Podes ficar com todos.

— A sério?

— Sim, claro.

Porque ver as suturas nas costas de Ezarel tinha-me arrancado a vontade de comer os queques com recheio de frutos vermelhos… Ugh…

Nevra estendeu a mão para tirar mais um bolinho, mas estacou a meio do gesto com ar desconfiado.

— Isto é algum suborno? — perguntou.

— Não tinha pensado neles dessa forma, mas… resultou?

Nevra atirou um queque macio e húmido para a boca.

— Depende… O que queres de mim?

Eu endireitei os ombros e ergui o queixo.

— Vim receber o meu castigo por ter desobedecido as suas ordens, Mestre.

Nevra imobilizou-se até um sorriso começar, lentamente, a desenhar-se nos seus lábios.

— Pareces ansiosa por ser castigada — comentou.

— Não, simplesmente sei que seria muito pior se tentasse fugir.

— Espertinha…

Nevra enfiou o último bolinho na boca e cruzou os braços na frente do peito. Mastigou demoradamente, engoliu e abriu um novo sorriso.

— Lamento informar-te, mas tomar a iniciativa ou subornar-me com queques não irá reduzir a tua pena — avisou — Felizmente para ti, eu ainda não sei como punir-te…

— Não vais pedir para beber o meu sangue? — admirei-me.

O sorriso do vampiro alargou-se até revelar os caninos afiados.

— É um castigo tentador… mas eu prefiro ter o teu consentimento. O sangue sabe muito melhor quando… atinges um determinado estado de espírito.

— Que estado de espírito?

Nevra aproximou-se até quase eliminar o espaço que nos separava.

— Queres mesmo saber? Queres… que te mostre?

O seu sorriso devasso e o tom de voz quente e íntimo avisaram-me que era má ideia aceitar a sua sugestão. Por outro lado, sentia-me tão aliviada por reencontrar o seu lado galanteador que se tornava particularmente difícil resistir-lhe.

— Não, obrigada — recusei — Prefiro descobrir outras opções de castigo.

Nevra recuou um pequeno passo, sem parar de sorrir.

— Não tenho muitas outras opções de castigo. Na verdade, eu não tenho o hábito de punir os meus subordinados. O Ezarel fá-los passar fome, o Valkyon envia-os para trabalhos forçados na forja e eu… normalmente só dou um sermão no meu escritório. Contigo, vou ter de improvisar.

— Posso ficar sem jantar — predispus-me.

— Dizes isso porque já te empanturraste em bolinhos, não foi?

— Não me empanturrei, só comi um ou dois!

— Imagino… — disse sem convicção antes de sacudir a cabeça — Não, o teu castigo tem de ser outra coisa. Uma coisa que te faça sofrer muito… — estalou subitamente os dedos enquanto o seu rosto se iluminava — Já sei! Vou proibir-te de ver o Leiftan!

— O quê? — admirei-me.

— Isso mesmo, menina. A partir de agora, estás proibida de ver o Leiftan.

— Não podes fazer isso! O Leiftan está a treinar-me e… e a cuidar das minhas costas…!

— Eu sou perfeitamente capaz de fazer isso por ele.

— Mas…!

— Sem “mas” — disse Nevra, espetando o dedo indicador no ar — Estás a ser punida, não tens direito a queixumes. Vai é buscar as tuas coisas e arruma-as no meu quarto.

— Desculpa?!

— O que foi? Achas mesmo que te vou deixar dormir na casa ao lado para poderes ir ter com o teu namorado a meio da noite? Nem pensar! Vais dormir comigo, onde posso manter-te sob vigia!

— Não podes fazer isso!

— Posso e vou fazê-lo…

— O Ezarel e o Lee já estão a dormir contigo!

— Nós temos dois quartos à nossa disposição. O Ezarel ia dormir sozinho, mas o Lee pode dormir com ele…

— Eu não quero dormir contigo! — guinchei — É indecente…!

— O que tem de indecente? Nós só vamos dormir na mesma divisão, não tem mal algum — inclinou a cabeça com um sorriso malicioso — Ou será que… gostas tanto de mim que imaginar-te trancada comigo entre quatro paredes te deixa nervosa?

— Eu não…! — comecei a protestar, corada, mas a gargalhada de Nevra interrompeu-me. Ele virou costas e começou a afastar-se, mas ainda me dirigiu um último sorriso por cima do ombro.

— Vejo-te logo à noite… bombom — despediu-se com um aceno. Eu fiquei a vê-lo afastar-se, rangendo os dentes.

Maldito vampiro! O que raio tinha ele na cabeça?! Acharia mesmo que eu ia aceitar dormir ao seu lado? Eu poderia até concordar em não ver Leiftan, mas o resto era demais! Não iria aceitar aquele castigo…!

…a não ser que o vampiro me arrancasse da cama e me carregasse no ombro até ao seu quarto. E assim fez. Eu gritei, esmurrei, esperneei, mas foi inútil. Nevra só me soltou depois de trancar a porta e deixar-me em cima da única cama.

— Fica à vontade na cama — disse, poisando a minha mochila aos pés desta — Eu vou dormir no chão…

— Vais é dormir numa poça de sangue quando eu te cortar a garganta durante a noite! — ameacei, levantando-me com um pulo.

Nevra riu-se.

— Gostaria de te ver tentar…

— Achas que não consigo?!

— Eu sei que consegues… mas não serias capaz.

— Vamos ver — resmoneei, cruzando os braços na frente do peito e lançando-lhe um olhar ameaçador por entre as pestanas.

Nevra sorriu, nem um pouco intimidado.

— Falando em garganta… o que é isso na tua?

Eu levei rapidamente a mão à gola da minha camisa de dormir e senti, no lado direito do pescoço, uma fina linha de pele áspera e esfolada… a mesma textura do intenso tom azul que antecedia a queda da casca humana.

Cobri o pescoço com a mão, mesmo sabendo que era inútil porque Nevra já o vira, e desviei o olhar.

— Não é nada — murmurei.

— Eduarda…

— Eu estou bem!

Nevra semicerrou desconfiadamente o seu único olho e eu virei as costas para evitar o seu olhar. Céus, porquê agora? A queda da pele parecia ter estagnado no pescoço, não se alterara durante semanas, porque decidira justamente agora continuar a subir na direção do meu rosto…?

— Magoaste-te durante o confronto com o sluagh? — perguntou o vampiro.

— Ah, f-foi — menti rapidamente — Foi isso mesmo…

— És uma péssima mentirosa…

— E tu tens de parar de meter o nariz onde não és chamado! — atirei.

— Estou preocupado contigo, Eduarda!

— Não precisas de te preocupar! Eu estou bem!

— Estás? Quem disse?

— Digo eu!

— Tu não és alquimista ou curandeira, não tens autoridade para decidir uma coisa dessas. Deixa-me ver…

— Não!

— Deixa o Ezarel ver, então! Precisamos de saber se estás doente!

— Não, não estou doente! — neguei — O Leiftan já me examinou e disse que não era nada! Estou bem!

— Leiftan, pois claro — murmurou o vampiro num tom subitamente azedo — É claro que o deixaste ver… e se ele diz que está tudo bem, é porque está! Ele é tão experiente nas artes da cura, até tratou o seu corte envenenado sozinho, não foi?

— Nevra…

— O que foi, Eduarda? O que foi?

Eu fechei os olhos e soltei um pequeno suspiro. O tom de voz seco e agressivo estava de volta… e temi que desta vez viesse para ficar! Nós estávamos tão bem antes… Porquê? Porque é que o meu lado titã tivera de estragar tudo, desenhando aquela linha no meu pescoço?!

— Desculpa — murmurei no meio do silêncio denso — Desculpa, Nevra…

— Por quê?

— Eu… não sei… Foi a única coisa que me ocorreu dizer — murmurei.

O vampiro soltou um pequeno “hmpf” irritado e ouvi-o mover-se atrás de mim. Arrisquei espreitá-lo por cima do ombro e vi-o estender uma manta no chão, onde provavelmente iria dormir. O seu sobrolho estava tão franzido que as pestanas negras tocavam nas sobrancelhas.

Nevra não me voltou a dirigir a palavra. Preparou a sua cama no chão, enrolou-se num cobertor e deitou-se de costas viradas para mim. Eu sentei-me na borda da cama e observei-o até dar por mim a murmurar:

— Por favor, não me odeies… Mesmo quando souberes a verdade… não me odeies!

Nevra não reagiu de imediato. Permaneceu de costas para mim até rolar para o lado, deitando-se de barriga para cima. Mesmo assim, eu não conseguia ver a maior parte do seu rosto. Só via o perfil parcialmente coberto pela pala negra.

— Porque haveria de te odiar? — perguntou com um murmúrio.

Baixei nervosamente a cabeça.

— Eu… não sou como pensas. Já nem eu sei como sou, na verdade… Sinto-me… estranha. Perdida. Assustada… Encarcerada dentro de um corpo que não parece ser mais o meu — deixei a mão no meu pescoço escorregar até ao colo, revelando a pele azul — Vejo-o mudar sem saber aquilo em que me estou a tornar e… é aterrorizante. Sinto-me como se estivesse a perder o controlo de mim mesma. Tenho tanto medo que seria capaz de fazer qualquer coisa para fugir deste corpo. Gostaria de conseguir rasgar a minha própria pele, arrancar o que me é estranho e simplesmente voltar a ser a pessoa que era antes de tocar aquele maldito cogumelo. Gostaria de, no mínimo, conseguir parar a mudança antes que não me reconheça mais, mas a única coisa que posso fazer é esconde-la — soltei um risinho nervoso — Acredita, Nevra, se houvesse outra solução, qualquer que ela fosse… aceitá-la-ia sem pestanejar.

Não o ouvi mover, mas não tardou para que a sombra de Nevra surgisse no meu campo de visão. Ele ajoelhou-se na minha frente e envolveu carinhosamente as mãos que permaneciam caídas nas minhas coxas.

— Fala comigo, Eduarda — rogou num tom baixo e suave — Eu quero ajudar-te… Disseste que o teu corpo estava a mudar? Isso significa que… estás a transformar-te?

Anuí debilmente com a cabeça.

— É por isso que tens sempre a mão tapada?

Voltei a anuir.

— Estás a transformar-te no quê, exatamente?

Sacudi a cabeça.

— Não quero falar sobre isso — murmurei — Prefiro que continues sem saber…

— Porquê? Contaste ao Leiftan, podes contar-me a mim também!

— Não, não posso, porque eu não quero que me odeies.

— Arriscaste ser odiada pelo teu namorado quando lhe contaste — constatou o vampiro, erguendo uma sobrancelha.

— Não, não arrisquei. Eu não lhe contei, foi ele quem me contou a mim. Eu também não sabia. Além disso, a opinião que o Leiftan tem sobre mim não me preocupa particularmente.

— E a minha opinião? Preocupa-te?

Eu ergui timidamente o olhar para o vampiro.

— Sim…

Nevra não fez cerimónias. Envolveu o meu rosto com as mãos mornas e espetou-me um beijo nos lábios. Uma pequena exclamação surpreendida ecoou na minha garganta e tentei recuar, com os olhos arregalados, mas Nevra segurou-me deslizando as mãos para os meus cabelos e apertando-os entre os dedos. Afastou-se apenas o suficiente para recuperar o fôlego, reposicionou a cabeça e voltou a beijar-me. Tocou os meus lábios vezes e vezes sem conta, chegando-se mais à frente a cada contacto. O seu corpo deslizou entre os meus joelhos e o seu peito pressionou o meu. Pousei as mãos nos seus ombros, intentando afastá-lo… mas não o fiz. As minhas mãos tremiam e descobri-me sem força nos braços. Dei por mim a fechar os olhos… e a corresponder às carícias da sua boca.

Nevra gemeu baixinho e uma das suas mãos abandonou o meu cabelo para deslizar pela minha cintura, abraçando-a, puxando-me para si, certificando-se de que não existiria nenhum espaço vazio entre nós. Foi a vez de as minhas mãos deslizarem para o seu cabelo, incitando-o a um beijo mais intenso. O vampiro ronronou, satisfeito, e a sua língua escorregou por entre os meus lábios para tocar a minha. Gememos os dois.

Acho que a minha mente se perdeu no sabor da sua boca por alguns instantes porque, quando recobrei a consciência de quem era e onde estava, encontrei-me deitada na cama, sob o corpo de Nevra, que fervia e tremia tanto quanto o meu. As nossas mãos ousavam, procurando mais pele para acariciar, e nós suspirávamos sempre que a encontrávamos. Eu não sabia como parar… Não sabia se queria parar!

A boca de Nevra abandonou a minha e teceu um trilho de beijos escaldantes até ao meu pescoço. Arrepiei-me ao senti-lo, sofrendo um pequeno espasmo que me fez apertá-lo entre as minhas pernas, e o vampiro soltou um pequeno lamento necessitado.

— Que inferno, Eduarda — murmurou num tom rouco — Porque é que cheiras tão bem…?

Estava tão imersa no momento que só percebi o que ele queria dizer quando senti as presas afiadas mordiscar o meu pescoço. Não as enterrou na minha carne, nem sequer arranhou a minha pele, mas o perigo provocou uma descarga de adrenalina que em vez de me incitar a fugir… desafiou-me a mergulhar de cabeça. Gemi quando a sua língua acariciou a minha jugular… mas petrifiquei quando o senti tocar a pele solta e áspera que cobria precariamente a pele iridescente. Nevra apercebeu-se da minha mudança de humor e ergueu a cabeça até conseguir olhar o meu rosto.

— Não vou magoar-te — prometeu.

— Eu sei, mas… não sei se será boa ideia.

— Humm… — fez o vampiro antes de se erguer nas mãos e nos joelhos, descolando os nossos corpos. Senti um frio lancinante nos sítios em que ele estivera a aquecer-me e quase o puxei de volta — Tudo bem, mas… espero que saibas que não precisas de ter medo de mim.

— Eu sei…

Nevra assentiu com um pequeno gesto da cabeça e rebolou para o lado. Sentou-se na borda da cama e esfregou lentamente o rosto. Eu senti-me como se tivesse engolido um cubo de gelo quando percebi que estragara tudo. Sentei-me e poisei uma mão nas costas do vampiro, mas ele falou antes que eu pudesse abrir a boca:

— É tarde e temos de nos levantar cedo amanhã. É melhor irmos dormir. Boa noite…

Levantou-se, mas eu segurei-o rapidamente pela mão.

— N-não durmas no chão — murmurei muito baixinho — É desconfortável e… a cama tem espaço…

Nevra olhou-me por cima do ombro.

— Tens a certeza?

— Sim, quero dizer… eu… não me importo de… partilhar a cama contigo…

— Eduarda — chamou num tom sério que fez o cubo de gelo entalado na minha garganta deslizar um pouco mais para baixo.

— Sim?

— Sabes que há uma grande probabilidade de recomeçarmos o que parámos se eu me deitar ao teu lado, não sabes?

— A-ai, há?

— Sim… e não sei se aceito um segundo “não” como resposta. Sou um vampiro e não estou habituado a conter-me.

— Nunca recebeste um “não” antes? — arrisquei.

— Recebo bastantes, mas consigo transformar a maior parte deles em “sim” em poucos minutos — disse com um sorrisinho malicioso — Poderia tentar o mesmo contigo, mas… não quero pressionar-te demasiado. Quero dizer, tu não és faery, nem estás habituada ao nosso modo de vida. Poderia assustar-te irremediavelmente se te convencesse a deixar-me beber da tua veia de ânimo leve. Não quero arriscar. Eu também não quero que me odeies, Eduarda…

Eu acenei com a cabeça, compreendendo, mas não larguei a sua mão. Nevra soltou um pequeno suspiro e passou a mão livre pelos cabelos.

— Tens a certeza que queres partilhar a cama comigo?

Voltei a acenar com a cabeça. Nevra voltou a suspirar, mas virou-se para mim.

— Deixa-me deitar…

Eu cheguei-me rapidamente para o lado, libertando espaço para o vampiro. A cama não era muito grande, mas serviria para nós os dois. Nevra deitou-se e puxou-me contra o seu peito, poisando o queixo no topo da minha cabeça. Hesitante, abracei a sua cintura.

— Dorme bem — murmurou ele.

Eu não tinha a certeza se conseguiria adormecer com Nevra a abraçar-me, mas fechei os olhos e deixei-me absorver o seu calor. Não tinha a mesma intensidade do calor de Leiftan, mas não deixava de ser agradável. Conduziu-me sem dificuldades a um sono sereno e profundo.

Acordámos na manhã seguinte com o estrondo da porta a abrir-se. Espreitei a origem do barulho por cima do corpo de Nevra, porque os seus braços não me permitiam sentar, e senti o coração mirrar-se-me no peito quando vi Leiftan na entrada. O meu namorado não parecia irado, tampouco neutro. Parecia somente… triste…

— Estão atrasados — ralhou — Levantem-se.

Nevra resmungou e puxou-me para si, escondendo o rosto no meu pescoço.

— Só mais cinco minutos…

— Não — negou o investigador da Reluzente num tom severo — Precisamos de nos colocar a caminho.

— Ah, estás tão mandão, Leiftan — queixou-se Nevra, virando-se de barriga para cima — São os ciúmes que te deixam assim?

— Ciúmes?

— É, a tua namorada passou a noite comigo, não sei se reparaste…

— Reparei.

— E não estás zangado?

— Não. Eu não me… — a voz de Leiftan vacilou por um instante — …importo de partilhar.

— Ah, sim? — admirou-se o vampiro, abrindo um sorriso deliciado e meio trocista — Ora, já podias ter dito mais cedo! Andei a conter-me para nada!

Nevra bocejou, espreguiçou-se e começou a levantar-se. Eu imitei-o, vigiando Leiftan pelo canto do olho. Ele não estava zangado, certo? A nossa relação era mera conveniência e ele mesmo dissera que não se importava de partilhar. Logo, ele não podia estar zangado. Não era? Bolas!

Nevra começou a trocar de roupa, desnudando o tronco sem pudor, e eu agradeci quando Leiftan me disse:

— Podes vestir-te no outro quarto, Eduarda. Despacha-te.

Eu aquiesci com um aceno e peguei na minha mochila. Encaminhei-me para a porta, mas Nevra agarrou-me quando passei por ele. Temi que tentasse convencer-me a vestir ali, mas ele não disse nada. Limitou-se a fazer um pequeno sorriso travesso e puxou-me para mais perto, beijando-me na boca.

Mesmo. Na. Frente. Do. Meu. Namorado…

Socorro!


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Notas finais do capítulo

[Próximo: 27/5/18]



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