Titanomaquia escrita por Eycharistisi


Capítulo 30
XXIX. Onde está o Leiftan, Amaya?


Notas iniciais do capítulo

[Capítulo agendado]



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“Ajuda-me… por favor… Eu sei que consegues ouvir-me… por favor… Eu não consigo mexer-me… Não consigo ver… Não consigo… respirar… Ajuda-me… Ajuda-me…! Tira-me daqui!”

Abri os olhos de repente, mas fiz um esforço para manter-me imóvel. Fixei o teto e esperei pacientemente que as sensações de náusea e sufoco passassem. Aprendera recentemente que não era boa ideia mexer-me depois de ouvir a voz daquela mulher. Os meus “ataques de pânico” eram provocados por ela…

Eu não sabia de onde vinha aquela voz que ficava mais forte e clara a cada noite, mas já percebera que não era o meu subconsciente. Era outra coisa… Só não sabia dizer o quê. Seriam alucinações? Drogas na minha comida? Um faery a mexer na minha cabeça? Não sabia… Ponderara contar a situação a Nevra, mas, quando soube do regresso de Leiftan, optei por esperar e contar-lhe a ele. Tê-lo-ia feito no dia anterior, mas o investigador da Guarda Reluzente fora bastante hábil a esconder-se de mim. Oh, bem… Nós teríamos uma longa viagem pela frente…

Soltei um pequeno suspiro e comecei a levantar-me, movendo-me devagar enquanto procurava confirmar se o desconforto passara. O meu estômago não se revolveu, por isso coloquei-me de pé e comecei a espreguiçar-me. Quando levantei os braços, senti a camisa de dormir roçar as pontas de pele solta nas minhas costelas e ergui-a para verificar o estrago daquela noite.

Era uma visão perturbadora. A pele iridescente não parava de surgir, afastando a pele humana que sempre me cobrira enquanto se alastrava. O meu braço direito, o ombro, a axila e parte das minhas costelas já tinham sucumbido à mudança. As manchas azuis que antecediam a queda da pele cobriam o lado direito do meu tronco, peito, barriga, costas… e subiam lentamente pelo pescoço.

Karenn fizera tudo ao seu alcance para me ajudar a esconder aquilo, mas estávamos a ficar sem opções. A viagem era o maior problema no momento, porque os conjuntos de roupa que Nevra mandara fazer não incluíam luvas. Consegui convencer Lithiel a usá-las, mas o pedido despertou a sua desconfiança. Fui bombardeada com tantas perguntas que nem sei como consegui chegar ao quarto sem lhe dizer nada. Sabia, no entanto, que era só uma questão de tempo… O meu segredo estava muito perto de desmoronar e, graças ao silêncio de Leiftan, não fazia a mais pálida ideia daquilo com que deveria contar.

Baixei a blusa e soltei um pequeno suspiro. Não ia preocupar-me com aquele assunto. A viagem para caçar o titã estava prestes a iniciar-se, Leiftan teria de comparecer e a sua fuga chegaria ao fim. Não o deixaria escapar desta vez. Arranjaria maneira de o fazer falar, desse por onde desse.

Segurando o meu nervosismo, saí do quarto e desci as escadas para tomar um banho muito rápido. Vesti o conjunto de roupa que escolhera com Lithiel, calcei a minha mais recente luva e voltei para o quarto. Lithiel estava lá, batendo na porta enquanto segurava uma pequena trouxa de tecido debaixo do braço.

— Lithiel — chamei, fazendo-a virar-se na minha direção — Bom dia… O que fazes aqui?

— Ah… Eduarda, bom dia… Eu vinha convidar-te para tomar um banho, mas parece que já trataste disso — constatou ela, mirando o meu cabelo húmido — Acordaste bastante cedo…

— Sim, eu gosto de tomar banho em paz e sossego.

— Não será antes para ninguém ver a tua mão?

Eu semicerrei desconfiadamente os olhos.

— O teu convite para tomar banho também não é desprovido de interesse, pois não? Tu querias era uma oportunidade para ver a minha mão, não era?

Lithiel fez um pequeno sorriso enigmático e não respondeu.

— Vou tomar o meu banho, não quero chegar atrasada à hora da partida — murmurou antes de começar a afastar-se — Até já!

— Até já…

Segui a rapariga com o olhar até ela desaparecer ao fundo do corredor. Soltei um pequeno suspiro, aliviada por ter evitado mais uma armadilha, e entrei no quarto. Estava a verificar o conteúdo da mochila que levaria para a viagem quando ouvi uma suave batida na porta.

— Eduarda? Estás acordada?

— Lee — reconheci — Estou, sim. Já está na hora?

— Quase. Eu e a Karenn vamos buscar as nossas porções de comida para a viagem, queres vir connosco?

— Ah, sim, claro. Espera um instante.

— Tudo bem.

Dei uma última olhada na mochila, fechei-a e meti-a às costas. Chiça, era pesada!

— Estou pronta — anunciei, saindo do quarto.

Lee e Karenn, parados no meio do corredor, sorriram.

— Vamos lá — chamou o primeiro, liderando o caminho. Seguimo-lo até ao refeitório, onde encontrámos os três chefes de Guarda a tomar o pequeno-almoço.

— Bom dia! — exclamou Nevra, sorrindo — Prontos para a viagem?

— Sim, só temos de recolher as nossas porções de comida…

Karenn foi interrompida pelo estrondo de algo pesado a ser deposto numa mesa atrás de nós. Virámo-nos com pulos sobressaltados e vimos um fauno com uma expressão muito mal-humorada a mexer numa data de pequenos embrulhos.

— Malditos sejam — resmungava ele — Fazem-me acordar de madrugada para preparar mantimentos para uma estúpida viagem… Devia envenenar-vos a todos…

— Oh, não sejas assim, Karuto — pediu Nevra — Eu já te prometi uma compensação.

— Onde é que enfiar uma imbecil na minha cozinha é uma compensação?

— A Karenn já te ajudou bastante antes…

— Estou a falar da humana!

— Eu? — admirei-me.

— Sim, tu! — exclamou ele — Percebes alguma coisa de culinária?!

— Hã? — fiz, confusa. Porque é que estávamos a falar de culinária…?

— Vês?! É uma atrasada mental! — vociferou o fauno na direção do Mestre da Sombra.

Soltei uma exclamação ofendida e abri a boca para responder, mas o fauno já tinha virado as costas e começado a afastar-se. Voltei a minha expressão indignada para Nevra, esperando uma explicação, e ele abriu um sorriso amarelo.

— O Karuto não queria preparar as nossas merendas, por isso ofereci-lhe a vossa ajuda durante uma semana para o convencer — revelou, olhando de mim para a irmã.

— Fizeste o quê? — murmurei, horrorizada.

— Não devias ter falado connosco primeiro? — perguntou Karenn, cruzando os braços — Nós não somos mascotes, sabes? Não podes pura e simplesmente mandar-nos fazer o que te apetece.

— Sou o vosso Mestre, por isso, posso…

— Eu não vou ajudar a criatura — recusei, cruzando teimosamente os braços — Não vou perder o meu tempo a ajudar quem me insulta…!

— Se me permites a intromissão, Nevra, eu concordo com a Eduarda — disse Ezarel — Não creio que seja boa ideia deixá-la na cozinha.

— Ah, alguém que me compreende — constatei.

— Imagina que ela começa a cuspir nas panelas — acrescentou o elfo — Ela pode ser venenosa e eu não quero morrer!

— Ah, ah, ah! — fiz, fingindo rir — A piada da “cuspideira” já está velha, Ezarel, arranja uma nova!

— Preferes que te chame cepo?

— Cepo?!

— Foi a alcunha que os teus colegas da Sombra te deram. Bastante apropriada, se queres saber a minha opinião…

— Ora bem, já chega — intrometeu-se Nevra, levantando-se — Temos uma longa viagem pela frente e eu quero evitar atrasos. Vou chamar a Lithiel e o Adonis e partimos logo de seguida, entendido?

— E o Leiftan? — questionei antes de me conseguir conter — Ele não está aqui… Não o vais chamar?

— O Leiftan já saiu, ele vai na nossa frente para verificar se o caminho é seguro.

— Ah… tudo bem — murmurei, tentando permanecer indiferente quando na verdade estava a ferver de raiva. Maldito Leiftan!

Nevra saiu do refeitório para ir procurar os elementos do grupo em falta e eu, Lee e Karenn sentámo-nos para comer qualquer coisa. Adonis não tardou a aparecer e juntou-se a nós no desjejum. Lithiel demorou um pouco mais, mas já trazia a minha “pele vestida”.

— Uau, vocês estão mesmo muito parecidas! — elogiou Lee, olhando de mim para a doppelganger.

— Estamos idênticas — corrigiu Lithiel.

— Ah, sim? — inquiriu Ezarel, fazendo um sorriso trocista — Fizeste uma inspeção minuciosa ao corpo da Eduarda?

— Claro. O que pensas que passei a noite a fazer?

Adonis engasgou-se com o pão que estava a comer e começou a sufocar, mas os restantes estavam demasiado surpreendidos com as palavras de Lithiel para reparar na sua agonia.

— Estás a falar a sério? — perguntou Karenn.

— Claro que não! — neguei, tentando repor a ordem (e alguma dignidade) — Eu jamais a deixaria passar a noite a… “inspecionar-me”.

— Eu sei, por isso é que entrei no teu quarto enquanto dormias — disse Lithiel, abrindo um sorrisinho endiabrado.

Senti o sangue subir-me ao rosto e colori-lo de vermelho enquanto, ao meu lado, Adonis ficava azul. Não… Era impossível! Lithiel não me teria convidado a tomar banho com ela se tivesse entrado à socapa no meu quarto para me ver despida! Ela estava a mentir!

— Ficaste a olhar para a cuspideira enquanto dormia? — perguntou Ezarel, deliciado com a conversa — Arrepiante… mas interessante! Ela fala? Ressona? Posso começar a chamar-lhe porca?

— Porca?! — repeti, ofendida.

— Porca cuspideira! — decidiu o elfo, triunfante.

Adonis continuava a esgatanhar o próprio pescoço, aflito, mas eu não tinha tempo para lhe prestar atenção. Eu ia arrancar a língua daquele elfo. Assim que comecei a levantar-me, Lee saltou sobre mim para me impedir de atirar ao Diretor da Absinto, apertando-me entre os seus braços enquanto abria um sorriso atrapalhado.

— V-vá, vá, já chega! — pediu Lee, fazendo carícias apaziguadoras no topo da minha cabeça — Não há necessidade de recorrer à violência…

— Há, sim — refutei, estalando ameaçadoramente os dedos — Ele não se vai atrever a abrir a boca novamente se eu lhe partir os dentes todos!

— Oh, estou cheio de medo! — guinchou Ezarel, fingindo estremecer.

— É bom que estejas — disse Nevra, dando uma palmada nas costas de Adonis para o fazer cuspir o pedaço de pão que tinha entalado na garganta — A Eduarda é mais perigosa do que parece — olhou rapidamente em volta — Estamos todos prontos? Podemos dar início à nossa viagem?

— Podemos — confirmou Valkyon, levantando-se e puxando a sua mochila para as costas — Vamos a isto.

— Não se esqueçam das porções de comida — avisou Nevra, pegando num dos embrulhos que o fauno trouxera — É uma para cada um, não inventem.

— São nove — constatei, contando rapidamente os embrulhos — O Leiftan não levou a dele?

— Não, mas eu…

— Eu levo — ofereci-me, apressando-me a pegar em dois embrulhos.

Nevra mirou-me muito desconfiadamente, mas eu fingi estar demasiado ocupada a guardar os embrulhos na minha mochila para reparar no seu olhar.

— Muito bem — murmurou ele, suspeitoso — Vamos meter-nos a caminho!

Os membros do grupo soltaram uma exclamação de concordância e encaminhámo-nos para a saída do quartel. Atravessámos o jardim, seguimos a rua principal da cidade e passámos para lá das muralhas que rodeavam tudo o que eu conhecera até ali. O mundo desconhecido estendia-se diante de mim… e não podia estar mais ansiosa para o conhecer.

Os faeries não dispunham de meios de transporte mecânicos, não criavam cavalos e o quartel não tinha mascotes que pudessem ser montados em número suficiente para todos os membros do grupo, portanto optáramos por fazer a viagem a pé. Seria uma viagem lenta e penosa, mas o entusiasmo que as novas paisagens e descobertas me provocavam dissimulou o meu cansaço durante a maior parte do tempo. Fiz tantas perguntas sobre a geografia, o clima e a astronomia de Eldarya que Ezarel decidiu dar-me uma nova alcunha: fala-barato. Não me importei muito porque, nesse momento, o mascote de Lee veio ao seu encontro e eu não conseguia desviar o olhar do bonito dragão branco e rosado.

— É uma draflayel e chama-se Mish — dizia o elfo enquanto alimentava a pequena criatura com um líquido dourado — Podes tocar-lhe, ela gosta de mimos.

— É uma espécie de dragão? — perguntei, erguendo uma mão hesitante para acariciar o dorso macio da draflayel.

— Mais ou menos — disse, rindo — Os draflayel foram criados à imagem dos dragões, mas não têm qualquer relação sanguínea com eles.

— Os dragões são bem maiores, não é? Eu vi uma gravura de um dragão a lutar com um titã e eles pareciam ter a mesma altura…

— Sim, é verdade. Os draflayel, por outro lado, não crescem mais do que isto.

— A sério? São tão pequeninos — murmurei, observando com fascínio o mascote que quase cabia na palma da mão de Lee.

— O mascote do Valkyon é ainda mais pequeno — comentou Karenn, aproximando-se.

— A sério? Posso ver? — perguntei, entusiasmada.

Valkyon anuiu com um gesto de cabeça e soltou uma alça da sua mochila para conseguir abrir um pequeno bolso na frente. Enfiou a mão lá dentro e retirou um pequeno roedor branco com… uma rosa vermelha na ponta da cauda?!

— Ah, é tão pequenino! — guinchei antes de me conseguir conter.

— Argh, és tão barulhenta, cuspideira — queixou-se Ezarel, cobrindo as orelhas pontiagudas com as mãos — Importas-te de… sei lá… ficar calada o resto da viagem?

Eu abri um sorriso desdenhoso.

— És um amor, Ezarel.

— Obrigado.

— Tens um mascote? — perguntei, insistindo no assunto só para o irritar.

— Tenho. Chamam-se recrutas.

— Isso não são mascotes, são pessoas — fi-lo ver.

Ezarel encolheu os ombros.

— Dá no mesmo. Seguem as minhas ordens, é só isso que me interessa — fez uma pequena careta — A única diferença é que os mascotes ficam felizes por receber uma ordem; os recrutas só sabem rezingar. É tão inconveniente… 

Eu revirei os olhos e desisti de continuar a conversa.

Fizemos uma pausa para almoçar por volta do meio-dia e o meu entusiasmo foi rapidamente substituído por ansiedade e impaciência. Comi a minha refeição de olhos postos no caminho que percorríamos, esperando ver Leiftan surgir no horizonte, mas a única coisa que apareceu foi o que parecia ser um panda-vermelho com riscas azuis.

— É a Amaya! — exclamou alguém, apontando para a criatura.

Amaya? Não era esse o nome do mascote de Leiftan?

Nevra foi o primeiro a aproximar-se do bicho e agachou-se na sua frente, fazendo a pergunta que sanou as minhas dúvidas:

— Onde está o Leiftan, Amaya?

O panda-vermelho baixou a cabeça e poisou aos pés do vampiro um pedaço de pergaminho. Nevra abriu-o e começou a ler. O grupo mergulhou em silêncio, aguardando uma reação. Eu levantei-me e aproximei-me, preocupada. O panda-vermelho não pareceu gostar do meu gesto, agachando-se e começando a silvar na minha direção.

— Passa-se alguma coisa? — perguntei, ignorando o bicho.

Nevra levantou-se, dobrando o pergaminho e guardando-o no interior do casaco.

— O Leiftan não se reunirá connosco até ao final do dia…

— Porque não? Ele precisa de comer, não pode…

— Ele encontrou um grupo de adeptos do titã, Eduarda — cortou Nevra, sério — Eles estavam a preparar-nos uma emboscada.

As suas palavras deixaram-me pregada ao chão e nada mais consegui fazer do que fixá-lo. Foi Lithiel quem fez as perguntas que também me atormentavam.

— Ele está bem? Ficou ferido?

— O Leiftan é um guerreiro experiente, não se preocupem com ele.

— Isso não responde à pergunta — notou Lithiel, estreitando os olhos que copiara de mim.

— O Leiftan está bem, o problema não está aí.

— Está onde, então? — perguntou Karenn, aproximando-se.

Foi Valkyon quem respondeu, num tom de voz baixo e grave:

— A tentativa de emboscada mostra que o titã já sabe que abandonámos o quartel e conhece o caminho que estamos a seguir. O Leiftan encontrou um grupo dos seus adeptos, mas haverá mais e poderão atacar-nos a qualquer momento.

— O Leiftan está a abrir caminho para nós, mas a nossa retaguarda está desprotegida — continuou o vampiro — Eu poderia ficar para trás, mas reduziria a nossa força para proteger a Eduarda. A Lithiel é a única do grupo com capacidade para vigiar as nossas costas, mas precisamos de mante-la junto da Eduarda…

— Tu falas como se o resto do grupo fosse inútil — protestou Karenn — Eu e o Lee podemos…

— Passo — disse o elfo, abrindo um sorriso amarelo — Desculpa, Karenn, mas eu não sou bom no um-contra-um…

— E-eu…! — exclamou Adonis, concentrando todas as atenções — E-eu posso ficar para trás. Posso… usar a minha habilidade…

— Não, nem pensar — negou Nevra — Podes conseguir controlar a tua habilidade, mas não tens o treino necessário para a usar em combate — endireitou os ombros e elevou a voz — Não vamos deixar ninguém para trás. Vamos continuar o nosso caminho, apressar o passo e ficar alerta. Entendido?

O grupo concordou.

— Ótimo. Arrumem as vossas coisas e vamos meter-nos a andar.

A segunda parte da viagem foi mais difícil. Nevra impôs-nos um ritmo rápido e constante que não tardou a exaurir-me, mas não abri a boca para me queixar. O medo de sermos atacados impelia-me em frente quando as minhas pernas já não tinham ânimo.

A noite começou a cair, mas os nossos passos não abrandaram. Eu estava exausta, suja, suada, esfomeada, mas não parecia que iríamos parar num tempo próximo.

— Estamos quase lá — anunciou Nevra.

Teria soltado um suspiro de alívio se tivesse ar nos pulmões. Forcei as pernas a um último esforço e, minutos depois, comecei a distinguir os contornos do nosso destino: uma pequena vila na orla da floresta. As luzes que brilhavam nas pequenas janelas nunca me tinham parecido tão convidativas. Um banho, uma refeição quente e uma cama limpa e macia eram tudo aquilo o que eu desejava.

— Estás bem, Eduarda?

Virei a cabeça a custo para devolver o olhar de Adonis.

— Estou cansada — confessei.

— Eu… posso levar-te — ofereceu-se o rapazinho, inseguro — Podes sentar-te no meu dorso, se quiseres…

— Ah, não, obrigada — murmurei, forçando um sorriso — Sou bem mais pesada do que pareço, não quero sobrecarregar-te…

— Eu sou bem mais forte do que pareço. Posso carregar-te sem problemas.

— Obrigada, Adonis, mas estamos quase lá. Acho que consigo fazer o resto do caminho.

— Tudo bem…

A distância que nos separava da vila revelou-se maior do que eu julgava, mas não quis voltar atrás com a minha palavra. Já só conseguia arrastar os pés quando passámos diante das primeiras casas de xisto, mas perseverei até ao alpendre do que se revelou uma pequena estalagem. Leiftan surgiu sob a moldura da porta, dirigindo-nos um pequeno sorriso de boas vindas. O alívio de chegar ao destino e finalmente encontrar aquele maldito homem consumiu o que restava das minhas forças… e foi nesse momento que caí estatelada no chão.


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Notas finais do capítulo

[Próximo: 11/3/18]



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