Don't say goodbye escrita por Ems


Capítulo 6
End




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[...]

— ...Agora aumente a dose para 0,1 ml.— Uma voz feminina estranha irrompe assim que meus ouvidos voltam a escutar o ambiente a minha volta. Um barulho de aparelho, vozes e caminhadas. — Ela está recobrando a consciência. Ótimo trabalho, pessoal.— Escuto uma palma e antes que a pessoa continue com o gesto a mesma voz de antes o silencia. — Está se portando mal, Mendes. - Uma breve risada pode ser escutada. — Berry, verifique os sinais vitais.

Berry? Rachel?

Rapidamente tento abrir os olhos, mas eles parecem mais forte que minha vontade de abri-los e eu fico nessa luta interna até que sinto dedos gelados, penso que por causa do material da luva, abrem minhas pálpebras e enfia uma luz de lanterna em meus olhos sensíveis.

— Aí.— Exclamo. – Desculpa, mas é procedimento.— Uma voz um pouco rouquinha fala bem próxima a mim.

Como se a força voltasse, talvez a vontade abrir os olhos foi mais forte dessa vez, eu consegui abrir os olhos. Uma piscada, duas e mais algumas duas até que eu conseguisse manter os olhos abertos por alguns segundos antes de tornar a fechá-los.

O barulho na sala continuou e pude sentir objetos frios contra meu corpo.

Certamente eu estava em um hospital.

Se for considerar tudo que vivi não vou me surpreender que seja em um psiquiátrico.

Escutando bem e agora vendo um pouco melhor, consigo abrir os olhos.

Posso dizer que vi um médico levando algumas seringas numa bandeija, uma outra médica com o uniforme diferente dos outros dois que acompanhavam ela, mas seria mentira, pois tudo que fiz foi fitar os olhos morenos que me encaravam através dos longos cílios castanhos.

Que mulher, exclamei internamente.

Seria um anjo vestida de médico?

Eu não pensei em perguntar o que aconteceu comigo, apesar de ser a pergunta mais óbvia e os médicos parecerem felizes em suas expressões por me verem acordar, mas tudo que eu queria era saber o nome dela.

— Rachel Berry? - Minha voz saiu bem mais baixo que o esperado e eu estranhei aquilo. De repente minha boca ficou seca. Parecendo ser algo normal a médica de olhos castanhos me alcança um copinho plástico com água. Depois que tomo me ajusto melhor na cama. Minha cara deveria estar péssima, que vergonha! — Você conhece Rachel Berry?

A menina sorri, mas quem fala é a médica que tem traços mais maduros.

— Vejam só, nossa Bela Adormecida é fã de musicais.— Os três sorriem. — Todos conhecem Rachel Berry. — Eu também sou. - O médico mais alto e com uma aparência que denunciava ter uma idade próxima a minha se pronunciou. — Sim, ela é minha mãe.— Meu coração perdeu uma batida. Rachel é uma pessoa real! Então eu não estava sonhando. Meu coração acelerou e os aparelhos apontaram a mudança nos batimentos cardíacos. — Calma. - A menina fala calmamente e parece que meu coração levou uma dose de endorfina, pois no mesmo instante ele se acalma. O sorriso nunca saí dos lábios da bela médica. — Senhorita Berry, acho prudente você não participar da observação da Senhorita Jauregui, aparentemente ela se agita em sua presença. - Me desesperei. Precisava de respostas médicas e de respostas da Rachel e a única pessoa ali que poderia me dar os dois era a filha dela. Obviamente eles não atenderiam o capricho de uma paciente. — Mendes, você fica de olho na Jauregui nas próximas cinco horas de repouso, depois voltamos.— Fiquei cabisbaixa, não nego, mas eu estava mole e horrível naquele estado. Eu precisa de respostas, mas o meu estado não me ajudava muito.

O garoto acenou em resposta e as duas foram para fora. Meu olhar estacado nas costas da Doutora Berry que me deu uma última olhada antes de passar pelas portas brancas.

— O que aconteceu comigo? - Perguntei assim que o médico se aproximou. — Você ficou em coma induzido por dois meses devido a uma pancada muito grande em sua cabeça. - Abri e fechei a boca diversas vezes. Não lembrava do acidente. — Durante esses meses você ficou internada e sendo zelada pelos nossos cuidados. Ainda hoje será possível que você receba a visita de um parente, mas só depois que os exames forem feitos. Eu ainda estou na fase de Internato Hospitalar (*É um estágio que ocorre em geral nos dois últimos anos da faculdade de medicina) e qualquer complicação será atendida pela minha superior que é médica graduada e mestra em sua área. Seu corpo precisa de descanso e qualquer coisa é só apertar esse botão aqui. - Ele apontou para um botão que parecia uma campainha acima de minha cama. — Até mais tarde.

Agradeci com um aceno de cabeça e logo ele se pôs para fora da sala.

Minha cabeça doía quando eu tentava lembrar de qual acidente me deixou naquele estado e quando eu chegava perto de ter alguma imagem eu escutava uma buzina. Quem sabe eu fui atropelada.

Deixei minha cabeça tombar para o lado ressonando no travesseiro.

Dois meses. Meu Deus. Eu to reprovada. Perdi um semestre. Pensei com pesar. Bom, pelo menos estou viva e louca, louca, porém viva. Poderia ter sido pior.

Balancei minhas mãos, minha cintura, minhas pernas e por fim meus pés. Ótimo! Tudo se movimentando certinho.

Como está meu rosto? E meu cabelo? Será que a Médica Berry me viu naquele estado?

Óbvio que ela viu.

Okay, Berry, Rachel. Se Berry tem uma filha deduzo que sobreviveu e pelo que disseram ela está em musicais. Será que ela conseguiu?

E se o que eu tive foi um sonho? Se eu estava em coma a possibilidade de eu ter escutado e imaginado coisas é enorme.

Considerei a ideia por um tempo, antes de levar em consideração todas as outras pessoas, todas as emoções, todas as histórias. Eu amava inventar histórias, mas eu não seria capaz de inventar tudo aquilo.

E foi pensando que peguei no sono.

Acordei com o quarto vazio.

Ergui a mão afim de tocar a sirene e chamar o Médico Mendes, eu estava com sede e pela coisa desconfortável enfiada na minha boceta imagino que xixi e cocô não é problema. Eu estou usando fralda, por Deus!

Demorou alguns minutos e meu pedido foi atendido, porém não foi Mendes que entrou na minha sala e sim a Berry.

Novamente o aparelho acusa meu coração. Culpado!

Ela parece divertida ao se aproximar.

— Tudo bem, eu também fico nervosa perto dela, sou a maior fã de minha mãe. - Aquilo me atinge em cheio. Berry venceu. — O que precisa?— Água. - Falo com a voz embargada. Ela prontamente pega um copinho e o enche. — Você se saiu bem.— Ela comenta enquanto bebo. — Poucas contusões pelo resto do corpo, o preocupante, logicamente, foi a pancada na cabeça. Não entendo como deixam qualquer um dirigir um ônibus escolar. - Ela parece pensar e tudo que eu faço é encarar essa mulher. Tão nova, tão dócil e imagino que inteligente. Ela tinha vários traços de Rachel, mas um sorriso, mesmo que visto por mim poucas vezes, incrível. Ela cheirava bem e imagino como deve ser a textura de sua pele. — Qual seu nome?— Ela parece ser pega de surpresa. Sabia que logo ela voltaria lá para fora, mas eu precisava saber dela e da mãe dela. — Camila.— Mexeu os ombros. — Desculpe a falta de educação.— Ofereceu sua mão, assim como fiz para a sua mãe na lanchonete. — Karla Camila Estrebão Cabello Berry. - Falou tudo num fôlego só me fazendo divagar em quanto ela tinha trejeitos da Rachel. — Estrebão do meu vô, Cabello do meu pai e Berry da minha mãe. Por isso esse palavrão. — Prazer, sou Lauren Jauregui, não que você não saiba.— Fico sem graça com a situação em que me encontro. — Pois é, normalmente sei o nome de quem troco as fraldas.— EU FIQUEI VERMELHA. TOMATE. PIMENTA. Mal escuto quando ela saí da sala sorrindo. Suas palavras forão totalmente antiéticas e me deixar sem graça, porém pareciam ser ditas de uma forma bem humorada, de um jeito bem fofo.

[...]

Foi real.

Ou seja, todos os dias, durante aqueles dois meses, eu vi pessoas morrerem.

Algumas com traumas incuráveis e outras que apenas precisavam de alguém.

Meu primeiro filme de sucesso, junto com os outros que não chamaram atenção de ninguém, me renderam grana para me manter e grana para fundar uma associação de apoio na grande cidade de Nova York.

Eu ajudaria pessoas pelo resto da minha vida e prometi a mim mesma que nenhuma pessoa próxima a mim se sentiria sozinha.

Conheci Rachel Berry, ou melhor, reconheci a sua versão mais velha e ela me reconheceu. Eu sabia que eu não conseguiria explicar e ela também não conseguiria entender. Aquela situação surreal fez com que uma jovem desacreditada se reencontrasse.

Ela me contou que naquela mesma semana, após meu sumiço inexplicável em plena rua movimentada, ela foi atrás de ajuda psicológica para afastar quaisquer pensamentos que envolvesse ficar embaixo de um ônibus.

Ligou para Kurt Hummell, a amizade não seria a mesma, estava sendo melhor, pois ambos agora estavam iniciando fases boas de suas vidas.

Ela respondeu as cartas de Brittany que forçou Santana a ir atrás de Rachel, apesar da latina tentar pular no pescoço da baixinha, Rachel acabou se tornando mais tarde a madrinha da primeira filha delas.

Quase dois anos após eu partir Rachel se viu em outro beco sem saída: recém inclusa no ambiente Broadway ela engravidou de Alejandro Cabello, um ator latino que contracenou, ambos mantiveram uma amizade e foi nessa amizade que Camila cresceu recebendo todo amor do mundo e que Rachel conseguiu se manter dentro dos palcos.

Seus pais, Hiram e LeRóy, aprenderam a deixar seu casamento falhado de lado e sua filha em primeiro lugar, indo visitar a filha sempre que possível, isso depois de Rachel finalmente contar que estava passando necessidades e que uma ajuda de ambos não seria mal ideai, óbvio que ela devolveria o dinheiro no final.

Nem tudo é flores e no quesito amor Rachel tardou a confiar, mas a verdade é que considerando sua história e a forma como Quinn Fabray a protegeu e tratou Camila nos últimos anos, bem, vou deixar no ar, porque se não vai ficar muito sapatão para pouca história.

E falando em romance lésbico, bom, sinto que a explicação de eu ter aparecido na vida de Rachel foi egoísta. Sem Rachel eu nunca teria Camila. Minha felicidade não depende só de um relacionamento, por mais que seja meu casamento, mas eu sei que minha felicidade profissional, social e familiar não seria nem de perto a mesma sem Camila do meu lado.

 

FIM


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Notas finais do capítulo

Essa história foi um conjunto dos meus pensamentos trevosos e a importância do setembro amarelo, para quem não sabe, o Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização a prevenção do suicídio! Lembrem-se, pequenos seres, falar é sempre a melhor solução.

Beijinho no coração ♥



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