Meredith Gruwell escrita por Karina A de Souza


Capítulo 21
Esperança


Notas iniciais do capítulo

Olá



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Como de costume, minha caixinha de música estava tocando, enquanto eu limpava a casa. Por mais que muitos dias tinham passado, cada um parecia levar uma eternidade.

Naquela noite, sem surpresa, eu não conseguia dormir, então decidi fazer uma faxina na sala. Uma porta bateu, em algum canto da casa. Silenciei a caixinha de música e levantei, pegando minha varinha no bolso. Alguém estava subindo as escadas.

Tudo bem, não entre em pânico. Pode ser o idiota do Mundungo, ou... Sirius. Ou... Comensais da Morte.

A porta abriu. Me preparei, pronta para lançar um Expelliarmus no intruso ou intrusa, mas não era necessário.

—Sirius!-Cruzei a sala o mais rápido que pude e o abracei. -Você está bem? Fiquei tão preocupada. Você sumiu...

—Estou bem. -Me afastou um pouco. -Achei que estava com os Weasley.

—Eu fugi. Não podia ficar lá e deixá-los em perigo. Onde você esteve?

—Em muitos lugares. Tem comida?

Fomos pra cozinha. Eu mal podia acreditar que Sirius estava ali. Será que eu finalmente tinha pegado no sono?

—Não é muito, preciso comprar mais comida. -Avisei, deixando o último pedaço de pão na mesa e o resto da sopa do dia anterior.

—É perigoso sair.

—Eu sei. Mas não podia sentar e esperar comida a aparecer magicamente. Não saio há um tempinho. Viu algo suspeito lá fora?

—Tem algo pra ser suspeito lá?

—Na verdade... Acho que uns Comensais estão vigiando a casa. -Sirius ergueu a cabeça.

—O que?

—Nem sempre estão lá. Eu os vejo pela janela às vezes. Dois ou três. Só... Parados, esperando, olhando. Não sei se sabem que estou aqui.

—Há quanto tempo não os vê?

—Três dias. Espero que tenham ido embora, preciso comprar mais comida amanhã.

—Teve notícias dos outros?

—Não. Nada desde que vim pra cá. -Olhou para a pilha de jornais na beirada da mesa. -Achei melhor ficar de olho no Profeta Diário, é bom saber o que estão falando e... Sei que não perderiam a oportunidade de divulgar a captura ou morte de... -Não consegui terminar. -Mas não há nada. Parece que está tudo bem, na medida do possível.

***

Naquele dia, não pude sair pra comprar comida. Havia dois homens muito suspeitos do outro lado da rua. Sirius tinha quase certeza de que eram Comensais.

—Talvez a gente consiga sair de noite. -Ele disse. -Esses dois não vão ficar aí o dia todo.

Mas eles ficaram. Fiquei na janela quase o tempo todo. Eles não saíam da calçada, sempre conversando e observando. Se não fossem embora, nós íamos ficar sem comer.

—E se eu aparatasse?-Perguntei.

—Você sabe fazer isso?

—Claro que sim. -Saí da janela. -Não sou muito boa, às vezes aparato um pouco antes de onde gostaria, ou um pouco depois, mas eu sei.

—Onde aprendeu?

—Nos livros. Eu posso ir...

—Não. Como você mesma disse, não é muito boa. Pode aparatar no lugar certo, ou pode parar na frente daqueles homens. É melhor não arriscar.

—Estou faminta. Quanto tempo acha que vamos aguentar sem comer? Não tivemos café da manhã e nem almoço. -Olhei pela janela de novo. -Em uma hora, eu vou sair, com esses homens lá fora ou não.

—Você precisa mesmo ser tão teimosa? Ouviu isso?-Saiu do sofá, pegando a varinha. -Acho que temos companhia.

—Sirius...

—Fique aqui. -E saiu da sala, descendo as escadas. Peguei minha varinha e o segui. -Eu te disse pra ficar lá.

—Sou teimosa, lembra?

—Shh. Tem alguém na cozinha. -Paramos.

—Talvez seja Mundungo. Ele pode ter vindo roubar de novo.

—São duas vozes. Espere aqui. E me obedeça dessa vez. -Entrou na cozinha.

Fiquei em silêncio, atenta. Logo Sirius me chamou. Entrei no local. Primeiro não vi os intrusos, e quando os localizei, não pude evitar sorrir.

—Monstro! E... Hum...

—É Dobby, senhora. -O elfo disse, largando uma grande cesta na mesa. -Dobby e Monstro trouxeram comida. -Sirius se adiantou pra ver.

—É comida mesmo!-Confirmou. -Muita comida!

—Dobby achou que iam precisar.

—Como sabiam que estamos aqui?-Perguntei, Monstro saiu de cima da mesa e enfiou um pedaço de papel na minha mão. Quando abri a boca para perguntar o que era, ele fez um gesto de silêncio.

—É comida para um mês!-Sirius disse, animado. -Vocês assaltaram a cozinha de Hogwarts?

Me afastei um pouco, desamassando o papel para ler.

O segredo de vocês está seguro comigo. Não saiam da casa.

Reconheci a letra imediatamente. Severo. Ele tinha mandado os elfos com a comida. Por quê? E como sabia que estávamos lá? Pensei em contar a Sirius, mas ele mandaria Monstro e Dobby levarem a cesta de volta e diria que não podíamos mais ficar na casa.

Voltei ao quarto e rabisquei um bilhete rápido.

Por que confiaria em você? E como sabe que estamos aqui? Os Comensais do outro lado da rua, eles te disseram?

Entreguei o bilhete a Monstro quando Sirius não estava vendo, e pedi que entregasse a Snape. Eu não tinha certeza se estávamos seguros.

***

—Há quanto tempo não tem a poção pra dormir?-Sirius perguntou, deitado ao meu lado. Ele ocupava quase a cama toda, mas era bom tê-lo por perto. Tinha vindo até mim depois que acordei gritando no meio da noite.

—Acabou há muito tempo. Antes de irmos para a Toca. Os pesadelos diminuíram por um tempo, mas estão voltando, como antes.

—Se eu conseguisse falar com Aluado... Talvez ele conseguisse fazer uma poção dessa.

—Ele tem outras coisas pra se preocupar agora. -Bocejei. -Boa noite, Almofadinhas. -Sorriu.

—Boa noite, Meri.

***

Eu acordei no meio da noite, com sons de passos. A porta abriu e Monstro entrou. Franzi a testa.

—O que está fazendo aqui?-Sussurrei, me soltando de Sirius e saindo da cama.

—A resposta. -Balançou um papel no ar.

—Vamos lá pra baixo.

Fechei a porta o mais silenciosamente possível, não querendo acordar Sirius. Desci com Monstro para a cozinha. O elfo me entregou o bilhete.

Você não tem motivos para confiar em mim. Mas eu não ofereço riscos. Os elfos levarão comida todo mês. Fique escondida, para o seu próprio bem.

—O diretor também mandou isso. -Monstro disse, estendendo um frasco.

—Poção pra dormir. -Sussurrei. -Ah, Severo, como é que eu vou te entender?

—Monstro vai voltar para Hogwarts se a senhora não precisar de nada.

—Tudo bem. Apenas... Sirius não pode saber sobre isso. -Mostrei o frasco. -Nem que Snape mandou a comida. -Assentiu rapidamente.

—Como a senhora quiser.

—Boa noite, Monstro. E obrigada.

—Às suas ordens, senhora. -Sumiu.

Suspirei e olhei para o frasco que tinha em mãos. Era a mesma cor da poção pra dormir que eu tinha, e era o mesmo cheiro. Claro que se Snape quisesse me envenenar, seria cuidadoso, e eu não descobriria até que fosse tarde demais.

Mas... Ele tinha nos mandado comida (e ela não tinha nos matado) e não contou aos Comensais que Sirius e eu estávamos na casa.

Será mesmo que podia confiar nele?

***

—Você está fazendo o café da manhã?-Perguntei, esfregando os olhos e me encostando no batente da porta. Sirius se virou, sorridente.

—Sim. Eu não sou um completo inútil.

—Hã... Alguma coisa está queimando ali. -Apontei. Almofadinhas soltou um palavrão e voltou a cozinhar. -Se isso ajuda... Não te acho um inútil.

—Só diz isso por que gosta de mim. Lembro do tempo em que vivia me chamando de nomes terríveis. -Ri.

—Bons tempos. Era divertido.

—Por que nós brigávamos tanto?-Cruzei os braços.

—Você era detestável.

—Ei!-Olhou pra mim. -Você também não era um amor de pessoa.

—Eu era sim. E continuo sendo. -Riu -Tudo bem, eu era um pouco difícil.

—Um pouco?-Assenti. -Você implicou comigo desde o primeiro dia.

—Você se achava o máximo!

—Eu era. -Nos encaramos por alguns segundos, então caímos na risada. -Quer saber? Sim, eu era um idiota e você era difícil de se lidar. Mesmo assim, vi uma garota incrível atrás daquele muro que havia entre nós, e aí me apaixonei. -Sorri. -Tiago achou que eu estava maluco. Mas depois entendeu, afinal, ele se apaixonou por Lílian.

—Infelizmente, nós não... Conseguimos evoluir. E eles tiveram a vida interrompida...

—Meri, não. -Se aproximou e segurou minhas mãos. -Você não pode ficar pensando nas coisas ruins. Pense em tudo de bom que aconteceu.

—Nós estamos em guerra. Fico esperando só coisas ruins.

—Em breve isso vai acabar. E você e eu vamos continuar de onde paramos. -Sorri.

—É uma promessa?

—É. Eu prometo.

—Ótimo. Hum... Acho que tem algo queimando de novo. -Suspirou.

—Não acredito que vou dizer isso, mas estou com saudade de Monstro.

***

A poção pra dormir não era veneno. Eu tinha a bebido na noite anterior e estava bem. Não houve terrores noturnos e nem efeitos colaterais. Snape não estava tentando me envenenar.

—O que tem aí?-Sirius perguntou, atrás de mim. Me virei e escondi o frasco atrás das costas.

—Hum?

—O que está escondendo?

—Nada. -Entrou no quarto.

—Meredith, me mostre.

—Eu não tenho direito à privacidade? Não pode me obrigar a...

—Não enrole.

—Quer saber? Fora do meu quarto. Você está sendo estúpido. -Se aproximou e tirou o frasco da minha mão. -Sirius!

—Onde arrumou isso?

—Devolva.

—É uma poção pra dormir, não é? Como conseguiu?-Respirei fundo.

—Snape mandou, através de Monstro.

—O QUE?-Recuei, torcendo para não ficar surda. -Snape mandou? E você bebeu isso?

—Sim. Bebi. E não é veneno. É realmente uma poção pra dormir.

—Snape te mandou isso e você bebeu! Snape! O Comensal da Morte que matou Dumbledore!

—Sabe o que mais Snape fez? Mandou toda aquela comida. Ele sabe que estamos aqui e não mandou ninguém para nos matar.

—Sabe por quê? Por que ele está esperando Harry aparecer para entregar nós todos de uma vez.

—Sirius... -Jogou o frasco no chão, fazendo-o se espatifar e o líquido se espalhar pelo piso. -Não! Eu precisava disso!

—Você precisa é se preparar pra sair. Estamos indo embora. -Começou a ir pra porta.

—Eu não vou. -Parou onde estava e se virou lentamente.

—Por favor, por favor, não me diga que confia em Severo Snape.

—Eu não confio. Eu tenho apenas esperança. Esperança de que o garoto bom e correto está vivo. Esperança de que ele está nos ajudando por que é o certo a se fazer. Esperança de que vamos vencer essa guerra e sobreviver. -Sirius pareceu se acalmar um pouco.

—Meredith...

—Você pode ir se quiser, não posso exigir que fique. Mas gostaria que ficasse. -Respirou fundo.

—Não vou abandonar você. Só espero que sua esperança não nos mate. -Saiu do quarto.
Sentei na cama e encarei os pedaços do frasco, desanimada. Esperava que não estivesse depositando minha esperança na pessoa errada.

***

“-Quer que eu leve seus livros?-Severo perguntou a Lílian, caminhando entre ela e eu. A ruiva balançou a cabeça negativamente.

—Pode levar os meus. -Provoquei.

—Não me lembro de perguntar a você.

—Vou fingir que perguntou. -Coloquei meus livros na pilha que ele carregava. -Algum de vocês entendeu alguma coisa sobre as poções que o Slughorn mostrou?

—Eu entendi.

—Que novidade, estou espantada.

—Eu também entendi. -Lílian disse. -É bem simples. Você só precisa...

—Não. Se começar a explicar poções agora, meu cérebro vai desligar.

—Ele alguma vez esteve ligado?-Severo perguntou.

—Você está se achando muito engraçadinho, Snape. Eu sou a engraçada do grupo. Não me faça expulsar você do trio. -Sorriu. -Tudo bem, quem está com fome? Estou faminta.

—Você sempre está com fome -Lílian apontou.

—Que calúnia, Evans. -Tiago e Sirius passaram por nós. -Okay, perdi a fome.

—Não seja cruel.

—Não enche, Evans.”

***

Sirius ficou um pouco mal humorado nos dias seguintes. Não falou nada sobre Snape, na verdade, nem falou muito. Mas, como sempre, se acalmou logo.

Os homens que ficavam do outro lado da rua sumiam e voltavam. Isso por uma semana, depois não apareceram mais. Sirius não disse nada quando contei isso a ele, apenas pareceu pensativo.

Nós passamos semanas monótonas, até que no dia 1, em maio, uma carta chegou.

—De quem é?-Perguntei, tentando espiar por cima do ombro de Sirius. -Quem enviou?

—Remo.

—E o que diz?

—Todos estão indo para Hogwarts. Haverá uma batalha.

—Contra quem?-Se virou pra mim. -Oh, contra o Lorde das Trevas. Espera...Não! Isso é ruim. As pessoas podem ser mortas e...

—Essa guerra precisa ter um fim. -Deixou a carta na mesa. -Eu vou.

—Sirius, por favor, não.

—Preciso fazer isso. E você precisa ficar aqui.

—Eu quero ir. -Balançou a cabeça negativamente. -Eu vou com você.

—Não. Fique. Por favor. Preciso ter certeza de que ficará bem. -Me deu um beijo na testa. -Vou voltar pra você, prometo.


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Notas finais do capítulo

E a história está acabando. Temos apenas mais dois capítulos.
Então, amorzinhos, o que estão achando? Comentem aí, comentários são sempre bem vindos ♥



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