Meredith Gruwell escrita por Karina A de Souza


Capítulo 20
Silêncio


Notas iniciais do capítulo

Olá :)



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—Onde nós estamos?-Perguntei, olhando em volta. Havia apenas árvores e mais árvores.

—Perto de um vilarejo bruxo, me escondi aqui uma vez. -Me entregou o casaco que estava usando, fazia muito frio ali.

—Acha que os outros estão bem? Não deveríamos... Talvez... Voltar?-Vesti o casaco.

—Não temos como saber se alguém ficou lá ou quantos Comensais estão vasculhando a Toca. É perigoso voltar agora.

—Mas... E Harry, os Weasley... Hermione...?

—Também estou preocupado, Meri, mas não podemos arriscar. -Sentei no chão. Sirius juntou uns gravetos e fez uma fogueira. -Pensei em te deixar aqui e voltar lá, mas se algo acontecesse comigo... Você ficaria sozinha.

—Ainda não entendi direito o que houve. Quem mandou aquele lince e o que aconteceu?

—Era o Patrono de Kingsley. Voldemort tomou o Ministério.

—O que vai acontecer agora?

—Coisas ruins. Nós não estamos seguros, Meredith. Nenhum de nós está.

***

Mal consegui dormir. Toda vez em que pegava no sono, a imagem daquele Patrono sumindo e das pessoas entrando em pânico se repetia na minha cabeça.

Na manhã seguinte, Sirius decidiu ir até o vilarejo tentar arrumar alguma coisa para comermos. Ele ia em forma de cão, já que o efeito da poção rejuvenescedora tinha acabado.

—Vai ficar bem sozinha?-Assenti. -Prometo que serei rápido.

—Apenas... Tome cuidado, por favor.

Sozinha na floresta, tudo parecia pior. Cada som parecia muito mais alto e representar algum perigo. Mas talvez fosse paranoia minha.

Bem... Não era.

Eles apareceram do nada, quatro homens grandes e dois garotos que estavam amarrados. Não tinham me visto, por que eu estava atrás de uma árvore. Prendi a respiração e tentei não me mexer, com medo que qualquer barulhinho me denunciasse.

—Pegamos esses dois indo no Beco Diagonal. -Um dos homens disse. -São nascidos trouxas. Estudam em Hogwarts.

Estudavam. -Outro corrigiu. -Esses sangue-ruins não vão voltar pra lá agora que a escola pertence ao Lorde das Trevas. Vamos levá-los antes que alguém tente resgatá-los. -Todos aparataram.

Soltei o ar lentamente, assustada. Podia ser eu. Era uma nascida trouxa. Era o que eles chamavam de sangue-ruim.

Algo fez um movimento repentino na minha frente, me assustando. Gritei, apontando a varinha, mas era apenas Sirius.

—Desculpe. Desculpe. -Pediu. Abaixei a varinha. -Você está bem?

—Comensais... Estavam com dois nascidos trouxas, como eu. Estamos sendo expulsos de Hogwarts. Estão... Caçando pessoas como eu?

—Eu não quero piorar a situação, mas... -Tirou um papel amassado do bolso e me entregou. -Está espalhado pela cidade.

Desamassei o papel. Era um daqueles cartazes de procurados... Com meu rosto.

“Você viu esta bruxa? Meredith Gruwell, acusada de conspirar contra o Ministério; auxiliar o fugitivo Sirius Black e o Indesejável Número 1, Harry Potter”.

—Parece que tem uma cela em Azkaban me esperando. -Murmurei, chocada demais para pensar direito.

—Não enquanto eu viver. Vão ter que me matar pra colocar as mãos em você. -Estendeu a mão. -É melhor sairmos daqui.

—Tudo bem. -Fiquei de pé e segurei a mão dele. Aparatamos.

***

—Quanto tempo acha que vamos ficar nos escondendo assim?-Perguntei, brincando com um lenço que havia roubado num dos vilarejos que passamos. Eu precisava dele para me “disfarçar”.

—Não sei. Não consigo pensar em nenhum lugar seguro para irmos. Estamos sendo procurados, as pessoas podem se complicar se forem pegas nos escondendo. Nenhum lugar parece seguro agora.

Os dias fugindo e se escondendo pareciam se arrastar, durar uma eternidade. Sirius podia estar acostumado com esse tipo de coisa, mas eu não estava me adaptando bem. Foram noites e noites mal dormidas, fome, chuva e medo.

Sirius às vezes fazia planos. Queria sair do país, mas de repente dizia que era uma má ideia e que não podíamos deixar os outros. Cinco minutos depois afirmava que devíamos pensar em nós primeiro. Pouco depois dizia que isso seria egoísmo.

A verdade era que se essa situação se arrastasse por muito tempo, um de nós ia acabar pirando, eu era a maior candidata, mas Sirius estava quase lá também.

Sem muita surpresa, acabei ficando doente. Não parecia muito grave, mas foi o suficiente para Sirius ficar preocupado.

—Não pode continuar aqui. -Disse, colocando a mão na minha testa. -Isso vai acabar te matando.

—É só uma gripe idiota. Eu vou ficar bem.

—Você precisa de uma casa, comida, roupas limpas e banhos quentes. Ficar no meio do nada, nesse frio, não vai te ajudar.

—A gente não tem pra onde ir. Você disse. Vou melhorar.

—Não discuta comigo, Gruwell. Vem. -Me ajudou a ficar de pé. Aparatamos.

Era noite, mas eu sabia onde estávamos. A casa dos Weasley ficava ali perto, eu podia vê-la de onde estava.

—Você vem comigo, não é?

 

—Não. -Respondeu. -Você vai ficar aqui com eles, em segurança.

—Pra onde você vai?

—Ainda não sei.

—Quero ir com você. -Comecei a tossir.

—Preciso que fique aqui, segura e bem. Por favor, Meredith. -Assenti, meus olhos enchendo de lágrimas. Sirius me deu um beijo na testa. -Eu vou voltar. Eu prometo.

—Seja cuidadoso. Por favor. -Assentiu.

—Agora vá. Rápido.

Comecei a correr, sentindo minhas pernas doerem e meus pulmões reclamarem. Quando cheguei à porta dos Weasley, Sirius tinha sumido. Meu coração apertou. Por favor, fique bem.

Bati na porta, a casa estava toda escura. A luz da cozinha ascendeu e passos apressados se aproximaram.

—Sou eu, Meredith. -Sem resposta. Bati de novo na porta. -Por favor, me deixe entrar. Sou eu.

—No dia do seu aniversário, nós tivemos uma conversa séria sobre algo. -Era a voz da senhora Weasley. -Sobre o que era?

—Sobre Sirius. Nós conversarmos sobre Sirius. -A porta abriu.

—Meredith!-Me puxou para dentro. -Estávamos tão preocupados! Você está bem? Está tão magra! Cadê o Sirius?

—Ele se foi. Não sei pra onde. Eu...

Apaguei.

***

—Nós não temos notícias deles desde o casamento. -A sra. Weasley disse, andando de lá pra cá na cozinha, parecendo nervosa. -Os três sumiram. Mas eu sei que eles não foram pegos. Você-sabe-quem faria questão de anunciar a captura de Harry. Eles estão bem. Sei que estão.

—E os outros? Remo, Tonks, o resto da Ordem...?

—Estão bem. Até onde sabemos. -Fez uma pausa. -Arthur me contou que há cartazes com seu rosto por aí.

—Sim, eu sei.

—Estiveram aqui, te procurando. Dois Comensais. Reviraram a casa toda.

—Eles machucaram vocês?

—Não, mas... Não posso negar que não fiquei com medo, por nós e por você. Que bom que apareceu aqui. Quer comer mais alguma coisa?

A senhora Weasley continuou falando, mas eu não estava mais a ouvindo. Ficar na Toca era perigoso demais para a família que me acolheu. Eu precisava ir embora logo.

—... É o que estão dizendo por aí.

—Desculpe, o que?-Perguntei, confusa.

—Snape. Estão dizendo que ele assumirá o cargo de diretor de Hogwarts.

—Severo? Depois de matar Dumbledore?

—Bom, faz sentido que Você-sabe-quem queira alguém de confiança no comando da escola. Não sei se vou mandar Gina pra lá. Você certamente não deve ir, principalmente agora que está sendo procurada.

—Eu só queria entender Severo. Tudo parecia... Ir bem e de repente...

—Sinto muito, querida. Mas esse não é o amigo que teve antes. É melhor esquecer.

—É... Parece ser o melhor mesmo...

***

Se continuasse batendo na porta daquele jeito, eu acabaria a derrubando. Ajeitei o lenço na cabeça e bati de novo na madeira, furiosamente.

—Abra! Eu sei que está aí! Ou vai se esconder de mim, seu covarde?-A porta abriu rapidamente.

—Entre e pare de gritar. Vai chamar atenção.

—A última coisa que devia te preocupar agora é com atenção. -Entrei na casa. Severo fechou a porta e quando se virou, deu de cara com a minha varinha. -Me dê um motivo para não te lançar um Avada Kedrava.

—Você não consegue.

—Quer apostar?-Não pareceu nada afetado.

—Como chegou aqui?

—Noitibus.

—Quando seu rosto está espalhado em cartazes por aí? Achei que fosse mais esperta que isso.

—E eu que você era um bom homem. Matou Dumbledore! Está do lado de Vol...

—Não diga. Não pode dizer esse nome.

—E por quê? Ele não quer sangues-ruins pronunciando o nome “especial” dele?

—Apenas não diga. -Dei de ombros.

—Tanto faz. Dane-se o nome dele. Por que mentiu esse tempo todo? Por que traiu a Ordem? Você sabe o que aconteceu no casamento de Gui Weasley? Comensais invadiram! E eu não vou mais fingir que não sei da perseguição à Harry e que um dos gêmeos perdeu a orelha por sua causa!

—Meredith...

—Achei que se eu ignorasse essas coisas, elas deixariam de ser reais. -Respirei fundo, me proibindo de cair no choro. -Mas elas são. Pessoas estão morrendo. Meus amigos desapareceram... Eu posso ser capturada e morta por que meus pais eram trouxas, Severo. E você faz parte disso. Você apoia o homem que quer me matar. Que matou Lílian, aquela que você amava. -Se manteve em silêncio. -Diz alguma coisa! Ou não consegue inventar nenhuma mentira? Esse tempo todo você me odiou por ser o que você e seus amigos assassinos chamam de sangue-ruim, não? É por isso? Diz alguma coisa!

—Você não vai me ouvir. Não acredita em mim.

—Como poderia? Depois de tudo, acha que posso acreditar em você?-Em segundos, ergueu a própria varinha e lançou um Expelliarmus, pegando minha. -Tudo bem. Vá em frente, mate-me. Por isso afastava a professora Trelawney de mim? Tinha medo que ela previsse isso?

—Se eu te dissesse toda a verdade, você estaria em perigo. Pode achar que eu quero te matar. Ache o que quiser, mas não é verdade.

—Está complicando as coisas.

—Você está. -Fez uma pausa. -Obliviate.

***

Eu quase tive um ataque do coração ao entrar na casa dos Black, no meio da noite. Alguém estava descendo as escadas rapidamente. Por um momento, pensei que Sirius havia tido a mesma ideia que eu, mas não era ele.

—Mundungo!-Gritei, apontando a varinha para o rosto dele. O bruxo quase derrubou o saco que segurava. -Você está roubando!

—Eu? Hã... Não.

—Então o que você tem aí?-Recuou. Abri a boca para azará-lo, mas ele aparatou antes.

Andei pela casa toda, apenas para ter certeza de que não havia mais intrusos. Não encontrei ninguém, mas alguém tinha ficado na casa.

Deixei minhas coisas no quarto que costumava ser meu e voltei para a cozinha. Não tinha nada pra comer, o que era óbvio. E sem Monstro... Bem, eu ia ter que me virar.

Era arriscado sair, mas se não fizesse isso, ia morrer de fome.

—Parece que somos só nós, meu lindo lenço roubado. -Murmurei, me preparando pra sair.

O silêncio da casa vazia era horrível. Senti saudade das férias em que todos se juntavam no Largo Grimmauld, brincando, rindo e limpando tudo.

Falando em limpeza, depois de comprar o necessário, comecei uma mega faxina na casa, que deixaria a senhora Weasley orgulhosa.

Eu não tinha contado pra ela, nem pra ninguém, que estava indo embora da Toca. Tinha fugido no meio da noite. Não podia colocar os Weasley em risco por me abrigar. Eram boas pessoas, não mereciam ser punidos por esconder... Bem, uma fugitiva. Não era certo.

Ninguém ia se machucar por minha causa. Não se eu pudesse evitar.

***

Depois de dias convivendo com o silêncio, passei a deixar minha caixinha de música tocando quase o tempo todo, porém, a silenciava cada vez que ouvia um som estranho, preocupada com invasores e torcendo para ser Sirius.

Ficar sem notícias dos outros era horrível. Se juntava ao medo e a preocupação. Isso tudo me tirava o sono. A última vez que dormi bem foi um dia antes do casamento de Gui e Fleur.

—E se eu conseguisse remédios pra dormir?-Perguntei em voz alta, encarando o teto da sala. -Não. Tenho muito pouco dinheiro. Não posso ficar gastando atoa. E é sempre bom ficar alerta...

Um barulho me tirou do meu monólogo. Sentei depressa, apertando a varinha na mão e apurando os ouvidos. Não houve mais nenhum barulho, então não devia ser nada demais. Voltei a deitar, o coração voltando a bater no ritmo normal.

—Como chegamos aqui, Meredith? Como isso aconteceu?-Suspirei e coloquei minha caixinha de música para tocar.

E pensar que eu reclamava da minha vida antes.


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Notas finais do capítulo

E então, o que estão achando?



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