Descendentes: Desenvolvendo Sentimentos escrita por Lanan Tannan


Capítulo 13
Capitulo 11 - B!tches Beware pt.2


Notas iniciais do capítulo

AAAAAAAAAAhhhhh HOJE É MEU NIVER♥♥ 19 anos, credo kkkk


Tem uma cena com a Evie aí que eu estava louca para postar kk
Acho que foi a primeira que eu escrevi para a fic >.

Independente disso, aqui está a segunda parte do capitulo.
Aproveitem
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Quando eu chego no clube, no local

Todo mundo está olhando para mim, tipo: O QUE?

Eles falam sobre mim em todos os lugares

Cuidado!

Vadias, cuidado!

When I get in the Club, in the spot

Everybody’s looking at me like: WHAT?!

They talk about me everywhere

Watch out!

B!tches Beware

— B!tches Beware (Steven Cruz, “Better Beware”)

 

Local: Auradon Prep., sala da Fada Madrinha

Hora: 08h21m, segunda-feira

 

Carlos dormia, a cabeça apoiada sobre a mochila em cima da mesa. Jay, ao seu lado, mexia no celular, entediado. Ambos já estavam na sala de aula, apenas esperando a chegada das garotas para começarem.

E elas estavam demorando muito.

A Fada Madrinha alternava o olhar entre o relógio e a porta, pronta para iniciar sua aula de Bondade Curativa aos filhos de vilões. E, ao contrário do que esperava, eles não eram nada pontuais.

A porta abriu lentamente, atraindo a atenção dos presentes. Evie suspirou aliviada quando viu os amigos sentados a encarando. Finalmente havia acertado a sala, graças ao filho de Dunga.

— Finalmente! – Jay exclamou alto, batendo as mãos sobre a mesa.

O barulho fez com que Carlos se sobressaltasse na cadeira, erguendo a cabeça assustado.

— Vamos começar? – A Fada Madrinha perguntou, chamando a atenção para si. Ela levantou-se e começou a escrever no quadro.

— Pode ser. – Evie respondeu, sentando à mesa ao lado dos garotos. Havia alguns livros e cadernos empilhados no centro da mesa e a garota abriu um, curiosa.

— Evie, cadê a Mal? – Carlos perguntou, coçando o olho direito.

— Estava dormindo quando sai. – Evie respondeu sem desviar o olhar do livro a sua frente. Era de química, uma de suas matérias favoritas.

— A cara dela. – Jay comentou, rindo. – Vai ser um milagre ela acordar cedo.

— Estou ouvindo vocês falando mal de mim. – Mal interrompeu, assustando os garotos que nem perceberam quando ela entrara. – Que linda a amizade de vocês.

— Também te amamos, M. – Evie respondeu, fechando o livro e observando a amiga sentar ao seu lado.

— Bom dia a todos e vamos começar nossa primeira aula? – A Fada Madrinha sorriu, mas o gesto não foi compartilhado pelos jovens. – Nossa aula tratará de um assunto especial: Bondade Curativa.

— Aula especial? – Mal murmurou, erguendo as sobrancelhas inquisitiva.

Evie sorriu ao lembrar da resposta que tivera com Doug para essa mesma pergunta. Sua boca levemente aberta, pronto para contrariar e o sorriso no final quando ele concordou indiretamente...

— Por que está sorrindo? – Mal perguntou, fitando Evie com uma expressão desconfiada.

— Por nada. – Evie desfez o sorriso, abrindo distraidamente um dos cadernos. Ela baixou a voz para não chamar a atenção da Fada Madrinha que continuava explicando sobre sua aula. – Como achou a sala?

— Encontrei o Benjamin e aquele garoto nerd. – Mal deu de ombros, respondendo de forma desinteressada. A garota não iria comentar o incidente que acontecera entre ela e o Príncipe, não era nada relevante mesmo.

— Doug? – Evie perguntou surpresa, desviando o olhar do livro para a amiga de cabelos roxos.

— Sei lá. – Mal respondeu e fitou o rosto de Evie, semicerrando os olhos. Ela estava escondendo alguma coisa.— Você falou com ele hoje?

— Não. – Evie mentiu, conseguindo manter a voz firme e segura. Ela devolveu o olhar desconfiado ao compreender a frase completa da amiga. – Mas você conversou com o Príncipe, não foi?

— Meninas. – A Fada Madrinha chamou a atenção das duas, para alivio de Evie. – O que vocês acham que seria a bondade curativa?

Evie e Carlos desviaram o olhar, evitando contando visual para não serem escolhidos. Jay ergueu a mão, confiante em sua resposta.

— É o nome de um remédio para consertar ossos quebrados depois de uma luta.

A Fada Madrinha o encarou, em dúvida se aquilo era algum tipo de brincadeira ou se era uma resposta séria. Carlos e Evie apenas riram pela resposta do amigo.

— Seria a transformação de nossas ações e sentimentos ruins para algo bom, que ajudasse o próximo ao invés de feri-lo. – Mal respondeu, sua voz entediada.

— Correta. – A Fada Madrinha bateu breves palmas, feliz ao perceber que a garota estivesse interessada.          

Seus amigos a encararam, surpresos pela garota de cabelos roxos se dispor de responder algo por livre e espontânea vontade. Ainda mais, algo relacionado com o bem.

Mal revirou os olhos e arrancou algumas folhas do caderno a sua frente. Ignorando completamente a senhora em frente ao quadro, pegou um lápis verde e imergiu em seu mundo artístico.

A aula passou rapidamente na visão dos jovens, talvez pelo fato de que nenhum deles havia prestado atenção no que a senhora de azul falava. Jay estava com a cabeça apoiada na mão esquerda, os olhos fechando lentamente. Carlos e Evie olhavam para o quadro sem realmente vê-lo, mas sim distraídos em seus próprios pensamentos. E Mal continuava desenhando, concentrada em finalizar seu quarto desenho: a Varinha Mágica.

— Vocês já devem ter entendido o princípio básico da bondade. – A Fada Madrinha bateu o bastão que segurava no quadro, despertando cada um dos jovens de seus devaneios. – Então vamos responder essas perguntinhas bem fáceis. Estão prontos?

Carlos inclinou a cabeça, focando na fala da professora. Evie fez a mesma coisa que amigo, apoiando os braços sobre a mesa, atenta.

— Se alguém te entrega um bebê chorão, você: a) xinga. – A Fada Madrinha começou as perguntas, estava animada para ver se a primeira aula havia rendido frutos.

Mal ergueu rapidamente o olhar de seu desenho e riu internamente, achando graça do movimento feito pela professora.

— b) Tranca numa torre.

Carlos e Jay se entreolharam, ambos lembrando das aulas da Mamãe Gothel. Aquela, com absoluta certeza, seria a reposta correta.

Pelo menos foi o que Ginny Gothel fez com uma das crianças na Ilha dos Perdidos.

— c) Dá a mamadeira. – A voz da Fada Madrinha dessa vez saiu mais suave, apontando como sendo esta a alternativa correta. Infelizmente, eles não pegaram a dica.

Evie até mesmo acenou negativamente, afinal que tipo de pessoa faria aquilo se recebesse uma criança chorona? Iria procurar se livrar o mais rápido possível, isso sim.

— Ou d) Arranca seu coração.

Assim que a Fada Madrinha finalizou de apontar as alternativas, Evie ergueu a mão, dando um pulinho na cadeira, empolgada.

— Evie! – A Fada Madrinha apontou para a garota, feliz que alguém além de Mal se dispusesse a responder.

Ela baixou a mão, concentrando-se em lembrar todas as alternativas. Provavelmente era a b), apesar de não lembrar exatamente o que dizia.

— Qual era a segunda mesmo? – Perguntou, sorrindo inocentemente. Mal, que estivera enrolando uma mecha de seus cabelos roxos com a mão esquerda e desenhando com a outra, inclinou a cabeça para a amiga, não acreditando na resposta dela. Não era óbvio qual era a certa?

— Ah, tudo bem. – A Fada Madrinha sorriu desapontada. Olhou para os garotos na esperança de que eles soubessem. – Mais alguém?

Os garotos a encararam de volta, sem responder. E Evie ficou sem entender o porquê havia errado a questão.

— Mal. – A senhora chamou gentilmente a garota.

Mal ergueu a cabeça, suspirando por ter sido interrompida. Ela leu rapidamente o quadro, avistando qual letra era a correta.

— c) Dá a mamadeira. – A garota respondeu, em um tom de voz monótono.

— Correta. – A Fada Madrinha respondeu orgulhosa. Pelo menos um deles estava compreendendo o conteúdo da aula. – De novo.

— Você arrasa, gata. – Carlos comentou, impressionado. Não esperava que de todos os quatro, fosse Mal a se tornar adepta aos conceitos auradonianos de bondade e essas coisas tediosas.

— É só escolher a que não tem a menor graça. – Mal respondeu em tom óbvio. Sério que eles não haviam percebido isso?

— Ah. – Exclamaram, compreendendo tanto o modo como teriam que responder as perguntas daquela aula de agora em diante, quanto o porquê de Mal acertar todas as vezes.

— Faz todo o sentido. – Evie comentou, sorrindo.

— Oh. – Mal zombou das reações de seus amigos. Ela baixou a cabeça para o seu desenho, sorrindo irônica.

A Fada Madrinha suspirou para si mesma. E ela achava que Mal tinha entendido...

Parada ao fundo da sala, próxima as portas transparentes, a Fada Madrinha viu sua filha observando. Acenou, a chamando e a mesma começou a se aproximar.

A garota estava nervosa, teria que passar entre os filhos de vilões e ela não estava muito animada com isso. Havia ficado do lado de fora, a espera que sua mãe fosse até ela. Infelizmente não fora assim.

Assim que ficou lado a lado com eles, apressou o passo, grunhindo assustada. Seu gesto atraiu a atenção de Mal, que passou a observá-la.

— Oi, minha querida. - A Fada Madrinha cumprimentou sua filha da forma mais amável encontrada.

— Oi. – A garota respondeu, entregando para sua mãe a prancheta que segurava. Ela olhou nervosamente para trás, temendo que os filhos dos vilões se aproveitassem de sua desatenção. – Tem que nos dispensar antes para a coroação.

Coroação? Mal pensou, curiosa sobre o desenrolar daquela história. Ela cutucou a amiga ao seu lado, tentando faze-la prestar atenção também.

Evie enrolava um de seus cachos azulados em sua mão direita, olhando na direção da janela, que oferecia uma visão direta para a quadra de vôlei. Nesta, três garotos e uma garota jogavam uma partida amigável e divertida. Evie os observava, afinal qualquer um deles poderia ser o seu príncipe encantado. Poderia ser aquele que passava as mãos constantemente por sobre os cabelos dourados ou o garoto ao seu lado, que errava cada passe no jogo.

Sua mãe sempre afirmara que um dia ela iria encontrar o seu, pois toda princesa está destinada a um verdadeiro príncipe.

Evie sentiu o toque da amiga e voltou-se a observar o que acontecia dentro da sala de aula. A primeira coisa que fez foi uma careta de desagrado ao notar as roupas que a estranha garota ao lado da Fada Madrinha vestia.

Uma intervenção de moda tinha que ser feita ali. E urgente.

— Todos aqui se lembram da minha filha Jane? – A Fada Madrinha perguntou sorrindo, assinando o termo de liberação estudantil.

— Mãe, não! – A garota implorou para a mãe parar.                Já não bastava a vergonha que passava com os alunos naturais daqui, tinha que “cair nos radares” logo dos filhos dos vilões mais perversos?

— Tudo bem. – Sua mãe assegurou, confiante. Ela entendia o temor da filha, mas precisava que esse sentimento desaparecesse dos corações dos alunos para que pudessem aceitar esses jovens como parte integral da sociedade. Do mesmo modo como ela, o Príncipe Ben e poucos outros faziam. A Fada Madrinha devolveu a prancheta e segurou os ombros da filha, virando-a para a turma. – Jane, esta é a turma.

— Oi. – Jane respondeu, mais nervosa ainda pelo empurrão de sua mãe. Agora todos os quatro a encarava, apesar de não responder a sua saudação e isso afligiu a garota. – Tudo bem, não liguem para mim. Como sempre.

Após sua fala, Jane se apressou em sair do cômodo, refazendo o caminho de volta a saída.

Mal acompanhou os movimentos da garota quando esta passou ao seu lado. A filha da Fada Madrinha... Sua mente já estava elaborando um plano para conseguir pôr as mãos na Varinha Mágica. E iria colocá-lo em pratica o mais rápido possível.

— Vamos continuar com isso? – A Fada Madrinha pediu, distraído as melancólicas palavras da filha. Ela voltou ao quadro e apontou para a próxima questão. – Se você achar um frasco de veneno, você: a) Coloca no vinho do rei.

Evie ergueu a mão, hesitante. Achava que deveria ser aquela a resposta, afinal que graça tem você colocar veneno em uma bebida para matar alguém? Seus professores sempre afirmaram que uma boa tortura era bem melhor.

— b) Passa numa maçã.

Mal encarou Evie e as duas riram cumplices. Aquela era uma clássica!

— Ou c) Entrega as autoridades competentes.

Com exceção de Mal, os filhos dos vilões ergueram as mãos decididos a responder. Essa era uma pergunta muito fácil!

Jay viu quando a Fada Madrinha olhou em direção a sua mesa, então o garoto puxou o braço de Carlos, abaixando-o.

— Para com isso. – Carlos pediu, tentando soltar a mão do aperto forte do amigo.

Jay apenas sorriu como se não estivesse fazendo nada demais.

— Jay. – A Fada Madrinha apontou para o garoto, sorrindo e permitindo que ele respondesse.

— c) Entrega as autoridades competentes. – O filho de Jafar respondeu, seu tom de voz prepotente. Ele soltou o braço do garoto de cabelos brancos que deu um tapa em seu braço, reclamando.

— Eu ia dizer isso.

— Oh, mas eu disse primeiro. – Jay provocou, alterando sua voz para um tom de deboche. Carlos revirou os olhos e logo depois soltou uma interjeição de dor quando o amigo passou o braço sobre seu pescoço, esfregando seu cabelo com aspereza. – Vem. – Jay continuava rindo debochado. Ele puxou Carlos para cima da mesa sob os protestos deste. – E aí, carinha? Quem foi que disse? Quem foi que disse primeiro?

Mal não precisou nem olhar na direção dos amigos para saber o que estavam fazendo. Ela inclinou a cabeça e sorriu sarcástica. Tinha amigos muito discretos.

— Rapazes. – A Fada Madrinha deu pequenas batidas com seu bastão, tentando chamar a atenção dos garotos e desfazer aquela pequena bagunça. – Rapazes! – Tentou novamente, elevando o tom de voz. Dessa fez funcionou, Jay e Carlos interromperam-se e a encararam. O filho de Jafar estava deitado sobre o corpo do mais novo, esmagando-o contra a mesa. – Eu vou recomendar que usem toda essa energia lá no campo de jogo.

Jay e Carlos a fitaram, mal compreendendo o que a senhora havia acabado de falar.

— Ah, não. Tudo bem. – Carlos respondeu, empurrando o amigo para sair de cima de si. – Seja lá o que for, estamos fora.

— Isso irá ajudar a liberar toda essa energia acumulada de vocês. – A Fada Madrinha aconselhou, sorrindo. Ela olhou para a parede ao lado direito, onde havia um relógio redondo. – Bom, nossa primeira aula está finalizando. Gostariam de compartilhar alguma coisa nesse tempo que nos resta?

A Fada olhava diretamente para a mesa das garotas. Jay e Carlos direcionaram seus olhares na mesma direção e riram ao ver que elas não estavam prestando atenção. Mal debruçava-se sobre suas folhas de desenho, enquanto que Evie retocava o batom.

— Estão liberados. – A Fada Madrinha os liberou da aula, suspirando. Teria muito trabalho para fazer com aqueles quatro.

 

...

— O que vamos fazer agora? – Carlos perguntou, jogando a mochila sobre as costas. Eles estavam parados na curva do primeiro corredor depois da sala da Fada Madrinha.

— Vamos comer alguma coisa. – Jay pediu, esfregando as mãos. – Estou faminto.

— Sabem onde fica? – Evie perguntou curiosa. Carlos ergueu seu celular branco, um sorriso confiante presente em sua face. A garota riu. – Certo, com certeza você sabe.

— Evie, posso falar com você? – Mal chamou pela garota, interrompendo quando ela começou a se afastar junto dos garotos.

Evie virou-se, sem entender o motivo de Mal querer conversar agora, mas deu de ombros e acenou afirmativamente.

— Vem. – Mal segurou o braço de Evie e a puxou, afastando-se dos garotos.

— O que houve? – Evie perguntou, estranhando as ações da amiga.

— Lembra do que conversamos ontem depois da festa? – Mal perguntou, sua expressão séria e firme.

— É sobre isso? – Mal ergueu uma sobrancelha, esperando a amiga confirmar. Evie suspirou, mas respondeu. – Sim, eu lembro.

— Então por que estava falando com o nerd hoje? – Mal questionou voraz. Ela não havia acreditado quando a amiga negou.

— Mal, qual o problema? – Evie perguntou exasperada, tentando compreender onde a amiga queria chegar. – Você nunca implica com quem eu converso ou não. Isso geralmente é o Jay quem faz.

A garota de cabelos roxos cruzou os braços, indignada que Evie não tenha entendido.

— Eu faço quando estou preocupada com a missão. – Declarou, baixando a voz para que ninguém pudesse escutar a última palavra.

Agora Evie estava mais confusa do que nunca. Mal estava falando outra língua, só podia ser.

O que havia de errado em conversar com Doug?

— E o que isso tem a ver?

— Não podemos nos aproximar tanto deles, apenas o necessário para conseguir as informações que precisamos. – Mal explicou, tentando fazer a amiga compreender. Era quase a mesma conversa que tiveram ontem à noite e mesmo assim Evie não colaborava. – É muito arriscado e você sabe disso.

— Mas não devíamos fazer amizades? Assim disfarçaria nossos planos.

Amizades falsas, Evie! – Mal se controlou muito para não gritar.

— Igual a nossa quando você quase me matou? – Evie perguntou, apoiando as mãos na cintura com sua voz afiada.

Mal deu um passo para trás, surpresa pela verdade impressa naquelas palavras.

— Eu me arrependo muito daquele dia. – A garota de cabelos roxos murmurou, a voz falhada. – E você sabe disso.

Evie cruzou os braços e desviou o olhar. Era um assunto delicado envolvendo o passado de ambas. Ela não queria ter relembrado aquilo, afinal tudo já havia sido esclarecido e mudado entre elas.

— Só lembre-se que você pode acabar deixando escapar alguma coisa.

— Está dizendo que não confia em mim? – A voz de Evie assumiu um tom mais agudo de incredulidade.

— Não é bem assim. – Evie abriu a boca, surpresa pelas palavras da amiga. Mal tratou de se explicar. – Eu confio em você. Sempre. Mas eu também sei que você é muito sentimental.

— Okay, chega dessa conversa. – Evie declarou, indo em direção aos garotos que apenas observavam.

— Evie, não negue. – Mal segurou o braço da amiga e a fez parar ao seu lado. – Por mais “quebradora de corações” que você possa parecer, você se apega muito fácil.

Evie estreitou os olhos, não acreditando nas palavras de Mal. Ela conseguia entender perfeitamente o que a amiga estava insinuando e não gostava nada disso.

— Você acha que eu vou estragar o plano, contando para alguém? – A filha da Rainha Má aproximou seu rosto próximo de Mal, fitando seus assustadores olhos verdes. – É sério isso?

— Evie...

— Meninos! – Evie chamou a atenção deles que ergueram a cabeça para saber o que era. – Podem ir para o refeitório, me encontro com vocês depois.

Sem nem dar tempo de receber confirmações de seus amigos, a garota de cabelos azuis virou-se e seguiu o caminho oposto a eles. Jay e Carlos observaram-na se afastando, confusos sobre o que havia acontecido.

Mal respirou fundo, cansada. Ela odiava discutir com Evie, por mais cabeça dura que as duas pudessem ser.

A filha da Malévola voltou-se aos garotos e retomou seu caminho para o refeitório.

— Nem perguntem. – Mal ergueu a mão, interrompendo as previsíveis indagações dos amigos.

Carlos olhou para o amigo, indeciso sobre qual das amigas devia seguir. Ele sempre se sentia estranho quando via as garotas agindo daquele modo estranho.

Jay preferia ficar de fora quando as garotas discutiam, se elas quisessem conversariam depois.

— Vocês vêm ou não? – Mal chamou, impaciente pela demora. – Carlos, refeitório.

Seguindo as instruções que o celular mostrava para o filho da Cruella, os jovens rapidamente encontraram-se frente a frente com portas duplas de vidro azulado. Jay empurrou-as e adentraram no cômodo destinado ao café-da-manhã.

O lugar era grande o suficiente para haver mesas redondas espalhadas pelo ambiente, bancos ao redor das mesas e, ao fundo, uma bancada onde uma pequena fila de alunos começavam a se servir.

Depois de cada um pegar suas bandejas com a comida escolhida, sentaram em uma mesa mais afastada de todas, encostada na parede a esquerda.

Assim que se sentaram à mesa, Carlos iniciou uma conversa com Jay sobre o conselho da Fada Madrinha de irem participar do time e dos jogos. Mal, que não se interessava por aquele tópico, apenas jogou sua mochila no chão e se pôs a aproveitar de seu café-da-manhã.

— Será que podemos quebrar a cara dos jogadores? – Jay perguntava, animado pela ideia de poder bater em alguém.

— Eles vão quebrar a minha, isso sim. – Carlos murmurou, entristecido. Odiava se sentir o inferior e inofensivo de seu grupo de amigos, mas era o que era. Todos admiravam Evie e sua beleza, fariam de tudo para segui-la. Mal fazia qualquer pessoa lhe obedecer, tamanha presença marcante e ameaçadora que emanava de seus olhos verdes. Sobre Jay, não era preciso comentários: o que ele queria, conseguia. Melhor ainda se fosse usar força bruta.

E Carlos era... o nerd. O mais novo. O garotinho que tinha que ser sempre protegido, porque não conseguia se defender sozinho.

Mesmo em Auradon, ele ainda sentia que seria assim.

Algumas coisas não se podem mudar.

— Vão ter que passar por mim primeiro. – Jay respondeu firmemente. Para ele, a amizade que tinha com Evie, Mal e Carlos era a mais importante parte de sua vida, e ele faria de tudo para proteger aqueles de quem gostava. – Mas lá só deve ter príncipes frescos, nem tem graça.

Enquanto os garotos seguiam conversando sobre o time, Mal se distraiu de sua deliciosa refeição ao ouvir um toque breve de sinos soar de dentro de sua bolsa. A garota se inclinou e revirou o interior da mochila, pegando o celular de Ben.

O visor do aparelho estava aceso e uma mensagem visível na tela:

“Você já está na escola, Benny Boo?”

Mal fez uma careta. Tinha esquecido que estava com o celular do Príncipe. E aquela devia ser a namorada dele mandando mensagem.

E havia acabado de chegar mais uma:

“Não vai dar para ficarmos juntos depois do almoço. Tenho prova de vestido.”

A filha da Malévola revirou os olhos, colocando o celular sobre a mesa, desinteressada sobre os planos da princesinha. Ela ergueu os olhos, estranhando o repentino silencio na mesa, e viu que Jay e Carlos não estavam mais ali. Olhou ao redor a procura dos dois garotos e os encontrou enfrentando novamente a fila para pegar comida.

Ela riu, mas o som de sinos soando novamente chamou sua atenção. Soou uma segunda vez... terceira... Na quarta, a garota se estressou e pegou o aparelho, ligando-o pronta para acabar com aquela perturbação.

“Você poderia ir também?”

“O que acha?”

“Você está aí?”

“Ben!”

Mal apertou o botão “responder” e digitou rapidamente: “Ben está ocupado. Tente na próxima.” Isso com certeza irritaria a filha da Bela Adormecida, por isso a garota de cabelos roxos enviou mais uma mensagem de resposta:

“Não, não tente. Ele está ocupado demais para você.”

Poucos segundos depois de enviar a mensagem, um símbolo com a foto e nome de Audrey apareceu no visor do celular, indicando uma chamada. Mal apertou no botão vermelho, rindo consigo mesma.

A resposta chegou imediatamente: “Que?! Benjamin, me responda AGORA!!”

Ela riu novamente e ignorou a mensagem. O celular começou a apitar de modo seguido, mas ela apenas encarou a foto de papel de parede de Ben. Na foto, o garoto usava uma camisa branca por dentro do que parecia um paletó azul, mas fora a expressão dele que atraiu a atenção de Mal. Aquele olhar parecia lhe analisar profundamente, como se tentasse decifrar cada segredo seu, por mais secreto que fosse.

Assim como ela também poderia descobrir alguma coisa sobre o Príncipe, aproveitando que estava em posse de um dos mais íntimos pertences deste.

Mal não resistiu a sua curiosidade e abriu o menu do celular, correndo os olhos sobre os ícones. Agenda, calculadora, calendário, câmera, contatos... Todos desinteressantes, porém um lhe chamou a atenção: fotos.

Ela deu de ombros, tocando sobre o ícone correspondente e abrindo a galeria de fotos do Príncipe. Não estava nem aí se era invasão de privacidade, afinal a culpa fora totalmente dele por confiar seu celular à filha da Malévola.

Inúmeras fotos apareceram e Mal começou por uma em que ele estava com a Rainha Bela, o garoto estava de olhos fechados, com um sorriso e uma careta no rosto, A próxima a fez rir: Ben com uma expressão boba no rosto – os olhos arregalados e a boca aberta – e ao seu lado, o Rei Adam numa expressão cômica que ela não esperava ver em seu rosto. As outras duas que viu, não eram tão divertidas: uma com Bem fazendo uma expressão levemente surpresa com um garoto desconhecido ao lado dormindo e, na outra, estava acompanhado de Audrey e mais uma outra garota.

Passou rapidamente para o lado, as fotos mudando até que ela parou sobre uma em que o garoto aparecia sozinho. Ele usava um moletom azul e uma touca vermelha, parecia mais jovem, mas ainda com o mesmo rostinho de bebê.

Na foto seguinte, Ben encarava a câmera com um olhar suspeito que fez Mal sorrir. Pega no flagra, pensou ironicamente.

Assim que mudou para a próxima imagem, não pode evitar um ofegar surpreso.

Mas o que...?

Era uma foto sua e de seus amigos, na noite anterior. Na foto, a garota de cabelos roxos sorria ao erguer o celular de Carlos para tirar uma foto de Evie, ambos os garotos rindo atrás de si.

Ainda confusa sobre o porquê daquela imagem estar no celular do Príncipe, Mal mudou para outra foto. E, dessa vez, a surpresa fora ainda maior.

Era uma foto dela. Apenas dela. A garota não olhava na direção da câmera, mas sim, para o lado, um sorriso em seu rosto e uma expressão ligeiramente envergonhada. Mal não se lembrava direito do contexto daquela imagem, apenas sabia que conversava com Evie naquele momento.

Havia mais duas fotos da garota de cabelos roxos, aumentando, assim, sua confusão.

Por que aquelas fotos estavam ali? Ou melhor dizendo, porque o Príncipe tirara fotos dela?

Começou a pensar se ele era algum tipo de maníaco perseguidor. Apesar de que não conseguia associar a imagem do bondoso e gentil Príncipe com a imagem grotesca e imunda de Claude Frollo¹.

Mal fechou o aplicativo, voltando a tela inicial. Observou mais uma vez a foto de papel de parede e encarou aqueles olhos verde-mel, tentando compreender o significado daquelas imagens.

— Nós temos a próxima aula juntos, Mal. – Carlos pronunciou-se ao seu lado. Ele e Jay sentaram-se de volta em seus lugares, distraindo a garota de seus pensamentos. O de Vil esticou o celular para a amiga ver a grade horária. – A Evie e o Jay, fazem outra aula juntos.

Ouvir o nome de Evie a fez lembrar-se da discussão de mais cedo. Mal se sentia péssima por aquilo ter acontecido, ainda mais sabendo que fora uma discussão sobre a garota de cabelos azuis se envolver com Doug, quando ela mesma estava ali, bisbilhotando o celular do Príncipe.

Balançou a cabeça quando Carlos estralou os dedos na frente de seu rosto, chamando chamando-lhe a atenção.

— Matemática? – A garota pegou o celular, fazendo uma careta de desgosto.

— E a minha? – Jay perguntou, curioso.

— Está com o celular aí?

O filho de Jafar sorriu travesso e inclinou-se para pegar sua mochila. Abriu-a e mostrou o conteúdo para o garoto ao seu lado. Dentro, havia quatros celulares de diferentes modelos.

— Qual?

Carlos acenou negativamente, mas sorria quando pegou o celular branco que ele sabia pertencer ao amigo. Quando e como Jay havia conseguido aqueles outros aparelhos era um mistério.

— Sua aula vai ser... – Carlos digitou rapidamente o nome do amigo e logo a grade escolar estava visível. – Habilidades da Vida Sem Magia.

— Só o nome já dá sono. – Jay fingiu um bocejo e pegou de volta o celular, jogando-o na mochila junto com os outro.

Ao ouvir a palavra magia, toda a confusão em relação ao Príncipe e as fotos desapareceu de sua mente. Como pudera esquecer? Ela tinha bolado um plano para conseguir pegar a Varinha e tinha esquecido de contar aos amigos. Mas ela ia resolver isso agora.

— Eu tenho um plano. – Mal informou, interrompendo os garotos. Ela inclinou o corpo para frente e baixou a voz. – Sei como podemos conseguir aquele objeto.

— Desenvolve. – Jay pediu, jogando uma batata frita na boca e roubando um biscoito de Carlos.

— Não, aqui não. – Carlos balançou a cabeça, negativamente. – Qualquer um pode ouvir. E a Evie não está aqui.

— Tem razão. – Mal concordou, sorrindo satisfeita para o garoto. – Quando estivermos todos juntos, conversamos e acertamos tudo. Certo?

— Certo.

 

...

Assim que Evie passou por aquelas portas duplas do refeitório – que ela encontrou devido ao aplicativo –, foi como se o tempo tivesse parado e o silencio se estabelecido naquele cômodo. Todos os olhares estavam voltados para a jovem.

A garota nem mesmo prestava a mínima atenção a qualquer um ali, estava mais preocupada em conferir seu reflexo no espelho de mão. Tudo perfeito como sempre.

Evie desviou o olhar de seu espelho ao ouvir um assobio. Olhou para o canto esquerdo, na direção do som, e viu Jay acenando. Ele estava sentado sozinho numa mesa próxima a parede.

Evie acenou de volta – o que direcionou muitos olhares na direção do filho de Jafar. Antes de se juntar ao amigo, a garota decidiu pegar alguma coisa para comer. Aproximou-se da fila de alunos que havia ao fundo, fazendo uma careta de insatisfação pelo tamanho da fila. Nem pensar que ela iria esperar por tudo aquilo apenas para pegar um simples lanche.

Por fim, seguiu até a ponta da fila e sorriu provocante para um garoto ruivo que a encarava boquiaberto. Evie ficou em sua frente e estendeu a mão ao seu lado, pegando uma maçã sobre a bancada. Ela piscou para o garoto e virou-se para ir até onde Jay estava sentado, sem ver o tapa no braço que o ruivo recebeu da namorada.

Todo o refeitório estava em silencio, observando os movimentos da garota de incomuns cabelos azuis. E Evie nem se abalava com isso.

Ao chegar próxima de Jay, a filha da Rainha Má subiu em um dos bancos e sentou sobre a mesa, ao lado da bandeja de comida do amigo, e cruzou as pernas. Ela apoiou a mão livre atrás de si, inclinando seu corpo, fazendo com que ele ficasse meio deitado sobre a mesa.

— Por que demorou? – Jay questionou, desviando o olhar de suas batatas fritas para fitar o rosto da amiga. – Carlos e Mal já foram.

— Estava retocando a maquiagem. – A garota respondeu em tom óbvio. Ela ergueu a maçã vermelha e mordeu um pequeno pedaço.

— E por que? – Jay perguntou desconfiado.

— Necessidade. – Evie respondeu, dando de ombros. Ela sabia o que Jay estava insinuando, mas realmente não existia outro motivo para ela ter demorado. Bem que queria. Depois daquele discursão, então...

— Eles te olham como se você fosse um pedaço de carne. – Jay resmungou ao passar os olhos rapidamente sobre o refeitório. Alguns dos alunos haviam voltado a se concentrar em suas conversas e amigos, mas ainda tinha aqueles que continuavam encarando Evie. – Bando de urubus.

— Não, eles me olham imaginando como seria ficar comigo. – Evie respondeu, passando o polegar sobre seus lábios, sobre seu sorriso malicioso.

— Okay, depois dessa você está proibida de andar sozinha. – Jay comunicou, categórico e fechado para discussões.

— Sem problemas. – Evie concordou, sorrindo travessa, balançando os pés.

— E quando eu digo sozinha, quero dizer sem a minha companhia. – Jay apontou uma batata frita para ela, a expressão séria. – Ou a do Carlos e da Mal.

Evie mordeu mais um pedaço da maçã e revirou os olhos para o amigo.

— Ah, já não basta a Mal, agora você vai me proibir também?

— O que? – Jay a encarou, associando a conversa que as garotas tiveram depois da aula da Fada Madrinha. – Foi por isso que vocês discutiram mais cedo?

Evie não respondeu, apenas mordeu sua maçã novamente; os olhos desviados do rosto do amigo.

Jay inclinou-se para trás e cruzou os braços, suspirando antes de perguntar:

— O que você fez?

— Por que tem que ser eu a fazer alguma coisa? – Evie argumentou, em falso ultraje. Ela riu e bateu seu pé direito no ombro do garoto. – Anda, vamos. Temos a próxima aula juntos.

Jay revirou os olhos, cansado por ter que ir a mais uma aula. E o dia havia acabado de começar.

— O que você não está me contando, Evie Queen? – Jay questionou, estendendo a mão para que a garota se apoiasse ao descer da mesa.

— Nada preocupante, maninho. – Evie garantiu. Ela entrelaçou seu braço com o do amigo e se direcionaram a saída.

— Você sabe que vamos ter uma conversa sobre isso, não sabe? – Jay questionou, encarando com uma expressão superior cada garoto que ousava direcionar um segundo olhar a filha da Rainha Má.

— Com certeza. – Evie respondeu, rindo ao ver um garoto loiro derrubar os livros que carregava quando Jay ameaçou avançar em sua direção.

 

...

Eu sou tão bonito

(Garota você sabe disso)

Não mexa comigo

Porque é a última coisa que você estará fazendo, baby

            I’m so pretty

            (girl you know it)

            Don’t mess with me

            ‘Coz will be the last thing you’re doing baby

 

— Jay. – Evie chamou, empurrando o ombro do amigo dorminhoco ao seu lado.

Mal chegaram na sala e o garoto deitou a cabeça sobre a mesa, com sua touca vermelha cobrindo-lhe o rosto enquanto mergulhava no mundo dos sonhos no qual permaneceu pela última hora.

Não que ele tenha perdido muita coisa. Pelo menos era o que Evie achava já que nem mesmo ela havia prestado atenção nas palavras da professora Primavera – uma das fadas da Bela Adormecida. A garota passara a última hora concentrada em seu celular, estava pegando a prática naquele aparelho. Tinha até conseguido baixar um aplicativo que servia apenas para publicação de fotos e vídeos. Ela adorou, com toda a certeza.

Porém, agora a professora passara uma tarefa e parecia esperar alguma coisa dos dois jovens da Ilha dos Perdidos, já que ela não parava de encará-los. E não era só a senhora, mas uma boa quantidade dos alunos daquela sala estava fitando-a também.

— Jay! – Evie exclamou, entredentes. Ela pisou no pé do amigo e recebeu um grunhido de dor em resposta. – Acorda, que isso aqui está estranho.

— O que? – Jay murmurou, despertando confuso. Quando compreendeu as palavras proferidas pela amiga, ergueu a cabeça, alerta, a procura de um perigo iminente. – O que aconteceu, Evie?

— Aconteceu, senhor Bahrain, que eu passei uma atividade. – A professora pronunciou-se, sem se dar ao trabalho de levantar detrás de sua mesa. – Agora que o senhor resolveu acordar e nos presentear com sua adorável presença ativa, faça o favor de responder o que fora pedido.

O garoto ergueu uma sobrancelha, surpreso pela maneira grosseira com que a professora falou. Não havia visto ninguém em Auradon usando aquele tom de voz, mas ele não abalava apenas com palavras fortes.

Era reconfortante, até.

— Não tenho ideia do que a senhora pediu. – Jay inclinou-se para trás, apoiando o corpo no encosto da cadeira, relaxado. Seus olhos brilhavam em divertimento.

Evie riu internamente, sabia o que o amigo iria aprontar.

— Talvez o senhor possa pedir ajuda a senhorita Hild². – A voz da mulher continuava áspera e firme, apesar de internamente ter vacilado perante a expressão petulante de Jay. A professora Primavera nem se dera ao trabalho de levantar detrás de sua mesa, apenas apontou para a garota.

— Desculpe, professora. – Evie ergueu a mão direita, sua voz soando arrependimento. Sentimento este completamente fingido. – Mas eu não prestei atenção em nada do que a senhora falou.

Vários alunos riram baixinho e Evie piscou para alguns deles.

Primavera, respirou fundo. Aquele era um verdadeiro teste de paciência e calma. Nunca havia encontrado um aluno tão petulante em sua turma quanto aquele jovem. Provavelmente se tornaria um desafio indesejado e cansativo durante todo o semestre.

A mulher levantou-se, apertando as mãos uma na outra. Ela parou em frente à mesa de um dos garotos da segunda fila e apoiou a mão no ombro deste.

— Roland poderia te ajudar, se quiser. – Sua sugestão saiu mais como uma ordem.

Jay lembrava-se vagamente de já ter escutado aquele nome e, só quando o tal Roland se virou em sua direção, o filho de Jafar pode reconhece-lo. Era o mesmo garoto que encontrara conversando com Mal e Evie no início da festa da noite passada.

— Não, obrigado. – Jay cruzou os braços, um sorriso desdenhoso surgindo em sua face.

Enquanto Evie estava mais ocupada em tirar fotos de si mesma, a sala inteira permanecia em silêncio, apenas observando o pequeno conflito que ocorria. A garota apenas sorria divertida a cada resposta que o amigo lançava a professora.

— Então, leia o livro.

A Fada esforçava-se para continuar com sua máscara de desprezo. Geralmente, no primeiro dia de aula, ela adotava uma abordagem rígida e áspera, o que fazia os alunos ficarem com um “pé atrás”, hesitantes e consequentemente obedientes e calmos. Contudo, sua abordagem não estava funcionando. Não importava quanto mais grossa ela era, mais o filho de Jafar a desafiava.

— E por que eu faria isso? – Jay perguntou de forma retorica. Sua voz se tornou mais séria quando prosseguiu. – Aliás, não preciso aprender como viver sem magia. Eu nasci na Ilha dos Perdidos. E, caso nenhum de vocês tenham a mais remota noção de como é a vida fora de seus alegres mundinhos brilhantes, na ilha não temos um pingo de magia sequer. “Sem magia, sem wifi e sem saída”, não foi definido assim?

Alguns alunos fizeram uma exclamação de surpresa ao ouvir as palavras sem e wifi numa mesma conjunção.

— E como vocês acessavam a internet? – Uma das garotas da primeira fila perguntou, não acreditando nas palavras de Jay. Afinal, em todos os lugares havia wifi, até mesmo na floresta de Sherwood tinha!

Jay revirou os olhos e a ignorou. Olhou diretamente para a professora que escutava as palavras do garoto com atenção.

— Eu sei e posso sobreviver sem isso, garanto que até melhor que a nossa digníssima professora.

— Essa aula é inútil. – Evie concordou com o amigo, desviando o olhar do celular.

— Gostaria de compartilhar sua experiencia conosco? – Primavera tentou novamente, dessa vez abandonando a aspereza em sua voz. Não iria adiantar continuar com aquele joguinho, e ela sabia que estava perdendo.

— Er... não estou a fim. – Jay respondeu, erguendo-se da cadeira, um sorriso travesso surgindo. Ele sabia que a mulher estava no limite, só faltava o ato final. Abriu o livro de Evie sobre a mesa e arrancou uma folha. – Sabe o que eu estou com vontade de fazer? – Perguntou, amassando o papel em suas mãos. – Uma pequena guerrinha.

Para incredulidade dos alunos auradonianos, Jay teve a ousadia de jogar a bola de papel amassado em direção a professora, acertando-a em cheio.

Houve um ofegar de surpresa, quando Primavera fechou os olhos. Ela respirou fundo, sorriu gentilmente e encaminhou-se a saída da sala, batendo a porta ao passar.

Evie não conseguiu evitar uma risada alta de escapar de seus lábios. Jay tinha uma habilidade incrível de irritar qualquer pessoa e ele sempre fazia isso com os professores em Dragon Hall. E funcionava todas as vezes.

Em Auradon não seria diferente.

Jay sorriu satisfeito e abaixou-se para pegar sua mochila.

— Vamos? – Jay estendeu a mão para Evie e a garota aceitou, levantando-se para segui-lo.

— Vocês não podem fazer isso! – Uma garota exclamou ultrajada. Ela levantou da cadeira, se pondo frente aos dois. Os jovens da Ilha dos Perdidos a reconheceram como a princesinha dos sorrisos falsos do dia anterior.

— Só o que faltava. – Jay reclamou, balançando a cabeça em frustração.

— Quem vocês pensam que é para agirem assim? – Outra garota havia se levantado também. Esta era loira e, mesmo que não conseguisse ver direito, Jay sabia que ela tinha olhos azuis-claros.

— Desculpe, eu não consegui te entender. – Evie fez sua melhor expressão confusa. – Sua voz é sempre aguda assim ou você engoliu um apito?

Jay riu e aproximou de Evie para sussurrar em seu ouvido.

— Ela é irritante.

Evie o acompanhou nas risadas. Ela reconheceu a loira, era a mesma com quem Jay conversara na última noite, provavelmente fora mais uma das vítimas dele.

— E do que você está rindo? – Audrey questionou, observando a garota de cabelos  azuis dos pés à cabeça. Por fim, sorriu debochada ao concluir sua análise. – Você parece um projeto de princesa falsa que foi desqualificada e descartada.

— Não. – Jay avisou, erguendo um dedo em alerta. Sua voz controlada e grave. – Não fale assim com ela.

— Oh, o namoradinho é nervosinho.

Jay se movera numa velocidade incrível. Pulou sobre a mesa e logo o garoto que o provocara estava caído no chão pela força com que os punhos do filho de Jafar lhe acertaram.

— Paz, amigo. – Roland ergueu as mãos, rendido quando Jay virou-se para ele. O sinal indicando o fim da aula e o início do almoço soara, para imenso alivio do filho de Robin Hood.

 

...

Jay estava quase terminando sua refeição, quando avistou seus amigos se aproximando. O garoto estava sentando em uma das mesas ao ar livre, onde a maioria ia durante o horário de almoço.

— Eu acabei de ter uma aula incrível! – Carlos exclamou eufórico, sentando-se de frente ao amigo e colocando sua bandeja de comida sobre a mesa.

— Sorte a sua. – Mal resmungou sentando ao lado de Jay.

— Você teve aula de que? – Carlos perguntou, sem conter a animação que sentia. Acabara de ter aula de Regras de Segurança Para a Internet e ele havia adorado.

— Co-alguma-coisa. – Mal respondeu, dando de ombros ao mexer em seu copo de suco. – Antes que perguntem, eu não tenho ideia do que seja. Dormi a aula toda.

— Te entendo. – Jay riu, jogando a última batata frita em sua boca. – Aconteceu alguma coisa de interessante?

— Nah. – Carlos riu, abrindo a lata de refrigerante e derramando uma parte do liquido sobre a mesa, para divertimento de seus amigos. – Droga. – Praguejou, movendo alguns centímetros de lugar no banco. – A única coisa que aconteceu foi apenas a Mal jogando a calculadora na cabeça do professor de matemática.

— O que? – Jay perguntou engasgando com a batata frita na boca. Ele ficou inicialmente chocado demais para qualquer outra reação.

— Ninguém tem provas. – Mal deu de ombros, mas o sorriso maldoso brincava em sua face. – Qualquer um pode ter feito aquele objeto ser jogado contra ele.

Jay não aguentou e gargalhou imaginando a cara que o professor deve ter feito ao ver uma calculadora voadora em sua direção. O garoto riu alto o suficiente para atrair atenção dos demais alunos e uma das meninas na outra soltou um risinho para ele.

Carlos, que havia visto o gesto da menina, inclinou-se em direção ao amigo.

— E aí, Jay, já pegou alguma? – Perguntou curioso e fez com que Mal revirasse os olhos pela conversa que se iniciaria.

— O que você acha? – Jay sorriu malicioso. – Ontem na festa.

— Foi por isso que você sumiu da festa, safado. – Mal bateu no ombro dele.

— E apareceu com a boca melada de batom. – Carlos lembrou.

— Você é igualzinho a Evie. – Mal balançou a cabeça negativamente. Não importava o quanto o garoto atormentava ela e Evie, ele sempre fazia as mesmas coisas.

— Que nada. – Jay negou, sorrindo. – Ela gosta de fazer joguinhos. – Ele passou a mão direita sobre seus longos cabelos, confiante. – Eu sou mais direto.

— Oi, gente. – Evie interrompeu a conversa, sentando ao lado do amigo de cabelos brancos. – Qual o assunto?

— O Jay estava contando que ficou com uma garota na festa ontem. – Mal informou, pegando um pedaço da torta salgada do prato da amiga.

— Hey, eu não disse que foi uma. – Jay exclamou, o sorriso ainda mais malicioso, se possível.

— Que falta de consideração, Jay. – Evie reclamou, sua voz em um tom falsamente magoado. – Você se diverte e não deixa os outros curtir também.

Os três riram quando a garota de cabelos azuis fez um biquinho exagerado.

— E você, quantos já pegou? – Carlos questionou para a amiga ao seu lado.

— Espero que nenhum. – Jay resmungou, pronto para anotar os nomes dos garotos e deixá-los afastados o máximo possível.

Evie bufou e afastou a comida intocada por ela. A garota não havia ficado com ninguém na noite anterior e isso nem se devia ao fato de ter Jay a vigiando.

— Não brinca. – Até Mal ficou surpresa. Ela estreitou os olhos ao lembrar de ter visto a amiga quase a noite toda conversando com o filhote de anão.

O tempo que passara conversando com Doug na festa vinha se repetindo na mente de Evie com mais frequência do que queria. Não entendia o porquê daquilo, apenas gostava de relembrar o modo afetuoso que ele a olhava. Era um olhar diferente do que a garota já havia recebido, carinhoso e acolhedor.

Evie sabia que ele era afetado pelas provocações dela, assim como todos os garotos por quem brincava. O rosto corado e o sorriso envergonhado de Doug deixavam claros isso.

E ainda havia o modo como ele lhe fazia sorrir...

perdendo o jeito? – Carlos provocou, rindo da garota.

— Como? – Evie perguntou, balançando sua cabeça para afastar a lembrança. – Claro que não! Eu só não... estava pensando nisso.

Evie finalizou, baixando o tom de voz, falando quase consigo mesma. Para bagunçar ainda mais seus sentidos, a garota viu Doug sentando em uma mesa um pouco mais distante. O garoto acenou, sorrindo e Evie não conseguiu evitar sorrir de volta.

Rapidamente desviou o olhar para sua bandeja, confusa por seu coração ter alterado o ritmo. Alguma coisa muito errada estava acontecendo com ela e isso teria que parar imediatamente.

Começou a entender melhor o que Mal havia lhe dito pela manhã. Ela era muito sentimental, tinha que admitir isso – mesmo que internamente.

E Evie tinha medo do que isso poderia lhe causar.


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Notas finais do capítulo

1: Juiz Claude Frollo – O Corcunda de Notre-Dame: Um hipócrita e racista que acredita ser um homem de Deus, julga ser superior e mais puro do que as pessoas que ele deveria ajudar. Vê pecado, vício e corrupção em todo lugar, menos nas suas atitudes, se convenceu de que cada impulso louco, maldade ou pensamento pecaminoso e horrível é culpa de alguém que não ele próprio.

2: Evie Queen Hild

Sobre esse fim: os vk's terão problemas relacionados aos sentimentos, principalmente ao amor e essas coisas. É uma sensação estranha e diferente para eles. Na maioria das vezes não sabemos lidar com o diferente e isso nos assusta, não é mesmo??



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