Hermione estava se sentindo extremamente esquisita. Depois de desejar por tanto tempo uma noite romântica com Comarc, quando finalmente conseguiu o que queria só desejava poder voltar pra casa. Não que o papo com o loiro estivesse ruim, mas ela não se sentia mais tão empolgada com ele como ficava antes.

Durante o jantar ela só conseguia pensar em Rony e em James que estavam em casa. Queria saber se estavam bem, se tinham se alimentado direito, se sentiram a falta dela... Ela já estava dependente daqueles dois, eles eram sua... Família. Sim, era isso o que eram. Uma família! 

Na última briga que tiveram antes de começarem a tentarem viverem em paz Rony dissera que eles não eram a mãe e o pai de James, mas atualmente parecia ser isso o que eram. E como uma boa mãe, ela estava apegada demais ao seu filho e talvez até ao seu... Marido? 

Rony estava muito mudado. Mais presente, mais paciente e muito mais gentil. Ela estava adorando conviver com ele, e estava fazendo-a mudar a visão horrível e precipitada que tivera dele. 

O jantar correra muito bem. Comarc fora o príncipe encantado com quem ela havia sonhado nos últimos tempos, e ela até permitiu que ele a beijasse quando a trouxe de volta para a casa. O primeiro beijo deles, e não fora nem um pouco parecido com o que ela esperava. Hermione queria um beijo mágico, cheio de desejo e paixão. Ela fora beijada daquela maneira apenas uma vez e jamais se esquecera daquele beijo, principalmente agora que dividia o mesmo teto com seu parceiro nele.

Comarc parecia ter gostado do beijo, mas ela não estendeu o momento por muito tempo e se despediu dele gentilmente. Esperou que ele desse a partida no carro e só então adentrou sua casa. Tirou seus saltos e subiu as escadas com eles nas mãos já que não tinha sinal de James e Rony lá embaixo. Deixou suas coisas em seu quarto e foi até o quarto de James que estava com a porta aberta, encostou-se na soleira e ficou observando Rony colocar um James adormecido no berço. Sentiu seu coração aquecer com aquela cena e sentiu uma gostosa sensação em seu coração: alegria. Sorriu para o ruivo quando os olhos dele encontraram os seus. Ele passou por ela de cara fechada e não disse nada, deixando-a confusa. 

— Correu tudo bem hoje? — ela perguntou caminhando atrás de Rony que fora para seu próprio quarto.

— Tudo bem, Hermione? Tudo bem? — ele parou abruptamente e a encarou com raiva.

— O que houve? — assustou-se com a agressividade dele.

— Por que você não me conta o que houve? Como foi seu jantarzinho romântico? 

— Por que está sendo grosso desse jeito? 

— E isso te importa por acaso? 

— É claro que importa. Quero saber como foi pra você passar a noite sozinho com James já que nunca fez isso antes!

— Então fique sabendo que foi péssimo! Horrível! 

— O que aconteceu? 

— James não estava bem! Estava com febre, vomitou, não parou de chorar por um segundo e enquanto isso você estava aonde? Jantando com aquele imbecil do McLaggen!

— Não chame Comarc de imbecil! 

— Vai defender ele agora? 

— Ele não tem culpa de James não ter passado bem! E por que não me ligou? Eu disse que poderia me chamar caso algo acontecesse! 

— E atrapalhar seu namorico? Por favor, né Hermione!

— Por favor você, né Ronald! Ficou aqui sozinho porque quis! Eu perguntei se conseguiria ficar sozinho com ele e você me afirmou que sim. E eu deixei você me ligar! Eu voltaria na hora que me ligasse! Agora está aí todo nervosinho à toa! Como James está? A febre dele baixou? O que você fez pra ele melhorar? — ela ia sair do quarto para verificar como James estava, mas Rony a segurara pelo braço impedindo-a.

— Eu não liguei porque queria provar que posso fazer isso sozinho! Não queria sua ajuda, Hermione. Mas não dá, eu não consigo! Eu sou um idiota mesmo! 

— Ron, você não é um idiota. — ela disse ao perceber que ele estava perdendo o controle. 

— Sim eu sou sim. — ele disse sentando-se em sua cama completamente arrasado — Não consigo fazer nada sem a sua ajuda! Nem banho no James eu sei dar. Eu sou um lixo. Uma decepção.

— Não fale assim...

— Mas é a verdade, Hermione. É isso que eu sempre fui! Durante a guerra eu não aguentei e abandonei vocês dois, vocês dois continuaram fortes e só eu fraquejei. Porque sou fraco, inútil. Não sei me virar sozinho, sempre dependi dos outros!

— Isso não é verdade! 

— É claro que é! Gina vivia me dizendo o quão patético eu sou, e ela tinha razão. 

— Gina gostava de implicar com você, Ron. Era só isso: implicância, ela sabia que você não é um fracassado.

— A única coisa que eu sei fazer é decepcionar as pessoas, Hermione. Assim como estou fazendo agora, mesmo depois deles terem ido embora. Eles confiaram essa tarefa a mim e eu os decepcionei.

— Você não decepcionou ninguém, Ron.

— Eles queriam que eu cuidasse do filho deles, e nem isso eu sou capaz de fazer sozinho! Eu quero que James tenha uma família, Hermione. Que ele seja feliz! Quero que ele tenha um pai e uma mãe de verdade, mas ele não pode ter isso, Hermione... Os pais dele estão mortos! Meu melhor amigo e minha única irmã estão mortos! James perdeu tudo o que tinha! Tudo! — e então ele caíra num choro incontrolável.

Hermione ficara extremamente assustada com a situação. Rony não era muito de chorar, a última vez que o vira descontrolado daquele jeito foi quando Jorge morrera na guerra, mas daquela vez não parecia que seria muito fácil acalmá-lo. Ele não derrubara uma lágrima sequer desde a morte de Harry e Gina, e parecia deixar que o choro acumulado se apresentasse todo agora.

Ele estava arrasado, devastado e ela não conseguira conter as próprias lágrimas também. Sentou-se ao lado dele na cama e o abraçou fortemente, permitindo que ele chorasse sob seus ombros. 

Rony soluçava alto, um choro doído e cheio de tristeza. Hermione passava suas mãos pelas costas e cabelos do ruivo tentando acalmá-lo, mas ele precisava colocar toda aquela angústia para fora. Precisava chorar.

Ele chorou por longos e longos minutos nos ombros dela, parecia que seu choro não teria fim. Mas, apesar da dor, ele se sentia bem por estar fazendo aquilo abraçado a ela. Ele sabia que poderia contar com ela pra tudo como sempre pudera, desde que tinha onze anos ele tinha aquela certeza dentro de si. 

Sabia que a tarefa de cuidar de James não seria fácil nem mesmo por um segundo, mas sentia-se mais seguro por saber que faria aquilo ao lado dela. Hermione era uma mulher forte, inteligente e independente. Era sem dúvida alguma a pessoa correta para cuidar e dar uma vida digna a seu afilhado, e ele se irritara completamente com o fato dela ter saído com Comarc. Se ela ficasse com o loiro logo não teria mais espaço para ele naquele cenário, afinal, ele era um péssimo cuidador para James. Se Comarc se mostrasse um cara legal e Hermione resolvesse ficar com ele, ela levaria James embora com ela, era óbvio. E assim Comarc assumiria o papel que ele devia cumprir, tanto para James quanto para Hermione e ele não admitiria isso de forma alguma. 

Deveriam seguir na maneira como estavam: ele, Hermione e James. Somente os três e mais ninguém. 

— Nós vamos dar uma vida feliz ao James, Ron. Não duvide disso, por favor. Se você começar a duvidar eu não conseguirei fazer isso sozinha. Está bem? — ele percebeu que ela também estava chorando pelo seu tom de voz.

— Está bem. — ele disse entre um soluço e outro.

— Vai dar tudo certo, ok? Só tenha calma. Tudo vai dar certo, tudo! Eu prometo.