Cidade trouxa próxima a casa de Marlene, verão de 1975

Lily Evans

James Potter parecia ser um ser criado especialmente pra me torturar. Não tinha condições. Ele simplesmente não conseguia ficar quieto e me deixar em paz. Estávamos andando em direção à cidadezinha a cerca de 15 minutos e eles não parava de tentar puxar assunto. Não entendo como ele não consegue perceber que eu simplesmente não quero conversar com ele e que só estou vindo com ele porque não tenho absolutamente nenhuma escolha? Como se eu já não tivesse problemas suficientes.

E pra piorar estou com vontade de chorar desde que li o caderno da Lene. Ela ama o Black e vem mentindo pra mim a meses em relação a isso. E a Dorcas está ficando com o Lupin igualmente em segredo. Sinto nossa amizade cada vez mais fraca e superficial e isso me deixa em pânico porque não tenho quase contato com a minha família, perdi o Severo e agora elas duas. Eu simplesmente não ia aguentar. E o Potter não conseguia calar a droga da boca um instante.

—AAAAAA! - Eu gritei me virando pra ele. E percebi que ele ficou muito em choque pela minha atitude, afinal eu havia o interrompido no meio da fala e como ele era O GRANDE JAMES POTTER, não devia ser algo que acontecesse com frequência - Tem como você simplesmente ficar quieto por um segundo?

Olhei furiosamente pra ele e o que eu vi me abalou um pouco. James Potter parecia magoado. Como se tivesse se magoado por eu não querer ouvi-lo. Sério, ele precisa entender que o mundo não gira ao redor dele. E isso teria me deixado mais irritada ainda se eu não tivesse visto um lampejo de preocupação no olhar dele. Me senti mal por ter sido tão grossa. Ele não era meu saco de pancadas pra que eu descontasse minha frustação nele desse jeito.

—Desculpe, Potter, não tinha a intenção de ser tão dura com você, apenas estou passando por um mal momento e queria espairecer e relaxar, entende? - Eu falei olhando pra frente.

Estávamos quase chegando na cidade e já era possível ver as casas e o movimento da rua e isso era surpreendentemente reconfortante pra mim. Eu sentia falta de quando minha vida era só brincar com Petúnia e bobagens da escola. Por Merlin, quando tudo ficou tão complicado?

—O que está acontecendo, Lily? - Era a primeira vez que James Potter me chamava de Lily. Até meus 14 anos, era apenas Evans, e depois disso era Lirios, Lils ou qualquer outro apelido idiota. E eu fiquei surpresa pelo tom maduro e preocupado que ele assumiu. Olhei pra ele surpresa.

—Eu só…- Não consegui explicar. Como botar pra fora toda a dor que eu sentia? O abandono da minha irmã ainda doía, a saudade dos meus pais, a dor pela perda do meu melhor amigo que me desprezava, tudo isso me traumatizou e eu achava que ia acontecer com a Lene e a Dorcas e estava sofrendo por antecipação. Quando percebi, estava contando tudo ao Potter e chorando de soluçar. Até que ele me abraçou e por um segundo, um mísero segundo, James Potter fez tudo ficar bem. - Desculpe estar derrubando tudo isso assim em você, eu só estou segurando isso a muito tempo, mas sei que não somos amigos e você não tem que ficar me aguentando chorar…

—Lily, para! - Ele me interrompeu levantando meu rosto - Só não somos amigos porque você não quer, mas mesmo que você fosse a pior pessoa no mundo, eu nunca te deixaria desamparada, e olhe que você está muito longe disso. Você se afasta das pessoas e se exclui, e eu entendo que sua irmã e o Snape tenham te magoado, mas conheço a Lene desde que eu nasci, e a única pessoa mais leal que ela é o Sirius, apesar de que acho que eles ficam empatados. Quem sabe não é você que não dá abertura pra elas te contarem? Você precisa deixar os medos antigos pra lá, parar de se torturar por isso e fazer algo a respeito. Deixe as pessoas se aproximarem e garanto que você não vai se sentir tão só.

Quando ele terminou, estava sem fôlego e acho que nunca tinha visto ele sem a capa de garoto de ouro da grifinória. E eu fiquei surpresa em ver que o que ele disse me afetou e muito. Potter tinha razão. Eu não podia ficar chorando e me vitimizando pra sempre, teria que fazer algo sobre isso.

—Tem razão, Potter. Assim que voltarmos eu vou falar com a Lene e com a Dorcas e tentar resolver isso. Muito obrigada pelos conselhos, não imaginaria que você era tão sensato. - Eu falei enquanto o soltava e limpava meu rosto. Ainda bem que ainda não tínhamos entrado na cidade e ninguém tinha visto minha cena.

—Ah, eu tenho meus momentos. Não sabia que você era tão sentimental. Achei que só havia um cérebro aí dentro, estou surpresa que você de fato tem coração.

—Ora Potter, quem não tem coração aqui é você! - Eu disse recomeçando a andar, mas surpreendentemente me sentia bastante confortável - Sério, não aguento mais seu ritual de pegar alguém toda vez que faço a ronda, você não facilita meu trabalho!

—Ciúmes, Lírio? - Ele perguntou rindo, e pra minha surpresa me peguei rindo também.

—Nos seus sonhos, Potter! - Eu disse enquanto entrávamos na cidade.

—Lils não vamos falar sobre os meus sonhos porque eles são um assunto perigoso - Ele me disse dando um sorriso de lado.

—Deixe de ser pervertido, Potter, não sou da sua laia. - Eu disse procurando a loja que a Lene falou que era bem no começo da cidade.

—E é por isso que eu gosto tanto de você - Ele riu, mas foi estranho porque ele pareceu bem envergonhado com isso. Definitivamente o Potter é a pessoa mais confusa que eu conheço. - E aliás, eu já te vi parecendo um tomate em lágrimas então acho que você pode parar de me chamar de Potter, Lírio.

—Você vai precisar de cerca de uma tonelada de sorvete e um pouco mais pra isso, Potter— Eu fiz questão de frisar o sobrenome dele enquanto falava e ele riu.

—Será que eles fazem delivery então? - E não aguentei a gargalhada. James Potter era impossível. E talvez, só talvez, ele não fosse tão ruim assim.

—Olha, a loja é ali! - Ele apontou pra uma loja com fachada laranja que tinha duas meninas sorridentes na frente. E coincidentemente elas olhavam exatamente pra cá. - Quero só ver você provando os biquinis, Lils, saiba que vermelho é minha cor favorita. - Ele falou botando meu cabelo atrás da orelha e me olhando travesso.

—Ora, Potter, nem morta eu provaria bíquinis na sua frente! - Eu disse envergonhada andando em direção a loja, e as meninas olhavam fixamente pro Potter enquanto davam risadinhas. Ridículas!

Assim que entramos na loja fomos abordados por uma vendedora loira e sorridente.

—Olá, sou a Karen, em que posso ajudá-los?

—Estou precisando de um biquíni novo - Eu disse timidamente, e reparei que ela também encarava o Potter risonha. Meu Merlin, qual era o problema dessas mulheres?

—Siga-me por favor - Entramos na loja até a seção de biquínis e o Potter estava surpreendentemente quieto - Você tem alguma preferência de cor?

—Vermelho - O Potter disse sorrindo, e infelizmente segurou meu cotovelo quando eu ia dar uma cotovelada nele.

O sorriso da Karen desmanchou um pouco e ela se virou pra procurar nas gavetas amontoadas de bíquini. E eu teria falado alguma coisa, mas vermelho também era minha cor preferida e eu gostava muito de como a cor combinava com meus cabelos ruivos.

Ela colocou uma dúzia de biquínis da bancada e eu peguei todos eles e pra infelicidade do Potter, provei todos no provador bem escondida. E quando eu já estava perdendo as esperanças, achei O biquíni! Era lindo, vermelho com detalhes dourados e vestiu perfeitamente em mim. Coloquei minha roupa e assim que saí vi a Karen e o Potter conversando na maior intimidade. Ridículos.

Passei direto por eles e fui para o caixa, pagando rapidamente e saindo da loja.

—Espera, Lily! - O energúmeno gritou e veio atrás de mim. - Porque me deixou sozinho lá?

—Bom, você não parecia estar ligando muito pra isso - E minha voz saiu mais aguda do que eu esperava. Nem eu sabia o que eu estava fazendo.

—Eu estava esperando você provar os biquínis, ora - Ele falou com um tom de voz bravo. Quem ele pensava que era pra falar assim comigo?

—Não venha com essa pro meu lado, Potter! Você estava era atrás de um rabo de saia como sempre. Será que você não aguenta nem uma tarde sem dar em cima de alguém? E depois ainda tem a coragem de me chamar pra sair na cara dura que nem fazia em Hogwarts depois de eu te encontrar em algum corredor escuro com uma pobre coitada! E depois espera que eu aceite sair com você? Você trata as mulheres como objetos e eu sei que sou só mais um desafio pra você, Potter! Você fala tanto que se importa comigo, mas a cada dez minutos está agarrado em uma menina nova. E em pensar que eu estava achando que você podia ser legal! - Eu disse com raiva e vi que o Potter se afetou com meu discurso, mas não esperei pra ver, apenas desci a rua e sai andando pela cidade desconhecida. Sem olhar pra trás.

James Potter

Lily Evans gritou comigo no meio da rua. Ela simplesmente jogou um monte de coisa na minha cara e foi embora! Como ela simplesmente diz tudo isso e some desse jeito? Olhei pra cabeleira ruiva que sumia no fim da rua enquanto processava as palavras dela.

Sério que ela pensava que era só um desafio pra mim? Ela não percebia o quanto eu reparava nela? O quanto eu ia atrás e me importava com ela? Mas eu também era homem! Eu chamava ela pra sair e ela sempre recusava (e da pior maneira possível) e as outras simplesmente se jogavam em cima de mim, o que ela esperava que eu fizesse?

Não sabia se ia atrás dela ou voltava pra casa, mas imaginei que ela não ia querer me ver, então só subi a rua em direção a casa e tentava esquecer o que tinha ouvido, mas o olhar de desapontamento dela e sua imagem descendo a rua me atormentaram o caminho todo. Entrei em casa e vi que estava tudo silencioso, os meninos deviam estar na Lene. Subi pro meu quarto e me deitei na cama. O dia tinha sido tão bom! Tinha visto um novo lado da Lily e a gente tinha se dado tão bem! Porque eu tinha que estragar tudo?