Pata de Coruja não olhava para o pai aquela manhã, o corpo de sua mãe, ensanguentado e machucado foi o suficiente para que a gatinha nem sequer olhasse em sua cara, aquilo o incomodava um pouco, sua filha não sabia da verdade, porém, o olhar de desagrado dela e seus irmãos, isso o deixava nervoso, eles eram seus filhos também.

O gato branco escalou a pedra e anunciou: ­-Esta noite perdemos uma guerreira, amiga, mãe e membro importante deste clã, Rosa Negra foi morta por um monstro dos duas-pernas. Que o Clã das Estrelas á tenha.

E desceu da pedra, após uma seção de lagrimas e tentativas de conforto pelos mais próximos, Rosa Negra foi enterrada, mas nem o abraço que Estrela Fria deu em seus filhos os fez olhar em seus olhos, os olhos de Pata de Fogo brilharam com raiva quando ele estava anunciando a morte da gata negra e o líder percebeu isso, ele sabia de algo.

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Pata de Coruja havia saído do velório da mãe com alguma desculpa esfarrapada, ela simplesmente não conseguia ficar ali, a dor que sentia agora era pior que uma mordida de texugo, ela correu e se enfiou em um buraco nas raízes de um salgueiro, chorando sem parar, ela arranhou o tronco, descontando sua frustação ali. Não estava preparada para isso, não para perder sua mãe.

Encolheu-se quando a raiva passou, notando que suas almofadinhas sangravam de leve, mas, ela não sentia isso agora, a única coisa que ela notava era a chuva e seus soluços nada baixos, ela tremia, não só pelo frio que os dias antes da estação sem folhas traziam. Fechou os olhos com força, esperando dormir, e que isso levasse sua dor, porém, nada adiantou.

Suas orelhas levantaram com um som de passos, ela abriu os olhos, e, mesmo vendo embaçado se preparou para um ataque, a chuva começando aos poucos. Quando os olhos dourados brilhantes de alguém pararam sobre ela, a mesma farejou o ar rapidamente, sentindo um cheiro levemente amadeirado, vasculhou sua mente, á procura de alguém com o cheiro assim, ela o conhecia só não se lembrava de seu dono. No fim, o dono do cheiro se enfiou na toca de raízes, sentando-se de maneira torta por conta da altura.

—O que houve Perdidinha? –E então ela lembrou.

—Olhos de Vidro? –Ele assentiu, sorrindo leve, algo que estranhamente a causou conforto. –O-o que você...?

—Andando e precisando de um abrigo contra chuva, e também, não é todo dia que encontro alguém se debulhando em lágrimas por aí.

Isso a fez rir um pouco, a dor parou um pouco.

—Minha mãe morreu. –Revelou, deitando a cabeça sobre as patas, observando o gato, que apesar de ser poucas luas mais velho que ela era enorme, deitar ao seu lado, grudando-se á ela por conta do pouco espaço, podia sentir sua respiração perto de sua orelha e sentir seu perfume amadeirado de perto, o que a confortou mais ainda, ele pressionou sou corpo contra o pequeno dela, abraçando-a de maneira até confortável, considerando espaço das raízes.

—Sei como de sente. –Ele miou devagar e baixo. –Mas acredite, vai melhorar, não vai desaparecer, mas, vai diminuir.

A gata apenas assentiu e se apertou mais, se possível fosse, ao outro, relaxando os músculos e deixando-se levar pelo momento, ele colocou a cabeça sobre o pescoço dela, ambos conheciam o código dos guerreiros, á tal ponto de poderem recita-lo completamente sem alguma falha, e o que quer que esteja acontecendo ali deveria parar por ali, mas era tarde, eles sabiam disso, sabiam que o aquecimento em seus peitos não era qualquer coisa, porém não poderiam evitar. Era tarde demais para isso. Muito tarde.