Underwater escrita por JuremaDoMar


Capítulo 9
Só Pode Ser Brincadeira




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/739068/chapter/9

 Eu decidi que iria para a superfície quando percebi que tinha adormecido e os raios luminosos que atravessavam a água não eram solares, a lua não estava completa, mas estava linda, como na noite em que me tornei sereia. Parando para pensar, eu nunca nem pensei no que poderia ter me transformado em sereia, quer dizer eu não lembrava direito o que aconteceu naquela noite. Virei para trás e me deparei com a ilha que fiquei presa da última vez, Micaal. Nadei até lá e me sentei na parte rasa da praia, onde pequenas ondas batiam contra minha cintura, fiquei a brincar com a cauda e nem vi o tempo passar, quando percebi a lua estava sobre minha cabeça deixando bem claro que estava perto da meia noite, como era sexta feira e faltava dois dias para o fim da última semana de férias, o céu foi colorido por fogos, mesmo estando muito longe da praia dava para ver seu brilho colorido, o festival de fogos começava na sexta e terminava no domingo, essa é época que mais recebemos visitantes, abraçei minha cauda me encolhendo, era estranho estar lá sozinha, era estranho ver os fogos sozinha.

    Geralmente quando o festival dos fogos chegava eu fazia de tudo para evitá-lo, o barulho dos explosivos explodia meus nervos, mas eu sempre ia por Tereza que era simplesmente apaixonada pelos fogos, suspirei me dando conta que a tinha deixado sozinha, mas eu não voltaria, não agora, eu precisava de um tempo para assimilar que minha vida estava fora de curso. Deitei de bruços deixando somente meus olhos para fora d’água, enquanto minha barbatanas caudal subia e descia lentamente, entrando e saindo da água. Apoiei o queixo sobre as mãos apreciando os últimos fogos iluminarem o céu, naquele momento me senti como a Ariel, soltei uma risada baixinha, quem diria que um dia eu seria a prova viva que sereias existem.

     Quando o vento frio  da madrugada bateu contra meu rosto decidi que era hora de entrar na água de novo. Me arrastei até a parte profunda mergulhando logo em seguida, eu não voltaria para casa tão cedo, eu precisava achar um lugar para dormir ou pelo menos me esconder. Enquanto eu nadava na procura de alguma alga fofinha para me acolher eu vi uma abertura entre as pedras,-talvez seja uma caverna— pensei- pode ter algo perigoso ai, mas quem não arrisca não petisca.- dei de ombros nadando até lá.

    O buraco na verdade era um túnel, que levava até uma caverna, onde eu estava aparentemente era uma piscina natural que nela tinha. Nadei até a borda tomando impulso, sabe quando você está em uma piscina e quer sair, mas não tem escadinha e tu fica parecendo uma baleia encalhada? Bom eu estava literalmente como uma baleia encalhada, e a cauda ainda ajudava no visual. Estendi a mão na cauda para fazer o mesmo processo de sempre. Parei para olhar direito aquela caverna e ela parecia tão familiar.

   Um flash de memórias veio com força e tive de por firmeza nos pés para não cair, tudo que aconteceu naquela noite voltou a minha memória como um filme, eu somente lembrava de conhecer Viljami e nada mais.

  Passei a mão pelas paredes da caverna me perguntando como foi possível que essa antiguidade me transformou em sereia. Como um monte de pedras, água e a lua cheia fizeram isso comigo? Eu não sabia e nem estava afim de descobrir, no momento eu queria um lugar para dormir por enquanto. Mas não tinha nada além de pedras e mais pedras, sentei em frente a “piscina”apoiando o braço sobre as pernas.

    Eu suspeitava que já era madrugada, ultimamente a coisa que eu menos fazia era dormir, o que era engraçado já que era raro eu passar a noite em claro ou dormir tarde, parecia que piorava a dor. Deitei-me no chão usando os braços como travesseiro, logo me rendi ao sono.

   Foi como piscar os olhos, quando fechei estava escuro, mas quando os abri estava claro, esfreguei os olhos e bocejei. -Onde estou?- Me perguntei olhando para os lados e percebendo que não estava em casa.- Ah Claro! Micaal.-Sentei ainda sonolenta coçando meu cabelo, que por uma incrível macumba estava… sedoso? Passei a mão mais uma vez para ter certeza que aquele era meu cabelo mesmo, mas toda vez que eu passava a mão sobre ele ela passava reto, sem um único nó, aquele definitivamente não era meu cabelo.

  

 Eu não tinha exatamente nada para comer, quero dizer tinha mas toda vez que eu tentava comer ele escorregava das minhas mãos, decidi que eu boiaria sem rumo até morrer de fome, péssima idéia, não se passou três minutos e um barco surgiu no horizonte, em desespero bati a cauda com força no intuito de submergir, entretanto isso também serviu para atrair a atenção deles. -Droga, droga, droga— praguejei em pensamento quando finalmente consegui nadar até uma profundidade segura.

   O barco passou por mim e fiz o mínimo de movimento possível pedindo a Deus para que não me notassem, mas eles pareciam com pressa demais para perceber minha presença, agradeci por isso.

   Talvez eu já tenha mencionado, ou não, mas eu tenho mal de protagonista, que seria ir aonde não é chamada, para no final quase se lascar, ou se lascar. Você já deve estar imaginando o que fiz certo? Sim, eu segui o barco, por livre espontânea burrice segui o barco, o mesmo estava indo em direção a Micaal, um pouco antes de chegar à ilha o barco parou.

   Tentei gritar quando uma mão gelada agarrou meu braço e me puxou para trás, meu grito foi abafado pela água e subiu em forma de bolhas, virei-me para tentar me soltar de quem me puxou quando senti a correnteza fazer uma leve mudança temporal me puxando para baixo, foram centímetros que impediram um desastre de acontecer, ou melhor foi um alguém, lancei um olhar agradecido para a pessoa a minha frente.

  Meu queixo caiu quando passei o olho sobre ela, cabelos loiros, pele bronzeada, sobre seus fartos seios havia um top como o meu e no lugar das pernas uma cauda.

  Aquela não podia ser, mas eram tão iguais, eu estava abismada, sem acreditar, esfreguei a mão nos olhos para ter certeza no que via, então ela sorriu brincalhona e eu tive certeza.

 Aquela sereia a minha frente tinha impedido que uma âncora me atingisse e era ninguém mais, ninguém menos que Rebecca.

  isso só pode ser brincadeira.- 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem e
Noix se vê por ai



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Underwater" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.